CORPO E ARQUITETURA A IMAGEM FOTOGRÁFICA COMO FORMA DE PERCEBER O LUGAR DO CORPO NA ARQUITETURA
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ARQUITETURA FOTOGRAFIA E S P A Ç O A
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A
S
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PETER ZUMTHOR JOAN FONTCUBERTA CRISTIANO MASCARO ROLAND BARTHES JUHANI PALLASMAA ESPAÇO | SIGNIFICADO | SENTIDOS MEMÓRIA | EXPERIÊNCIA | RELAÇÃO LUZ
|
IMAGEM
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OLHAR
ATMOSFERA | SENSAÇÃO | LUGAR CIDADE | SÃO PAULO | CULTURA
DANIELLE MACEDO OLIVEIRA
CORPO E ARQUITETURA A IMAGEM FOTOGRÁFICA COMO FORMA DE PERCEBER O LUGAR DO CORPO NA ARQUITETURA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª Dra. Myrna de Arruda Nascimento
SÃO PAULO/SP 2020
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me deu forças para enfrentar as dificuldades e fé para prosseguir. Aos meus pais, que sempre acreditaram no meu potencial e me incentivaram a crescer e superar os obstáculos. À minha irmã Giovanna, pelo companheirismo, pelo apoio em todos os momentos e por sempre estar disposta a fazer meus dias mais alegres. Aos meus amigos, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando e me ajudando durante todos esses anos. À minha orientadora Myrna, que conduziu o trabalho com paciência e dedicação, e em todo momento se mostrou disponível para ajudar e transmitir seus conhecimentos. Ao Senac e à todos os professores que fizeram parte dessa jornada e que me deram a base que preciso para ser uma boa profissional. Aos meus colegas, por todos os momentos que compartilhamos durante o curso.
Nossa primeira pele é a pele humana. Roupas compõem nossa segunda pele. Se for esse o caso, nossa terceira pele não é composta de nossos espaços de convívio - as paredes, portas e janelas que circundam o corpo humano? (Autor desconhecido)
Este Trabalho de Conclusão de Curso aborda como tema a relação que a arquitetura tem com o corpo que a utiliza. Essa relação se dá através dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), que são a maneira como o corpo percebe e se apropria do elemento construído, gerando experiências e significados para aquela arquitetura. Essa percepção dos espaços pode ser vista através da imagem fotográfica, que nos possibilita enxergar com mais detalhe o quanto nossos sentidos estão vinculados a esses espaços, pela presença dos elementos arquitetônicos neles inseridos. A figura do corpo com relação à arquitetura pode ser retratada como uma analogia à forma como os espaços são projetados pelos arquitetos, de forma a habitar o corpo. Através do estudo de autores e fotógrafos que falam sobre o assunto, tem-se por objetivo a análise da presença do corpo e sua relação com a arquitetura em espaços culturais da cidade de São Paulo, através de uma comparação de fotografias autorais e de outros autores que flagram essa relação, sejam elas pensadas de tal forma ou não. Essa análise e percepção de como a arquitetura e o indivíduo se relacionam pode levar a uma maior observação dos espaços da cidade e como o corpo tem relevância na construção de uma arquitetura que gera experiências e significados para quem a utiliza. Palavras-chave: arquitetura; espaço; corpo; fotografia; acaso.
RESUMO
This Course Conclusion Work addresses as a theme the relationship that architecture has with the body that uses it. This relationship occurs through the senses (sight, hearing, touch, smell and taste), which are the way the body perceives and appropriates the built element, generating experiences and meanings for that architecture. This perception of the spaces can be seen through the photographic image, which allows us to see in more detail how our senses are linked to these spaces, by the presence of the architectural elements inserted in them. The figure of the body in relation to the architecture can be portrayed as an analogy to the way the spaces are designed by the architects, in order to inhabit the body. Through the study of authors and photographers who talk about the subject, the objective is to analyze the presence of the body and its relationship with architecture in cultural spaces of the city of SĂŁo Paulo, through a comparison of authorial photographs and other authors who have caught this relationship, whether they think in such a way or not. This analysis and perception of how architecture and the individual relate can lead to a greater observation of the spaces of the city and how the body has relevance in the construction of an architecture that generates experiences and meanings for those who use it. Keywords: architecture; space; body; photography; chance.
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
10
1. SÃO PAULO: CORPO, ARQUITETURA E CIDADE
25
1.1 A luz
28
1.2 O acaso
33
2. O OLHAR E O ACASO
39
3. OS ESPAÇOS CULTURAIS EM SÃO PAULO
47
3.1 Sesc 24 de Maio
51
3.2 Instituto Moreira Salles
57
3.3 Instituto Tomie Ohtake
61
3.4 Museu Catavento
65
3.5 Praça das Artes
69
4. O OUTRO E O EU
73
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
91
LISTA DE FIGURAS
95
REFERÊNCIAS
99
I N T R O D U Ç Ã O
011
Desde os tempos antigos, a principal função da arquitetura é abrigar os corpos. A partir do momento em que o homem teve a necessidade de proteger-se de predadores e dos fenômenos naturais e de se estabelecer em um único lugar, a arquitetura passou a existir. Desde então este campo do conhecimento vem se desenvolvendo em produções e experiências com técnicas diversas, novos materiais e novas tecnologias. Estudála nos possibilita perceber e entender a relação do tempo x espaço x corpo ao longo de toda história da humanidade. A arquitetura é nosso principal instrumento de relação com o espaço e o tempo, e para dar uma medida humana a essas dimensões. Ela domestica o espaço ilimitado e o tempo infinito, tornando-o tolerável, habitável e compreensível para a humanidade. (PALLASMAA, 2011, p.16)
O espaço só se torna habitável quando o corpo dele se apropria; é a partir da presença do corpo, que o usa e percebe o potencial e as qualidades do espaço, que este ganha significado. O sentido, valor e importância do espaço constrói-se através da experiência vivenciada pelos nossos sentidos: tato, visão, olfato, audição e paladar. O nosso corpo é a nossa referência, memória, e fonte de imaginação de tudo o que vivenciamos e percebemos quando entramos em contato com um ambiente construído. Assim, toda nossa experiência com uma edificação acontece de forma multissensorial. São nossos olhos, nariz, ouvidos e pele que medem o espaço e nos oferecem a sensação de pertencimento. “A arquitetura envolve diversas esferas da experiência sensorial que interagem e fundem entre si” (PALLASMAA, 2011, p.39). Esse trabalho aborda como tema essa relação da arquitetura com o corpo enquanto gerador de experiências e de significados através dos sentidos, principalmente pelos da visão, do tato e da audição, que juntos conseguem ampliar nossa percepção do espaço. Segundo PALLASMAA (2011), nossos sentidos estão interligados entre si. Todos são extensões do tato e todas as experiências
