Habitação Open Source - Aldeia Guarani Tekoá Pyaú I Fiama Dias

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HABITAÇÃO OPEN SOURCE ALDEIA GUARANI TEKOÁ PYAÚ



Trabalho de Conclusรฃo de Curso II Profยบ orientador Marcelo Suzuki Centro Universitรกrio Senac Arquitetura e Urbanismo Fiama Dias de Souza


“ O povo Guarani tem como princípio cosmológico a incansável procura por uma terra perfeita ou a “Terra sem Males”. Os moradores que habitam a região da Terra Indígena (TI) Jaraguá, consideram-na uma tEKOÁ, palavra de difícil tradução, mas que implica na confluência dos sonhos, da retidão da vida e das boas relações com Nhanderu.”

(PEGGION; DANAGA, 2016, apud GASPAR, W. J.; JANUÁRIO, E.; BAMPI, A. C.; NETO, G.G.).

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Resumo Proposta de habitação social para a aldeia TEKOÁ PYAÚ, da etnia Mbyá- Guarani, situada no bairro do Jaraguá, zona noroeste de São Paulo. Em constante processo de transformação por conta do embate diário entre a logica da sociedade capitalista e a logica de comunidade indígena seus habitantes convivem em um espaço limítrofe que os impede de exercer plenamente a sua relação com a natureza, relação que antes bastava para seu sustento.

Utilizando como base o conceito de arquitetura open source (código aberto), que visa viabilizar um método construtivo barato e compacto, passível de ser executado por qualquer pessoa, seguindo seus referencias tradicionais de construções sustentáveis tanto nos aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos, utilizando os materiais regionais disponíveis e entendendo as limitações de uma comunidade localizada na zona urbana da cidade. PALAVRAS-CHAVE: ALDEIA GUARANI, ARQUITETURA OPEN SOURCE, HABITAÇÃO SOCIAL.

Reconhecendo as características da arquitetura tradicionalmente desenvolvida por essa comunidade indígena e o seu modo construtivo culturalmente diferenciado, tenho como objetivo formular proposta de uma opção viável de construção habitacional, de baixo custo, que seja acessível a todas as camadas sociais, estudando técnicas construtivas,materiais e tecnologias universais e sustentáveis.

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Introdução Localizada a 27 quilômetros do centro da cidade de São Paulo, a aldeia urbana do Jaraguá abriga cerca de 700 habitantes. A terra indígena é formada por cinco aldeias guarani, chamadas tEKOÁ, e cada uma tem um grupo de lideranças responsável por organizar coletivamente a comunidade. Em 1987, o governo federal homologou a terra indígena em 1,7 hectare, espaço produzido pelo Estado que levou em conta somente o espaço de residência da comunidade, sem incluir o espaço de coleta, caça, pesca e plantação e foi considerado pela (FUNAI) o menor território indígena do país. Em 2015, a Portaria 581 garantiu mais de 500 hectares de terras aos Guarani, porém, em 21 de agosto de 2017, o Ministério da Justiça revogou essa portaria. Por conta dos limites impostos, resta aos seus habitantes procurarem formas diferentes para conseguir seu sustento e de suas famílias, tarefa essa que encontra diversos impedimentos pela frente, como o preconceito da sociedade que muitas vezes os impede de conseguir um emprego, preconceito que é fruto da falta de conhecimento e disseminação de outras culturas que residem no mesmo território. Restando aos indígenas viverem de sua pequena produção de artesanato ou o que acon-

tece na maioria das vezes, viver dependendo das políticas públicas que se encontram disponíveis no momento, como a ajuda financeira disponibilizada pelo estado, o que muitas vezes é insuficiente. Diante desta realidade, há a necessidade de implementação de novas políticas indigenistas que garantam a sobrevivência da comunidade nos termos impostos pela sociedade capitalista que os cercam. Semelhante a uma comunidade da periferia paulistana a aldeia indígena é classificada como área de favela pela atual legislação urbana, carente de infraestrutura e de condições básicas para sobrevivência. O processo de urbanização de seu entorno afetou o modo de vida livre dos indígenas, estereótipo construído a partir da imagem do indígena em contexto de território amazônico, idealização que não faz jus a realidade de muitos povos que vivem sobre a realidade urbana no Brasil.

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Fundamentação e Contextualização Com o objetivo de adquirir conhecimento sobre as técnicas construtivas e o desenho da arquitetura tradicional Guarani, utilizarei como fundamentação e contextualização artigos específicos que possuem o conteúdo necessário para fundamentar a minha proposta para a aldeia TEKOÁ PYAÚ.

