Aquela que serve

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

AQUELA QUE SERVE DOCUMENTÁRIO SOBRE DOULAS

CARLOS HENRIQUE WILHEMS IZABELA SILVA BORGES

Campo Grande DEZEMBRO / 2013


AQUELA QUE SERVE/DOCUMENTÁRIO SOBRE DOULAS

CARLOS HENRIQUE WILHEMS IZABELA BORGES

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientadora: Profa. Ma. Juliana da Costa Feliz

UFMS Campo Grande DEZEMBRO / 2013



RESUMO ...................................................................................................................... 4 1. ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO ............................................................... 5 2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................................. 7 2.1. PERÍODO PREPARATÓRIO ................................................................................. 7 2.2. EXECUÇÃO........................................................................................................... 9 2.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 11 2.3.1 LIVROS........................................................................................................... 11 2.3.2. REDES, SITES E OUTROS ......................................................................... 12 2.3.3. ENTREVISTAS .............................................................................................. 13 3. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS ....................................................................... 15 3.1. AS DOULAS ........................................................................................................ 16 3.1.1. A PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA DA MÃE .................................................. 18 3.2. A HISTÓRIA CONTADA PELO DOCUMENTÁRIO ............................................. 19 3.2.1. A AMBIENTAÇÃO DO ESPECTADOR........................................................220 4. OBJETIVOS ALCANÇADOS ..................................................................................... 24 5. DIFICULDADES ENCONTRADAS............................................................................. 25 6. DESPESAS ................................................................................................................ 28 7. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 29 8. ANEXOS......................................................................................................................32 9. APÊNDICES................................................................................................................34 9.1 ROTEIRO DO VIDEODOCUMENTÁRIO..................................................................34 9.2 ARTES GRÁFICAS UTILIZADAS NO VIDEODOCUMENTÁRIO.............................46


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RESUMO Este projeto experimental teve como objetivo revelar detalhes de uma profissão que ainda é pouco conhecida no Brasil: as Doulas. Essas profissionais oferecem um apoio emocional e físico para mulheres durante a gestação, durante o parto e após o nascimento do bebê. As entrevistas realizadas relatam experiências e a relevância do papel das Doulas para a sociedade, desde as próprias profissionais atuantes, até os diversos profissionais da saúde que tem contato com os trabalhos realizados por elas. Também buscamos coletar o relato de mães que tiveram contato com esses serviços por meio da rede pública com Doulas voluntárias e, também, através do serviço particular com um grupo especializado em parto humanizado. O resultado final foi um videodocumentário que levantou opiniões de diferentes perspectivas deste assunto tão impactante sobre a ótica do nascimento de uma criança e as consequências que uma intervenção cirúrgica pode provocar. Palavras-Chave: Videodocumentário, Doulas, Parto-humanizado, Gravidez.


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1. ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO A princípio, poucas alterações foram feitas no cronograma, apesar do tempo de produção ter sido reduzido por conta da greve dos professores no ano passado, trabalhamos cumprindo prazos com pontualidade. Ajustamos os horários e gravamos uma grande parcela das entrevistas. A maior preocupação foi referente a um parto domiciliar feito com a ajuda de uma Doula que planejamos gravar, pois o grupo de Doulas que se dispôs a conseguir essa gestante só teria partos previstos entre Outubro e Novembro. Ainda assim sabemos que caso a mãe ou o bebê corram algum risco é necessário levá-los para um hospital ou maternidade, onde não é permitido entrar mais de um acompanhante. Por conta de todos esses fatores, não conseguimos gravar um parto domiciliar que contou com o apoio de uma Doula. Mas a ausência desse material não foi comprometedor para o produto final, tendo em vista que conseguimos o relato de uma mãe que foi amparada pela Doula Caroline Figueiró e falou da vivência que teve naquele momento em que sentia as dores do parto. Além disso, conversamos com três gestantes que estavam se preparando para ter um parto normal e com o auxílio de Doulas. As grávidas enriqueceram nosso suporte de imagens, pois gravamos a realização de exercícios que aliviam a tensão e as dores de contrações, o que permite que o espectador tenha contato com o tipo de atividade que essas mulheres passam para estarem preparadas para um procedimento natural. Desde o início queríamos contar com o relato de um pai de bebê que veio ao mundo por meio do parto natural. Conseguimos este depoimento no último dia de gravações, e foi enriquecedor, tenho em vista que a presença masculina também é essencial para a mulher se sentir segura e amparada no momento de ter o filho. Uma socióloga que se compromete a falar conosco sobre o tema estava de férias durante o período de gravações e só chegaria a Campo Grande no fim de setembro. Apesar do atraso, conseguimos a participação dela e o conteúdo trazido pela profissional serviu de aporte teórico. E por último deixamos para entrevistar as mães que tiveram seus filhos com a ajuda de uma Doula. Queríamos entender melhor todos os processos e falar com todos os profissionais envolvidos, pois as mães trazem seus


