DO DAGUERREÓTIPO AO DRONE Revista Abigraf 292

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Do daguerreรณtipo ao drone


F OTOG R A F I A História do Brasil em 100 Fotografias resgata momentos cruciais do País, com registros que percorrem dois séculos.

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Tânia Galluzzi

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oram praticamente dois anos entre a seleção das imagens pelo conselho curador, a escolha dos redatores, todos especialistas nos assuntos tratados, redação, liberação de direitos das imagens, produção e impressão. O resultado é a trajetória de um país em um grande mosaico, no qual cada uma das peças, boa parte em preto e branco, encerra a essência de um momento decisivo na vida nacional. A ideia do livro nasceu, como conta Ana Cecília Impel lizieri Martins, uma das organizadoras da obra, da vontade de ter a fotografia como protagonista na construção da narrativa da história do Brasil. “Ela, que já vem servindo como instrumento de apoio para estudos e revisões da nossa história, deveria ser, ao nosso ver, encarada como tal.” Atravessando quase 200 anos, História do Brasil em 100 Fotografias reúne imagens de alguns dos mais importantes fotógrafos que atuaram no País, de diferentes tempos, como Marc Ferrez, José Medeiros, Maureen Bisil liat, Sebastião Salgado, David Zingg e Custódio Coimbra. Numa seleção feita e apresentada por espe cia lis tas, entre curadores, his toria dores,

pesquisadores e escritores, há imagens que testemunham episódios emblemáticos, como guerras e revoltas, grandes obras ou acontecimentos trágicos. O livro traz ainda fotografias que criam, elas mesmas, interpretações próprias para eventos ou tratam de práticas e mentalidades muitas vezes escusas, como descreve o texto de apresentação da obra. O PAÍS E SUAS HISTÓRIAS

A maior dificuldade, segundo Ana Cecília, além da própria seleção das fotos, foi encontrar o formato ideal para os textos, de modo que pudessem abordar o fato histórico e seu contexto, fazendo, ao mesmo tempo, uma leitura da imagem e informando, quando cabível, sobre sua repercussão e também os bastidores. “Buscamos selecionar imagens que sur preendessem o leitor, criando um equilíbrio entre aquelas mais históricas e outras que falassem sobre expressões da nossa cultura, do nosso modo de ser e comportamento. Nessa garimpagem, “alguns nomes são incontornáveis”, assinala a curadora, como Marc Ferrez e Augusto Malta. Há também imagens de

1 (página ao lado) J. Pinto, 1925. Albert Einstein e cientistas brasileiros em visita ao Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Acervo FioCruz. 2 (página ao lado) Fotógrafo não identificado, 1906. O 14-Bis de Santos Dumont em pleno voo, para espanto do público parisiense. Paris. Acervo Getty Images. 3 Louis Comte, 1840. Vista do Paço Imperial. Daguerreótipo é a primeira imagem feita no Brasil e na América do Sul. Acervo coleção particular.

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fotógrafos que revolucionaram o fotojornalismo no País, a partir dos anos de 1940, época da revista O Cruzeiro, como Jean Manzon e Marcel Gautherot. Nos anos de 1960, as imagens de Evandro Teixeira no momento da ditadura 4 Fotógrafo não identificado, 1984. Comício das Diretas Já, em frente à Candelária, Rio de Janeiro. Acervo Folha Press. 5 Presidente Jânio Quadros de pés trocados, Uruguaiana, RS. Acervo Jornal do Brasil. 6 Keffel Filho, 1954. Comoção durante velório de Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Acervo Estado de Minas 7 Fotógrafo não identificado, 1950. Segundo gol da Seleção uruguaia em jogo contra o Brasil na final da Copa de 1950. Rio de Janeiro. Acervo Associated Press.

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são o testemunho mais eloquente desse período terrível do Brasil. “Há retratistas maravilhosos, fotógrafos de imprensa de jornais como O Globo e O Estado de S. Paulo, e temos ainda imagem com drone, feita por Pedro Mascaro. Ou seja, o livro é também uma história da própria fotografia no País, indo do daguerreótipo ao drone.” A imagem mais antiga, a primeira feita no Brasil e na América do Sul, data de 1840. Atribuída à Louis Comte, mostra o Paço Imperial, no Rio de Janeiro. A mais recente, o registro dos índios isolados no Acre, foi clicada em 2016 por Ricardo Stuckert. A impressão foi feita na Ipsis, que rodou dois mil exemplares. Cliente antigo da gráfica paulista, a editora Bazar do Tempo acaba inclusive de ganhar o Prêmio Jabuti na categoria Artes, Fotografia, Arquitetura e Urbanismo com o livro Lentes da Memória, produzido pela Ipsis. Lançado em outubro, o História do Brasil tem sido bem recebido pelo mercado. “Estamos felizes em poder despertar o interesse das pessoas pela nossa história e pela fotografia”, afirma Ana Cecília, que teve ao seu lado na organização da obra Joaquim Marçal de Andrade, Luciano Figueiredo e Milton Guran. Entre os próximos projetos da Bazar do Tempo, casa editorial dedicada a livros e projetos ligados às áreas de fotografia, arquitetura, música, poesia, história, ensaio, literatura infantojuvenil e memória cultural, estão Machina Mundi, de Claudio Edinger, e ZigZag, de Marcos Bonisson, ambos fotógrafos brasileiros de reconhecimento inter nacional.


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