F OTOG R A F I A
Ver a cara para julgar o coração
H GUSTAVO SCATENA
á seis anos Gustavo Scatena lançou-se na busca por uma linguagem fotográfica própria. Rodeado de famosos, cotidiano sustentado por seu trabalho para revistas de celebridades, e inspirado no inglês Platon e seus retratos hipnotizantes, o fotógrafo paulista passou a aproveitar cada oportunidade para clicar rostos, só rostos. Como máscaras mortuár ias, começou a colecionar imagens de gente famosa e personagens anônimos que aceitavam ser fotografados muito de perto. Munido de uma lente 50 mm, que equivale ao campo de visão do olho humano, e de um pouco de lábia, praticamente encostava a câmera no nariz de seus modelos, capturando suas reações.
Alguns se recusavam, poucos. Boa parte sorria, uns com os lábios, outros com os olhos. Tinha gente que fazia careta e havia também os sér ios, enigmáticos. Nesse garimpo de efíg ies, uma das exper iênc ias mais marcantes aconteceu com o ator Paulo José. “Sempre procuro me aproximar com uma história pessoal. Estava cobrindo a estreia de uma novela e vi o Paulo sentado sozinho. Aproveitei para abordá-lo contando que havia estudado com o filho dele. Falei do projeto e ele topou. Só que a 50 mm é uma lente difícil, de foco curto. E o Paulo, por conta do Mal de Parkinson, faz um movimento contínuo. Com isso, acabei demorando mais tempo do que imaginava. Depois de uns 20 cliques eu não sabia se tinha conseguido uma boa
Retratista, fotógrafo social, repórter fotográfico. Gustavo Scatena divide‑se entre a fotografia de moda, de gastronomia, a fotografia documental e os eventos. Tânia Galluzzi
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Gustavo acompanhou a peregrinação dos torcedores do Cor inthians quando o time caiu para a Série B do Campeonato Brasileiro. As fotos foram expostas em um centro de compras da cidade, e também devem virar livro. MÚLTIPLO
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✆ GUSTAVO SCATENA Tel. (11) 99108-2286 www.gustavoscatena.com REVISTA ABIGR AF maio /junho 2015
imagem, mas quando ele me perguntou, dian te do esforço que fez para que desse certo, respondi que sim. Pena que ainda não tive a oportunidade de mostrar para ele que não menti”. A coleção virou Carômetro, exposição montada em março deste ano no Brooklin Coletivo, misto de cervejaria, loja e galeria, em São Paulo. Gustavo levou para lá 50 de suas figuras, entre representações de Silvio Santos, Mano B rown, Laerte, Hebe Camargo, Gisele Bündchen e Pier re Cardin. A intenção agora é vê-las impressas, agrupadas em um livro. Outro acervo está pronto para sair da gaveta. Entre 2008 e 2009,
Aos 34 anos e 15 de fotografia, Gustavo une linguagens. Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero, começou a fotografar aos 19 anos pelas mãos de uma professora do Senac que convidou-o a estag iar na recém-criada agência Fotosite. Porém a convivência com lentes e flashes vem da infância: a família tinha um estúdio de locação de equipamentos fotográficos. O passo seguinte foi a revista Caras. “Foi um superaprendizado. Comecei ainda com cromo. Não havia margem de erro”. Saindo do universo construído da cobertura social, em 2004 Gustavo foi selecionado entre os mais de 500 participantes para integrar o programa de trainee do jornal Folha de S.Paulo, onde complementou sua formação como fotojornalista. Depois de oito meses decidiu abraçar a vida de freelancer, adicionando à cobertura de eventos a fotografia de moda, de gastronomia, fotografia documental e, como não, os retratos. “Sou um retratista, um fotógrafo social, mas também um repórter fotográfico, e hoje procuro, sobretudo, alterar o mínimo as condições antes de fazer uma foto. Quero ser uma testemunha atenta, preparada para registrar o instante”.