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relatos, mas podem não ter conhecimento para explicar termos que elas venham a usar. O mês de outubro foi decisivo para o encerramento da captura de depoimentos e início do processo de edição. Já em novembro trabalhamos mais precisamente da finalização deste relatório e trabalhamos na arte final do documentário. O objetivo inicial era iniciar a edição em outubro, o que aconteceu apenas em novembro. Mas tal atraso não foi comprometedor para a conclusão do trabalho.


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2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 2.1. PERÍODO PREPARATÓRIO Antes mesmo de escolher o tema, havíamos decidido fazer o trabalho em um grupo de três alunos. Até então a acadêmica Laura Toledo tinha o interesse de fazer conosco. Não sabíamos que rumo tomar quanto ao assunto, no entanto a única certeza era a escolha de um videodocumentário como produto. Depois de um tempo, as sugestões de tema variavam entre questões indígenas e problemas na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, em que o tráfico e a prostituição formam muitos estereótipos. Foi então que, por meio de uma reportagem surgiram às discussões voltadas para o parto humanizado. Dessa forma, o grupo entrou em acordo e percebeu que tinham interesses por temas diferentes. Assim passamos para uma dupla formada por Carlos e Izabela. Sentimos um interesse imediato por esse tema, justamente por desconhecer abordagens jornalísticas que ressaltassem todos os cuidados que um parto precisa. E até então queríamos esse tema. Porém, pelo fato dele ser muito abrangente, foram necessárias várias reuniões de planejamento, pois teríamos que entender e explicar detalhes que vão desde a formação dos médicos em como lidar com a gestante em uma sala de cirurgia até uma análise sociológica do assunto. De modo geral, definimos no período preparatório que iríamos atrás dos motivos que levaram uma mãe a optar pelo parto cesáreo. Analisar os relatos de violência durante o parto, atitudes de profissionais da saúde que pudessem impedir essa mãe de ter seu filho da maneira que deseja também foram tópicos priorizados. Mas o objetivo principal foi entender o motivo de uma inversão histórica que fez com que o número de partos normais deixasse de ser predominante e transformou o parto cirúrgico como única alternativa, quando na realidade esta opção só deveria ser selecionada em casos em que a mãe, o bebê ou ambos estão em risco. Percebemos a necessidade da definição de um foco. Começamos então a pesquisar mais sobre o assunto e descobrimos as Doulas, profissionais que surgiram justamente de todas as indagações sobre como o parto é feito hoje no Brasil. Um processo que transforma o corpo da mulher para que ela tenha plenas condições de


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trazer seu filho ao mundo de maneira natural, sem intervenções cirúrgicas. O foco era perfeito, pois permitia que tocássemos em assuntos que despertaram o nosso interesse no começo, as questões do parto humanizado. Como nós já sabíamos do contato da professora Juliana Feliz com as Doulas, conversamos com ela e explicamos nossa intenção de fazer o TCC sobre essa profissão ainda desconhecida. Ela se interessou em nos orientar na execução deste projeto, mas até então não poderia nos orientar, pois seu contrato com o curso não se estenderia até o fim do ano. Decidimos então pedir para que a professora Daniela Ota fosse nossa orientadora. Ela aceitou, mas antes de começarmos a elaborar o préprojeto descobrimos que o contrato da professora Juliana Feliz seria renovado até o fim do semestre. Conversamos com as duas professoras e então optamos por seguir os trabalhos sob a orientação da Juliana Feliz, devido ao seu conhecimento sobre o tema. Decidimos fazer as gravações por conta própria. Primeiro usamos uma câmera fotográfica emprestada do estágio do Carlos Henrique, uma Canon 7D, com o áudio sendo capturado com um microfone lapela. Depois optamos por usar a câmera dele para ter um pouco mais de flexibilidade e sem precisar pedir equipamentos de terceiros. Começamos então a gravar com uma Canon T3i, com formato em HD de 1080x720 e um lapela emprestado de um amigo. Apesar de não terem os mesmos recursos de câmeras de vídeo profissionais, esses aparelhos fotográficos ofereceram uma ótima qualidade de imagens, o que nos motivou a escolher um formato que permitirá uma provável divulgação do material pronto em diferentes plataformas, como internet, televisão ou mostras de documentários. Durante as gravações dividimos as tarefas. Um dos membros da dupla ficou com a responsabilidade de operar a câmera e o outro por conduzir as entrevistas. O que não impedia

que

ambos

acrescentassem

alguma

pergunta

ou

opinião

sobre

enquadramentos, e vice-versa. Assistimos vários documentários para entender melhor alguns conceitos que abordam esta temática, buscamos informações com colegas de trabalho que tem mais experiência na produção de documentários e usamos alguns livros para embasamento teórico, entre eles Espelho Partido: tradição e transformação do documentário de Silvio Da-Rin.


