Hist贸ria da Arte Prof. Tatiana Martins Material de apoio Construtivismo e Bauhaus
Construtivismo e Bauhaus
Construtivismo Russo 1915 a 1925
Dentre os tantos movimentos que se diversificavam na produção artística moderna, enquanto o Dada (Suíça, 1916) e o Surrealismo (França, 1922), articulavam a ruptura com os valores estético-culturais tradicionais e suas práticas, desviando-se do rigor técnico e negando o processo de racionalização da era industrial, por outro lado, o Construtivismo Russo (1919) e seus desdobramentos ocidentais, conhecidos como Vanguardas Construtivas, aderiam à racionalidade e abordavam a perspectiva mecanicista e a valorização do progresso, enfatizando a lógica, a ordem e a precisão.
O Construtivismo Russo foi um projeto teórico e artístico vinculado diretamente ao movimento revolucionário de outubro de 1917, e desejava mudar não só as artes, mas a vida social como um todo. A necessidade de diálogo entre teoria e prática e a vocação interdisciplinar uniram o rigor formal e a atuação dos artistas tanto no ensino quanto na prática criativa, experimentando os vários campos de linguagem como a escultura-construção, a propaganda-agitação, as artes gráficas, a arquitetura, o design e a fotomontagem.
Aleksandr Rodchenko Construção, 1920
Aleksandr Rodchenko Construção linear, 1920
Aleksandr Rodchenko, Construção espacial nº. 12, 1920
Aleksandr Rodchenko Zaumniki, 1921
Aleksandr Rodchenko, Dobrolet, 1923
Aleksandr Rodchenko Pro eto by Vladimir Mayakovsky 1923
Rodchenko foi pintor, escultor, designer e fotógrafo. Como um expoente central do Construtivismo Russo, esteve intimamente envolvido nos debates culturais e experiências que se seguiram à Revolução de 1917.
Aleksandr Rodchenko Cartaz soviético do filme Kino-Glaz (Câmera-Olho), 1924
Aleksandr Rodchenko M達e, 1924
Aleksandr Rodchenko, Retrato de Lilya Brik, 1924
Gustav Klutsis Cart達 Postal Spartakiada, 1928
“Mesmo hoje, passados quase 100 anos, vivendo numa sociedade transbordante de imagens, as fotografias de Alexandr Rodchenko mantém seu frescor e relevância. Esse fato se relaciona com o conteúdo do seu registro – uma época simultaneamente de revolução e de derrota, de esperança e de desespero.” Roger Huddle, Revolução na fotografia
Sob o olhar construtivista, o mundo moderno observava a guerra como um “acidente de percurso”, tomando a ciência e a arte para a reconstrução de cidades e países, junto à renovação da vida em ruínas, no entreguerras.
Aleksandr Rodchenko Capa de revista, 1927
Aleksandr Rodchenko Woman with a Leica, 1934
Aleksandr Rodchenko Mergulho, 1935
O Construtivismo Russo deslocou a questão central da criação e da arte, dirigindo-se da estética para a política - ou seja, da organização estética do ambiente para a construção política e ideológica de uma nova sociedade. Este movimento surgiu diante da situação social vivida na Rússia Czarista até 1917, quando as ideologias liberais e socialistas penetravam no país, desenvolvendo uma consciência de revolta contra os nobres. Até então, o Império Russo era guiado por uma monarquia absolutista sustentada pela nobreza rural, dona da maioria das terras cultiváveis e responsável pela formação dos oficiais do exército e dos principais dirigentes da Igreja Ortodoxa Russa, sendo a maioria da população duramente explorada pelos senhores feudais.
Gustav Klutsis Cartaz “Construindo o socialismo sob a bandeira de Lênin”, 1931
Cartaz convocando o apoio dos trabalhadores ao governo: “Trabalhadores jovens participem das eleições soviéticas”, 1916.
Belskiy A. Poster da União Soviética: “Cachimbo comunista”
Nikolai Prusakov & G.I Borisov Cartaz: “Viagem para Marte�, c.1926
Cartaz educacional contra o consumo de álcool “Lute contra o inimigo da revolução cultural”
Assim como para as vanguardas europeias (como o Cubismo), a obra de Cézanne também tem um significado estratégico para o Construtivismo Russo, porque foi a partir de Cézanne e do movimento Cubista que os pintores russos passaram a lançar toda a sua atenção sobre a estrutura material da tela: a cor, a textura, a pincelada e sua organização, as obras de arte não eram mais janelas abrindo para um outro mundo, mas objetos reais.
Realizações do programa social aplicadas no Construtivismo Russo podem ser encontradas nos projetos de Aleksandr Vesnin (1883-1959) para o Palácio do Trabalho e nas propostas de monumento à Terceira Internacional, que seria erguido no centro de Moscou, mas nunca foi executado.