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sensoriais estão relacionados a ele. Isso significa que podemos sentir a arquitetura não apenas tocando-a, mas olhando, ouvindo e sentindo os cheiros, aromas e odores que ela transmite ao nosso corpo. É a luz que entra pelos vãos, a repetição dos elementos arquitetônicos, os cheios e vazios que definem a pele da arquitetura... enfim, cada detalhe no espaço que se comunica com nossos sentidos. A fotografia é uma imagem obtida através de um aparelho artificial que nos possibilita enxergar mais detalhadamente o quanto nossos sentidos estão vinculados à percepção do espaço em que estamos. A presença (ou a ausência) da luz faz com que o ambiente pareça mais quente ou mais frio; mais aberto ou mais restrito; o ritmo dos eventos que estão presentes no espaço; objetos, obstáculos e elementos da estrutura arquitetônica, nos transmite uma ideia de frequência e repetição, ausência e intervalo. Ao compor uma imagem fotográfica, podemos usar a forma de retratar a presença do corpo em relação à arquitetura como uma analogia à forma como projetamos espaços para o corpo habitar, tanto espaços privados como públicos. O fotógrafo paulista Cristiano Mascaro (1944-), arquiteto de formação, faz grande uso desse método para compor suas fotografias, referenciando a posição das pessoas no espaço em relação aos objetos a sua volta, conforme imagens a seguir: (Figuras 1 a 10)
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Figura 1 - Rua Maria Paula Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996
014
Figura 2 - Diagrama produzido pela autora Mascaro relaciona as linhas verticais da estrutura dos postes da rua e suas sombras com as linhas correspondentes aos corpos das pessoas que transitam na calรงada e na rua.
015
Figura 3 - Rua Libero Badarรณ Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996
016
Figura 4 - Diagrama produzido pela autora A repetição das linhas da fachada da arquitetura (principalmente as verticais) está relacionada com as linhas formadas pelas pessoas que transitam na calçada e pela posição que ocupam na “trama geométrica”.
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Figura 5 - Viaduto do Chรก Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996
018
Figura 6 - Diagrama produzido pela autora Nessa fotografia, as pessoas se integram Ă s linhas das ĂĄrvores e dos edifĂcios em segundo plano, como se ocupassem os intervalos estabelecidos entre as ĂĄrvores e o guarda-corpo do viaduto.
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Figura 7 - Agência Banespa da Rua João Brícola Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996
020
Figura 8 - Diagrama produzido pela autora O enquadramento definido pela abertura da porta, tanto posicionando a pessoa em primeiro plano, quanto vislumbrando com menos detalhes aquelas que transitam na rua em segundo plano. A posição do personagem fotografado é destacada pela textura e ritmo dos elementos da grade, que se projetam no chão e que deixam apenas um intervalo retangular, atravessado por uma linha diagonal refletida no chão que sobre ele inaugura um triângulo retângulo.
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Figura 9 - Vale do AnhangabaĂş Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996
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Figura 10 - Diagrama produzido pela autora A posição dos corpos na praça confere uma espécie de sonoridade à imagem, percebida no diagrama desenhado que revela a frequência e a ausência de pessoas num mesmo espaço, dando mais ou menos ênfase para a aglomeração e para a dispersão.
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O corpo na fotografia de Cristiano Mascaro torna-se parte do todo, concebido como um “ambiente construído” e seus “habitantes”. No caso particular desse grupo de imagens, o fenômeno observado se manifesta como se a arquitetura se fundisse com os indivíduos, de forma a não existir uma diferença entre o que é edificação e o que é carne, músculos e ossos. Tudo é corpo; tudo é arquitetura. Nas palavras do arquiteto suíço Peter Zumthor (1943-), que, em suas criações, se preocupa com a materialidade e os espaços criados de modo a dar significado à sua arquitetura como lugar de experiência, a relação entre arquitetura e corpo, segundo este raciocínio, também está presente. O que considero o primeiro e maior segredo da arquitetura, é que consegue juntar as coisas do mundo, os materiais do mundo e criar este espaço. Porque para mim é como uma anatomia. É verdade, tomo o conceito do corpo quase literalmente. Tal como nós temos nosso corpo com uma anatomia e coisas que não se veem e uma pele... etc., assim funciona também a arquitetura e assim tento pensá-la. Corporalmente, como uma massa, como membrana, como tecido ou invólucro, pano, veludo, seda, tudo o que me rodeia. O corpo! Não a ideia do corpo – o corpo! Que me pode tocar. (ZUMTHOR, 2006, p. 23)
Há também uma comunicação do espaço construído com o corpo através da atmosfera gerada pela arquitetura. Por vezes um som, um cheiro ou a forma como a luz entra no ambiente nos relembra alguma experiência passada e nos leva de volta àquela sensação. E é por essa razão que nossas emoções e memórias também fazem parte de como percebemos um lugar. A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver. Há situações em que não podemos perder tempo a pensar se gostamos ou não de alguma coisa, se devemos ou não saltar e fugir. Existe algo em nós que comunica imediatamente conosco. Compreensão imediata, ligação emocional imediata, recusa imediata. É diferente daquele pensamento linear que também possuímos e que também amo, chegar de A a B racionalmente, obrigando-nos a pensar sobre tudo. (ZUMTHOR, 2006, p.13)
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Isso significa que elementos no espaço são relacionadas com experiências anteriores e despertam a memória, dando um novo significado para a nova vivência no lugar em que está o corpo. Esse lugar se torna uma fonte de sensações para o indivíduo, e estimula experiências únicas. Com o objetivo de produzir um ensaio fotográfico abordando as sensações produzidas pelos espaços culturais da cidade de São Paulo no corpo que usa e percebe esses lugares, esse trabalho foi dividido em três capítulos teóricos e dois dedicados ao ensaio proposto. O primeiro capítulo trata da cidade de São Paulo como “palco” de acontecimento das relações entre corpo, arquitetura e cidade, com uma reflexão sobre tais aspectos a partir das fotografias de Cristiano Mascaro e das técnicas utilizadas na produção das mesmas. O segundo capítulo apresenta a relação do olhar fotográfico com o acaso, de muita importância para esse trabalho, já que o objetivo é discutir a captura de cenas que acontecem em um determinado momento e espaço, que não se repetem. Diferente das fotografias previsíveis, ou frutos de uma produção programada, esses “acidentes”, presenças e eventos inusitados e especiais, exigem do autor, fotógrafo dessas cenas, um apurado senso de atenção e composição. E por último, o terceiro capítulo mostra os centros culturais da cidade de São Paulo escolhidos para a produção do ensaio fotográfico, produto final deste TCC. Nos dois capítulos seguintes, buscaremos trazer, através da imagem fotográfica, a reflexão de como nossos espaços arquitetônicos culturais têm sido produzidos e como eles se relacionam com a presença do corpo e com as sensações produzidas por e através das qualidades destes espaços.