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2.2. EXECUÇÃO Nossa orientadora foi fundamental para nos ajudar com as possíveis fontes que poderiam contribuir com depoimentos fundamentais no documentário. Ela conseguiu contatos de mulheres que compõem um grupo de Doulas que cobra por seus serviços; e outro grupo, só que voluntário, que presta seus serviços no Hospital Universitário e na Santa Casa de Campo Grande. Para dar início às entrevistas, entramos em contato com o primeiro, o Grupo I’memby – Nascer em Plenitude, que oferece coaching (treinamento e preparação) para a Maternidade e Paternidade Consciente em Mato Grosso do Sul. A Doula Caroline Figueiró nos repassou em um primeiro contato, por meio do Facebook, algumas informações iniciais para termos uma amplitude maior do assunto. Depois passamos a manter contato com mais frequência, por meio de ligações telefônicas, as quais ela explicava suas experiências e falava de outras pessoas que poderiam nos ajudar. Depois de conhecer um pouco da história do grupo, marcamos uma data para gravar as entrevistas. A Caroline marcou uma reunião para que pudéssemos ter contato com as demais integrantes do grupo. No entanto, apenas uma enfermeira obstetra (que pode fazer um procedimento de parto) e uma mãe que optou por fazer um parto domiciliar puderam comparecer na data anteriormente agendada. Neste dia colhemos depoimentos muito importantes, principalmente relatos que fazem referência sobre violência no parto. A Doula responsável pelo grupo nos contou experiências de mulheres que ficam em trabalho de parto por dias e de como é feito o acompanhamento nesses casos. Inclusive ela ressaltou quais são os papéis e as atividades desenvolvidas com as mulheres que solicitam seus serviços. A enfermeira obstetra que hoje faz parte do grupo trabalhou durante muito tempo em uma maternidade e contou diversas situações que são comuns e erradas no âmbito hospitalar entre médicos e pacientes. A gestante que entrevistamos está à espera de seu primeiro filho e também pretende fazer o curso de Doula. Ela manifestou uma preocupação muito grande para chegar à decisão de ter um parto domiciliar, pelo fato deste ser um momento único em sua vida e na vida do seu filho. O primeiro problema nas gravações dessas imagens envolveu o lapela, pois não levamos uma bateria reserva para o aparelho e o áudio da última entrevista teve que


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ser capturado com o microfone da câmera. Também não pensamos na iluminação. Chegamos no começo da tarde e fizemos as duas primeiras entrevistas dentro de um spa. Quando fomos fazer a última entrevista havia pouca luz. Assim notamos que executado o procedimento inverso para aproveitar a luz do sol – gravar em ambiente externo primeiro e logo depois em ambiente fechado e com luz artificial. Quando passamos os vídeos para o computador, fizemos uma análise das falhas cometidas e passamos a nos preparar para não repetir os mesmos erros na próxima gravação. Uma das tomadas ficou desfocada e deixou o rosto da entrevistada embaçado, por isso essa captura foi refeita. Mesmo assim o material ficou muito rico e já tínhamos mais de uma hora de material coletado, o que criou duas preocupações: a primeira de que precisávamos comprar um HD externo e, a segunda, de que o processo de edição teria que ser extremamente minucioso. Concluída a captura deste material, começaram a surgir muitas dúvidas, principalmente sobre outros profissionais de fora da área da saúde que poderiam acrescentar suas opiniões sobre o tema em questão. Pensamos em uma socióloga que pudesse elencar os fatores determinantes para uma mudança na cultura do parto, pois muitas mulheres tem medo do parto natural, enquanto outras pensam que o parto cesáreo é a opção mais segura, quando na verdade ele oferece riscos à saúde do bebê e da mãe, segundo relatos das Doulas. De repente a interrogação que ficou em nossa cabeça foi: “porque antes era tão comum o parto normal”? Conversamos com acadêmicos de Ciências Sociais e eles nos indicaram uma professora para falar sobre o assunto. Entramos em contato com a assessoria de comunicação da UFMS, que nos auxiliou conseguindo o contato da socióloga Ana Maria Maia. O único problema foi que ela estava saindo em viagem e só iria voltar no fim de setembro. Mesmo assim ela aceitou nos ajudar e a entrevista foi realizada em outubro. Demos andamento ao cronograma de entrevistas e ligamos para a Doula Maria Maia, que é voluntária no Hospital Universitário e na Santa Casa, junto com a Doula Conceição Martinês.

