Dirceu Fumach - História Viva - Revista Abigraf 272

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HISTÓRIA VIVA

Foto: Álvaro Motta

rara, sustentando um discurso coe­ren­te sobre a economia do País e o papel que um grupo como a Bobst poderia desempenhar”. Para a companhia helvética, a empreitada representava sua primeira fi­lial fora da Europa. Para Dirceu, a oportunidade de trabalhar em uma empresa de alta tecnologia e, sobretudo, a chance de correr o mundo. “Minha mãe, minha futura sogra e a Claudete queriam me matar porque a colocação na Volks era bem melhor. Mas a possibilidade de fazer um estágio de seis meses na Suí­ça deixou a cabeça do Dirceu maluca”, conta ele em terceira pessoa, ao melhor estilo Pelé. Dirceu entrou na Bobst como responsável por assistência técnica e serviços, depois de passar seis meses em Lausanne, na Suí­ça, e dois na Itália. Porém os planos de construir uma planta em Itatiba tiveram de ser adia­dos em razão da crise do petróleo na década de 70. A empresa

O homem ansiava por uma chance de abrir suas asas e prosperar. A multinacional precisava de um empreendedor para guiar sua expansão. Eis o cenário ideal para uma união proveitosa e duradoura. Tânia Galluzzi

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V

Dirceu Fumach Encontro que vale uma vida

ínculo (s.m.): o que liga afetiva ou moralmente duas ou mais pes­soas. Recorro ao H ­ ouaiss para enfatizar a conexão entre Dirceu Fumach e a Bobst. No setor gráfico brasileiro não há como dissociá-​­los. O laço entre o homem e a companhia é tão forte que muitos acreditam que a empresa suí­ça instalou-​­se em Itatiba (SP) em função dele. Puro mito. Mas uma cadeia de fatos conspirou para colocar Dirceu frente a frente com a família Bobst. E os três Ds que regem a vida do executivo (desejo, determinação e disciplina) se encarregaram de per­p e­t uar uma ­união que dura 40 anos. Dirceu nasceu em Itatiba, em 1952. Cresceu ao lado dos seis irmãos na pro­prie­da­de da família, onde o pai plantava café, cana-​­de-açúcar e uva. Irrequieto, não queria ficar no in­te­r ior, e depois de completar sua formação técnica no Senai de Jun­d iaí, aos 18 anos começou a trabalhar na Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP).

A milhares de quilômetros, um grupo de executivos também movimentava suas peças. Bruno de Kalbermatten, Jacques Schluchter e Albert Monbaron, respectivamente presidente e diretores do Bobst Group, percebem a urgência de repensar a presença da empresa na América Latina, aqui representada desde 1960 pela Intergrafica. Motivado pelo sucesso da participação da Bobst na Fie­pag de 1972, guiado pelo instinto e seduzido pela proposta, Bruno adquire um terreno de 95.000 metros quadrados em Itatiba e constitui a Bobst Brasil. Durante sua estada, ele encontra Dirceu, que, apesar de estar morando em São Bernardo, con­ti­nua­ va ligado a Itatiba, não só por sua família, mas pelo re­la­cio­na­men­to com Claudete, sua futura esposa. No livro ­Quand les machines ont une âme (quando as máquinas têm alma), que conta a história da Bobst, Dirceu é descrito nessa fase como “um garoto incrível, brilhante, modesto em formação, mas de uma inteligência

estabeleceu-​­se em São Paulo, e não demorou muito para que Dirceu conseguisse convencer os suí­ços a começar a fabricar máquinas aqui. A primeira foi a coladeira Baby 20. O endurecimento nas regras de importação de máquinas no Brasil foi o impulso que faltava para a Bobst transferir-​­se para uma área maior, no município de Mauá (SP), e ini­ciar a produção e montagem da máquina de corte e vinco Autoplatine SP 102, considerada a joia da coroa entre os modelos desenvolvidos pela companhia.

geral da fi­lial brasileira, cargo que ocupa até hoje. A vontade de aprender nunca abandonou Dirceu. Enquanto a marca crescia, ele emendava via­gens e cursos. “Meu recorde foram 13 via­gens internacionais e 282 noites fora de casa em um ano, lá no final da década de 1980. Não foi fácil, minha mulher que o diga”, brinca ele. Em maio de 1996, Itatiba festejou a inauguração do parque industrial da Bobst. E Dirceu comemorou sua volta para casa, depois de 22 anos. A fábrica viveria vá­r ias etapas e por duas vezes sua capacidade produtiva foi duplicada: em 2002, de 5.100 para 8.900 metros quadrados, e em 2005, chegando aos

