Haroldo Castro - Fotografia - Revista Abigraf 274

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Haroldo Castro é especialista em viajologia, termo que ele próprio cunhou para designar a arte e a ciência de viajar. Discorrendo por várias terras, fotografou 165 países mostrando o lado positivo de cada um deles. Tânia Galluzzi

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1 MIANMAR. Ao amanhecer, um balão desliza sobre a planície de Bagan, capital do antigo reino da Birmânia, onde existem cerca de três mil santuários budistas construídos entre os séculos XI e XIII. Com a abertura política do país, o turismo tornou‑se fonte de geração de renda

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Olhar generoso 2 MADAGASCAR. Enquanto todo o continente africano hospeda apenas uma espécie de baobá, Madagascar tem sete diferentes. A paisagem da Alameda dos Baobás, na Reserva Florestal Kirindy, é composta por dezenas de árvores da espécie Adansonia grandidieri 3 BRASIL. Araras‑vermelhas (Ara chloroptera), iluminadas por um raio de sol, sobem em um voo circular para sair do Buraco das Araras, de 125 m de profundidade. Localizada em Jardim, MS, a dolina, antes infestada por urubus, tornou‑se moradia para uma centena de araras

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ocê já se perguntou quantos paí­ ses existem no mundo? Pode parecer estranho, mas dependendo da fonte esse número pode va­r iar. A ONU, por exemplo, contabiliza 193 membros, enquanto o Comitê Olímpico In­ ter­na­cio­nal congrega 204 paí­ses, e a Fifa, 209. Haroldo Castro tem sua própria lista. Dela constam 223 paí­ses e ter­r i­tó­r ios autônomos, dos quais ele não conhece apenas 58. Sim, em 40 anos de ex­pe­r iên­cia como fotógrafo, jornalista, diretor de do­cu­men­tá­r ios e con­ser ­va­cio­ nis­t a, ele percorreu nada menos do que 165 paí­ses. Orgulhoso de sua marca, Haroldo afirma que raros são os fotógrafos brasileiros com um currículo como o dele, ex­ce­tuan­do talvez Se­bas­tião Salgado. Haroldo foi, inclusive, o responsável pela organização da via­gem de Se­bas­ tião Salgado para Papua-​­Nova Guiné durante a produção da série Gênesis. Nessas quatro décadas, Haroldo, 62 anos, cultivou três paixões: via­jar com intensidade, contar his­tó­ rias com imagens e admirar a natureza. Sua jornada em busca de conhecimento, por ele chamada de via­jo­lo­g ia, alimenta seu en­t u­s ias­ mo pela riqueza natural e cultural do planeta, levando-​­o a lugares sur ­preen­den­tes.

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Quan­do crian­ç a Haroldo costumava via­ jar muito com o pai, Armando de Faria Castro, um dos diretores do jornal ca­r io­ca Correio da Manhã. Aos 12 anos conseguiu seu primeiro furo jornalístico ao registrar a saí­da dos passageiros de um ­avião que acabara de fazer um pouso de emergência em Londrina, no Paraná. Aos 17 publicou sua primeira foto, também tirada de chofre, numa estação de esqui nos Alpes franceses, ao encontrar a atriz Brigitte Bardot e o escritor Papillon, entre outras celebridades. A imagem saiu na revista Paris-​­Match. Alguns meses depois Haroldo começou sua carreira pro­f is­sio­nal de fotógrafo no Correio da Manhã. E a grande oportunidade veio no ano seguinte. Expulso do curso de Economia por ser considerado subversivo, Haroldo decidiu estudar Economia na França. Enxergando a chance, Celso Itiberê, editor de esporte do Correio da Manhã e fanático por Fórmula 1, disse ao garoto: “Você vai cobrir a temporada para o jornal”. “Acabei acompanhando as vi­tó­r ias do Emerson Fittipaldi durante as temporadas de 1971 e 1972 e en­v ian­do fotos e textos sobre as proe­zas do jovem cam­peão brasileiro”.

onde atuou por 16 anos, chegando ao cargo de vice-​­presidente de comunicação in­ter­na­cio­nal, entre 2000 e 2006. Como militante do con­ser­ va­c io­n is­mo, Haroldo dirigiu cerca de 50 do­ cu­men­t á­r ios, os quais ganharam dezenas de prê­mios nos Estados Unidos e na Europa. Em 2010, ao lado do filho Mi­k ael, percorreu, em nove meses, 40 mil km e 18 paí­ses africanos. A aventura resultou no livro Luzes da África, publicado pela Editora Civilização Brasileira e indicado para o Prêmio Jabuti em 2013 na categoria Reportagens. O espírito andarilho mantém-​­se como voz ativa. Afora colaborar com a revista Época com o blog Via­jo­lo­g ia, desde 2009 Haroldo organiza expedições fotográficas a lugares exóticos. No ano passado criou a Via­jo­lo­g ia Expedições, uma operadora-​­boutique es­pe­cia­li­za­da em desenhar jornadas com foco na descoberta de espaços e imagens admiráveis. Ainda neste ano Haroldo leva um grupo para a Namíbia; em abril de 2015 para a Etió­pia, depois Mongólia, Madagascar, Butão e Mian­mar. “Gosto de transformar o preconceito que as pes­soas têm sobre paí­ses pouco conhecidos”. O olhar generoso de Haroldo para esses povos e suas culturas, a natureza e a vida selvagem, pode ser conferido na exposição que está em cartaz no Metrô de São Paulo, trazendo 35 imagens de 17 paí­ses e quatro continentes. “A mostra reú­ne algumas das minhas imagens preferidas, nas quais procurei sempre sublinhar

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o belo, o digno e o inusitado de lugares singulares do planeta”. Em cartaz na Estação Sé desde 11 de novembro, em dezembro a exposição segue para a Estação Clínicas e depois, em 10 de janeiro, para a Luz. Há tempo ainda para cursos e workshops. Nos dias 31 de janeiro e 1º‒ de fevereiro Haroldo estará em São Paulo ministrando o curso de Fotografia de Via­gem no Estúdio Madalena.

4 PAPUA‑NOVA GUINÉ. O homem‑de‑barro lembra um episódio de coragem quando sobreviventes de uma guerra tribal em Goroka contra‑atacaram seus invasores. Usando lama nos corpos e bambus afiados nos dedos, eles fingiram que eram aparições e reconquistaram a aldeia 5 SUDÃO. O sufismo, o braço místico do Islã, é bastante difundido em Cartum, capital do país. Na sexta‑feira, dia santo muçulmano, centenas de dervixes, geralmente vestidos de verde, encontram‑se no mausoléu do sheik Hamed Al‑Nil para dançar, cantar e louvar o nome de Alá 6 TANZÂNIA. Duas leoas dormiam profundamente e acordam com o ruído e o cheiro de uma impala perdida. Em poucos segundos, a presa é agarrada pelo pescoço e pelo dorso; outras duas leoas chegam e arrancam as pernas do antílope. Parque Nacional Ruaha

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CIDADÃO DO MUNDO

Em 1974 Haroldo deu início à vida de migrante da fotografia com sua primeira grande via­ gem de carro, indo da França à Índia durante meio ano. Entre 1977 e 1979, cruzou a América do Sul em uma Kombi. O saldo desses circuitos, imagens e texto, seguiam então para revistas europeias e americanas. Dos pe­r ió­di­cos e agên­cias de fotografia, Haroldo conheceu a ONG Con­ser ­va­t ion In­ter ­na­t io­nal, em Washington,

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