Tradições Culturais Como em todas as culturas tradicionais, também entre os guarani- mbyá o mito e o ritual embasam seu conhecimento. (Schaden, 1974 e Foster, 1962).

Para se compreender de modo operacional as motivações e os procedimentos ligados às soluções e às técnicas da arquitetura guarani, dever-seia considerar as informações contidas nos mitos e nas demais tradições com a mesma firmeza da comunidade indígena. Os mitos mais importantes neste caso são os mitos de Origem e Fundação e a tradição da Busca da Terra sem Mal - Yvy Marãey ; esta busca deu origem a migrações passadas e recentes que estabeleceram a atual rede de aldeias que, neste sentido, é testemunha dos itinerários e das características que se apresentaram durante a marcha. (Nimuendajú, 1987; Cadogan, 1959 e Ladeira, 1992

O Desenho da Arquitetura Estudos de campo, bem como pesquisas recentes, fruto de síntese bibliográfica e investigação arqueológica, concordam em que o padrão do estabelecimento guarani subentende ocupações em “elevação de pouca altura, em áreas de vegetação florestal” dentro de habitat “sem es

tação seca e localizados em suaves elevações na proximidade do mar, próximo a pequenos riachos ou aos grandes rios dos vales costeiros“.

(Scatamacchía e Moscoso. 1989).

Outras tradições referem-se às características físicas de certas árvores. O cedro era usado como madeira estrutural para a habitação; hoje restringe-se, pela sua raridade, ao uso na casa de rezas e mesmo assim em partes dela, especialmente nos objetos rituais como o bastão de reza masculino - yvyra’i - no banquinho e no altar. A explicação que se obtém para a preferência pelo cedro - ygary - é que se trata de uma madeira boa e forte para a construção assim como, os guaranis afirmam, todas as madeiras duras são adequadas. Porém, uma análise mais cuidadosa das suas tradições esclarece que o cedro está classificado entre as madeiras sagradas, assim como pindo - palmeira, yvyraovi, kurupika’y, gwapo’y, aju’y etc.; todas elas também utilizadas na produção de fogo. (Cadogan, 1959).

A casa feita com as madeiras tradicionais seria um abrigo dos deuses, assim como na antiga e intangível tradição da guarda dos ossos descarnados dos grandes pajés que eram venerados em opy escondidos no interior das florestas, conforme relatos históricos dos séc. XVI e XVII, as caixas que os guardavam eram de cedro lavrado. (H. Clastres, op. cit.; Montoya, 1985).

Parece que o complexo cultural da busca da Terra sem Mal veicula de modo essencial o conceito guarani de desenho e arquitetura (TEKOÁ). Nas palavras de Meliá (1990:33): “a busca da Terra sem Mal é -pelo menos no estado em que estão nossos conhecimentos - o motivo fundamental e a razão suficiente da migração guarani. E nesta se insere a especificidade da economia das tribos. A Terra sem Mal é, certamente, um elemento essencial na construção do modo de ser guarani” (teco -modo de ser guarani). Página 08 Habitação Open Souce - Aldeia Guarani TEKOÁ Piaú


A organização social guarani é estruturada espacialmente em núcleos familiares de habitações próximas que pertencem muitas vezes a um conjunto de pessoas que migraram juntos até aquele tEKOÁ. Analogamente, a junção da coletividade da aldeia na casa de rezas -opy - denota a força da liderança religiosa na manutenção da própria aldeia como entidade socialmente viva. Na verdade, o paje principal é líder de toda a aldeia, assim como o pai, que é o líder familiar, é de certa forma o paje do seu núcleo familiar, função indispensável, aliás, na liderança do grupo em migração. Uma das etimologias preferidas por Cadogan para a casa de rezas é o-py, ou seja, casa central. Py denota centro, ponto fixo e denota coração, meio, semente. Opy seria, pois, a casa central, a casa fixa, imutável e o coração da aldeia, a geradora do território guarani. Ela ocupa na arquitetura da aldeia o mesmo papel de síntese de possibilidades que o paje representa no contexto social e que o altar de cedro ocupa no espaço interno da própria opy. A opy é o coração do tEKOÁ, assim como o paje é o coração do seu povo. O sistema construtivo guarani baseia-se em um equilíbrio estático dos esteios, cujas forquilhas apoiam os frechais e espigões que suportam o peso de toda cobertura (Fig. 4). Todas as peças descarregam o peso verticalmente e encontram-se simplesmente amarradas, assim como o conjunto da cobertura, por ilanas e cipós. Os esteios são travados por travessão em pórtico (Fig. 6). A cumieira normalmente descarrega numa forquilha cujo pontalete se apoia nos travessões dos pórticos ou diretamente no solo de chão batido. No primeiro caso obtém-se um espaço interno livre, graças ao funcionamento da tesoura guarani ou cabocla (formada por um único esteio central, sem os braços inclinados); no segundo caso existe no eixo do vão central um ou mais esteios. A casa

