Boris Kossoy
F OTOG R A F I A
Foto: Sabrina Meira
Texto: Tânia Galluzzi
“Suas fotografias, tenham elas intenções realistas ou fantásticas, superpõem ao universo visível uma camada de sugestões misteriosas. Seja numa brusca exclamação visual, seja num envolvimento que progride vagaroso, mas certeiro, desencadeiam em nós o inesperado, o indefinível e o estranho.” Jorge Coli
1 Hommage à Kubrick (da série Hommages). Alemanha Ocidental, 1983
2
3
5
6
Viagens fantásticas
H
2 A Noiva (da série Viagem pelo Fantástico). Franco da Rocha, SP, 1970 3 Hommage à Hitchcock (da série Hommages). Paris, França, 1988 4 Surpresa na Estrada (da série Viagem pelo Fantástico). Periferia de São Paulo, 1970
á tanto para contar. Mas tanto já foi dito. Analisado. Corro os olhos pelas imagens. Mister iosas, instigantes, repletas de significados. Receio atrapalhá-las com minha intromissão. Mas alto lá! Sou amante das letras, companheira fiel e dedicada. Elas não vão me faltar agora que tenho a oportunidade de falar de um dos maiores peritos em fotografia da atualidade. Afinal ele, generoso como o mestre que é há 40 anos, abriu as portas de seu estúdio- casa a mim e a você, leitor da Revista Abigraf. Proponho-me, então, o exercício da concisão. Quero deixar espaço para que você conheça o trabalho de Boris Kossoy. Aceite meu convite. Não tenha pressa. Porque o artista não teve. Cada detalhe foi pensado. Cada situação escolhida para desestabilizar, ficções criad as para enfatizar a própria realidade. 4
98 REVISTA ABIGR AF novembro /dezembro 2015
A dicotomia entre o aparente e o oculto regem a obra de Boris Kossoy, sendo ele o pioneiro do realismo mágico na fotografia, um dos poucos seguidores brasileiros do movimento literário que projetou a América Latina nos anos 1960, capitaneado por nomes como Ga briel García Marquez e Julio Cortázar. Ele foi também um dos precursores na publicação de livros com trabalhos autorais no Brasil. Uma Viagem pelo Fantástico, de 1971, esgotado há 30 anos, mudou o rumo de sua carreira. No ano anter ior imagens suas já hav iam sido incorporadas ao acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), e à coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma), e hoje espalham-se por instituições como o Metropolitan, a Bibliothèque Nat ionale de France e a Pinacoteca do Estado. Seu primeiro contato com a fotografia aconteceu aos 14 anos e as duas imagens registradas por aquele menino inquieto representam, segundo o próprio Kossoy, uma síntese de tudo que ele já fez. Avenida São João e O disco voa dor trazem o documental e o ficcional em sua primeira exper iência como fotógrafo. Antes de a fotografia e a pesquisa acadêmica tomarem conta de sua vida, Kossoy combinou o processo com as artes gráficas. No ano em que se formou em Arquitetura pelo Mackenzie, – 1965, ele transformou seu escritório, no nº 266 da Rua Marquês de Itu, reg ião central da capital paulista, no Estúdio Ampliart, inicialmen te produzindo painéis fotográficos para decoração de inter iores e de estandes em feiras e depois, no final da década de 60, retratos. Nesse meio tempo fundou a Posters Promoções Gráficas com o arquiteto Livio Levi, o artista plástico Wesley Duke Lee e Albert Ades. Os pôsteres eram vendidos em bancas de jornal e traz iam personagens brasileiros como Chico Buarque e Caetano Veloso.
REPRESENTAÇÕES
Vamos dar um salto porque a cronologia de Kossoy é extensa, e mesmo resumida no livro Boris Kossoy – Fotógrafo, de 2010, ocupa mais de 10 páginas. As fotos que você vê aqui fazem parte da exposição Imago – Sobre o Aparente e o Oculto que ficou em cartaz entre setembro e outubro em Basel, na Suíça, comemorando os 50 anos de fotografia do pesquisador. A mostra, com 88 obras e que deve percorrer outros países europeus, coloca lado a lado as imagens mais conhecidas de Kossoy — como o arlequim na curva de uma estrada —, produzidas no início dos anos 70, com sér ies mais recentes, fazendo-as dialogar e manifestar a forte inf luência do cinema, dos quadrinhos e da literatura na obra do artista. Da complexidade de sua pesquisa imagética vem a outra faceta de Kossoy, talvez a mais conhecida, a do histor iador e teór ico da fotografia, com mais de 10 livros publicados, entre eles Hercule Florence, a descoberta isolada da foto grafia no Brasil (com edições em espanhol e alemão), Dicionár io Histórico-Fotográfico Brasileiro e Fotografia e História. “O trabalho teór ico nasceu para que eu pudesse entender meu próprio trabalho fotográfico”, afirma Kossoy. Com inúmeras exposições e vár ios prêmios, Kossoy continua a dar aula para alunos de pós- graduação na Universidade de São Paulo (USP) e a viajar para registrar o mundo. “Sigo tentando em minhas fotog raf ias, enfim, ir além do objeto explícito, além do aparente, da aparência, matéria-prima da fotografia, sua realidade ex ter ior; busco nas imagens pistas para a recuperação histórica de sua gênese, assim como dos fatos que representam. Me refiro, pois, ao que a câmera não registra, o oculto da representação, sua realidade inter ior.”
7
8
5 Sem título. Othmarschen, Hamburgo, Alemanha, 1990 6 Sem título. São Paulo, SP, 2009 7 A mulher e a Cidade (da série Viagem pelo Fantástico). Fotomontagem. São Paulo, 1971 8 Vitrine Vive. Madrid, 2012
BORIS KOSSOY www.boriskossoy.com
99 novembro /dezembro 2015 REVISTA ABIGR AF