Rafael Costa
F OTOG R A F I A
Com desenvoltura, Rafael Costa se move entre a fotografia comercial e a autoral, equilibrando tÊcnica, sensibilidade e arte. Tânia Galluzzi
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Tudo é fotografia 1 (página dupla anterior) Butão, 2010 2 Cliente: Renault, agência: DMS Box 3 Peru, 2010 4 Cliente: Fiat, agência: Leo Burnet
afael Costa não teme a imprevisibilidade. Abre os braços para o acaso, convida-o para participar de suas produções, mantendo-se atento aos seus movimentos, buscando neles dramaticidade e beleza. Para lidar com caminho tão caprichoso, contraditoriamente cerca todas as variáveis, deixando que o incerto aja somente onde ele, o engenheiro responsável pela construção da imagem, deseja. O habitat da casua lidade são as externas. Sempre que possível, as fotos são resolvidas fora do amplo e bem estruturado estúdio que Rafael, 49 anos, mantém no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista. Carros, motos e caminhões, sua especia lidade, são ambientados em locações que possam conferir rea lidade às imagens. Abre-se então a possibilidade da interferência de um raio de sol batendo na face de um
prédio espelhado, gerando um efeito belo e único na lateral de um carro; de uma chuva inesperada intensificar a emoção de uma foto que deve simular um acidente. “Trazemos um pouco de risco para o universo tão racional, preciso e técnico que é a fotografia publicitária”. Essa visão está conectada com a sua formação. Quando criança queria ser pintor, mas a mão não respondia a contento. Já na faculdade de Arquitetura, em meados dos anos 80, descobriu que a fotografia lhe dava rapidamente tal resposta. Alguns meses de estágio num escritório de arquitetura em Barcelona serviram para o fotógrafo entender que a construção civil não era o seu mundo. De volta a São Paulo, uma amiga introduziu-o na TVC, uma das produtoras de maior evidência na época, e Rafael Costa começou a trabalhar com cenografia, aproximandose da fotografia de cinema. Fazendo o caminho inverso de muitos de seus pares, depois de quatro anos de cinema ele partiu para a fotografia, atuando como assistente de Andreas Heiniger, referência na fotografia publicitária. “Com ele 3
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aprendi tudo sobre still, o rigor técnico, a disciplina, o cuidado com o detalhe. Para mim foi um divisor de águas”. Em 1999 Rafael montou seu próprio estúdio. Lançando mão do arsenal iconográfico e técnico acumulado desde a faculdade, seguiu os passos do mestre e começou a destacar-se na fotografia de produto. Apoiado sobretudo na expansão do segmento automobilístico, viu seu nome consolidar-se na propaganda, e os prêmios vieram para reafir mar seu valor, como os Leões conquistados no Festival de Cannes em 2000 e 2004.
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5 Butão, 2011 6 Bendito Fruto, 2003 7 Nepal, 2012 8 Cliente: Honda, agência: Fischer América
O digital chegou e Rafael Costa também o deixou entrar sem perder as rédeas. “Percebi que tinha de ampliar o leque de profissionais que compunham a minha equipe, além de fazer novas parcerias. Mas, conceitualmente, o fotógrafo deve continuar a ser o maestro dessa orquestra e eu tenho o privilégio de trabalhar assim”. Hoje, 10 pessoas integram seu time, estrutura que, ao lado do espaço físico, atrai agências como Africa, DM9 DDB, Leo Burnett, F/Nazca, W/McCann e Dex Design Ex perience, para marcas como Hyundai, Mitsubishi, Honda, Renault, Chevrolet e Fiat. E a publicidade banca a outra face de Ra fael Costa: a expressão de seu viés artístico. Sua primeira mostra, “Bendito Fruto”, aconteceu em 2003 realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Dois anos depois foi a vez de “Sete Pecados”, também na Pinacoteca, e no ano passado o livro Imaginário, publicado pela editora Bei e impresso pela Ipsis. O trabalho foi selecionado para a 8 ª‒ Bienal Inter nacional de Arte Contemporânea de Florença, na Itália, que ocorreu em dezembro último.
Imaginário apresenta a fotopintura de Rafael Costa, boa parte dela imagens compostas por reflexos de pessoas ou objetos na água, que ganham um tom impressionista em função do processo de impressão fotográfica no verso do papel. O acaso também aparece aqui. “Um dia, imprimindo fotos para um cliente, coloquei o papel invertido na impressora. A imagem não se fixou, borrando os traços. Achei curioso e guardei aquela emoção”. A ideia voltaria tempos depois, dessa vez controlada por ele. “Deixo a tinta escorrer até o momento em que o resultado me 7
agrada e fotografo novamente a imagem”. Como escreveu Ferreira Gullar no prefácio de Imaginário, “ao contemplar as fotos de Rafael Costa, temos a impressão de que estamos diante de telas, não de fotos: de telas impressionistas, ou ex pressionistas em alguns casos. E, no entanto, não se trata de um arremedo de pintura, nada disso: é fotografia, na expressão exata da palavra, ou, se se quer, uma pintura que unicamente com a fotografia foi possível criar”.
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& RAFAEL COSTA Tel. (11) 3874.0000 www.rafaelcosta.com.br
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