de rezas principal da Barragem observada entre 1985 e 1989 oferecia exemplo particular e engenhoso de suporte da cumieira. Ela era sustentada somente pelos caibros das duas águas sem qualquer esteio central, abrindo vão admirável para aquela técnica construtiva (Foto 3). Usa-se sempre que possível folhas da palmeira — pindoba — na cobertura; em sua falta, usa-se o sapé — jape. Entre as palmeiras, as melhores folhas são as do palmito - jejy- e as da jaricanga, pindo guaçu. Elas são amarradas em sarrafos de galhos de árvore, varas de bambu ou pequenos troncos de palmeira. Hoje está difundida nas construções comuns, fora da casa de rezas, a utilização de arames e pregos, além de dobradiças metálicas nas portas e janelas. Nas casas comuns, a vedação predominante é bastante leve, feita em pau-a-pique - estaqueado vertical de pequenos troncos amarrados entre si e a longarinas horizontais que os vinculam à estrutura (Foto 4). A vedação de pau-a-pique, embora crie um filtro visual suficiente para ocultar em sua penumbra o interior da habitação, revela ao seu habitante todo o exterior, mais iluminado. Além disso, ela parece, pela sua fragilidade, funcionar mais como pele e marco do que divisão interior-exterior. Tal característica de troca constante entre os dois ambientes, garante alto nível informacional que, entre os guaranis, verificou-se passar pelos sons e cheiros trazidos pelo vento, além da informação visual que atualmente predomina em nossa sociedade. Em algumas situações pode-se notar um incremento na estanqueidade das vedações por meio do uso tradicional do barro - como taipa de mão (Foto 5), ou do revestimento com folhas de palmeira e mesmo do uso de materiais improvisados e não consagrados, como tecidos, plásticos, telhas de fibrocimento e madeiras processadas industrialmente. Página 09 Habitação Open Souce - Aldeia Guarani TEKOÁ Piaú


É certo que existe a postura tradicional face leste que orienta ritualmente os guaranis e as suas habitações, especialmente as casas de rezas e pátios, suficientemente documentado na etnografia. Porém a questão do grau de estanqueidade das vedações poderia ter relação com o conceito dos Pais da Palavra, segundo se depreende dos estudos de Cadogan (1959) e Inês Ladeira (1992), particularmente com a Origem dos Ventos Primeiros e a divindade Caraí. COSTA, C. Z. O Desenho Cultural da Arquitetura Guarani. Revista do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, n.4, dezembro 1993.

Cabe mencionar que a casa em Guarani se denomina oga, ou oó. Historicamente, segundo Weimer (2005), antes da colonização, essa denominação se referia ao espaço interno que cada família nuclear tinha dentro de uma “casa grande” dos Tupi-Gurani. Essa casa grande era denominada de maloca ou maioca. Esse autor explica que as dimensões dessa casa grande variavam de acordo com o número de famílias nucleares existentes em cada comunidade, as quais tinham um espaço interno delimitado por pilares e sem divisórias, onde faziam um fogo próprio. De acordo com Rapoport (1972), cada comunidade podia reunir dezenas ou centenas de pessoas, ao passo que hoje cada família ocupava um espaço interno delimitado por pilares, sem divisórias e com um fogo próprio. Portanto, segundo um olhar histórico, a trajetória das casas tradicionais dos Mbyá-Guarani vem de um mesmo padrão habitacional dos Tupi-Guarani antes da colonização. A figura 10 apresenta croquis esquemáticos do perfil construtivo da maloca dos Tupi-Guarani e da oga dos Mbyá-Guarani. Para efeito de comparação, de acordo com Weimer (2005), as casas grandes dos Tupi-Guarani podiam chegar a 200 metros de comprimento por cerca de 12 metros de largura. Hoje, as casas tradicionais dos Mbyá-Guarani têm em torno de

