Os espa莽os arquitet么nicos de
Nelson Kon
F OTOG R A F I A
“Ao falarmos de fotografia de arquitetura não estamos nos referindo apenas ao registro ou à ilustração do trabalho de um arquiteto, não estamos apenas falando da forma, mas também de cultura, de meio ambiente, de antropologia, da nossa vida nas cidades, nas metrópoles e de como nós vivenciamos essas experiências”. Simonetta Persichetti, jornalista Tânia Galluzzi
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1 (página dupla anterior) Intervenção urbana na Praça do Patriarca, São Paulo, SP (arquiteto: Paulo Mendes da Rocha) 2 Hospital Sarah Kubitschek Lago Norte, Brasília, DF (arquiteto: Lelé – João Filgueiras Lima) 3 Vista noturna da Avenida São João, São Paulo, SP 4 Edifício Copan, São Paulo, SP (arquiteto: Oscar Niemeyer) 5 Indústria Mahle Metal Leve, Jundiaí, SP (arquiteto: Roberto Loeb)
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ara Nelson Kon, a fotografia de arquitetura é a construção de uma narrativa. Não lhe interes sa clicar cada um dos ambientes de uma determinada obra, e sim contar a história de como os espaços se coorde nam, evidenciar suas vár ias dimensões. É assim há mais de 20 anos, desde que se formou na Faculdade de Arquitetura e Urba nismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Até ingressar no curso super ior, a fotografia não representava nada para ele. Foi ao conhe cer o laboratório da FAU e, principalmente, as figuras que por lá circulavam que Nelson iden tificou sua vocação. Não era para menos: no co mando do laboratório estava Cristiano Masca ro, referência em se tratando de fotografia da arquitetura da capital paulista, e ao seu lado os não menos aclamados João Musa, Sérgio 5
4 REVISTA ABIGR AF março /abril 2012
Burgui e Raul Garcez (falecido em 1987). “Nun ca fiz um projeto. Passei os cinco anos da facul dade fotografando e quando saí, em 1983, já ti nha decidido o que queria fazer”. O que ele não sabia era que praticamente inexistia no Brasil a figura do fotógrafo de arquitetura. A alternati va foi encarar a fotografia de publicidade. Mon tou um estúdio em sociedade com Fábio Sam paio e partiu para o mercado. Mas sua alma não acompanhou tal decisão. Clamava pelos 3
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Brasília houve um declínio da importância da arquitetura nacional e, quando Nelson come çou, a percepção era de que nada de interessan te era produzido por aqui, o que não deixava de ser verdade. “Acabei tendo uma atuação militan te. Uma visão passadista, medíocre, reacionária, tomava conta do mercado imobiliár io e eu acha va que a boa arquitetura tinha de ser mostrada. Fotografava de graça ou por muito pouco”. Um outro olhar 7
6 Centro de Artes e Educação do Pimentas, Guarulhos, SP (arquiteto: Biselli + Katchborian Arquitetos) 7 Passagem de pedestres na Rua 25 de Março, São Paulo, SP 8 Hotel Fasano Boa Vista, Porto Feliz, SP (arquiteto: Isay Weinfeld) 9 Vista a partir da cobertura do Edifício do Congresso Nacional, Brasília, DF
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espaços amplos, cortes secos, formas estrutu rais. Depois de quatro anos resolveu encarar a incipiente fotografia de arquitetura, traduzida em duas publicações: as revistas Projeto e Arquitetura & Urbanismo. “Era tudo muito amador. Para mostrar as obras, às vezes chamavam fo tógrafos de casamento, noutras os próprios ar quitetos registravam os projetos. Os escritór ios de arquitetura não inc luíam esse custo”. Nem sempre foi assim. Nelson conta que entre os anos 40 e 60 a arquitetura brasileira teve uma forte expressão, atraindo inclusive o interesse de publicações internacionais, ala vancando a fotografia. Depois da construção de 9
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Por dominar o repertório da arquitetura, saber o que era e o que não era relevante, Nelson ofe recia um serviço diferenciado, sendo então mui to requisitado. Através da Projeto, seu trabalho ganhou visibilidade e ele passou a atender, além dos fotógrafos de sua geração que estavam co meçando, as empresas que anunciavam na re vista. “Muitos pagavam em espécie. Construí minha casa assim”, diverte-se o fotógrafo. Esse cenário mudou muito. A demanda pela fotografia de arquitetura cresceu significativa mente, provocando até o surgimento de uma nova figura, o caçador de projetos, fotógrafo que vai atrás das obras para oferecer seu traba lho para as revistas. Inversões acontecem na ou tra ponta, com arquitetos criando projetos para serem fotografados, vistos em revistas. “Nem sempre o que fica bem na revista é bom para ser vivenciado no dia a dia”. Em contrapartida, há gente pensando além da lógica “mais reais por metro quadrado”, dis cutindo os espaços urbanos, criando soluções como a Praça das Artes, na região central de São Paulo, e a rede de hospitais Sarah Kubitschek, presente em oito cidades. Essa é a arquitetura que atrai hoje o foco de Nelson Kon.