1
SÃO PAULO: CORPO, ARQUITETURA E CIDADE
027
O corpo faz parte da cidade e a arquitetura, em sentido amplo, que congrega os espaços públicos, privados e a paisagem, corresponde à própria cidade. Cada elemento presente no cotidiano urbano nos leva a experimentar, ainda que subconscientemente, a ideia de cidade através dos nossos sentidos. Eu confronto a cidade com meu corpo; minhas pernas medem o comprimento da arcada e a largura da praça; meus olhos fixos inconscientemente projetam meu corpo na fachada da catedral, onde ele perambula sobre molduras e curvas, sentindo o tamanho de recuos e projeções; meu peso encontra a massa da porta da catedral e minha mão agarra a maçaneta enquanto mergulho na escuridão do interior. Eu me experimento na cidade; a cidade existe por meio de minha experiência corporal. A cidade e meu corpo se complementam e se definem. Eu moro na cidade, e a cidade mora em mim. (PALLASMAA, 2011, p.37)
São Paulo é uma cidade repleta de oportunidades para vivenciarmos experiências com a arquitetura. São diversos espaços e pontos com configurações muito distintas, onde as relações do corpo com a cidade podem acontecer, de forma prevista e também imprevista. Nesse sentido, a cidade se torna um palco para o espetáculo da interação do indivíduo com o espaço construído. Retratar São Paulo como algo além de uma cidade bonita ou feita apenas de edifícios, mas mostrando o homem como parte e razão dela, é um trabalho que Cristiano Mascaro (arquiteto conhecido como o fotógrafo de São Paulo) busca trazer em suas fotografias. Há sempre uma relação dos elementos da cidade com os indivíduos que a usam, mostrando que a cidade é uma extensão do corpo humano (e vice-e-versa). Não há uma busca do pitoresco, mas da vida urbana, das atividades que dão vida e energia à cidade, da memória urbana. “Ele flagra a cidade como um espetáculo transitório e único que, fixado na fotografia, ganha a magnitude de representação real” (FERNANDES JUNIOR, 1995 apud MASCARO, 1996, p.100). Quando fotografa a arquitetura, Mascaro coloca o homem de forma a chamar a atenção para a proporção das coisas, e o que está entre elas. Até mesmo quando não há a figura humana claramente explícita na imagem, ainda é possível entender o papel do homem naquele espaço
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pois somos convidados a perceber relações dimensionais e aspectos sensíveis flagrados e imortalizados pelo autor no registro fotográfico. Na construção e produção das suas imagens, é possível perceber que Mascaro adota dois procedimentos fundamentais da fotografia: a luz e o acaso.
0 1.0 1
A
LUZ
Fotografia nada mais é do que imagem captada por um equipamento que explora a luz para desenhar cenas e cenários em um suporte específico (papel, película, tela). Antes de ser uma imagem que reproduz as aparências de algo, a fotografia é da ordem da impressão, do traço. Ela surge ao se conseguir captar e imprimir diretamente os raios luminosos emitidos por um objeto. A fotografia é em primeiro lugar uma impressão luminosa. O aparelho de fotografar não é, em princípio, indispensável para que haja fotografia – o dispositivo ótico (a câmera obscura) é antecedido por um dispositivo químico. (BRISSAC, 2003, p.22)
É ela que possibilita que os objetos, paisagens e pessoas sejam fotografados e é um recurso indispensável para perceber a tridimensionalidade dos objetos. A luz sempre esteve presente na arte, seja na pintura, no desenho ou na escultura, para retratar as formas, volumes e profundidade, e nos permitir apreciálas, e não é diferente o que ocorre no contexto da fotografia. Para perceber a arquitetura, a luz é um recurso fundamental. Ao projetar, um dos primeiros pensamentos de um arquiteto é como trabalhar a luz e a presença do efeito luminoso, artificial e natural, no espaço que está sendo criado. As fotografias de Cristiano Mascaro mostram com muita clareza o quanto a luz e a sombra são essenciais para se perceber as formas da cidade. Suas criações trabalham a luz para trazer à tona o elemento arquitetônico e a relação do espaço urbano com seus habitantes. (Figuras 11 a 14)
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Figura 11 - Avenida Paulista Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 A fachada funciona como um “rebatedor” de luz; no piso, a trama do mosaico português é alterada pela sombra projetada pela luz refletida da arquitetura, dos equipamentos urbanos e pelo desenho das sombras das árvores e dos pedestres.
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Figura 12 - Viaduto Eusébio Stevaux Fotografia de Cristiano Mascaro Fonte: MASCARO, 1996. O trabalho das formas e das curvas com um jogo de luz e sombra dos corpos e dos vestígios da passagem dos carros, e também do recorte minúsculo de céu, relaciona a arquitetura com os indivíduos que frequentam e transitam no espaço urbano.