Elas foram muito receptivas e se dispuseram a nos ajudar.

Marcamos uma entrevista no setor de ginecologia do Hospital Universitário, onde elas têm uma sala para receber as gestantes e dar orientações. Assistimos junto com elas aos vídeos de parto, áudios com sons do bebê dentro da barriga e acompanhamos


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todas as mães que chegavam para tirar dúvidas, algumas das quais que não tinham muitas informações. O auxílio voluntário das Doulas é diferente do particular, pois elas têm horário fixo para atender as gestantes e muitas vezes não conseguem participar do parto, apenas passam instruções para que as mães conheçam seus direitos na hora do parto. Após fazer as imagens do grupo de mães que assistia as orientações, fizemos a primeira sonora com a Doula Maria Maia. A maior dificuldade foi com relação à luz do sol, que estava muito forte no horário do almoço. Terminamos esta gravação em ambiente externo e voltamos para o setor de ginecologia, onde encontramos a médica obstetra Joana Arruda. Falamos do interesse em fazer uma entrevista, ela se dispôs na mesma hora e nos acompanhou até a sua sala, onde gravamos o depoimento dela. Deixamos para gravar por último com a Doula Maria Conceição, que também é voluntária. Como o sol estava muito forte, era arriscado que a imagem viesse a “estourar”. Então procuramos um local dentro do Hospital, onde encontramos um corredor que estava mais afastado e com menos movimento. Em um corredor que dá acesso aos consultórios encontramos um bom enquadramento. Perdemos muito tempo nesses processos. Começamos a gravar ao meio-dia e achamos que até 13 horas tudo estaria feito, mas saímos da UFMS além do horário inicialmente previsto.

2.3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: 2.3.1 LIVROS CABRAL, Antônio Carlos Vieira. Fundamentos e prática em obstetrícia. São Paulo: Atheneu, 2009.

DA-RIN, Silvio. Espelho Partido: Tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue. Editorial, 2006.

LEAL, Maria Do Carmo et Al. Cesarianas Desnecessárias: Causas, Consequências e estratégias para sua Redução. In: PEREIRA, Rosemary Corrêa; SILVESTRE, Rosa Mari. Regulação e Modelos Assistenciais em Saúde Suplementar: Produção Científica da Rede de Centros Colaboradores da ANS – 2006/2008. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2009 (Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde).


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MEDINA, Cremilda. Entrevista, o diálogo possível. 2.ed. São Paulo: Ática, 1990.

NICHOLS, Bill; MARTINS, Mônica Saddy. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2007.

SILVA, Marconi Oliveira da. Imagem e verdade: jornalismo, linguagem e realidade. São Paulo: Annablume, 2006.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: a tribo jornalística / uma comunidade interpretativa internacional. 2.ed. Florianópolis: Insular, 2008.

VILLELA, Wilza Vieira; OLIVEIRA, Eleonora M. Gênero, saúde da mulher e integralidade: confluências e desencontros. In: PINHEIRO, Roseni; MATOS, Ruben Araujo de. Razões públicas para a integralidade em Saúde: o cuidado como valor.2.ed. Rio de Janeiro: CEPESC: IMS/UERJ: ABRASCO:2009

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 8.ed. Lisboa: Editora Presença. 2003

2.3.2. REDES, SITES E OUTROS: AMIGAS DO PARTO. Disponível em: http://www.amigasdoparto.com.br/ Acesso em: 21.AGO.2013.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS DOULAS. Disponível em: http://www.doulas.org.br/ Acesso em: 21.AGO.2013.

DOULAS DO BRASIL. Disponível em: http://www.doulas.com.br/ 21.AGO.2013.

Acesso

em:

PORTAL DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. TEM atualiza 60 ocupações na CBO. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/imprensa/mte-atualiza-60-ocupacoesna-cbo.htm>. Acesso em: 21.AGO.2013.

REDE PELA HUMANIZAÇÃO DO PARTO E DO NASCIMENTO (REHUNA). Disponível em: http://www.rehuna.org.br/ Acesso em: 21.AGO.2013.


