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Haroldo Castro é especialista em viajologia, termo que ele próprio cunhou para designar a arte e a ciência de viajar. Discorrendo por várias terras, fotografou 165 países mostrando o lado positivo de cada um deles. Tânia Galluzzi
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1 MIANMAR. Ao amanhecer, um balão desliza sobre a planície de Bagan, capital do antigo reino da Birmânia, onde existem cerca de três mil santuários budistas construídos entre os séculos XI e XIII. Com a abertura política do país, o turismo tornou‑se fonte de geração de renda
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Olhar generoso 2 MADAGASCAR. Enquanto todo o continente africano hospeda apenas uma espécie de baobá, Madagascar tem sete diferentes. A paisagem da Alameda dos Baobás, na Reserva Florestal Kirindy, é composta por dezenas de árvores da espécie Adansonia grandidieri 3 BRASIL. Araras‑vermelhas (Ara chloroptera), iluminadas por um raio de sol, sobem em um voo circular para sair do Buraco das Araras, de 125 m de profundidade. Localizada em Jardim, MS, a dolina, antes infestada por urubus, tornou‑se moradia para uma centena de araras
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ocê já se perguntou quantos paí ses existem no mundo? Pode parecer estranho, mas dependendo da fonte esse número pode var iar. A ONU, por exemplo, contabiliza 193 membros, enquanto o Comitê Olímpico In ternacional congrega 204 países, e a Fifa, 209. Haroldo Castro tem sua própria lista. Dela constam 223 países e terr itór ios autônomos, dos quais ele não conhece apenas 58. Sim, em 40 anos de exper iência como fotógrafo, jornalista, diretor de documentár ios e conser vacio nist a, ele percorreu nada menos do que 165 países. Orgulhoso de sua marca, Haroldo afirma que raros são os fotógrafos brasileiros com um currículo como o dele, excetuando talvez Sebastião Salgado. Haroldo foi, inclusive, o responsável pela organização da viagem de Sebas tião Salgado para Papua-Nova Guiné durante a produção da série Gênesis. Nessas quatro décadas, Haroldo, 62 anos, cultivou três paixões: viajar com intensidade, contar histó rias com imagens e admirar a natureza. Sua jornada em busca de conhecimento, por ele chamada de viajolog ia, alimenta seu ent us ias mo pela riqueza natural e cultural do planeta, levando-o a lugares sur preendentes.
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Quando crianç a Haroldo costumava via jar muito com o pai, Armando de Faria Castro, um dos diretores do jornal car ioca Correio da Manhã. Aos 12 anos conseguiu seu primeiro furo jornalístico ao registrar a saída dos passageiros de um avião que acabara de fazer um pouso de emergência em Londrina, no Paraná. Aos 17 publicou sua primeira foto, também tirada de chofre, numa estação de esqui nos Alpes franceses, ao encontrar a atriz Brigitte Bardot e o escritor Papillon, entre outras celebridades. A imagem saiu na revista Paris-Match. Alguns meses depois Haroldo começou sua carreira prof issional de fotógrafo no Correio da Manhã. E a grande oportunidade veio no ano seguinte. Expulso do curso de Economia por ser considerado subversivo, Haroldo decidiu estudar Economia na França. Enxergando a chance, Celso Itiberê, editor de esporte do Correio da Manhã e fanático por Fórmula 1, disse ao garoto: “Você vai cobrir a temporada para o jornal”. “Acabei acompanhando as vitór ias do Emerson Fittipaldi durante as temporadas de 1971 e 1972 e env iando fotos e textos sobre as proezas do jovem campeão brasileiro”.
onde atuou por 16 anos, chegando ao cargo de vice-presidente de comunicação internacional, entre 2000 e 2006. Como militante do conser vac ion ismo, Haroldo dirigiu cerca de 50 do cument ár ios, os quais ganharam dezenas de prêmios nos Estados Unidos e na Europa. Em 2010, ao lado do filho Mik ael, percorreu, em nove meses, 40 mil km e 18 países africanos. A aventura resultou no livro Luzes da África, publicado pela Editora Civilização Brasileira e indicado para o Prêmio Jabuti em 2013 na categoria Reportagens. O espírito andarilho mantém-se como voz ativa. Afora colaborar com a revista Época com o blog Viajolog ia, desde 2009 Haroldo organiza expedições fotográficas a lugares exóticos. No ano passado criou a Viajolog ia Expedições, uma operadora-boutique especializada em desenhar jornadas com foco na descoberta de espaços e imagens admiráveis. Ainda neste ano Haroldo leva um grupo para a Namíbia; em abril de 2015 para a Etiópia, depois Mongólia, Madagascar, Butão e Mianmar. “Gosto de transformar o preconceito que as pessoas têm sobre países pouco conhecidos”. O olhar generoso de Haroldo para esses povos e suas culturas, a natureza e a vida selvagem, pode ser conferido na exposição que está em cartaz no Metrô de São Paulo, trazendo 35 imagens de 17 países e quatro continentes. “A mostra reúne algumas das minhas imagens preferidas, nas quais procurei sempre sublinhar
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o belo, o digno e o inusitado de lugares singulares do planeta”. Em cartaz na Estação Sé desde 11 de novembro, em dezembro a exposição segue para a Estação Clínicas e depois, em 10 de janeiro, para a Luz. Há tempo ainda para cursos e workshops. Nos dias 31 de janeiro e 1º‒ de fevereiro Haroldo estará em São Paulo ministrando o curso de Fotografia de Viagem no Estúdio Madalena.
4 PAPUA‑NOVA GUINÉ. O homem‑de‑barro lembra um episódio de coragem quando sobreviventes de uma guerra tribal em Goroka contra‑atacaram seus invasores. Usando lama nos corpos e bambus afiados nos dedos, eles fingiram que eram aparições e reconquistaram a aldeia 5 SUDÃO. O sufismo, o braço místico do Islã, é bastante difundido em Cartum, capital do país. Na sexta‑feira, dia santo muçulmano, centenas de dervixes, geralmente vestidos de verde, encontram‑se no mausoléu do sheik Hamed Al‑Nil para dançar, cantar e louvar o nome de Alá 6 TANZÂNIA. Duas leoas dormiam profundamente e acordam com o ruído e o cheiro de uma impala perdida. Em poucos segundos, a presa é agarrada pelo pescoço e pelo dorso; outras duas leoas chegam e arrancam as pernas do antílope. Parque Nacional Ruaha
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CIDADÃO DO MUNDO
Em 1974 Haroldo deu início à vida de migrante da fotografia com sua primeira grande via gem de carro, indo da França à Índia durante meio ano. Entre 1977 e 1979, cruzou a América do Sul em uma Kombi. O saldo desses circuitos, imagens e texto, seguiam então para revistas europeias e americanas. Dos per iódicos e agências de fotografia, Haroldo conheceu a ONG Conser vat ion Inter nat ional, em Washington,
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