Zé Paiva - Fotografia - Revista Abigraf 273

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F OTOG R A F I A

Fotógrafo por inteiro

“S Zé Paiva 2

ou um pintor frustrado e quando eu falo de um país, de uma cidade, eu me preo­cu­po com os seus aspectos plásticos. Sou um apaixonado pelo Rio Grande, sem nenhum pre­juí­zo do meu grande amor pelo Brasil, pela sua gente, pela sua paisagem”. Esse depoimento, que faz parte do documentário, Os Pampas segundo Érico Veríssimo, de 1975, ano em que o romancista faleceu, expõe o sentimento do autor de O Tempo e o Vento pela re­g ião de pla­ní­cies que se estende do Rio Grande do Sul à Argentina. Fala igualmente da emoção de tantos outros gaú­chos e es­pe­cial­men­te de um, José Luiz Martins Paiva. Como o escritor, Zé Paiva gostava de desenhar. Como Érico Veríssimo, deixa-​­se seduzir pelos contornos dos Campos do Sul. A linguagem porém é outra. A letra escrita cede lugar às imagens para igualmente retratar o cenário pampeiro e seus habitantes. O fotógrafo de 53 anos redescobriu sua paixão pelo Pampa com seu terceiro livro, Expedição Natureza Gaú­cha, lançado em 2008 em parceria com a Editora Metalivros. Nascido em Porto Alegre e morando desde 1985 em Flo­r ia­nó­ po­lis, durante a feitura do livro Zé Paiva viu-​­se novamente menino, quando passava as fé­r ias em Bagé, percebendo que naquele pe­r ío­do nasceu seu encantamento pela natureza. Agora, 3

entre os vá­r ios projetos à espera de patrocínio está DNA do Pampa, reverência à gente e à plasticidade desse pedaço da América do Sul. O envolvimento de Zé Paiva com a fotografia começou na faculdade. Logo que concluiu sua formação em Engenharia Mecânica partiu para uma via­gem de um ano. Vendo os registros dessa jornada, amigos o convenceram de que valia a pena investir na carreira e, meio por acaso, ele conseguiu um estágio na sucursal do jornal O Globo. “Era março de 1984. Eles tinham um laboratório P/B e eu me apaixonei definitivamente pela fotografia. Faz 30 anos e continuo apaixonado”. Do fotojornalismo Zé Paiva pulou para a publicidade. Estabeleceu seu estúdio, conquistou clien­tes, ganhou dinheiro. Há 10 anos decidiu canalizar energia para projetos pró­prios. “Apesar do aumento de opções comerciais para a fotografia autoral, ainda é difícil sobreviver sem fazer concessões. O ­ideal seria engrenar um projeto no outro, mas não é assim que acontece”. Na entressafra, o fotógrafo se vale de seu banco de imagens, o Vista Imagens, de fotos em outros bancos e mesmo da colaboração em revistas. “Com tanta oferta gratuita de imagens, é sur­preen­ den­te que ainda consiga vender fotos. Já foi melhor, mas as vendas con­t i­nuam e o maior mercado são os livros didáticos e paradidáticos”.

“Zé Paiva então surge do meio das matas, rios, pedras, pronto: o fotógrafo virou planta, ou pedra ou rio; um pequeno inseto, uma flor microscópica. Fazer parte da paisagem: é esse o segredo de sobreviver e continuar ao seu lado”. Rosely Nakagawa, curadora e editora de fotografia. Tânia Galluzzi

1 Área de proteção ambiental do Ibirapuita, Santana do Livramento, Rio Grande do Sul 2 Lago Rico, Parque Estadual do Cantao, Caseara, Tocantins 3 Vista aérea de lavouras, Lagoa da Confusão, Tocantins 4 (página seguinte) Casa ao anoitecer no caminho para o Mirante, Campos Lindos, Tocantins 5 (página seguinte) Alecio dos Passos Santos. Ambientalista, colecionador e cultivador de plantas medicinais. Florianópolis, Santa Catarina 6 (página seguinte) Mosquito picando um camaleao‑papa‑vento “Enyalius iheringi” na trilha do Rio do Boi, no interior do Itaimbezinho. Parque Nacional de Aparados da Serra, Praia Grande, Santa Catarina 7 (página seguinte) Gravata‑mansos “Eriocaulon sp.”. Fazenda de preservação do Alto Quiriri da empresa Ciser, Garuva, Santa Catarina

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