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2.3.3. ENTREVISTAS ARRUDA, Joana. Médica obstetra que defende o parto humanizado. Campo Grande, 13 de setembro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. BAGGIO, Janaína. Mãe da Maria Antônia, que nasceu com o suporte de Doulas. Campo Grande, 25 de outubro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. CARVALHO, Valdelor. Pai de bebê que teve acompanhamento das Doulas. Campo Grande, 26 de outubro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. DE PAULA, Alice Inácio. Enfermeira obstetra do grupo de coaching a gestantes. Campo Grande, 20 de agosto de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. DOS SANTOS, Maria Maia. Doula voluntária no HU e Santa Casa. Campo Grande, 13 de setembro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. FARO, Viviane da Silva. Enfermeira-chefe da maternidade da Santa Casa de Campo Grande. Campo Grande, 03 de outubro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms. FIGUEIRÓ, Caroline Abreu. Coaching para a maternidade consciente. Campo Grande, 20 de agosto de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. GOMES, Ana Maria. Socióloga que compõe quadro de doutores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 18 de outubro de 2013. LEITE, Fernanda. Doula. Campo Grande, 20 de outubro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. MARTINES, Maria Conceição. Doula voluntária no HU e Santa Casa. Campo Grande, 13 de setembro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges.


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PASQUALETO, Mariana S. de C. Silva. Gestante acompanhada por Doula. Campo Grande, 20 de agosto de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges. SILVA, Danielle. Gestante acompanhada por Doula. Campo Grande, 26 de outubro de 2013. Entrevista concedida a Carlos Henrique Wilhelms e Izabela Borges.


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3. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS Para desenvolver um produto no formato de documentário audiovisual é essencial que os responsáveis pela produção dominem técnicas de entrevista. Para tanto, ao longo dos anos de faculdade, o contato que os textos de Cremilda Medina foram essenciais pelo fato dela explorar este fundamento e explicar diversos modos de se conduzir essa ferramenta de captura de informações. Em ‘Entrevista, o Diálogo Possível’, Medina (1990, p.11) enfatiza que “o entrevistador deve investir, de imediato, na própria personalidade para saber atuar numa inter-relação criadora”. Na captação de depoimentos de Doulas, gestantes, médicos e outras fontes envolvidas neste tema, é necessário estabelecer um diálogo firme e consolidado, que não dê margem para dúvidas e histórias mal contadas. Quando a atuação das Doulas é detalhada, é necessário executar uma abordagem sensibilizada, humanizada e ao mesmo tempo direta, sem subjetividades. Para que esses elementos contribuam para a criação de peça final bem explicativa, durante as entrevistas, Cremilda aponta que o repórter precisa participar da história do entrevistado e estar apto a lidar com depoimentos que carregam tons emotivos, de vivência e experiência que devem ser trabalhados de uma maneira um tanto subjetiva, mas que se essa técnica for dominada, renderá um bom resultado. No tópico Traços do Repórter, Medina (1990, p 31) explica que o profissional deve ter uma sensibilidade apurada:

[...] que se manifesta através do gesto, do olhar, da atitude corporal. Um repórter que se debruça sobre o entrevistado para sentir quem é o outro, como se estivesse contemplando, especulando uma obra de arte da natureza, com respeito, curiosidade, por certo esses fluidos positivos de uma percepção aberta chegarão, por complexos sinais, à percepção do entrevistado. Nunca é demais salientar que o dialogo se dá, sobretudo, no nível da sensibilidade.

Além disso, a autora esclarece que é possível captar depoimentos humanizados por meio da entrevista. Ao contrário da espetacularização, a entrevista com finalidade de traçar um perfil humano não provoca gratuitamente, apenas para acentuar o grotesco, para condenar a pessoa (que estaria pré-condenada) ou para glamouriza-lá sensacionalisticamente. Esta é uma entrevista aberta que mergulha no outro


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para compreender seus conceitos, valores, comportamento, histórico de vida. A entrevista jornalística, em primeira instância, é uma técnica de obtenção de informações que recorre ao particular: por isso, se vale, na maioria das circunstâncias, da fonte individualizada e lhe dá crédito, sem preocupações cientificas. (MEDINA, 1990, p.18)

Para se trabalhar tal documentário, é necessário fazer uso de alguns fundamentos jornalísticos de modo que a forma discursiva auxilie na compreensão. Além disso, a percepção de o que acontece e cerca determinado assunto – neste caso, as Doulas são fruto de categorização, conforme detalha Silva (2006, p. 15) em: Em outros termos, o jornalismo deve ser visto como uma forma epistemológica de organizar o mundo. Isso significa que, mesmo partindo de objetos do mundo, os jornalistas constroem linguística e discursivamente objetos de estudo. Esse processo se efetua de forma interacional e dentro do ambiente que os envolve. O mundo percebido pelos sentidos é elaborado como uma maneira de ser percebido pela forma discursiva. O mundo da experiência sensorial não tem uma face externa palpável. Por isso, não produzo o mundo, mas fabrico a forma de perceber esse mundo. Assim, a minha percepção do mundo e a descrição que faço dele são frutos de categorizações que elaboro constantemente dos objetos que me rodeiam.

