ENTREVISTA
Evando Abreu
“A impressão em tecido no Brasil está apenas começando”
H
á 20 anos, Evando Abreu deixou Belo Horizonte para trabalhar no Studio Alfa, nome forte no segmento de fotocomposição no Rio de Janeiro. Alguns anos depois, ele e Paulo Rufino adquiriram a empresa, mudando o foco para sinalização e investindo em equipamentos de impressão para grandes formatos. Em pouco tempo, a empresa saiu do centro do Rio para instalar-se em um espaço maior, um galpão de 1.200 metros 44 TECNOLOGIA GRÁFICA VOL. II 2013
quadrados em São Cristóvão, e posterior mente mudou-se para a sede própria no antigo edifício da Fleischmann Royal (Kraft Foods), com 5.000 metros quadrados. Acompanhando a evolução tecnológica, o Studio Alfa tornou-se referência no segmento de comunicação visual, posicionan do-se como uma das primeiras empresas no Brasil a imprimir em superfícies rígidas como madeira, pedra, vidro, couro e tecido com tecnologia UV. Estilistas e confecções como
a Alessa e a Maria Bonita começaram a valer-se da impressão UV para fazer seus pilotos em tecido. A tecnologia ainda não permitia o uso das peças como vestuário, mas o resultado era suf iciente para fazer as primeiras provas e edição de fotos para catálogos. A partir desses contatos, Evando e Rufino tiveram a ideia de montar uma empresa voltada quase que exclusivamente para a impressão têxtil, munindo-se de equipamentos e corantes adequados. Visitaram feiras internacionais e adquiriram as impressoras DuPont-Ichinose, juntamente com equipamentos de pré-tratamento, fixação por vapor e acabamento por enxágue. Tudo voltado à impressão em fibras naturais, algodão, seda e viscose, dentre outras. Antes de os equipamentos serem instalados no Rio, Evando e sua esposa, Andrea, resolveram voltar para Belo Horizonte por motivos pessoais. Negociaram sua participação acio nária no Studio Alfa, com os equipamentos fazendo parte do acordo. Dessa experiên cia de duas décadas nasceu, há seis anos, a Criat a Estamparia Digital, esp ecializ ada no tingimento e impressão de tecidos para uso têxtil, publicitário e digital. De lá para cá a empresa tem apresentado crescimento consistente, chamando a atenção para a capacidade de seus gestores em tirar o melhor proveito das ferramentas digitais e para as oportunidades da impressão em tecido. Quantos funcionários tem a Criata e qual a atual capacidade produtiva? Evando Abreu – Somos em 32 colaboradores, produzindo cerca de 30.000 metros por mês em média. Essa produção ainda não nos deixa confortáveis. Na verdade, está aquém das nossas necessidades. Após a compra dos novos equipamentos, que serão instalados nos próximos meses, devemos superar os 100.000 metros até o final deste ano. Em sua palestra no Fórum Brasileiro de Comunicação e Impressão Digital, o senhor comentou que hoje 90% de sua produção vai para a segmento de moda. Quan do esse mercado tornou-se tão atrativo?
