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F OTOG R A F I A
Fotógrafo por inteiro
“S Zé Paiva 2
ou um pintor frustrado e quando eu falo de um país, de uma cidade, eu me preocupo com os seus aspectos plásticos. Sou um apaixonado pelo Rio Grande, sem nenhum prejuízo do meu grande amor pelo Brasil, pela sua gente, pela sua paisagem”. Esse depoimento, que faz parte do documentário, Os Pampas segundo Érico Veríssimo, de 1975, ano em que o romancista faleceu, expõe o sentimento do autor de O Tempo e o Vento pela reg ião de planícies que se estende do Rio Grande do Sul à Argentina. Fala igualmente da emoção de tantos outros gaúchos e especialmente de um, José Luiz Martins Paiva. Como o escritor, Zé Paiva gostava de desenhar. Como Érico Veríssimo, deixa-se seduzir pelos contornos dos Campos do Sul. A linguagem porém é outra. A letra escrita cede lugar às imagens para igualmente retratar o cenário pampeiro e seus habitantes. O fotógrafo de 53 anos redescobriu sua paixão pelo Pampa com seu terceiro livro, Expedição Natureza Gaúcha, lançado em 2008 em parceria com a Editora Metalivros. Nascido em Porto Alegre e morando desde 1985 em Flor ianó polis, durante a feitura do livro Zé Paiva viu-se novamente menino, quando passava as fér ias em Bagé, percebendo que naquele per íodo nasceu seu encantamento pela natureza. Agora, 3
entre os vár ios projetos à espera de patrocínio está DNA do Pampa, reverência à gente e à plasticidade desse pedaço da América do Sul. O envolvimento de Zé Paiva com a fotografia começou na faculdade. Logo que concluiu sua formação em Engenharia Mecânica partiu para uma viagem de um ano. Vendo os registros dessa jornada, amigos o convenceram de que valia a pena investir na carreira e, meio por acaso, ele conseguiu um estágio na sucursal do jornal O Globo. “Era março de 1984. Eles tinham um laboratório P/B e eu me apaixonei definitivamente pela fotografia. Faz 30 anos e continuo apaixonado”. Do fotojornalismo Zé Paiva pulou para a publicidade. Estabeleceu seu estúdio, conquistou clientes, ganhou dinheiro. Há 10 anos decidiu canalizar energia para projetos próprios. “Apesar do aumento de opções comerciais para a fotografia autoral, ainda é difícil sobreviver sem fazer concessões. O ideal seria engrenar um projeto no outro, mas não é assim que acontece”. Na entressafra, o fotógrafo se vale de seu banco de imagens, o Vista Imagens, de fotos em outros bancos e mesmo da colaboração em revistas. “Com tanta oferta gratuita de imagens, é surpreen dente que ainda consiga vender fotos. Já foi melhor, mas as vendas cont inuam e o maior mercado são os livros didáticos e paradidáticos”.
“Zé Paiva então surge do meio das matas, rios, pedras, pronto: o fotógrafo virou planta, ou pedra ou rio; um pequeno inseto, uma flor microscópica. Fazer parte da paisagem: é esse o segredo de sobreviver e continuar ao seu lado”. Rosely Nakagawa, curadora e editora de fotografia. Tânia Galluzzi
1 Área de proteção ambiental do Ibirapuita, Santana do Livramento, Rio Grande do Sul 2 Lago Rico, Parque Estadual do Cantao, Caseara, Tocantins 3 Vista aérea de lavouras, Lagoa da Confusão, Tocantins 4 (página seguinte) Casa ao anoitecer no caminho para o Mirante, Campos Lindos, Tocantins 5 (página seguinte) Alecio dos Passos Santos. Ambientalista, colecionador e cultivador de plantas medicinais. Florianópolis, Santa Catarina 6 (página seguinte) Mosquito picando um camaleao‑papa‑vento “Enyalius iheringi” na trilha do Rio do Boi, no interior do Itaimbezinho. Parque Nacional de Aparados da Serra, Praia Grande, Santa Catarina 7 (página seguinte) Gravata‑mansos “Eriocaulon sp.”. Fazenda de preservação do Alto Quiriri da empresa Ciser, Garuva, Santa Catarina
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