Caio Vilela - Fotografia - Revista Abigraf 257

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Caio Vilela

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F OTOG R A F I A

“Viajar é descobrir que todas as pessoas estão erradas a respeito dos outros países.” Aldous Huxley, escritor inglês. Tânia Galluzzi

 1 Gruta Luminosa,

Parque Estadual Intervales

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Viajar é preciso

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2 Bola improvisada feita pelos alunos da escola de Moshi, Tanzânia 3 Centro histórico de Sanaa, capital do Iêmen

onversar com Caio Vilela, 41 anos, é partilhar o prazer de via­ jar, de travar contato com luga­ res e culturas diferentes, de viver além das fronteiras. É também concordar com a frase de Aldous Huxley. “Te­ mos uma visão distorcida de muitos lugares. Tinha muito receio de ir à África, por conta da vio­lên­cia, das doen­ças, e descobri um continen­ te apaixonante, o melhor lugar para fotografar. Outro exemplo: o Irã. Pegue a hospitalidade do nordestino, multiplique por 10, some a educa­ ção do inglês e você terá o ira­nia­no”. A vonta­ de de ganhar o mundo levou Caio à fotografia. Em 1991 começou a trabalhar como guia de eco­ turismo enquanto cursava Geo­g ra­f ia na USP, conduzindo grupos de estudantes e turistas pelo Brasil. Para ganhar uns trocados a mais e fi­nan­ciar suas via­gens, montava álbuns de foto­ grafia para escolas. No último ano da faculdade,

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um amigo apresentou-o ao editor de turismo do Jornal da Tarde, Hélio Guimarães, que procura­ va alguém que falasse sobre ecoturismo na­cio­ nal. Feita a ponte, a primeira pauta foi o desco­ nhecido câ­nion do Guar­te­lá, no Paraná, ficando Caio responsável pelas fotos e pelo texto. A cada 15 dias, ele era responsável pela contracapa do caderno de turismo, e o jornal começou a apos­ tar nas reportagens. “Era ainda a época do uso de filme. Aprendi na prática. Sugeria o local e tinha de trazer fotos publicáveis”. Com a paridade do câmbio imposta pelo go­ verno Collor, Caio juntou 12 mil dólares e par­ tiu para Londres, de lá seguindo para a Ásia e o Orien­te Médio. O dinheiro durou seis meses e rendeu um amplo ma­te­r ial fotográfico, que abriu as portas da Editora Abril. A primeira re­ vista a se interessar pelas suas fotos foi a Qua­ tro Rodas, que publicou matéria sobre a estrada mais alta do mundo, na montanha Khardong La, na divisa entre a Índia e a China. A partir daí, além de turismo, Caio passou a cobrir ou­ tras edi­to­r ias, como cultura e gastronomia. Muitas vezes acompanhava jornalistas, nou­ tras cuidava de tudo, porém o maior prazer estava em propor os temas, pesquisar locais e via­bi­l i­zar as via­gens. Pé na estrada

Sempre trabalhando de forma independente, em 20 anos Caio conheceu 75 paí­ses em todos os continentes, incluindo a Antártida, chegan­ do a via­jar sete meses por ano. No Brasil só não visitou o Amapá. “Passei por lá mas não pos­ so dizer que conheço”. Seu trabalho já foi pu­ blicado em jornais e revistas como Folha de S.Paulo, Rolling Stone, Playboy, Elle, Via­gem & Turismo, Horizonte Geo­g rá­f i­ co e Vida Simples e hoje ele se considera metade fotógrafo e metade jornalista. Tal combinação rendeu li­ vros e exposições e Caio está cada vez mais envolvido com esse tipo de projeto. Desde o nascimento de seu primeiro filho, em 2003, anda mais se­ letivo com relação às pautas, procurando ficar menos tem­ po fora de São Paulo. Dando continuidade ao tema aborda­ do no livro lançado em 2009 pela Panda ­Books, Futebol sem 


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4 Mercado de Djenné, Mali 5 Entardecer no Kilimanjaro 6 Pelada em parque de Cotonou, Benin

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& CAIO VILELA Tel. (11) 9885.0731 www.caiovilela.com.br REVISTA ABIGR AF  JANEIRO/ FEVEREIRO 2012

Fronteiras – Retratos da Bola ao Redor do Mundo, Caio trabalha agora no livro Peladas. “Já tenho muito ma­te­r ial, mas ainda quero fotografar o futebol de rua na Ásia Central, na América Cen­ tral, na re­g ião dos Bálcãs e no Leste Europeu. Estou enquadrando o projeto na Lei Rouanet e pretendo lançá-lo antes da Copa do Mundo”. A ideia do tema surgiu por acaso, a partir de uma foto de crian­ças brincando com uma bola feita no Irã em 2004. “Comecei a clicar gente jo­ gando bola e da noite para o dia vi surgir o inte­ resse das pes­soas por essas imagens”. O cu­r io­so é que Caio não joga futebol e não tem um time do coração. “Gosto do balé, do ri­tual, além de o futebol ser um assunto muito dinâmico. Dá pra fotografar do detalhe ao panorama”. Mais adian­ta­do que o Peladas está o proje­ to Futebol, arte do Oiapoque ao Chuí, retratando o futebol de rua pelo Brasil. Para este falta cli­ car gente comum chutando a bola em pontos específicos, como uma plataforma de petró­ leo, o presídio de Bangu e os pampas gaú­chos. Há ainda um terceiro projeto envolvendo a pe­ lota, tratando do futebol de rua no mundo ára­ be. Ele já rendeu uma exposição no Mercado Central de Doha, no Catar, em 2010, com ima­ gens produzidas sob encomenda para o comi­ tê Qatar Bidding Na­tion 2022. Contudo, a pro­ dução do livro foi interrompida pelos recentes acontecimentos na re­g ião. Mesmo com as reportagens, Caio continua como guia de ecoturismo. Todos os meses de abril e outubro acompanha grupos em endu­ ros a pé de 17 dias pelo Campo Base do Eve­ rest. Para a mesma agência também faz algumas via­gens pelo Brasil. Ele ainda abre espaço para ­atuar como fixer (produtor de campo) para três canais de TV, dois ale­ mães e um finlandês, organizando a produ­ ção de programas es­ peciais no Brasil. Por falar em terras bra­ sileiras, Caio deixa a dica de um lugar que falta conhecer por aqui, o Parque Na­cio­ nal do Vale do Pe­r ua­ çu, em Minas Gerais, onde só se entra com autorização do Iba­ ma e que concentra as maiores cavernas do País. Que tal?


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