Evando Abreu - Entrevista - Tecnologia Gráfica 86

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ENTREVISTA

Evando Abreu

“A impressão em tecido no Brasil está apenas começando”

H

á 20 anos, Evando Abreu deixou Belo Horizonte para trabalhar no Studio Alfa, nome forte no segmento de fotocomposição no Rio de Janeiro. Alguns anos depois, ele e Paulo Rufino adquiriram a empresa, mudando o foco para sinalização e investindo em equipamentos de impressão para grandes formatos. Em pouco tempo, a empresa saiu do centro do Rio para instalar-se em um espaço maior, um galpão de 1.200 metros 44 TECNOLOGIA GRÁFICA  VOL. II  2013

quadrados em São Cristóvão, e pos­te­rior­ men­te mudou-se para a sede própria no antigo edifício da Fleischmann Royal (­Kraft ­­Foods), com 5.000 metros quadrados. Acompanhando a evolução tecnológica, o Studio Alfa tornou-se referência no segmento de comunicação vi­sual, po­si­cio­nan­ do-se como uma das primeiras empresas no Brasil a imprimir em su­per­fí­cies rígidas como madeira, pedra, vidro, couro e tecido com tecnologia UV. Estilistas e confecções como

a Alessa e a Maria Bonita começaram a valer-se da impressão UV para fazer seus pilotos em tecido. A tecnologia ainda não permitia o uso das peças como ves­tuá­rio, mas o resultado era su­f i­cien­te para fazer as primeiras provas e edição de fotos para catálogos. A partir desses contatos, Evando e Rufino tiveram a ideia de montar uma empresa voltada quase que exclusivamente para a impressão têxtil, munindo-se de equipamentos e corantes adequados. Visitaram feiras internacionais e adquiriram as impressoras DuPont-​­Ichinose, juntamente com equipamentos de pré-​­tratamento, fixação por vapor e acabamento por enxágue. Tudo voltado à impressão em fibras naturais, algodão, seda e viscose, dentre outras. Antes de os equipamentos serem instalados no Rio, Evando e sua esposa, Andrea, resolveram voltar para Belo Horizonte por motivos pessoais. Ne­go­cia­ram sua participação acio­ ná­ria no Studio Alfa, com os equipamentos fazendo parte do acordo. Dessa ex­pe­riên­ cia de duas décadas nasceu, há seis anos, a Cria­t a Estamparia Digital, es­p e­cia­li­z a­da no tingimento e impressão de tecidos para uso têxtil, publicitário e digital. De lá para cá a empresa tem apresentado crescimento consistente, chamando a atenção para a capacidade de seus gestores em tirar o melhor proveito das ferramentas digitais e para as oportunidades da impressão em tecido. Quan­tos fun­cio­ná­rios tem a Cria­ta e qual a ­atual capacidade produtiva? Evando Abreu – Somos em 32 colaboradores, produzindo cerca de 30.000 metros por mês em média. Essa produção ainda não nos deixa confortáveis. Na verdade, está aquém das nossas necessidades. Após a compra dos novos equipamentos, que serão instalados nos próximos meses, devemos superar os 100.000 metros até o final deste ano. Em sua palestra no Fórum Brasileiro de Comunicação e Impressão Digital, o senhor comentou que hoje 90% de sua produção vai para a segmento de moda. Quan­ do esse mercado tornou-se tão atrativo?

EA – Quan­do trouxemos o projeto da Cria­ ta para Belo Horizonte não tínhamos a pretensão de crescer. Fa­ría­mos as pequenas produções digitais, deixando as maiores para o pes­soal de São Paulo, que já atendia esses clien­tes. Então, o desenho que fizemos foi para trabalhar exclusivamente para o segmento de moda. O primeiro ano foi um desastre e vimos que estávamos no caminho errado. O processo de impressão para fibras naturais é dis­pen­dio­so, arriscado, requer muito conhecimento técnico. Não era nada parecido com o que tínhamos trabalhado até então na área de sinalização. Vimos, após um ano, que, se a empresa não crescesse e buscasse o seu espaço, concorrendo com as empresas existentes, não iría­ mos durar. Adquirimos outro equipamento para impressão em fibras, dobrando a nossa produção neste segmento, e também voltamos nossa atenção para a impressão em po­liés­ter com outros tipos de equipamentos, mas ainda nessa época trabalhávamos exclusivamente para a área têxtil de moda. O crescimento contínuo nos forçou a mudar de uma área de 600 m2 para os atuais 1.800 metros quadrados. O segmento têxtil com baixa produção não é rentável, pois fun­cio­na como uma commodity, com preços pré-​­fixados por metro li­near, rea­jus­ta­dos para baixo, estação após estação. Refizemos o perfil da empresa e hoje, além da área têxtil que ainda é o nosso carro-​­chefe, atendemos com volume crescente as á­­ reas de decoração, pro­ mo­cio­nal e publicidade. Essas ­­áreas permitem trabalhar “por projetos”, com maior valor agregado. Também desenvolvemos produtos pró­prios pa­ten­tea­dos, como a Lona Têxtil, que hoje é utilizada pela Petrobras nas faixas aé­reas dos postos de gasolina, e o AdTex, tecido autocolante para revestimento de paredes, além do RevTex, para revestimento de mo­bi­liá­rio. Corrija-​­nos se estivermos errados: os quatro processos com os quais a Cria­ta trabalha são impressão direta com corantes, impressão direta com tinta à base de