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Figura 13 - Avenida Nove de Julho Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 A presença da luz marca os detalhes arquitetônicos da construção simbólica, que marca a avenida famosa e histórica da cidade, e colocam em evidência uma única figura humana na imagem, cuja única companhia é sua própria sombra, em contraste com a repetição dos elementos verticais do viaduto e da escada ao fundo que, pelo recorte da imagem, aparenta não ter fim.
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Figura 14 - Palácio Gustavo Capanema Fotografia de Cristiano Mascaro Fonte: retirada do site https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.087/5370 As sombras formadas pelos elementos verticais estáticos se relacionam com as pessoas deslocando-se em direções opostas, de forma alternada, pelo vão do edifício.
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0 1.0 2
O
ACASO
O início do trabalho é precedido de um ritual: acordar bem cedo; andar muito a pé, a velocidade ideal para a descoberta das sutilezas do cotidiano; observar atentamente os caminhos da luz; perceber os fluxos das pessoas, as fachadas e os detalhes dos edifícios, ora escondidos pela incidência da luminosidade, o conjunto de ações; e, finalmente, esperar pelos acontecimentos, com a impressão de que foi o primeiro a chegar. Apesar dessa prévia e frágil organização, o acaso pode acontecer a qualquer instante, e às vezes até antes mesmo de chegar ao local a ser fotografado. E tudo aquilo que fora planejado é envolvido por desvios aleatórios e, por que não dizer, saudáveis. (FERNANDES JUNIOR, 1995 apud MASCARO, 1996, p.100)
Na fotografia do arquiteto especialista em fotografia urbana há uma busca por capturar a presença acidental do indivíduo na cidade. Existe uma predisposição em buscar o inesperado, a surpresa no cotidiano urbano. “Quando eu procuro, eu não acho. Estou sempre predisposto ao imprevisto. É caminhando que as coisas vão acontecendo” (CRISTIANO, 2009). O olhar do fotógrafo é calibrado para o acaso. Ele sai à espera de algo que ainda vai acontecer, observando a cidade, procurando o imprevisto, um acontecimento fora do padrão. Ele tanto espera acontecer quanto se prepara para apreender o já conhecido. É o caso das fotografias a seguir. (Figuras 15 a 19)
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Figura 15 - Sobre o MinhocĂŁo Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: retirada do site https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.087/5370 Um motociclista entra no quadro no momento exato da captura da imagem. O objeto em movimento constrasta com o objeto estĂĄtico (a arquitetura) ao fundo.
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Figura 16 - Avenida Marginal do rio Pinheiros Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 O enquadramento dos postes de luz (antigos e novos), da torre ao fundo esquerdo e dos trabalhadores dentro da moldura do painel.
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Figura 17 - Rua Florêncio de Abreu Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 O pedestre aparenta fazer parte da arquitetura com a porta fazendo o enquadramento. As linhas verticais bem definidas pelas aberturas das janelas e portas da edificação são quebradas com a presença do corpo em movimento.
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Figura 18 - Praça Marechal Deodoro Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 O campo ocupado pelo homem é emoldurado pelas arestas do ônibus; as linhas do corpo, do ferro e das portas do ônibus se alinham no momento em que a fotografia foi capturada como se fossem uma mesma coisa.
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Figura 19 - Viaduto Santa EfigĂŞnia Fotografia de Cristiano Mascaro. Fonte: MASCARO, 1996 As curvas do guarda-corpo compĂľem um outro grafismo, ampliado com as sombras projetadas em continuidade e a curvatura da perna da mulher.
2
O OLHAR E O ACASO
041
Como já mencionado, o fotógrafo da cidade, que estudamos neste trabalho, está predisposto ao inédito. Usa do acaso como um estímulo e desafio a ser alcançado. O seu olhar está afinado de modo a perceber o inesperado com atenção para captá-lo quando aparecer. Essa é uma postura típica dos fotojornalistas, que, apesar de ter um tema a ser fotografado, sempre estão atentos a qualquer possibilidade de um evento repentino que sugere uma nova composição da imagem. Conforme o cenário da cidade e das ruas muda, assim muda também a conduta do fotógrafo, experimentando diversas maneiras de olhar e registrar o que ele vê. Um pequeno detalhe quando observado e registrado, pode ser o principal sujeito da imagem fotográfica. Assim, o olhar do fotógrafo deve estar atento a tudo e a todos. Um pequeno distanciamento ou movimento pode ser decisivo para o momento em que acontecerá o disparo da câmera. O olhar que fotografaé o suficiente para que o sujeito em questão seja transformado. “El ojo del fotógrafo está en perpetua evaluación. Um fotógrafo puede lograr uma coincidencia de líneas com tan sólo mover su cabeza una fracción de milímetro. Puede modificar perspectivas mediante uma ligera flexión de sus rodillas. Desplazando la cámara a mayor o menor distancia del sujeto logra un detalle, y éste puede ser subordinado al resto o puede subyugar al fotógrafo, pero compone uma fotografía en casi el mismo tiempo que le toma disparar el obturador, o sea, a la velocidad de un acto reflejo.” (CARTIER-BRESSON, 1952 apud FONTCUBERTA, 2003, p.229)
Assim, a visão precisa estar focada no que pode acontecer, para que o disparo seja feito no momento certo (ou no que Roland Barthes chama de “o momento decisivo”), de modo a congelar determinado elemento no espaço-tempo, pois “a foto imobiliza uma cena rápida em seu tempo decisivo” (BARTHES, 2015, p.55). É o que observamos nas imagens a seguir de autoria do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), cuja fotografia se baseava no “momento decisivo” - quando os elementos visuais estão posicionados no lugar certo. (Figuras 20 a 23).
042
Figura 20 - Children playing in ruins, Seville, 1933 Fotografia de Henri Cartier-Bresson. Fonte: retirada do site https://arteref.com/fotografia/henri-cartier-bresson-o-pai-do-fotojornalismo/ A postura de algumas das crianças faz a foto parecer posada, porĂŠm o menino escalando a ruĂna a direita e outro menino brincando (jogando pedras) ao fundo mostram que a imagem foi captada ao acaso.
043
Figura 21 - Place del’Europe, Gare Saint Lazare, Paris, 1932 Fotografia de Henri Cartier-Bresson. Fonte: retirada do site https://arteref.com/fotografia/henri-cartier-bresson-o-pai-dofotojornalismo/ Indivíduo flagrado segundos antes de cair em uma poça d’água.