EA – Quando trouxemos o projeto da Cria ta para Belo Horizonte não tínhamos a pretensão de crescer. Faríamos as pequenas produções digitais, deixando as maiores para o pessoal de São Paulo, que já atendia esses clientes. Então, o desenho que fizemos foi para trabalhar exclusivamente para o segmento de moda. O primeiro ano foi um desastre e vimos que estávamos no caminho errado. O processo de impressão para fibras naturais é dispendioso, arriscado, requer muito conhecimento técnico. Não era nada parecido com o que tínhamos trabalhado até então na área de sinalização. Vimos, após um ano, que, se a empresa não crescesse e buscasse o seu espaço, concorrendo com as empresas existentes, não iría mos durar. Adquirimos outro equipamento para impressão em fibras, dobrando a nossa produção neste segmento, e também voltamos nossa atenção para a impressão em poliéster com outros tipos de equipamentos, mas ainda nessa época trabalhávamos exclusivamente para a área têxtil de moda. O crescimento contínuo nos forçou a mudar de uma área de 600 m2 para os atuais 1.800 metros quadrados. O segmento têxtil com baixa produção não é rentável, pois funciona como uma commodity, com preços pré-fixados por metro linear, reajustados para baixo, estação após estação. Refizemos o perfil da empresa e hoje, além da área têxtil que ainda é o nosso carro-chefe, atendemos com volume crescente as á reas de decoração, pro mocional e publicidade. Essas áreas permitem trabalhar “por projetos”, com maior valor agregado. Também desenvolvemos produtos próprios patenteados, como a Lona Têxtil, que hoje é utilizada pela Petrobras nas faixas aéreas dos postos de gasolina, e o AdTex, tecido autocolante para revestimento de paredes, além do RevTex, para revestimento de mobiliário. Corrija-nos se estivermos errados: os quatro processos com os quais a Criata trabalha são impressão direta com corantes, impressão direta com tinta à base de
látex, impressão direta por sublimação e impressão em papel para sublimação. Qual deles é o mais utilizado pela Criata? EA – Está correto. Neste momento, o que mais usamos é a impressão em papel para sublimação. É o processo mais amigável de impressão têxtil, pois permite que você imprima primeiro em papel para transferir depois, mudando os tecidos de acordo com a sua necessidade. Na impressão direta no tecido, seja qual for o processo, a troca da mídia é bem mais complicada, onerosa e não
Quase toda a comunicação visual, atualmente feita em lona vinílica, será trocada por impressão têxtil pelo simples fato de ter melhor visual e também ser ecologicamente correta. permite tiragens mínimas, como de um metro, por exemplo. Além disso, caso você cometa um erro, já perdeu o tecido, enquanto no papel, se puder revisar, vai perder apenas essa mídia, além da tinta e do tempo, claro. Quais são as principais características de cada um desses processos? EA – Esses processos são definidos pela sua utilização final: vestuário, decoração, promo cional, publicidade. A Criata, como empresa especializ ada na impressão em qualquer tipo de tecido, se obriga a ter todas as opções. Para fibras naturais (algodão, lycra, viscose, seda) é preciso usar a impressão direta com corantes e lidar com suas várias etapas: pré-tratamento do tecido, impressão, vaporização e acabamento por enxágue, incluindo o amaciamento para que o tecido volte à sua condição natural, ou seja, sem resquícios perceptíveis ao toque. Os equipamentos de impressão látex têm a grande vantagem de imprimir diretamente (sem pré-tratamento)
sobre várias mídias além de tecido, incluindo lonas e vinis, e também em tecidos como algodão, voile etc. A Criata utiliza um equipamento de 3,20 metros para imprimir cortinas, materiais para revestimento de sofás e mídias para moda e decoração, como o corino. A impressão direta no tecido, com corante dispersivo ou pigmento, é mais direciona da para quem trabalha com poucos tipos de tecidos na confecção de banners e bandeiras, entre outros produtos. Imprime-se direto no tecido e o acabamento é por termofixação ou calandragem. Não se consegue imprimir pequenas metragens, com dois, três ou cinco metros, uma vez que é necessário colocar o tecido tensionado de ponta a ponta. Em função das diferenças entre processos e produtos, acabamos criando três empresas dentro da Criata: a Criata Têxtil, que imprime para o segmento de moda; a Cria ta Decoração, produzindo tecido autocolante, revestimento de mobiliário e cortinas; e a Criat a Promocional, que imprime faixas para a Petrobras, banners, cenários etc. Qual tem mais chance de crescer? EA – Apostaria nas ações da Criata Promo cional, depois na Criata Decoração e por último na Criata Têxtil. A Criata Promocional, com equipamento látex e papel para sublimação, vai atender ao mercado que o gráfico já conhece: agências de publicidade, empresas de marketing etc. Esses clientes têm a mesma linguagem, trabalham com todas as modalidades de impressão digital, em resumo, dão menos trabalho de finalização. A Criata Decoração terá que atender um segmento complicado, com os mesmos equipamentos, mas com comunicação diferente da área gráfica tradicional. São clien tes que não estão acostumados a c riar, finalizar. A Criata Têxtil exige dedicação exclusiva, com pessoal técnico que envolve não só conhecimento digital, mas também química e processos de finalização têxtil. Contudo, acreditamos que o potencial de crescimento para as três áreas é excelente, pois o segmento de impressão em tecido, com todas as suas nuanças, está apenas começando no VOL. II 2013 TECNOLOGIA GRÁFICA 45