Nelson Kon - Fotografia - Revista Abigraf 258

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Os espa莽os arquitet么nicos de

Nelson Kon


F OTOG R A F I A

“Ao falarmos de fotografia de arquitetura não estamos nos referindo apenas ao registro ou à ilustração do trabalho de um arquiteto, não estamos apenas falando da forma, mas também de cultura, de meio ambiente, de antropologia, da nossa vida nas cidades, nas metrópoles e de como nós vivenciamos essas experiências”. Simonetta Persichetti, jornalista Tânia Galluzzi


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1 (página dupla anterior) Intervenção urbana na Praça do Patriarca, São Paulo, SP (arquiteto: Paulo Mendes da Rocha) 2 Hospital Sarah Kubitschek Lago Norte, Brasília, DF (arquiteto: Lelé – João Filgueiras Lima) 3 Vista noturna da Avenida São João, São Paulo, SP 4 Edifício Copan, São Paulo, SP (arquiteto: Oscar Niemeyer) 5 Indústria Mahle Metal Leve, Jundiaí, SP (arquiteto: Roberto Loeb)

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ara Nelson Kon, a fotografia de arquitetura é a construção de uma narrativa. Não lhe interes­ sa clicar cada um dos am­bien­tes de uma determinada obra, e sim contar a história de como os espaços se coor­de­ nam, evi­den­ciar suas vá­r ias dimensões. É assim há mais de 20 anos, desde que se formou na Faculdade de Arquitetura e Urba­ nismo da Universidade de São Paulo (FAU-​­USP). Até ingressar no curso su­pe­r ior, a fotografia não representava nada para ele. Foi ao conhe­ cer o laboratório da FAU e, principalmente, as figuras que por lá circulavam que Nelson iden­ tificou sua vocação. Não era para menos: no co­ mando do laboratório estava Cris­tia­no Masca­ ro, referência em se tratando de fotografia da arquitetura da capital paulista, e ao seu lado os não menos aclamados João Musa, Sérgio 5

4 REVISTA ABIGR AF  março /abril 2012

Burgui e Raul Garcez (falecido em 1987). “Nun­ ca fiz um projeto. Passei os cinco anos da facul­ dade fotografando e quando saí, em 1983, já ti­ nha decidido o que queria fazer”. O que ele não sabia era que praticamente inexistia no Brasil a figura do fotógrafo de arquitetura. A alternati­ va foi encarar a fotografia de publicidade. Mon­ tou um estúdio em so­cie­da­de com Fábio Sam­ paio e partiu para o mercado. Mas sua alma não acompanhou tal decisão. Clamava pelos 3


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Brasília houve um declínio da importância da arquitetura na­cio­nal e, quando Nelson come­ çou, a percepção era de que nada de interessan­ te era produzido por aqui, o que não deixava de ser verdade. “Acabei tendo uma atua­ção militan­ te. Uma visão passadista, me­dío­cre, rea­cio­ná­ria, tomava conta do mercado imo­bi­liá­r io e eu acha­ va que a boa arquitetura tinha de ser mostrada. Fotografava de graça ou por muito pouco”. Um outro olhar 7

6 Centro de Artes e Educação do Pimentas, Guarulhos, SP (arquiteto: Biselli + Katchborian Arquitetos) 7 Passagem de pedestres na Rua 25 de Março, São Paulo, SP 8 Hotel Fasano Boa Vista, Porto Feliz, SP (arquiteto: Isay Weinfeld) 9 Vista a partir da cobertura do Edifício do Congresso Nacional, Brasília, DF

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espaços amplos, cortes secos, formas estrutu­ rais. Depois de quatro anos resolveu encarar a in­ci­pien­te fotografia de arquitetura, traduzida em duas publicações: as revistas Projeto e Arquitetura & Urbanismo. “Era tudo muito amador. Para mostrar as obras, às vezes chamavam fo­ tógrafos de casamento, noutras os pró­prios ar­ quitetos registravam os projetos. Os es­cri­tó­r ios de arquitetura não in­c luíam esse custo”. Nem sempre foi assim. Nelson conta que entre os anos 40 e 60 a arquitetura brasileira teve uma forte expressão, atraindo inclusive o interesse de publicações internacionais, ala­ vancando a fotografia. Depois da construção de 9

& NELSON KON Tel. (11) 3231.4868 www.nelsonkon.com.br

Por dominar o repertório da arquitetura, saber o que era e o que não era relevante, Nelson ofe­ recia um serviço di­fe­ren­cia­do, sendo então mui­ to requisitado. Através da Projeto, seu trabalho ganhou visibilidade e ele passou a atender, além dos fotógrafos de sua geração que estavam co­ meçando, as empresas que anun­cia­vam na re­ vista. “Muitos pagavam em espécie. Construí minha casa assim”, diverte-se o fotógrafo. Esse cenário mudou muito. A demanda pela fotografia de arquitetura cresceu significativa­ mente, provocando até o surgimento de uma nova figura, o caçador de projetos, fotógrafo que vai atrás das obras para oferecer seu traba­ lho para as revistas. Inversões acontecem na ou­ tra ponta, com arquitetos crian­do projetos para serem fotografados, vistos em revistas. “Nem sempre o que fica bem na revista é bom para ser vi­ven­cia­do no dia a dia”. Em contrapartida, há gente pensando além da lógica “mais reais por metro quadrado”, dis­ cutindo os espaços urbanos, crian­do soluções como a Praça das Artes, na re­gião central de São Paulo, e a rede de hospitais Sarah Kubitschek, presente em oito cidades. Essa é a arquitetura que atrai hoje o foco de Nelson Kon.


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