látex, impressão direta por sublimação e impressão em papel para sublimação. Qual deles é o mais utilizado pela Cria­ta? EA – Está correto. Neste momento, o que mais usamos é a impressão em papel para sublimação. É o processo mais amigável de impressão têxtil, pois permite que você imprima primeiro em papel para transferir depois, mudando os tecidos de acordo com a sua necessidade. Na impressão direta no tecido, seja qual for o processo, a troca da mídia é bem mais complicada, onerosa e não

Quase toda a comunicação visual, atualmente feita em lona vinílica, será trocada por impressão têxtil pelo simples fato de ter melhor visual e também ser ecologicamente correta. permite tiragens mínimas, como de um metro, por exemplo. Além disso, caso você cometa um erro, já perdeu o tecido, enquanto no papel, se puder revisar, vai perder apenas essa mídia, além da tinta e do tempo, claro. Quais são as principais características de cada um desses processos? EA – Esses processos são definidos pela sua utilização final: ves­tuá­rio, decoração, pro­mo­ cio­nal, publicidade. A Cria­ta, como empresa es­pe­cia­li­z a­da na impressão em qualquer tipo de tecido, se obriga a ter todas as opções. Para fibras naturais (algodão, lycra, viscose, seda) é preciso usar a impressão direta com corantes e lidar com suas vá­rias etapas: pré-​­tratamento do tecido, impressão, vaporização e acabamento por enxágue, incluindo o ama­cia­men­to para que o tecido volte à sua condição natural, ou seja, sem resquícios perceptíveis ao toque. Os equipamentos de impressão látex têm a grande vantagem de imprimir diretamente (sem pré-​­tratamento)

sobre vá­rias mí­dias além de tecido, incluindo lonas e vinis, e também em tecidos como algodão, voile etc. A Cria­ta utiliza um equipamento de 3,20 metros para imprimir cortinas, materiais para revestimento de sofás e mí­dias para moda e decoração, como o corino. A impressão direta no tecido, com corante dispersivo ou pigmento, é mais di­re­cio­na­ da para quem trabalha com poucos tipos de tecidos na confecção de banners e bandeiras, entre outros produtos. Imprime-​­se direto no tecido e o acabamento é por termofixação ou calandragem. Não se consegue imprimir pequenas metragens, com dois, três ou cinco metros, uma vez que é necessário colocar o tecido ten­sio­na­do de ponta a ponta. Em função das diferenças entre processos e produtos, acabamos crian­do três empresas dentro da Cria­ta: a Cria­ta Têxtil, que imprime para o segmento de moda; a Cria­ ta Decoração, produzindo tecido autocolante, revestimento de mo­bi­liá­rio e cortinas; e a Cria­t a Pro­mo­cio­nal, que imprime faixas para a Petrobras, banners, ce­ná­rios etc. Qual tem mais chance de crescer? EA – Apostaria nas ações da Cria­ta Pro­mo­ cio­nal, depois na Cria­ta Decoração e por último na Cria­ta Têxtil. A Cria­ta Pro­mo­cio­nal, com equipamento látex e papel para sublimação, vai atender ao mercado que o gráfico já conhece: agên­cias de publicidade, empresas de mar­ke­ting etc. Esses clien­tes têm a mesma linguagem, trabalham com todas as modalidades de impressão digital, em resumo, dão menos trabalho de finalização. A Cria­ta Decoração terá que atender um segmento complicado, com os mesmos equipamentos, mas com comunicação diferente da área gráfica tra­di­cio­nal. São clien­ tes que não estão acostumados a c­ riar, finalizar. A Cria­ta Têxtil exige dedicação exclusiva, com pes­soal técnico que envolve não só conhecimento digital, mas também química e processos de finalização têxtil. Contudo, acreditamos que o po­ten­cial de crescimento para as três ­­áreas é excelente, pois o segmento de impressão em tecido, com todas as suas nuan­ças, está apenas começando no VOL. II  2013  TECNOLOGIA GRÁFICA 45


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