HISTÓRIA VIVA
Foto: Álvaro Motta
rara, sustentando um discurso coerente sobre a economia do País e o papel que um grupo como a Bobst poderia desempenhar”. Para a companhia helvética, a empreitada representava sua primeira filial fora da Europa. Para Dirceu, a oportunidade de trabalhar em uma empresa de alta tecnologia e, sobretudo, a chance de correr o mundo. “Minha mãe, minha futura sogra e a Claudete queriam me matar porque a colocação na Volks era bem melhor. Mas a possibilidade de fazer um estágio de seis meses na Suíça deixou a cabeça do Dirceu maluca”, conta ele em terceira pessoa, ao melhor estilo Pelé. Dirceu entrou na Bobst como responsável por assistência técnica e serviços, depois de passar seis meses em Lausanne, na Suíça, e dois na Itália. Porém os planos de construir uma planta em Itatiba tiveram de ser adiados em razão da crise do petróleo na década de 70. A empresa
O homem ansiava por uma chance de abrir suas asas e prosperar. A multinacional precisava de um empreendedor para guiar sua expansão. Eis o cenário ideal para uma união proveitosa e duradoura. Tânia Galluzzi
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V
Dirceu Fumach Encontro que vale uma vida
ínculo (s.m.): o que liga afetiva ou moralmente duas ou mais pessoas. Recorro ao H ouaiss para enfatizar a conexão entre Dirceu Fumach e a Bobst. No setor gráfico brasileiro não há como dissociá-los. O laço entre o homem e a companhia é tão forte que muitos acreditam que a empresa suíça instalou-se em Itatiba (SP) em função dele. Puro mito. Mas uma cadeia de fatos conspirou para colocar Dirceu frente a frente com a família Bobst. E os três Ds que regem a vida do executivo (desejo, determinação e disciplina) se encarregaram de perp et uar uma união que dura 40 anos. Dirceu nasceu em Itatiba, em 1952. Cresceu ao lado dos seis irmãos na propriedade da família, onde o pai plantava café, cana-de-açúcar e uva. Irrequieto, não queria ficar no inter ior, e depois de completar sua formação técnica no Senai de Jund iaí, aos 18 anos começou a trabalhar na Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP).
A milhares de quilômetros, um grupo de executivos também movimentava suas peças. Bruno de Kalbermatten, Jacques Schluchter e Albert Monbaron, respectivamente presidente e diretores do Bobst Group, percebem a urgência de repensar a presença da empresa na América Latina, aqui representada desde 1960 pela Intergrafica. Motivado pelo sucesso da participação da Bobst na Fiepag de 1972, guiado pelo instinto e seduzido pela proposta, Bruno adquire um terreno de 95.000 metros quadrados em Itatiba e constitui a Bobst Brasil. Durante sua estada, ele encontra Dirceu, que, apesar de estar morando em São Bernardo, continua va ligado a Itatiba, não só por sua família, mas pelo relacionamento com Claudete, sua futura esposa. No livro Quand les machines ont une âme (quando as máquinas têm alma), que conta a história da Bobst, Dirceu é descrito nessa fase como “um garoto incrível, brilhante, modesto em formação, mas de uma inteligência
estabeleceu-se em São Paulo, e não demorou muito para que Dirceu conseguisse convencer os suíços a começar a fabricar máquinas aqui. A primeira foi a coladeira Baby 20. O endurecimento nas regras de importação de máquinas no Brasil foi o impulso que faltava para a Bobst transferir-se para uma área maior, no município de Mauá (SP), e iniciar a produção e montagem da máquina de corte e vinco Autoplatine SP 102, considerada a joia da coroa entre os modelos desenvolvidos pela companhia.
geral da filial brasileira, cargo que ocupa até hoje. A vontade de aprender nunca abandonou Dirceu. Enquanto a marca crescia, ele emendava viagens e cursos. “Meu recorde foram 13 viagens internacionais e 282 noites fora de casa em um ano, lá no final da década de 1980. Não foi fácil, minha mulher que o diga”, brinca ele. Em maio de 1996, Itatiba festejou a inauguração do parque industrial da Bobst. E Dirceu comemorou sua volta para casa, depois de 22 anos. A fábrica viveria vár ias etapas e por duas vezes sua capacidade produtiva foi duplicada: em 2002, de 5.100 para 8.900 metros quadrados, e em 2005, chegando aos
( Acima) Posse da diretoria da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Gráficos (Abimeg), em março de 1994. (E/D) Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq/ Sindimaq; Jacques Fernando Oppenheim, presidente da Abimeg; e membros da diretoria: Miguel Rodrigues Filho, Ernst Dafferner, Alberto Freitas e Dirceu ( Ao lado) Dirceu no X Congresso Latino‑Americano da Indústria Gráfica, realizado em Brasília, em outubro de 1985. Falando ao microfone, Sidney Fernandes, presidente da Abigraf Nacional e da Conlatingraf; ao lado, Ricardo Godoy, gerente de vendas da Bobst Brasil ( Abaixo) No lançamento do equipamento de corte e vinco Autoplatina SP Evoline 102‑E, Dirceu discursa, tendo ao lado José Gonçalves, sócio da Gráfica Gonçalves, um dos primeiros clientes da Bobst Brasil. 19 de março de 2002
APRENDIZADO CONTÍNUO
A crença da Bobst no potencial do mercado na cional impulsionava a carreira de Dirceu. Ele foi estudar francês e inglês, graduou-se em Administração de Empresas pela Faap, e em Matemática, com ênfase em Informática. Em 1983 foi nomeado responsável pelo departamento técnico e no ano seguinte assumiu a direção
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