cinco metros de comprimento por quatro metros de largura. Além disso, esse autor explica que os materiais construtivos das casas grandes eram todos de origem vegetal, encontrados nos ambientes onde viviam. Segundo ele, o barro foi um material construtivo incorporado na cultura material indígena no Brasil após a colonização, tendo como origem a cultura construtiva africana. Assim, a tipologia arquitetônica da casa tradicional com uso do xaxim traz uma referência mais próxima àquela desenvolvida em um período pré-colonial por ser totalmente construída com fibras naturais, representando um resgate histórico da cultura construtiva indígena brasileira. A casa para os povos indígenas é percebida como um elemento vivo que tem seus ciclos de vida e de morte associados às necessidades de cada grupo. Segundo Rapoport (1972), a casa é considerada como um ente de extensão do próprio ser indígena e se caracteriza para além de uma estrutura física com função utilitária. Na realidade, a casa pertence ao contexto da comunidade, pois insere-se à trama dos aspectos simbólicos que determinam a expressão material de uma cultura. Como ressalva Costa (1989: 9), “não há povo sem cultura material, sem casas, ou pelo menos, ideias referentes ao espaço ou à habitação”. PRUDENTE, L. T. Arquitetura Mbyá-Guarani em área de Mata Atlântica: Tipologia Arquitetônica da casa de xaxim do TEKOÁ Nhüu Porã. Porto Alegre: UFRGS, 2017.

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Levantamento de Dados

Mapa da distribuição das populações indígenas no território Brasileiro.

Quando se observa o mapa da distribuição das populações indígenas no território brasileiro de hoje, podem-se ver claramente os reflexos do movimento de expansão político-econômica ocorrido historicamente. Os povos que habitavam a costa leste, na maioria falantes de línguas do Tronco Tupi, foram dizimados, dominados ou se refugiaram nas terras interioranas para evitar o contato. Hoje, somente os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina) conservam suas línguas. Curiosamente, suas línguas não são Tupi, mas pertencentes a três famílias diferentes ligadas ao Tronco Macro-Jê. Os Guarani, que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste brasileiro e que também conservam a sua língua, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos relativamente recentes. As demais sociedades indígenas que vivem no Nordeste e Sudeste do País perderam suas línguas e só falam o português, mantendo apenas, em alguns casos, palavras esparsas, utilizadas em rituais e outras expressões culturais.

A maior parte das sociedades indígenas que conseguiram preservar suas línguas vive, atualmente, no Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, elas foram sendo expulsas à medida em que a urbanização avançava. Grande parte das áreas indígenas existentes no Brasil ainda não foi regularizada, ou seja, ainda não foi protegida por lei federal proibindo sua ocupação e exploração por outras pessoas que não sejam os indígenas que as habitam. Gomes P.H.O. Apud: Fundação Nacional do Índio. Os índios do Brasil. As línguas indígenas.

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OPEN SOURCE Arquitetura Open Source O conceito de Open Source tem raízes na área de tecnologia, aonde o chamado “código aberto” ajuda muitos desenvolvedores na criação de softwares melhores baseados no que foi feito por outras pessoas. A ideia de se manter um sistema em aberto é a democratização do mesmo, compartilhando um processo ou um modelo permitindo que outras pessoas o reproduzam e modifiquem. Trazendo isso para a arquitetura, o open source vem para democratizar o acesso aos projetos, não é difícil encontrar projetos de arquitetos e designers famosos do mundo inteiro disponíveis para download melhorando significativamente o acesso à projetos baratos e efetivos. Um dos arquitetos famosos por acreditar no Open Source como ferramenta social de democratização da arquitetura é Alejandro Aravena, ganhador do Prêmio Pritzker de 2016. A ideia de se manter qualquer sistema em aberto é a democratização do mesmo. O compartilhamento de um processo ou de um modelo vem com o desejo de permitir que outras pessoas reproduzam-no conforme seus desejos e necessidades. E se tratando de open source, ou código aberto, há o incentivo para um novo modelo de mercado, contemplando desde a produção até o comércio e consumo de matérias-primas locais. Para o design e a arquitetura, este conceito já é aplicado há certo tempo, mesmo no mercado brasileiro. De forma paga ou gratuita, diferentes plataformas propõem a colaboração entre participantes, usuários e arquitetos. A arquitetura Open Source se torna especialmente importante para a população de baixa renda, pois tras uma oportunidade de moradia barata e de fácil acesso. Proponho esse modelo de projeto para a aldeia pois torno possivel os habitantes conquistarem a liberdade de construção e implantação das habitações por conta própria e sem depender dos orgãos públicos de gestão.