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Figura 22 - Hyères, France, 1932 Fotografia de Henri Cartier-Bresson. Fonte: retirada do site https://arteref.com/fotografia/henri-cartier-bresson-o-pai-do-fotojornalismo/ O momento exato em que o ciclista entra no enquadro de composição fotográfico, dando continuidade à linha do corrimão da escada, alinhado à guia da calçada.
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Figura 23 - Pássaros numa escadaria Fotografia de Henri Cartier-Bresson. Fonte: retirada do site https://arteref.com/fotografia/henri-cartier-bresson-o-pai-do-fotojornalismo/ Uma mulher subindo uma escadaria espanta os pombos, que começam a voar em diversas direções.
046
Essa atenção ao detalhe e ao momento decisivo é o que vai servir de guia para a produção e seleção das imagens do ensaio fotográfico a ser elaborado como produto deste trabalho. Tal ensaio será construído a partir da execução de fotografias, que acontecerão em espaços culturais da cidade de São Paulo, pois acreditamos serem lugares onde os frequentadores são motivados pela curiosidade e desejo de relaxamento, e interagem com edifícios concebidos para abrigar eventos estéticos que convidam os visitantes à descontração e à reação espontânea, abrindo infinitas possibilidades de capturarmos cenas menos previsíveis e personagens diferentes.
3
OS ESPAÇOS CULTURAIS EM SÃO PAULO
049
[...] São Paulo, uma das mais populosas cidades do mundo, continua cada vez mais dinâmica, cultural, complexa e ansiosa. Como em qualquer megalópole, nada melhor do que um museu para refugiar-se e descobrir as distintas realidades culturais, as marcas da cidade, antigos e novos rostos que se alteram com o tempo. (CARVALHO, A. C.; FAGGIN, C., 2012, p.15)
Temos hoje em São Paulo uma infinidade de museus, teatros, espaços expositivos, bibliotecas, centros culturais (entre outros) que abrigam um acervo de grande importância para a difusão da cultura. “São Paulo é, sem dúvida, a capital cultural do Brasil” (CARVALHO, A. C.; FAGGIN, C., 2012, p.31). Para a realização do ensaio fotográfico a ser executado, escolhemos cinco espaços culturais na cidade de São Paulo, cada um concebido com um enfoque diferente e com arquiteturas que possibilitam uma diversidade de ações pelos seus usuários. Essa escolha foi realizada a partir de dois recortes: espaços em funcionamento a partir do ano 2000 e espaços que frequento no meu tempo livre, para tornar a produção de imagens mais rotineira e viável. São eles: Sesc 24 de Maio (2017), Instituto Moreira Salles (2017), Instituto Tomie Ohtake (2001), Museu Catavento (2009) e Praça das Artes (2012).
INSTITUTO 20 R U Y TOMIE OHTAKE 0 1 O H T A K E
M U S E U 2 0 DOMIZIANO CATAVENTO 09 R O S S I PRAÇA DAS 2 0 B R A S I L A R T E S 1 2 ARQUITETURA SESC DE
24 2 0 PAULO MENDES MAIO 1 7 + M M B B
INSTITUTO 20 ANDRADE MOREIRA SALLES 1 7 M O R E T T I N
SESC DE 3.1
24 MAIO
052
O Sesc 24 de Maio está localizado na esquina da Rua 24 de Maio com a Rua Dom José de Barros, no centro da cidade. O edifício, antes ocupado pela Mesbla, passou por uma reestruturação assinada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB Arquitetos, e abriu suas portas em 2017. (Figura 24) São diversas atividades oferecidas pelo Sesc (Serviço Social do Comércio), que envolvem educação, saúde, cultura, lazer e assistência, e para isso foi criada uma nova estrutura independente apoiada em quatro pilares, que permitiu a criação de andares duplos e grandes salões intercalados. Três
aspectos
dessa
arquitetura
chamam
a
atenção:
1. as rampas de circulação, que ziguezagueiam o edifício e possibilitam um passeio visual interessante e estimulante; (Figura 25) 2. o jardim da piscina com seu espelho d’água e a vista para o centro da cidade; (Figura 26) 3. e o térreo de circulação livre, acessível por ambas as fachadas. (Figura 27) Não é incomum encontrar uma criança brincando com os pés dentro do espelho d’água (Figura 28), ou ver alguém observando os andares acima ou abaixo pela rampa, ou se deparar com os bancos do térreo ocupados por pessoas tendo seu momento de descanso. (Figura 29)
053
Figura 24 - SESC 24 de Maio Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/sesc-24-de-maio/ A fachada de vidro do Sesc na esquina das ruas 24 de Maio e Dom JosĂŠ de Barros, com abertura do tĂŠrreo em ambas as laterais, permitindo a permeabilidade no pavimento.
054
Figuras 25 e 26 - SESC 24 de Maio Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/sesc-24-de-maio/ As rampas que sobem e descem toda a edificação, ligando todos os pavimentos e possibilitando a visualidade de todas as atividades que acontecem no prédio. O espelho d’água na Praça da Piscina e a abertura da fachada possibilitada pelo recuo dos pavimentos superiores, permitindo uma maior visão do entorno.
055
Figuras 27 e 28 - SESC 24 de Maio Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/sesc-24-de-maio/ Umas das entradas da edificação no térreo na Rua Dom José de Barros. Pessoas andando no espelho d’agua da Praça da Piscina e observando os edifícios ao redor do Sesc.
056
Figura 29 - SESC 24 de Maio Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/sesc-24-de-maio/ Bancos localizados no tĂŠrreo do Sesc sendo utilizados por usuĂĄrios e transeuntes.
INSTITUTO MOREIRA S A L L E S 3.2
058
O Instituto Moreira Salles (ou IMS Paulista) é um projeto do escritório Andrade Morettin fruto de um concurso para a construção de uma nova sede para o instituto na capital paulista. Está localizado na Avenida Paulista e foi inaugurado em 2017. (Figura 30) O foco principal do IMS é a fotografia, com um acervo que é referência no Brasil e no mundo. Conta também com um acervo de música, iconografia e literatura. Além de exposições voltadas a essas temáticas, o Instituto também promove exposições de artes plásticas de artistas brasileiros e estrangeiros. (Figura 31) O projeto foi pensado a partir da elevação do térreo em relação ao nível da rua, com o acesso acontecendo através de escadas rolantes (Figura 32) que ligam a calçada ao quarto pavimento, onde se encontra a Praça IMS, um dos principais pontos de encontro da edificação (Figura 33). Há sempre alguém tirando uma foto da avenida pela abertura na fachada nesse pavimento. É a partir dessa praça que o acesso aos outros ambientes é realizado.
