Robert Doisneau - Fotografia - Revista Abigraf 259

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Robert Doisneau O poeta das periferias


F OTOG R A F I A

“Robert Doisneau é antes de tudo um morador da periferia maravilhado por Paris. Sua lente soube iluminar com discrição, pudor e ternura o povo da capital e das suas cercanias”. Yann Lorvo, diretor geraL da aLiança Francesa do BrasiL

Tânia Galluzzi


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evolução da sociedade. Do seu jeito, humano e perspicaz, ele foi testemunha privi legiada de um tempo em que Paris se expandia para cima da periferia, a qual também devorava o campo, urbanizando o camponês contra sua vontade. Seu contato com a fotografia aconteceu em 1929. Depois de estudar gravação e litografia na Escola Estienne, especia lizada na aprendizagem das artes gráficas, Doisneau conseguiu emprego no ateliê Ullmann, estúdio que produzia etiquetas e propagandas para a indústria far macêutica. Em razão de uma mudança radical nos hábitos e na concepção visual da propaganda, recorria-se cada vez mais à fotografia e Robert Doisneau, fascinado pela nova mídia, tornou-se rapidamente assistente e depois responsável pelo estúdio de gravação e laboratório montados no ateliê. 3

1 (página dupla anterior) O carro derretido, Paris, 1944 2 O repouso do soldado da Resistência Francesa aos invasores alemães, Paris, 1944 3 Emboscada diante da catedral, Notre Dame, agosto de 1944

O livro “Simplesmente Doisneau”, no formato 20,3 × 25,5 cm, com 180 páginas, foi impresso pela Gráfica Santa Marta (PB)

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ste é o ano do centenário de nascimento de um dos maiores nomes da história da fotografia mundial, Robert Doisneau. Para celebrar, a Aliança Francesa trouxe para o público brasileiro uma exposição inédita no País com a obra do lendário fotógrafo cujos retratos foram eternizados como postais e até hoje estão presentes na vida dos franceses. Acompanhando a mostra, que ficou em cartaz no Rio de Janeiro até o final de junho, foi lançado o livro Simplesmente Doisneau. Impresso pela gráfica Santa Marta, a obra apresenta as 152 imagens que compuseram a exposição carioca. Nascido na cidade de Gentilly, em abril de 1912, Robert Doisneau, desde o início da carreira, se mostrou apaixonado pelas ruas. Influenciado pelos trabalhos de Henri Car tier-Bresson, Eugène Atget e André Kertész, ganhou fama por fotografar a vida social de Paris e dos arredores, sem distinção de classe social: uma visão da fragilidade humana e das contradições da vida. No livro Simplesmente Doisneau, Agnès de Gouvion Saint- Cyr, que durante mais de 30 anos foi a encarregada pelo Ministério da Cultura da França por divulgar a fotografia pelo mundo, escreve que Doisneau foi cronista infalível de uma época em que a banalidade do cotidiano competia com a lenta, porém obcecante,

RespIRAndO pARIs

Deixando sua lupa e as ferramentas de gravador de lado, Doisneau passou a frequentar os ateliês de Montparnasse para trabalhar, em aulas noturnas, naturezas mortas ou desenhos com modelos vivos. Lá observava os hábitos e modos de vida da Paris dos anos loucos. Empurrado pelo senso de urgência ele começou a empreender uma fotografia sistemática da cidade e sua periferia. Em 1931 tornou-se assistente de André Vigneau, fotógrafo de moda, desenhista de publicidade, rea lizador de desenhos animados, pintor, escultor e violoncelista, influência essencial para Doisneau. O fotógrafo ainda estava com Vigneau quando publicou sua primeira reportagem, uma série sobre o mercado de pulgas. Depois do serviço militar, foi trabalhar no estúdio de propaganda da Renault, entre 1934 e 1939. Seu


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trabalho amadureceu continuamente. Sua audácia visual se impôs de maneira permanente para servir um pensamento social rigoroso, como no seu hino à infância, em imagens que trazem as crianças do asfalto e do concreto. Quando a Segunda Guer ra Mundial o alcançou, ele viveu a ocupação de Paris sem fotografar muito, pois os filmes eram caros e raros. No fim da guerra, com o reencontro da imprensa com seu dinamismo, Doisneau participou desse frenesi através de numerosas reportagens, que aos poucos fizeram com que o fotógrafo deixasse o mundo pessoal para tender para o universal. Os anos de 1950 testemunham sua consagração. Em suas imagens ele 4 As criancinhas do leite, Paris, 1934 5 O pato de Monsieur Dassonville, Paris, 1950 6 A vitrine de Romi, Paris, 1948 7 O beijo do Hôtel de Ville, Paris, 1950

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perseguia o humor, evocava a narração, questionava a ambiguidade, imobilizava o movimento ou construía sequências. Ao longo da carreira, o trabalho de Doisneau foi publicado em mais de 20 livros. Ele foi tema de cerca de nove filmes, incluindo o curta-metragem Le Paris de Robert Doisneau (1973) e Bonjour Monsieur Doisneau (1992). Entre os prêmios que conquistou, destacam-se o Grand Prix National de la Photographie (1983), o prêmio Kodak (1947), o prêmio Balzac em 1986 e o Prêmio Niépce em 1956. Robert Doisneau morreu em Paris em 1994. maio /junho 2012

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