Aleksandr Vesnin Projeto aruquitetônico para o Palácio do Trabalho, 1928
Aleksandr Vesnin (1883–1959), Proposta para um Monumento à Terceira Internacional
Embora tenha trabalhado com a construção de objetos abstratos anteriormente ao Construtivismo, para o escultor e arquiteto Vladimir Tatlin (1885-1953), a arte deveria estar a serviço da revolução, fabricar coisas para a vida do povo, como antes fabricava o luxo para os ricos.
Vladimir Tatlin Modelo para o Monumento à III Internacional Reconstrução de 1968 a partir do projeto original de 1919-20
Vladimir Tatlin, Contra-relevo, 1914
Vladimir Tatlin Cadeira em aรงo e couro, projetada em 1927
Vladimir Tatlin, Apresentação da obra Letatlin , 1929-32 Escultura utilitária que deveria triunfar sobre a materialidade da pintura, também uma alegoria para a Rússia: a máquina voadora lembra os desenhos de Leonardo da Vinci.
Kazimir Malevitch (1878-1935) fundou o Suprematismo com o objetivo de criar uma ‘arte universal’ através de composições puras e cerebrais geométricas em cores básicas, sem moldura.
Kazimir Malevitch Quadrado negro sobre fundo branco, 1914-15
Kazimir Malevitch Supremus nยบ 58, 1916
As Vanguardas Construtivas ocorreram nos países ocidentais, e compreendem estilos artísticos pautados pela abstração e geometrização, como a Bauhaus alemã, o Neoplasticismo holandês (Piet Mondrian), o grupo francês Abstração-Criação (Wassily Kandinsky), o manifesto Circle (Naum Gabo), publicado na Inglaterra, em 1937, e a Escola de Design de Ulm, sucessora da Bauhaus no segundo pós-guerra.
A expressão Arte Concreta foi utilizada por Theo van Doesburg no manifesto de 1918, publicado na revista De Stijl (1917-1931) A designação refere-se à pintura feita com linhas e ângulos retos, usando as três cores primárias (vermelho, amarelo e azul), além de três não-cores (preto, branco e cinza). As composições deveriam ser reduzidas ao mínimo, as superfícies das obras não revelariam o trabalho dos pincéis e o objetivo seria construir imagens em que prevalecessem a harmonia e a ordem. O grupo era composto por pintores, escultores, arquitetos, designers, poetas, fotógrafo e cineasta.
De Stijl (1918) 1. Há dois conhecimentos dos tempos: um antigo e um novo. O antigo se dirige para o individualismo. O novo se dirige ao universal. A luta do individual contra o universal se revela tanto na guerra mundial quanto na arte de nossa época. 2. A guerra destrói o mundo antigo com o seu conteúdo: a dominação individual sob todos os pontos de vista. 3 A arte nova atualiza o que está contido no novo conhecimento dos tempos: proporções iguais do universal e do individual. 4. O novo conhecimento dos tempos está prestes a se realizar em tudo, mesmo na vida exterior. 5. As tradições, os dogmas e as prerrogativas do individualismo (o natural) se opõem a esta realização. 6. O objetivo da revista de arte De Stijl é apelar para todos aqueles que acreditam na reforma da arte e da cultura para aniquilar tudo o que impede o desenvolvimento, do mesmo modo que fizeram no Assinaturas dos colaboradores: Theo van Doesburg, pintor Robt van´t Hoff, arquiteto Vilmos Huszar, pintor Antony Kok, poeta
Piet Mondrian, pintor G. Vantongerloo, escultor Jan Wils, arquiteto.
campo da arte nova suprindo a forma natural que contraria a própria expressão da arte, a conseqüência mais alta de cada conhecimento artístico. 7. Os artistas de hoje tomaram parte na guerra mundial no domínio espiritual, impelidos pelo mesmo conhecimento contra as prerrogativas do individualismo: o capricho com todos aqueles que combatem espiritualmente ou materialmente para a formação de uma unidade internacional na Vida, na Arte e na Cultura. 8. O órgão De Stijl, fundado com esse fim, dispende todos os seus esforços para tornar clara a nova idéia da vida. A colaboração de todos é possível pelo: envio do nome, endereço, profissão à nossa redação, como prova de assentimento; contribuições (críticas, filosóficas, arquiteturais, científicas, literárias, musicais, etc., assim como reproduções fotográficas) para o periódico mensal De Stijl; tradução em todas as línguas e publicação das idéias publicadas em De Stijl
De Stijl (O Estilo) Grupo de artistas holandeses que tomou o seu nome da revista com o mesmo tĂtulo fundada por Theo van Doesburg em 1917.
Projeto grĂĄfico de Theo van Doesburg
Theo van Doesburg (1883-1931) foi artista plástico, designer gráfico, poeta e arquiteto holandês
Ciné-Dancing Aubette, em Strasburgo, 1927/28
Projeto visual de Theo van Doesburg com o dadaísta Jean Arp e sua esposa Sophie Taeuber-Arp
Theo van Doesburg Jogadores de cartas 1917
O Neoplasticismo de Piet Mondrian foi a expressão teórica mais extrema do De Stijl. Defendia uma total limpeza espacial para a pintura, reduzindo-a a seus elementos mais puros e buscando suas características mais próprias.