Nichols explica também que o videocumentário contém elementos que entrelaçam conceitos da peça em si, dos autores e de quem assiste. É notável que o sensorial varia muito de público para público. O que importa é que a temática retratada na peça audiovisual tenha conteúdo embasado e conte com fontes credenciadas, que darão veracidade ao assunto e vão atribuir ao tema valor social. Para cada documentário, há pelo menos três histórias que se entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a do público. De formas diferentes, todas essas histórias são parte daquilo a que assistimos quando perguntamos do que trata um certo filme. Isso quer dizer que, quando assistimos a um filme, tomamos consciência de que ele provém de algum lugar e de alguém. (NICHOLS, 2007, p. 93).

3.1. AS DOULAS Neste documentário, demos voz às Doulas. Abrimos mãos de utilizar offs no produto para dar autenticidade à linguagem dessas profissionais, e permitir, que o assunto seja abordado tanto por quem atua nesta atividade, como por quem foi


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auxiliado por essas figuras – neste caso, gestantes. A opção tem relação com a ideia de que a linguagem tenha impacto e seja precisa, de modo que atinja quem assiste ao material de maneira efetiva. A linguagem é o elo do homem com o mundo e dos homens entre si. É uma atividade humana de construção interativa da sociedade. Por ela se pensa, se exprime sentimentos e refere objetos. Além disso, faço coisas com as palavras e atuo quando enuncio algo. Tudo isso é possível pelo significado das palavras, sentenças e expressões oferecem não só por si mesmas, mas especialmente pela intenção sugerida pelo autor das enunciações. (SILVA, 2006, p. 23).

Para falar sobre Doulas é impossível não falar de uma preparação dos profissionais que lidam com o parto de modo geral, desde uma série de votos e juramentos feitos pelos médicos na conclusão da graduação em Medicina até o relacionamento com as pacientes. Dentro desse contexto existe a ética e a Bioética. De acordo com a pesquisadora Maria Dulce Reis (2009, p. 59): Atualmente, a bioética propõe discutir o uso do saber científico e garantir certo poder sobre o biopoder, o que se aplica a todo campo de condutas do profissional da saúde, em especial ao controle da hereditariedade, do sistema nervoso, da reprodução e da experimentação humana. No seio mesmo de sua etimologia – ética da vida (bios) – encontra-se a fonte de sua polêmica, pois a “vida” é concebida como tal diferentemente, conforme as ciências, as culturas, as religiões, as filosofias, o senso-comum, as leis e os poderes constituídos (e discutir o éthos da vida é discutir o valor a ela atribuído). Uma ética da vida não pode desconsiderar tais diferenças, a autonomia de cada saber, os valores a eles implícitos e a própria ignorância humana quanto à verdade a respeito da vida (e da morte).

Também abordamos a assistência clínica do parto, seja em um hospital público ou privado, mostrando a diferença da atuação das Doulas em ambos. Qual a conduta desses profissionais e qual a forma correta de agir? Todas as etapas do trabalho de parto apresentam particularidades assistenciais. Estão sujeitas a complicações específicas e envolvem medidas adequadas a cada passo da evolução rumo ao nascimento. Outro ponto levantado que foi inserido no videodocumentário é o número de partos cesárias e partos normais em Campo Grande, para ressaltar o motivo de um aumento significativo de cesárias desnecessárias, pois o procedimento cirúrgico só deveria ser usado em caso de gravidez de risco. Na Santa Casa de Campo Grande,


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menos de 100 mulheres tiveram seus filhos através de partos normais até o mês de setembro. Em contrapartida, os procedimentos de partos cesarianos ultrapassavam a casa dos 1000. A justificativa do hospital é que, como a instituição aderiu à Rede Cegonha de políticas para a maternidade, a classe médica tem se mostrado bastante resistente ao novo modelo que incentiva a vinda do bebê de modo natural. O indicador de cesarianas que são realizadas no país tem sido utilizado como referencial para avaliação do modelo de atenção ao parto adotado pelos médicos brasileiros. Segundo a Organização Mundial da Saúde, não existem evidências que justifiquem em qualquer população, taxas de cesariana superiores a 15%. (WHO, 1985). “A despeito dessa recomendação, o aumento das taxas de cesariana tem sido identificado em vários países, a partir das décadas de 70/80, mais notadamente em relação às cesáreas eletivas” (LEAL et al, 2009, p.383).

