JANAINA MATARAZZO - Fotografia - Revista Abigraf 279

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Coração selvagem aun é uma pequena cidade ao no­roes­te de Bot­sua­na, país africano que tem quase 70% de sua superfície coberta pelo deserto do Kalahari. É esse cenário, onde a natureza resiste a fazer concessões, que a fotógrafa Janaina Matarazzo escolheu como morada. Escolheu para viver a liberdade, para enfileirar-​­se ao lado daqueles que desejam ver a natureza preservada, para usar a fotografia como instrumento de resistência.

A força dessa oposição está na beleza, na urgência em expor em cada ponto de suas imagens a imponência do mundo natural. E não se engane. Ao compartilhar conosco paisagens oníricas, Janaina quer nos seduzir, pretende despertar em cada um de nós o desejo de conhecer a África e assim, fortalecendo o turismo, am­pliar as chances de sobrevivência da fauna e da flora. Em 2008, aos 30 anos, Janaina decidiu que era hora de deixar São Paulo e abraçar o sonho de conhecer a África. Optou por Bot­sua­na pela

F OTOG R A F I A

A natureza está ali tão explícita, nua, que chega a ser surreal. Na rotina de Janaina Matarazzo o amor pela fotografia e pelos animais se une para fascinar o observador e convencê‑lo de que tudo aquilo merece ser preservado. Tânia Galluzzi


rusticidade, e partiu. A sintonia ime­dia­ta com a natureza da re­g ião resgatou sua vontade de fotografar, embotada desde os tempos de faculdade. Rapidamente engajou-​­se no projeto Water For Life, depois chamado de Con­ser­va­tion Safaris, que oferece aos turistas es­ta­d ias mais longas em troca de ajuda nos projetos sociais com a comunidade e de conservação da natureza. Depois de cinco meses, Janaina voltou para a capital paulista apenas para organizar-​­se e retornar para Bot­sua­na. Seguiram-​­se então quase quatro anos de intenso aprendizado sobre a re­ gião e a vida selvagem. Morando em um safari camp, não faltavam possibilidades para fotografar, e Janaina aproveitava todos os momentos. PARTICIPAÇÃO ATIVA JANAINA MATARAZZO www.janainamatarazzo.com

Já estabilizada no país, que da colonização inglesa herdou entre outras coisas a organização, Janaina abriu sua empresa, atuan­do hoje

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em três frentes: a fotografia autoral, cujo braço avançado em São Paulo, o Fine Art Studio, cuida da impressão de tiragens limitadas e ilimitadas; a fotografia de publicidade, voltada para o mercado re­g io­nal, sobretudo para o fomento da atividade turística; e sua própria agência de turismo, a Travel For Con­ser­va­tion. “Sem o turista não há futuro para a natureza em Bot­ sua­na. A economia aqui está ba­sea­da na extração do dia­man­te e do cobre e, principalmente, na pe­c uá­r ia, que disputa espaço com as reservas e parques nacionais. Se o fluxo de turistas cai, aumenta a pressão pela expansão das áreas ­­ ocupadas pelo gado”. Lutando para manter essa gangorra equilibrada, pelo menos uma vez por mês Janaina junta suas tralhas e parte sozinha em seu 4 × 4 para duas ou três noites acampando em uma reserva. Imersa nas entranhas da África me­r i­dio­ nal — cheia de cores na estação das chuvas, selvagem e rude no pe­r ío­do da seca —, a fotógrafa busca o movimento em suas composições, espreita momentos onde a luz possa conferir um caráter de sonho às imagens, transformando-​ ­as em cenas quase surreais. “Que­ro encher os olhos do meu espectador”. A magia desses ce­ná­r ios encantou o Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, que produziu a exposição Mundo à Parte, em cartaz até o fim de outubro. Com curadoria de André Sturm, diretor do museu, a mostra é composta por 19 imagens, revelando instantes únicos da vida dos animais, como a fuga das zebras quando atacadas por uma leoa, enquanto urubus aguardam o desfecho nos galhos das árvores. A exposição deve seguir para outras cidades, e para 2016 Janaina pensa em editar um livro.


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