Piet Mondrian Composição, 1916
Piet Mondrian Composição I, 1931
Piet Mondrian Broadway Boogie Woogie 1942-43
Bauhaus 1919 a 1933
Sinônimo de racionalismo no campo das artes, a Bauhaus transformou os impulsos revolucionários das vanguardas em processos metodológicos dirigindo-se a um projeto de sociedade futura. No programa da Bauhaus, a arte deveria ser um meio da experiência estética coletiva, onde era necessária a integração de qualidades estéticas a todos os produtos industriais, entendidos como agentes de comunicação e educação social. Sua intenção era criar condições para que a arte produzisse a experiência estética que constituiria um componente cultural da sociedade industrial.
Oscar Schlemer foi um dos primeiros mestres na Bauhaus de Weimar. Dirigiu o departamento de pintura de parede (alternando com Johannes Itten) e as oficinas de escultura em pedra e em madeira (também a de metal, temporariamente). Schlemmer contribuiu significativamente para as áreas de design de parede, pintura, escultura, impressão gráfica, publicidade e palco. Também foi chefe da oficina de palco da Bauhaus em Weimar e Dessau. Oscar Schlemer, Figurinos para o Triadisches Ballett (Ballet Triadic) que estreou em Stuttgart, em setembro de 1922.
Daisy Spies como bailarina do Triadic Ballet de Oskar Schlemmer , 1926
A jovem mestre de tecelagem, Gunta Stoelzl Ă frente de suas alunas, na escada projetada por Oskar Slemmer.
As afinidades da Bauhaus com as vanguardas em geral, e com o Construtivismo Russo em particular, revelam-se pela ligação entre projeto estético e político, que vem acompanhada da ideia de que a arte deve ser funcional. A pintura e a escultura, segundo os princípios construtivos, aproximam-se da arquitetura em termos de materiais, procedimentos e objetivos.
Ao lado, o escritório de Walter Gropius na Bauhaus de Weimar, 1924.
Faça a comparação com um escritório comum dos anos 1920-30 abaixo: Escritório do psicanalista Sigmund Freud em 1938.
Gerrit Thomas Rietveld (Utrecht, 1888 – 1964) foi arquiteto e designer de produto neerlandês. Ainda estudante, trabalhou na marcenaria e produção de mobiliário.
Gerrit Thomas Rietveld Cadeira Vermelha e Azul Desenhada em 1917
Josef Albers (1888-1976 ) foi um dos mais influentes professores de arte e teóricos da cor do século 20. Ele foi um mestre da Bauhaus na Alemanha de 1925 a 1933.
Josef Albers Conjuntos de quatro mesas empilháveis, 1927
Josef Albers Interação das cores
O designer de produto Wilhelm Wagenfeld foi estudante na Bauhaus e um dos pioneiros do design industrial.
Wilhelm Wagenfeld Abajur TL002 Bauhaus, 1924
A associação entre arte, artesanato e indústria está no cerne da experiência da Bauhaus, fundada em 1919. Ao ideal do artista-artesão defendido por Walter Adolf Gropius (1883-1969) desde a criação da escola, soma-se a ideia da complementaridade das diferentes artes que teriam como base o design e a arquitetura. Relacionado ao Construtivismo Russo, o espírito que orienta o programa da Bauhaus ancora-se na ideia de que o aprendizado e o objetivo da arte ligam-se ao fazer artístico, o que evoca a reintegração das artes e ofícios. Porém, no caso da Bauhaus, a proposta relaciona-se à formação de novas gerações de artistas de acordo com um ideal de sociedade democrática, onde não há hierarquias mas somente funções complementares.
Josef Albers Ascendente, 1936 Vidro jateado com tinta preta
Gunta Stoelzl Tapeรงaria Red & Green Bauhaus Dessau, 1927
A partir de 1925, a relação entre arte e indústria se fortalece na Bauhaus e se consolidam as marcas características do estilo bauhaus expressas na série de objetos confeccionados - mobiliário, tapeçaria, luminárias etc. - como as cadeiras e mesas em aço tubular criadas por Marcel Breuer (1902-1981) e Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), produzidas em larga escala pela Standard Möbel de Berlim e pela Thonet.
Lilly Reich foi uma designer modernista alem達 formada na Bauhaus e trabalhou com o arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe.
Lilly Reich Cadeira Thonet Bauhaus, 1936
Pintora, escultora, fotógrafa e designer, Marianne Brandt estudou na Bauhaus, tornando-se chefe da oficina de metalurgia em 1928. Hoje em dia, seus projetos para objetos tais como lâmpadas, cinzeiros e bules são considerados o prenúncio de design industrial moderno.
Marianne Brandt Chaleira 19241924, em níquel prata e ébano Fabricada na Oficina de Metal da Bauhaus