Christian Cravo
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F OTOG R A F I A
Uma outra África África de Christian Cravo acaba de passar por São Paulo. A Exposição Luz e Sombra esteve em cartaz na Dan Galeria e agora segue para o Museu da Fotografia, em Fortaleza. A mostra revela a “necessidade visceral de absorver paisagens contemplativas”, sentida pelo fotógrafo após o falecimento de seu pai, Mário Cravo Neto, também fotógrafo (além de escultor e desenhista), em 2009. Os destinos na África foram escolhidos ao longo do caminho. “Precisava de espaço para pensar e refletir. A cada etapa as necessidades, físicas, estruturais e emocionais, eram ava liadas. Ao todo, sete países foram incluídos no projeto: Namíbia, Zâmbia, Botsuana, Quênia, Tanzânia, Congo e Uganda.” O resultado são imagens poéticas de uma África inóspita e desprovida do elemento humano, cujo impacto é acentuado pela escolha do preto e branco. “O PB resume a essência do olhar. A cor é aquilo que se vê. Vermelho é vermelho, verde é verde. O PB permite imaginar e sonhar, pois as cores não estão presentes.” A abstração do Luz e Sombra também representa um contraponto ao trabalho anterior de Christian, Jardim do Éden, que ele considera
o mais profundo que já fez. Por nove anos, em “inúmeras e incontáveis via gens”, o fotógrafo registrou os ritos vodu no Haiti. “Terminei quando houve o terrível terremoto em janeiro de 2010 que abalou o país. Neste momento percebi que havia chegado ao fim. Neste momento me virei para a África.” Ele conta que decidiu ir para o Haiti pela mesma razão que o levou à fotografia documental: o fato de sentir-se sobrecarregado pela presença do pai e do avô (o escultor Mário Cravo Junior) do ponto de vista temático, artistas que se dedicaram a retratar a gente e os cultos religiosos da Bahia.
Aos 43 anos de idade e vinte de fotografia, Christian Cravo está em cartaz com Luz e Sombra, um mergulho na paisagem africana. Tânia Galluzzi
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REVISTA ABIGR AF
PAIXÃO PELA FOTOGRAFIA
O interesse de Christian pela fotografia surgiu ainda na infância. Na época a família morava na Dinamarca e os longos invernos e a pouca atividade exterior despertaram seu interesse pelo laboratório fotográfico, onde passava horas e horas depois das aulas. “Quando completei 17 anos, e com o incentivo da minha professora, vim ao Brasil para fazer uma hands on experience com meu pai. Passei dois anos aqui e nesse tempo a fotografia me conquistou. Tive
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que retornar à Dinamarca para prestar o serviço militar por dois anos, mas ao completar esse período, voltei ao Brasil, onde estou até hoje.” A fotografia documental veio do espírito viajante da mãe, de descendência nórdica, mas sobretudo como uma alternativa para que ele pudesse se firmar longe do território de trabalho de seu avô e de seu pai, que usaram a Bahia como fonte de inspiração. Christian está agora envolvido com o livro Filhos de Gandhy, programado para junho de 2018. Com texto de Gilberto Gil e do historiador e antropólogo Antonio Risério, a obra trata do mais famoso afoxé da Bahia. Impressa na Ipsis, terá 200 páginas e entre 80 e 95 imagens. Afora o livro sobre as paisagens africanas, o fotógrafo está imerso num trabalho sobre suas três filhas e sua mulher.