Figura 30 - Instituto Moreira Salles Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https:// www.nelsonkon.com.br/institutomoreira-salles/ Fachada do IMS vista pela Avenida Paulista, mostrando a abertura da Praça IMS e o elemento vermelho, onde estão localizadas as salas de exposição.
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Figuras 31 e 32 - Instituto Moreira Salles Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/instituto-moreira-salles/ Uma das salas de exposição do IMS, que possui planta livre que permite diversas possibilidades de montagem de exposições e circulação de pessoas. Escada rolante que liga a calçada à Praça IMS, liberando o térreo e dando continuidade ao passeio.
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Figura 33 - Instituto Moreira Salles Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.nelsonkon.com.br/instituto-moreira-salles/ A Praça IMS é o térreo do edifício, onde estão todas as ligações aos espaços do Instituto: salas de exposição, biblioteca, cinema e café.
INSTITUTO TOMIEOHTAKE 3.3
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O Instituto Tomie Ohtake (ou Ohtake Cultural) é parte de um complexo multifuncional na Avenida Brigadeiro Faria Lima. O Instituto ocupa dois andares, com salas de exposição, ateliês e salas para palestras. O projeto que integra cultura, trabalho e lazer foi concebido por Ruy Ohtake em 2001, arquiteto e filho da artista plástica Tomie Ohtake, que dá nome ao centro cultural. (Figura 34) O enfoque do Instituto são as artes plásticas, a arquitetura e o design, desenvolvendo exposições que focam os últimos 60 anos do cenário artístico, período em que Tomie Ohtake vem atuando, além de debates, publicações e pesquisa no ensino da arte contemporânea. As curvas e as cores da fachada (Figura 35) chamam a atenção de quem está na rua, e o hall, em diversos níveis e com iluminação zenital, e que dá acesso a todo o programa do Instituto, é um dos pontos focais dessa arquitetura. (Figura 36)
Figura 34 - Instituto Tommie Ohtake Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2552 A entrada do Instituto com o painel com formas orgânicas, assim como os objetos arquitetônicos da área externa.
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Figura 35 - Instituto Tomie Ohtake Fotografia de Diego Grandi. Fonte: retirada do site https://blog.galeriadaarquitetura.com.br/post/conheca-os-finalistas-do-premio-dearquitetura-instituto-tomie-ohtake Ruy Ohtake fez grande uso das cores na fachada do edifício, além das curvas presentes em todo o projeto, deixando a edificação atraente a quem a vê da rua.
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Figura 36 - Instituto Tommie Ohtake Fonte: retirada do site http://www.institutotomieohtake.org.br/o_instituto/espaco O hall de entrada iluminado pela abertura zenital e que dá acesso ao programa do Instituto: salas de exposições, ateliês, restaurante, livraria e salas para palestras.
M U S E U C ATAVEN T O 065
3.4
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O Museu Catavento está abrigado no antigo Palácio das Indústrias, tombado pelo CONDEPHAAT desde os anos 80, construído entre 1911 e 1924 pelo arquiteto Domiziano Rossi, no escritório de Ramos de Azevedo, ao lado do Parque Dom Pedro II. O edifício foi criado para servir de espaço de exposições, mas ao longo dos anos teve outros usos (delegacia de polícia, Assembléia Legislativa e sede da Prefeitura de São Paulo), somente retornando ao seu uso original com a abertura da Fundação Catavento. (Figura 37) O Catavento foi criado em 2009 para ser um espaço interativo, apresentando a ciência e a cultura para crianças, jovens e adultos de forma a instigá-los a conhecer mais sobre os assuntos abordados nas exposições (Figura 38). Por isso, o museu é dividido em quatro seções, onde são distribuídas as temáticas: Universo, Vida, Engenho e Sociedade. Trata-se de uma arquitetura eclética abrigando um museu com acervo totalmente científico, que une o antigo e o novo, não apenas em sua edificação, mas com os objetos expostos em toda sua área. (Figura 39)
Figura 37 - Museu Catavento Fonte: retirada do site https://www.educacao.sp.gov.br/noticia/lazer/museu-cataventoapresenta-exposicao-multimidia-sobre-cultura-e-desenvolvimento/ A fachada do edifício de arquitetura eclética que abriga o Museu Catavento.
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Figura 38 - Museu Catavento Fonte: retirada do site http://www.cultura.sp.gov.br/museu-catavento-completa-nove-anos-e-convida-publicopara-participar-de-exposicao/ Um dos ambientes usados como espaço de exposição onde crianças e adultos podem interagir com os objetos expostos.
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Fonte:
Figura 37 - Museu Catavento retirada do site https://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?https://www1.folha.uol.com.br/ saopaulo/2015/07/1653403-catavento-tera-borboletario-em-seu-jardim-a-partir-de-sabado.shtml
Além das áreas internas do edifício, os jardins também são usados como espaços expositivos. Na imagem, o borboletário em uma geodésica em uma das áreas ajardinadas.
P R A Ç A DAS ARTES 069
3.5
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A Praça das artes, localizada entre a Avenida São João, a Rua Conselheiro Crispiano e o Vale do Anhangabaú, foi projetada pelo escritório Brasil Arquitetura e inaugurada em 2012, restaurando e reabilitando o edifício do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo (Figura 40) e vinculando-o ao novo complexo que abriga as instalações de funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal. (Figura 41) Mesmo focado em atividades de música e dança, o conjunto conta com um térreo totalmente livre que cria um espaço de circulação aberto entre os volumes edificados, trazendo uma continuidade das ruas com suas passagens e espaços vazios. (Figura 42)
Figura 40 - Praça das Artes Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site http://www.nelsonkon.com.br/praca-das-artes/ O edifício do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo (branco) restaurado para compor o conjunto da Praça das Artes.
