Quadrinhos em versão de gala - Revista Abigraf 290

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MERCADO

Quadrinhos em ~ versao de gala

O amadurecimento do público-leitor, fiel e exigente, catapultou as histórias em quadrinhos para um novo patamar. Nessa trajetória ganharam em sofisticação e diversidade, com edições luxuosas cobiçadas por consumidores dispostos a pagar caro para ter seus heróis na estante.

Foto: Tânia Galluzzi

Texto: Tânia Galluzzi

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V

olte para os anos de . Onde você iria buscar his tórias em quadrinhos? Numa banca de jornal. Ponto. E hoje? A banca continua uma boa opção, claro, mas também e sobretudo em uma livraria, ainda mais se você estiver na casa dos 40 anos. Nem precisa ser um aficionado, basta gostar de HQs e estar disposto a gastar valores bem superiores ao preço médio do livro no Brasil, que gira em torno de R$ 35. E o que você procura? Edições com acabamento sofisticado dos personagens que acompanharam a sua adolescência, ou mesmo temas atuais, ficção científica e suspense em versões ilustradas. A história em quadrinhos evoluiu significativamente nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, tanto em conteúdo, cada vez mais

abrangente, quanto no formato. A capa dura reina, assim como o papel revestido, isso quando não vem adornada com hot stamping e otras cositas más. Ratificando essa ascensão, o Prêmio Jabuti, o mais tradicional concurso literário brasileiro, passa a incluir, neste ano, a categoria HQs, atendendo a uma petição pública criada por um grupo de quadrinistas. “A mobilização do pessoal foi muito importante, mas já havia uma compreensão dentro da Câmara Brasileira do Livro e do Jabuti a respeito da inclusão dessa categoria. Recentemente, li um artigo na New Yorker que defendia, com todo vigor e argumentos muito claros e racionais, que HQ é sim uma categoria literária”, afirmou Luiz Armando Bagolin, curador do prêmio, no dia do anúncio da inclusão, como registrou o portal PublishNews.


Foto: Tânia Galluzzi

Uma das editoras que mais investiu no gênero foi a Panini. Seu leque de opções vai desde personagens que representam grandes franquias do cinema até autores independentes, sem falar na Turma da Mônica e a Turma da Mônica Jovem, que traz a turminha do bairro do Limoeiro em estilo mangá, o título de maior tiragem da Panini hoje. “Normalmente, os títulos mais procurados são aqueles relacionados a filmes de grande sucesso, a animês que estão em evidência, e títulos que ganharam fama ao serem bem ava liados pela crítica especia li zada. Ou fenômenos como a Turma da Mônica Jovem, que é um sucesso desde sua estreia”, afirma José Eduardo Severo Martins, diretor-presidente da Panini Brasil. De acordo com o executivo, a maioria dos leitores da Panini são homens entre 18 e 40 anos, seguidos pelos adolescentes. “Mas estamos vendo um crescimento da participação das mulheres, reflexo da variedade das publicações oferecidas aos leitores. ” As edições com capa dura representam boa parte do que traz os resultados mais significativos nas livrarias. E a demanda só aumenta, segundo José Eduardo. “Nossa linha para livrarias está em franco crescimento. E não temos intenção de parar. Pode apostar nisso.”

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Jorge Rodrigues, sócio da Comix: “A loja recebe entre 115 e 120 lançamentos por mês, do infantil à graphic novel, e 40% são edições em capa dura”.

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CRESCENTE SOFISTICAÇÃO

Na Devir e na Mythos o quadro não é diferente. O acervo da Devir conta com 400 títulos, com previsão de lançamento de quatro títulos por mês em 2018. “Pelo menos 50% dos nossos projetos preveem um acabamento diferenciado”, diz Paulo Roberto Silva Junior, coordenador editorial da Devir Brasil. A Mythos lança entre três e quatro títulos com capa dura por mês, com tiragens que va riam entre 1.000 e 4.000 exemplares, segundo Hélcio de Carvalho, um dos fundadores da Mythos em 1996. Em contato direto com o consumidor, Jorge Rodrigues, sócio da Comix, uma das poucas livrarias especia lizadas em quadrinhos em São Paulo, acompanhou de perto a trajetória das HQs rumo à sofisticação. “O mercado só não está melhor por conta da crise. Recebemos

entre 115 e 120 lançamentos por mês, do infantil à graphic novel, e 40% são edições em capa dura. Até os mangás evoluíram. Quando não em capa dura, chegam com capa cartonada e orelha, impressos em papel offset. ” Os preços podem passar dos R$ 150,00. Quem deseja ter a coleção das quatro edições de luxo da cultuada série Watchmen, escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons, vai gastar a bagatela de R$ 600. “A Disney, por exemplo, reeditou recentemente o Manual do Escoteiro Mirim em capa dura, com tiragem de 30.000 exemplares, e já partiu para a reimpressão”, conta Jorge. É unânime a influência decisiva dos filmes baseados em super-heróis no sucesso das HQs. E não há sinais de recuo a médio prazo por parte dos grandes estúdios, com lançamentos já programados pelo menos até 2025. “É certo que teremos todo esse tempo para difundirmos ainda mais os quadrinhos e conquistarmos novos leitores”, comenta José Eduardo. “Mas precisamos estar sempre antenados às necessidades do público e à oferta de produtos que despertem o interesse dos colecionadores, além de inovarmos nas publicações que vamos oferecer. ” Quer mais? No início de agosto, a Netflix anunciou a primeira compra desde sua fundação: a editora de quadrinhos Millarworld, criada pelo cartunista Mark Millar, responsável pelas HQs Guerra Civil, na Marvel, e Kick-Ass, em sua própria companhia. O objetivo é levar o universo de Millar para o streaming.


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