3.1.1. A PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA DA MÃE

Dentro desses parâmetros, uma Doula pode preparar a mãe psicologicamente durante toda a gestação, garantindo que essa gestante se sinta segura, tendo em vista que o acompanhamento de uma gravidez ou parto podem trazer influências negativas e até traumas para a mãe. Marini (2009, p.89) contextualiza: Da mesma forma que as características pessoais da mulher se refletem na sua conduta durante o trabalho de parto, também os diversos tipos de parto exercem diferentes impactos e são vivenciados de várias maneiras. É importante não esquecer que também o contexto assistencial interfere nessa vivência. Muitas vezes o descontrole e o pânico da gestante, e até mesmo alterações da contratilidade uterina podem decorrer de uma assistência precária, que não acolhe a paciente, podendo mesmo negligenciá-la ou maltratá-la. Se a gravidez é considerada como um período de maior vulnerabilidade, o parto pode ser encarado como um momento crítico que marca o início de uma nova série de mudanças significativas e, em contraste com a gestação abrupta. Há uma nova transformação do esquema corporal, alterações do ritmo e da rotina familiar, a mudança do foco de atenções da gestante para o recém-nascido e, finalmente, a concretização da separação de dois seres anteriormente unidos. (MARINI, 2009, p.89).

Não existem muitos livros sobre a função de Doulas pelo fato de a profissão ainda ser desconhecida para muitas pessoas. Trata-se de uma função que precisa ser desmistificada, já que as mulheres desenvolveram um medo por um fenômeno que é


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simples e natural, que é parto normal. O assunto é abrangente. Mesmo assim, selecionamos um foco de pesquisa e levamos ao documentário a temática da atuação da Doula. Uma das entrevistadas até brinca dizendo que essa atividade seria “mais ou menos” uma “personal-colega”. Apesar do tom de escárnio, de fato a afirmação tem algum sentido, já que a assistência prestada pelas Doulas vai muito além de uma atividade profissional e se faz valer de um campo onde atuam juntos elementos como confiança, emotividade e domínio nos procedimentos a serem adotados.

3.2. A HISTÓRIA CONTADA PELO DOCUMENTÁRIO Nos últimos semestres do curso de jornalismo, tivemos um contato mais amplo com o gênero audiovisual. O contato com as teorias nos motivou a trabalhar nosso tema em um videodocumentário. Participamos da disciplina teorias do documentário, ministrada pelo professor doutor Hélio Godoy, e os fundamentos passados por ele mesclados com o andamento das atividades de produção deste TCC foram essenciais para que a produção tivesse fundamentos. A partir da gravação de vários depoimentos de personagens entrevistados, a edição do produto encara o desafio de organizar o material coletado de modo que ele tenha um fio condutor que apresente sentido e clareza. Os planos e os materiais de apoio devem estar em sincronia e não apresentar erros de continuidade. As pessoas entrevistadas também recebem destaque, de modo que suas argumentações sejam enfatizadas no documentário. Os documentários fazem exatamente isto: agrupam planos e cenas em categorias ou gestalts maiores, a que denominamos conceitos. É isso que nos permite tratá-los como algo diferente de registros diretos ou simples filmagem. Os documentários são sequências organizadas de planos que tratam de algo conceitual ou abstrato por causa dessa organização (tais como uma estrutura problema/solução, uma história com começo e fim, o enfoque numa crise, a ênfase num tom ou numa disposição de ânimo, e assim por diante). (NICHOLS, 2006, p. 100).

A dupla optou por conduzir a captação das imagens para o documentário de modo independente. Assim, colocamos em prática conceitos e técnicas aprendidas e assimiladas na faculdade. Além disso, essa iniciativa possibilitou que nós tivéssemos autonomia tanto na realização das entrevistas, quanto na maneira de pensar em


