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ARTE
YUGO MABE 1
Yugo Mabe expressa seu profundo respeito e amor pela natureza ocupando as telas com cores e texturas intensas, reverenciando as formas que compõem seu glossário iconográfico. Tânia Galluzzi 3
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Talvez esses episódios não tenham sido assim tão frequentes, confessa Yugo, mas foram representativos o suficiente para fazê-lo apaixonar-se definitivamente pelo cromatismo da natureza e nunca mais abandoná-lo. Soma-se a isso a proximidade do pai, Manabu Mabe, referência do abstracionismo no Brasil e no mundo, e chegamos a um jovem nissei desde muito cedo interessado pela pintura, porém que se recusava a vender seus quadros, mesmo quando requisitados, até considerar-se um pintor profissional. 5
Natureza luminosa 1 ( página 20) São Paulo, acrílico sobre tela, 2005 2 ( página anterior) Sem título, acrílico sobre tela, 2012 3 ( página anterior) Sem título, acrílico sobre tela, 2010 4 Sem título, acrílico sobre tela, 2013 5 Cascavel, Ceará, acrílico sobre tela, 1982 6 Sem título, acrílico sobre tela, 2012
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cenário não poderia ser mais idílico e impressionista. Um piquenique em família num domingo ensolarado, uma represa, crianças com varinhas de bambu brincando de pescar. Após o lanche, organizado em bentôs cuidadosamente preparados, os adultos descansam enquanto as crianças tratam de montar seus cavaletes para pintar. Exatamente assim Yugo Mabe deu os primeiros passos na arte decorativa. Em algum lugar perdido em sua memória, entre os municípios paulistas de Eldorado e Diadema, o menino começou a perceber por onde iniciar uma paisagem, a entender que um desenho podia ter vários planos e a decifrar a linguagem das cores.
Isso só aconteceu aos 25 anos, já formado em Propaganda e Marketing, após a mais longa conversa que diz ter tido com seu pai. Em 1980, ambos viajavam para o Japão e tempo não faltou para que Yugo falasse claramente sobre sua pretensão em viver da pintura. O pai enumerou todas as dificuldades enfrentadas por um artista plástico. Eventualmente a família que ele porventura formasse poderia sofrer com a sazonalidade das vendas de suas obras. Yugo rebateu com o argumento de que só se sentiria feliz se fizesse o que realmente gostava e então, pela primeira vez, Manabu, que acompanhava de perto a produção do filho, disse que Yugo tinha um dom para a pintura. De volta ao Brasil, Manabu cuidou de apresentar formalmente o filho ao mundo das artes, organizando sua primeira exposição individual na galeria Documenta, em São Paulo. Nus e paisagens compunham a mostra. Todos os quadros foram vendidos. ORIGEM DAS CORES
Yugo cresceu sentindo o cheiro da tinta. Caçula dos três irmãos, gostava de ficar ao lado do pai acompanhando seu processo criativo, testemunhando a facilidade com que duelava com as cores, compondo-as e confrontando-as, tentando imaginar o que eram todas aquelas formas. Mesmo adulto, Yugo mantinha-se muito próximo do pai. Nada mais natural do que
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7 Rio Santos, acrílico sobre tela, 1982 8 Sem título, acrílico sobre tela, 2012 9 Nu, acrílico sobre tela, 1979 10 Veneza, acrílico sobre tela, 1999
& YUGO MABE Tel. 5011-5869 www.facebook.com.br/yugo.mabe
relacionar o seu uso das cores com a prática do pai. Só que Yugo refuta essa ideia, revelando que elas estão muito mais alinhadas com outro mestre da cor, Aldemir Martins. Aldemir era praticamente um tio para Yugo e naquele mesmo ano de 1980 guiou-o em uma viagem decisiva para seu repertório cromático, reforçando seu interesse pelas paisagens naturais. No Ceará, Yugo espantou-se com a intensa claridade nordestina, com a magia das cores das frutas, com a profundidade do azul celeste. Sua pintura ganhou novas dimensões. Seis anos depois, o projeto de uma exposição na Realidade Galeria de Arte, no Rio de Janeiro realinhou seu trabalho. A marchande Nilda Araripe propôs que ele desenhasse flores em telas de grandes dimensões. A liberdade de á reas maiores impulsionou-o a romper os limites da arte figurativa, aproximando-o do abstracionismo. Senhor de arte, Yugo viu sua obra florescer no mesmo estilo que consagrou seu pai. Isso não 10
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Capa: Flores, acrílico sobre tela, 2008 REVISTA ABIGR AF julho /agosto 2013
significa que deixou de visitar o figurativismo, permitindo-o vazar em suas paisagens. A representação da natureza, essa sim, não perde espaço, assim como os tons vigorosos. Há anos Yugo não expõe. Ele continua produzindo, pintando sobretudo à noite, mas o projeto do museu Manabu Mabe vem tomando seu tempo. Ele comenta que 85% da obra está concluída, contudo os ajustes para deixar o imóvel de 1911, tombado pelo Condephaat, em acordo com as normas de acessibilidade e ambientalmente amigável não são simples. O museu funcionará na Rua São Joaquim, no antigo Colégio Campos Salles, no bairro da Liberdade, e deve ser inaugurado em 2014. Se no início de sua carreira o fato de ser filho de quem é chegou a ser um fardo para Yugo, o tempo e seu próprio talento cuidaram de afastar essa ideia. Por 25 anos, o artista assinou apenas seu nome em suas obras. Marcando sua maturidade e suas bodas de prata artísticas, desde 2005 inclui o sobrenome em suas pinturas.