( Acima) Posse da diretoria da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Gráficos (Abimeg), em março de 1994. (E/D) Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq/ Sindimaq; Jacques Fernando Oppenheim, presidente da Abimeg; e membros da diretoria: Miguel Rodrigues Filho, Ernst Dafferner, Alberto Freitas e Dirceu ( Ao lado) Dirceu no X Congresso Latino‑Americano da Indústria Gráfica, realizado em Brasília, em outubro de 1985. Falando ao microfone, Sidney Fernandes, presidente da Abigraf Nacional e da Conlatingraf; ao lado, Ricardo Godoy, gerente de vendas da Bobst Brasil ( Abaixo) No lançamento do equipamento de corte e vinco Autoplatina SP Evoline 102‑E, Dirceu discursa, tendo ao lado José Gonçalves, sócio da Gráfica Gonçalves, um dos primeiros clientes da Bobst Brasil. 19 de março de 2002

APRENDIZADO CONTÍNUO

A crença da Bobst no po­ten­cial do mercado na­ cio­nal im­pul­sio­na­va a carreira de Dirceu. Ele foi estudar francês e inglês, graduou-​­se em Administração de Empresas pela Faap, e em Matemática, com ênfase em Informática. Em 1983 foi no­mea­do responsável pelo departamento técnico e no ano seguinte assumiu a direção

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18.000 metros quadrados, consolidando a unidade como um importante centro de produção e polo exportador de máquinas para todo o mundo. No ano seguinte a Bobst La­ti­noa­mé­r i­ca do Sul atingiria seu melhor desempenho até hoje, com a produção de 170 máquinas em 12 meses. 1

Três momentos na comemoração dos 25 anos da Bobst no Brasil, no dia 3 de março de 1999 1 Grupo reunido durante a festa: (E/D) Paulo Sérgio Peres, presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO); Adilson Franco Penteado, prefeito de Itatiba; Jean‑Pierre Möckli, diretor financeiro da Bobst S.A.; Dirceu Fumach, sócio-gerente da Bobst Brasil; Max Schrappe e Adolpho Cyriaco, respectivamente, presidente e superintendente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) 2 Em primeiro plano, Dirceu com Adilson Franco Penteado, prefeito de Itatiba 3 Para Dirceu foi uma data muito especial. Além de participar da empresa desde a chegada da Bobst em 1974 ao nosso país, havia sido homenageado com o título de cidadão itatibense, cidade onde nasceu

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Comandando esse processo, Dirceu pode praticar uma de suas habilidades, liderar pes­ soas. Não só liderar, mas principalmente formar profissionais, identificar talentos e dar a eles a oportunidade de crescer, como um dia a família Bobst fez com ele próprio. Em nossa recente visita à fábrica, enquanto per­cor­r ía­ mos a produção, Dirceu nos apresentou cheio de orgulho pelo menos cinco fun­cio­ná­r ios na faixa dos 30 anos, que já dedicam mais de 1/3 de suas vidas à Bobst, todos com um significativo desenvolvimento pro­f is­sio­nal. “Não acredito nessa história de que líderes nascem feitos. Temos de investir em nós mesmos”, diz o CEO, destacando os cursos mais interessantes que fez nos anos 2000: o Lea­d ing and Management Change, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e o Programa de Gestão Estratégica para Dirigentes Empresariais, organizado pelo En­sead, em Fontainebleau, na França. Há alguns anos Dirceu vem sendo preparado para a aposentadoria. Faz parte do modus operandi da Bobst. Seus sucessores já estão definidos e possivelmente em 2016 Dirceu assuma a função de couching de seu sucessor e em 2018 uma posição no conselho da empresa. “Oxalá o próximo presidente saia daqui de dentro”, diz Dirceu. Para esse novo estágio, ele se inspira em Luiz Metzler, por muitos anos o relações públicas da Heidelberg, falecido em 2010. “Vou deixar de me preo­cu­par com o dia a dia, com os resultados. Que­ro cuidar só do re­la­cio­na­men­ to com os clien­tes.” Dos clien­tes e de seu sítio, em Itatiba, claro, onde reú­ne os filhos Gustavo, 34 anos, economista, e Tânia, 32 anos, gestora de moda, a netinha Fernanda e quem mais chegar. Antes disso, Dirceu tem pela frente a rees­t ru­t u­ra­ç ão da fábrica (ver matéria na página 58), enquanto amplia a sua extensa lista de cursos. Ao lado da esposa, acaba de fazer um treinamento em psicanálise clínica, outro em neurociência e mais um em hipnose. “Novos projetos. Isso é o que mais me motiva. E num país como o nosso, onde as empresas têm de se reinventar sempre, estou bem”.


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