CLAUDIO LARANGEIRA - Fotografia - Revista Abigraf 283

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Uma vida em quatro rodas 3

Claudio Larangeira

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história do automobilismo no Brasil tem seus astros. Numa li­ nha do tempo cheia de curvas de­ sa­f ia­do­ras, ela começa pon­tua­da por Chico Landi, que em 1949 venceu o GP de Bari, na Itália, pilotando um car­ ro projetado pelo comendador Enzo Ferrari, tor­ nando-​­se o primeiro piloto brasileiro a vencer uma prova in­ter­na­cio­nal no ex­te­r ior. Engrena com Emerson Fittipaldi, seus tro­féus na Fórmu­ la 1, na Fórmula Indy, e a aventura do Copersu­ car. Acelera com Nelson Piquet e seu tri­cam­peo­ na­to na F-​­1. Ganha asas na era Senna, um dos maiores ídolos do País. E segue em ritmo mais lento com Rubinho Barrichello e Felipe Massa. Como em toda boa história há também os que militam nos bastidores, ajudando a pavi­ mentar os caminhos que serão trilhados pelos protagonistas. Entre os que alicerçaram e, so­ bretudo, registraram tal trajetória, um nome conecta o mundo da velocidade ao universo das imagens: Claudio Larangeira, um dos fotó­ grafos de automobilismo mais respeitados do Brasil. De Landi a Massa, Larangeira acompa­ nhou o florescimento do esporte no Brasil e no mundo, pilotou kart ao lado de Emerson, cobriu mais de 40 GPs e figura como o único fotógra­ fo a participar de cinco ralis Camel Trophy. Foi amigo de Ayrton Senna e um dos responsáveis pela chegada da categoria Autocross no Brasil. Participou de incontáveis lançamentos de mo­ delos, compôs a equipe da revista 4Rodas em seu pe­r ío­do mais pujante e ajudou a divulgar

o turismo de aventura quando nem se sabia direito o que era isso por aqui. Paulistano da zona norte, Larangeira nas­ ceu em 1945. Filho de um “fotógrafo amador avançado”, começou a clicar ainda menino e aos 15 anos fotografava os carros dos amigos no autódromo de Interlagos. Antes dos 18 anos já estava colaborando com a revista Auto Esporte, depois com a Casa & Jardim, até chegar à 4Rodas como free­lan­cer. Por ter desvendado o segredo do automóvel Brasília, numa reporta­ gem com direito a tiros, tornou-​­se fun­cio­ná­r io da Editora Abril. “A revista estava há quase um ano tentando fotografar a Brasília antes do lan­ çamento. Num dia, eu e o repórter estávamos descendo a Estrada Velha de Santos quando cruzamos com um comboio, seis automóveis e duas Bra­sí­lias. Os testes do carro ha­v iam ter­ minado, mas um diretor da Volks queria andar na Brasília, e para isso foi montado um fortíssi­ mo esquema de segurança. A gente passou por eles e eu fiz algumas fotos. O repórter mano­ brou o carro e se meteu no meio. Estávamos em plena ditadura, o embaixador americano havia sido sequestrado, e a segurança, forma­ da por militares do CPOR , achou que era algo contra o diretor da empresa, cercou a gente e deu um tiro que pegou na placa do nosso car­ ro. Ficamos um dia presos, mas eu consegui esconder um filme no tênis e passar para uma testemunha na delegacia. A matéria saiu na 4Rodas com um título de tremendo bom gosto: ‘Apesar dos tiros, o furo’ ”.

Conversar com Claudio Larangeira é ouvir deliciosas narrativas, conhecer os bastidores do automobilismo e a vida de um dos fotógrafos mais renomados no meio automobilístico. Tânia Galluzzi

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1 Emerson Fittipaldi, numa de suas primeiras corridas de kart. Final dos anos 60, Kartódromo do Estoril, Guarapiranga, em São Paulo 2 Deserto do Atacama, Chile, 2009 3 Jaguar E Type, 1972, São Paulo, 2016. 4 Ferrovia, Paranapiacaba (SP), 1980 5 Camel Trophy, Amazônia, 1984 6 Lotus JPS 72, Emerson Fittipaldi, vencedor do GP do Brasil de 1973, Interlagos, SP 7 Ayrton Senna, curva do S, 1990

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fotografou para outras revistas, assim como para montadoras. Entre elas a Audi, convidado pelo próprio Senna. Ao contar que o piloto fre­ quentava sua casa não resisto e pergunto se ele estava em Imola naquele fatídico 1º de maio de 1994. “Não. Estava na Pedra Grande, em Atibaia [SP], com a Cleide, fotografando um Audi jus­ tamente para o Ayrton. E aconteceu algo mui­ to estranho. Fazia um amanhecer lindo e de re­ pente começou uma tremenda ventania a ponto

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8 Sequência: Interlagos, 1992. Ayrton Senna, com a pole garantida, anda devagar e deixa o lado sujo da pista para Nigel Mansell durante a classificação. Não deu outra . . . muro 9 Boiada, Mato Grosso do Sul. Foto premiada no Nikon Photo Contest de 1982, entre 12.500 fotos de 56 países 10 Camel Trophy, Amazônia, 1984 11 Locomotivas a vapor em funcionamento, São João Del Rei (MG), 1978 12 Audi A7, Clube de Polo São José, Indaiatuba (SP), 2011

CLAUDIO LARANGEIRA claranja@uol.com.br 12

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NOVAS EXPERIÊNCIAS

Foram 21 anos de Editora Abril, clicando tam­ bém para Veja e Placar, cobrindo automobilismo, testes de novos modelos e turismo de aventu­ ra. Nessa sea­ra contava com a ajuda da esposa, Cleide, com quem está casado há 46 anos. La­ rangeira propunha roteiros desconhecidos às re­ vistas e saía com a mulher descobrindo novos destinos. Assim conheceu quase todo o Brasil e o mundo. Em 1984 foi incumbido por Roberto Civita para cobrir o Camel Trophy, na Amazô­ nia. “Ele queria que eu escrevesse, mas eu resis­ tia. Eu sou fotógrafo e achava que não era certo eu me meter em outra área, mas ele insistiu di­ zendo para eu fazer um diá­r io da via­gem. Acei­ tei e no final das contas a matéria foi escolhida como a melhor reportagem sobre a competição entre revistas de todo o mundo. Mas sei que foi pelas fotos, que ficaram lindas”, ri Larangeira. O fotógrafo saiu da Abril em 1994. Além de administrar e rentabilizar seu próprio acervo,

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de a gente não conseguir fechar a porta do car­ ro. A Cleide ficou aflita, repetindo que tínha­ mos de ir embora. Surgiu uma neblina não sei de onde. Não con­se­guía­mos ver nem nossos pés. Saí­mos de lá e no caminho de volta soubemos do acidente pelo rádio.” Afora contar ex­pe­r iên­c ias que enriquece­ riam vá­r ias vidas, Larangeira continua foto­ grafando, pegando estradas e dedicando-​­se a outro veí­cu­lo, o trem. A paixão vai do modelis­ mo às fotos de locomotivas de verdade, com as quais quer lançar um livro. Penso o quão inte­ ressante seria colocar a vida dele no papel, es­ crever sobre essa figura ao mesmo tempo forte e doce. Quer dividir esse sentimento comi­ go? Joga no YouTube A História de um Grande Fotógrafo Automotivo, no canal Webmotors.


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