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Figura 41 - Praça das Artes Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site http://www.nelsonkon.com.br/praca-das-artes/ O projeto da Praça das Artes é composto por uma série de blocos interligados entre si e elevados do chão.
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Figura 40 - Praça das Artes Fotografia de Nelson Kon. Fonte: retirada do site http://www.nelsonkon.com.br/praca-das-artes/ A rua integra a praça permitindo o deslocamento por entre a edificação.
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Devido a impossibilidade de percorrer todos os edifícios selecionados no primeiro momento do trabalho com o fechamento de todos os museus e espaços culturais da cidade, desde o dia 15 de março de 2020, em decorrência da pandemia de Covid-19, os únicos espaços tratados neste TCC serão o Sesc 24 de Maio, o Instituto Moreira Salles e o Instituto Tomie Ohtake. Considerando que produzi apenas um terço das fotografias pretendidas para esse trabalho, as imagens que possuo são a totalidade do produzido, logo, não houve uma seleção entre elas. Para dar prosseguimento ao trabalho, busquei na internet fotos de outros autores¹ contendo pessoas, realizadas nos três espaços estudados e observados neste TCC, a fim de analisar a presença do corpo e sua relação com arquitetura, e fazer uma comparação com minhas fotografias. A proposta desta adaptação do TCC propõe discutir os resultados das fotos da autora, que foram realizadas motivadas em flagrar essa relação, e as demais, não pensadas de tal forma. Para as imagens que foram selecionadas não possuo autorização de uso, porém estão disponíveis online, sendo assim são públicas, e o uso está sendo feito dentro de um contexto acadêmico. Todos os créditos serão devidamente colocados em suas legendas. Cada um fotografias si, o que
dos espaços onde foram feitas as possue atividades diferentes entre fica evidente ao observar as imagens.
O Sesc 24 de Maio é um lugar voltado para o lazer, educação, saúde e cultura, por isso sua arquitetura é mais convidativa. E isso se mostra bem evidente observando a forma como as pessoas se apropriam dos espaços, seja pelo udo do mobiliário ou pela presença da água, ponto de convergência dos visitantes. O Instituto Moreira Salles, cujo acervo tem um foco maior na fotografia, possui uma relação muito forte com a cidade ¹ Obviamente são autores na maioria desconhecidos e anônimos. O material servirá apenas de referência para diálogo e comparação com as fotos da autora, defendendo o argumento do projeto proposto para este TCC, e a autora deste TCC não tem a intenção de publicá-las, para qualquer necessidade.
076
e com a calçada da Avenida Paulista, que acaba integrada à arquitetura, e com o mirante criado pelo rasgo na pele de vidro. O Instituto Tomie Ohtake é um espaço projetado para abrigar a arte (com exposições de pinturas, fotografias e esculturas), e por isso é mais amplo e possui uma planta mais livre, com menos presença de objetos que complementem sua arquitetura.
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Figuras 43 a 49 - O outro - Sesc 24 de Maio Fontes: 43. Meri Oliveira - disponível em https://www.instagram.com/p/B9J8Iw2hpRo/ 44. Iagor Oliveira - disponível em https://www.instagram.com/p/B-qJMbknn6w/ 45. Jorge Vidal - disponível em https://www.instagram.com/p/B8O3DO4nY78/ 46. rasecjulio - disponível em https://www.flickr.com/photos/rasecjulio/38356963296/ 47. Viviany - disponível em https://www.instagram.com/p/B8hn1MsntNU/ 48. Marina Pereira - disponível em https://www.instagram.com/p/B8H49G3nDh4/ 49. Lucas Luiz - disponível em https://www.flickr.com/photos/145361333@N06/40791789162/
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SESC 24 DE MAIO
Figuras 50 a 56 - Diagramas produzidos pela autora
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Figuras 57 a 63 - O eu - Sesc 24 de Maio Acervo da autora
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Figuras 64 a 70 - Diagramas produzidos pela autora
SESC 24 DE MAIO
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Figuras 71 a 77 - O outro - Instituto Moreira Salles Fontes: 71. Fê Stepanenko - disponível em https://www.instagram.com/p/B3c-egsHwon/ 72. Léo Ferreira - disponível em https://www.flickr.com/photos/leonferrer/29345525658/ 73. 19 - Vinicius Oliveira - disponível em https://www.instagram.com/p/B2Iaro0ng0c/ 74. All’e Engenharia - disponível em https://www.instagram.com/p/B4BDeYbFMvS/ 75. Arquiteta Duana Severiano - disponível em https://www.instagram.com/p/CAL35p_lHUZ/ 76. Natan - disponível em https://www.instagram.com/p/B1txyv3le2g/ 77. Jorge Pinedo Díaz - disponível em https://www.instagram.com/p/CAO-wN8gQIq/
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INSTITUTO MOREIRA SALLES
Figuras 78 a 84 - Diagramas produzidos pela autora
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Figuras 85 a 91 - O eu - Instituto Moreira Salles Acervo da autora
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Figuras 92 a 98 - Diagramas produzidos pela autora
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Figuras 99 a 105 - O outro - Instituto Tomie Ohtake Fontes: 99. C. Cagnin - disponível em https://www.pexels.com/pt-br/foto/arquitetura-brasil-construcao-edificio-1880664/ 100. Ingrid Tedeschi - disponível em https://www.instagram.com/p/B8LuvynJtZ5/ 101. manu - disponível em https://www.instagram.com/p/B7gdQLfpXCy/ 102. Caroline Lima - disponível em https://www.flickr.com/photos/meiastresquartos/16224394215/ 103. David Barkan - disponível em https://www.instagram.com/p/B6RhYF0FCTX/ 104. Ronaldo Miranda - disponível em https://www.flickr.com/photos/rcmusica/37613889975/ 105.Barbara Carneiro - disponível em https://www.flickr.com/photos/babileta/2091458318/
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INSTITUTO TOMIE OHTAKE
Figuras 106 a 112 - Diagramas produzidos pela autora
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Figuras 113 a 119 - O eu - Instituto Tomie Ohtake Acervo da autora
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Figuras 120 a 126 - Diagramas produzidos pela autora
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Apesar da presença da figura humana em todas as fotografias, percebe-se que os fotógrafos não estão preocupados em evidenciar a posição das pessoas no espaço em relação ao objeto arquitetônico. Ora a arquitetura tem mais evidência, ora o corpo é mostrado como o elemento estruturador do espaço, e por vezes não se apresenta uma relação clara de como os dois se relacionam e se complementam. Algumas fotos apresentam a suntuosidade da arquitetura, com sua grande escala em relação ao tamanho do corpo e grandes vazios que revelam como o espaço é sentido pelo olhar de quem se encontra ali. Outras dão mais destaque ao indivíduo no espaço. É visível que alguns elementos da arquitetura são mais utilizados pelas pessoas, como por exemplo a água e os bancos, e a ausência desses pode interferir na forma como o corpo se relaciona com o espaço.