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BAMBU Sustentabilidade e Carbono Zero A Madeira aclamada como uma solução para o problema de sustentabilidade na arquitetura que os edifícios representam quase 40% do uso global de energia são agora um fato já conhecido e a madeira não é o único material renovável do mundo, e arquitetos e engenheiros têm buscado outras possíveis substituições ao aço e concreto. Uma dessas possibilidades que surgiu recentemente é o bambu laminado ou engenheirado, um material altamente sustentável e estruturalmente impressionante. O bambu se aproxima muito de um material estrutural ideal. E isso começa com sua forma tubular. Uma seção aberta, como um canal, é mais fraca do que uma fechada, porque a borda pode se curvar com muito mais facilidade. É só pensar numa folha de papel e como ela torna-se mais forte quando enrolamos ela como um tubo, evitando que ela amasse. Outra característica que melhora sua resistência são suas fibras longitudinais que saem de sua base até o topo, que são chamadas de feixes vasculares. Quanto mais próximo do exterior da parede dos colmos, esses feixes apresentam uma maior

densidade, o que torna a peça mais resistente naturalmente. Portanto a parte mais forte da seção está mais afastada do seu centro radialmente, tornando a peça mais resistente e essa é a principal diferença em relação a um tronco de madeira, cuja parte mais forte está justamente no centro de sua seção. Sua velocidade de crescimento diferente de uma madeira dura, que pode demorar mais de 30 anos para poder ser explorada, o bambu pode ser cortado e utilizado entre 3 e 5 anos, voltando a crescer depois. Em testes laboratoriais o bambu também atinge capacidades estruturais impressionantes. Sua resistência à compressão equivale à do concreto, enquanto que à tração, ele atinge os números do aço. Evidentemente, isso pode variar de acordo com as espécies, mais de 1500, que crescem naturalmente em quase todos os continentes, sobretudo nas regiões com temperaturas mais altas. Ainda assim, há alguma resistência na utilização do material, uma vez que ele requer outro tipo de pensamento e a quebra de certos paradigmas tão enraizados na arquitetura. Um deles é o receio de utilizar o material em sua forma bruta, com suas irregularidades e formas naturais. onde justamente reside a beleza do bambu.

Algumas questões que devem ser levadas em conta. Deve-se levar em conta o tratamento químico do bambu antes de seu uso para a construção civil, para evitar seu apodrecimento e o ataque de insetos. Outro cânone da construção em bambu é que os componentes devem ser muito bem protegidos do sol e da chuva, para uma durabilidade adequada. Isso também inclui os pilares, que não podem estar em contato direto com a terra, o que é geralmente resolvido agregando um pedaço de rocha sobre as sapatas. O detalhamento do bambu e suas conexões foi desenvolvido historicamente, sendo repassado de geração em geração através de construtores artesanais, evoluindo através da compreensão do próprio material. No século 21, com toda a tecnologia que temos à disposição, é possível compreender melhor as forças específicas em diferentes condições (tensão, compressão, flexão, cisalhamento) e aplicar tecnologias modernas, para que seja possível otimizar o material e utilizar junto a outros materiais e técnicas, como conchas e membranas, para conseguir estruturas ainda mais ambiciosas.

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Considerações finais Caracterizada por construções em madeira, suspensas, devido á topografia do terreno, a aldeia TEKOÁ PYAÚ tem casas de formas e tamanhos diferentes, em situação de precariedade, sem divisões internas e tendo mobiliário comum do cotidiano de todos, incorporação de elementos que não faz dos índios menos índios. Por conta da área reduzida das habitações os banheiros são comunitários. As residências estão organizadas em torno da casa de reza (OPY), lugar sagrado e palco dos eventos da aldeia, local responsável por continuar a disseminação da cultura para os indígenas e possui uma cozinha comunitária, compartilhada por todos. Possui infraestrutura básica como instalação de água, esgoto e saneamento básico, sem os quais não teriam mais como viver nessa área, por conta da urbanização de seu entorno. Com o objetivo de manter os núcleos familiares existentes na aldeia, proponho a construção de habitações interligadas entre si e seguindo a tipologia existente no local. Com a implantação pensada para preservar os núcleos familiares e o terreno existente, acompanhando a topografia e mantendo a vegetação local, implantando hortas e áreas reservadas para plantações. Utilização de matéria natural para a construção das habitações, proponho para a estrutura o uso do bambu por suas características de caráter

sustentável, por ser leve, flexível, estável e resistente, com a estrutura pensada em encaixes, utilizando a técnica do arquiteto Simón Vélez e para os fechamentos a utilização de painéis em BLC (Bambu Laminado Colado), utilizando o sistema de montagem wood frame. Como uma habitação Open Source a intenção é que os próprios habitantes possam realizar a montagem a partir de peças pré-fabricadas, utilizando de tecnologias modernas existentes, mas sempre buscando integrar a comunidade indígena localizada na zona urbana da cidade ao seu entorno de forma que mantenha suas características culturais.

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