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A minha intenção ao compor as fotografias era mostrar como o corpo se relaciona e pode complementar a arquitetura. As linhas presentes em cada um dos espaços foram o que nortearam os enquadramentos das pessoas nas imagens. As perspectivas, horizontalidades e verticalidades da arquitetura ganharam mais força com a forma do corpo em contraste com elas. É interessante observar que o ambiente pode sofrer interferência na sua configuração pela simples presença do corpo e pela forma que ele se apropria dos objetos inseridos nesse espaço. Esses mesmos objetos que compõem o espaço arquitetônico podem trazer sensações àqueles que os utilizam, como conforto, pertencimento ou até mesmo exclusão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
093
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As pesquisas realizadas no primeiro momento do trabalho foram usadas como base para analisar as fotos de referência e para construir o olhar fotográfico a fim de compor as minhas próprias fotografias, levando em consideração a importância da figura humana para a concepção do espaço arquitetônico. Na impossibilidade de realizar o ensaio fotográfico como previsto, procurei explorar a edição do caderno sutilmente, buscando enfatizar a qualidade dos espaços e o que a suspensão das atividades de visita de campo deixou de constatar nos e dos lugares. Utilizar a fotografia como forma de perceber a relação das pessoas com a arquitetura me levou a observar ainda mais os espaços da cidade e a relevância que o corpo tem na construção de uma arquitetura de qualidade, que gera experiências e significados únicos para aqueles que a utilizam. Como arquitetos, precisamos projetar espaços levando em consideração o indivíduo; com o risco de projetar esculturas ao invés de abrigar e estimular experiências humanas.
LISTA DE FIGURAS
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Figura 1 - Rua Maria Paula Figura 2 - Diagrama produzido pela autora Figura 3 - Rua Libero Badaró Figura 4 - Diagrama produzido pela autora Figura 5 - Viaduto do Chá Figura 6 - Diagrama produzido pela autora Figura 7 - Agência Banespa da Rua João Brícola Figura 8 - Diagrama produzido pela autora Figura 9 - Vale do Anhangabaú Figura 10 - Diagrama produzido pela autora Figura 11 - Avenida Paulista Figura 12 - Viaduto Eusébio Stevaux Figura 13 - Avenida Nove de Julho Figura 14 - Palácio Gustavo Capanema Figura 15 - Sobre o Minhocão Figura 16 - Avenida Marginal do rio Pinheiros Figura 17 - Rua Florêncio de Abreu Figura 18 - Praça Marechal Deodoro Figura 19 - Viaduto Santa Efigênia Figura 20 - Children playing in ruins, Seville, 1933 Figura 21 - Place de l’Europe, Gare Saint Lazare, Paris, 1932 Figura 22 - Hyères, France, 1932 Figura 23 - Pássaros numa escadaria Figura 24 - Sesc 24 de Maio Figura 25 - Sesc 24 de Maio Figura 26 - Sesc 24 de Maio Figura 27 - Sesc 24 de Maio Figura 28 - Sesc 24 de Maio Figura 29 - Sesc 24 de Maio Figura 30 - Instituto Moreira Salles Figura 31 - Instituto Moreira Salles Figura 32 - Instituto Moreira Salles Figura 33 - Instituto Moreira Salles Figura 34 - Instituto Tomie Ohtake Figura 35 - Instituto Tomie Ohtake Figura 36 - Instituto Tomie Ohtake Figura 37 - Museu Catavento
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 29 30 31 32 34 35 36 37 38 42 43 44 45 53 54 54 55 55 56 58 59 59 60 62 63 64 66
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Figura 38 - Museu Catavento Figura 39 - Museu Catavento Figura 40 - Praรงa das Artes Figura 41 - Praรงa das Artes Figura 42 - Praรงa das Artes Figuras 43 a 49 - O outro - Sesc 24 de Maio Figuras 50 a 56 - Diagramas produzidos pela autora Figuras 57 a 63 - O outro - Sesc 24 de Maio Figuras 64 a 70 - Diagramas produzidos pela autora Figuras 71 a 77 - O outro - Instituto Moreira Salles Figuras 78 a 84 - Diagramas produzidos pela autora Figuras 85 a 91 - O outro - Instituto Moreira Salles Figuras 92 a 98 - Diagramas produzidos pela autora Figuras 99 a 105 - O outro - Instituto Tomie Ohtake Figuras 106 a 112 - Diagramas produzidos pela autora Figuras 113 a 119 - O outro - Instituto Tomie Ohtake Figuras 120 a 126 - Diagramas produzidos pela autora
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REFERÊNCIAS
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BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Edição especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. BRISSAC, Nelson Peixoto. Paisagens Urbanas. 4ª edição. São Paulo: Editora Senac, 2003. CARVALHO, A. C.; FAGGIN, C. São Paulo: olhar os museus, olhar a cidade. São Paulo: Dialeto Latin American Documentary, 2012. CRISTIANO Mascaro - fotografar como caminhar. [S. l.: s. n.], 2009. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=FqEDmZIIlac. Acesso em: 14 out. 2019. FONTCUBERTA, Joan. Estética fotográfica. 1ª edição. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2003. _____. Indiferencias fotográficas y ética de la imagen periodística. Barcelona: EditorialGustavo Gili, 2011. MASCARO, Cristiano. Luzes da Cidade. São Paulo: DBA Dórea Books and Art, 1996. PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011. ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. 1ª edição. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006. _____. Pensar a arquitectura. 2ª edição. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2009.