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composições que acrescentassem para a composição do produto audiovisual. Por consequência disso, houve uma falha técnica no primeiro dia de entrevistas realizadas com um grupo de Doulas que faz o acompanhamento de gestantes e cobram pelo serviço. No momento de focar a imagem de uma das entrevistadas, uma falha técnica fez com que a gravação ficasse embaçada. Tal defeito só foi detectado quando fomos checar o as imagens no computador. Além disso, neste mesmo dia, a bateria do microfone lapela sem fio se esgotou, nos forçando a fazer a captura do áudio através do microfone da própria câmera Canon 7D, o que culminou em uma queda de qualidade não tão brusca, mas possível de ser notada. O embasamento teórico e técnico adquirido na faculdade permitiu que a dupla optasse em se aventurar nesse universo independente e assumisse a captura dos depoimentos de maneira independente. Entretanto, há a necessidade de preservar a qualidade da imagem, que não deve estar tremida, fora de foco, com qualidade de áudio baixa e sem resolução. Os equipamentos utilizados na captura dos materiais presentes no documentário foram câmeras leves e capazes de auxiliar na coleta de conteúdo com qualidade.

3.2.1. A AMBIENTAÇÃO DO ESPECTADOR

Tratar sobre a temática das Doulas é algo que requer cuidados no momento de incrementar o roteiro, tendo em vista que muitos espectadores não tem afinidade com este assunto. Na fase inicial de levantamentos, comentamos com colegas sobre o tema escolhido para o Trabalho de Conclusão de Curso e os mesmos apontaram diversos questionamentos sobre a proposta. Enfim, para familiarizar quem assiste o documentário com o assunto, há a necessidade de ter um bom suporte de imagens para ambientar o espectador a respeito da função executada pela Doula. Para tanto, a dupla captou imagens de palestras promovidas pelas profissionais para gestantes. Nesta oportunidade, as futuras mães receber informações sobre as diversas etapas que elas vão passar durante o período da gravidez.


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Estava previsto no cronograma um momento onde seria feita a captação de imagens de exercícios praticados pelas gestantes que facilitam elas a lidarem com a dor do parto. No dia agendado, gravamos exercícios de alongamentos e que ajudavam a grávida a relaxar e aliviar as dores do parto. A intenção foi aproveitar este conteúdo como imagem de apoio para dinamizar o documentário. Com isso, esperamos quebrar alguns tipos de receios que as mulheres têm de imaginar que no parto irão sentir muita dor, sendo que, com o acompanhamento da Doula, são recomendados exercícios para permitir que a mãe tenha domínio das técnicas para ter seu bebê no parto normal. Existia também a expectativa de participarmos de um parto domiciliar e gravar esta ocasião. O objetivo maior era capturar detalhes que não expusessem a grávida, mas sim elementos de carinho e fraternidade, como o apoio paternal à gestante e todo o trabalho da Doula para viabilizar um nascimento tranquilo e sem intervenções médicas. Porém, uma das ideologias pregadas pelas Doulas é respeitar a vontade da gestante a todo custo para viabilizar um parto que aconteça conforme as vontades dela. Ficamos de sobreaviso caso nosso contato topasse permitir a gravação do parto, mas ela optou em não permitir nossa presença. Posteriormente, a gestante prestou depoimento para o nosso documentário com o bebê em seu colo e contribuiu relatando a experiência pré e pós parto com as orientações e acompanhamento de uma Doula. As imagens do dos exercícios e das palestras deram bastante suporte ilustrativo. Bill Nichols e Mônica Saddy Martins (2007, p.40) explicam que essa iniciativa dá veracidade aos personagens e ao filme.

Há normas e convenções que entram em ação, no caso dos documentários, para ajudar a distingui-los: o uso de comentário com voz de Deus (OFF), as entrevistas, a gravação de som direto, os cortes para introduzir imagens que ilustrem ou completem a situação mostrada numa cena e uso de atores sociais ou de pessoas em suas atividades e papéis cotidianos, como personagens principais do filme. Todas estão entre as normas e convenções comuns a muitos documentários. No documentário, o estilo deriva parcialmente da tentativa do diretor de traduzir seu ponto de vista sobre o mundo histórico em termos visuais, e também de seu envolvimento direto no tema do filme. Ou seja, o estilo de ficção transmite um mundo imaginário e distinto, ao passo que o estilo ou a voz do documentário revelam uma forma distinta de envolvimento no mundo histórico.


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Nosso documentário abriu mão de offs e passagens para dar autenticidade ao depoimento dos entrevistados. Essa iniciativa dá veracidade à narrativa e proporciona uma aproximação entre os personagens e quem assiste o documentário, fazendo com que o roteiro tenha fluidez, cadência e ritmo.


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4. OBJETIVOS ALCANÇADOS Todos os objetivos traçados no pré-projeto foram cumpridos. As imagens que fazem parte do produto final foram todas capturadas antes do fim de outubro, o que permitiu que nós trabalhássemos pelo menos duas semanas na edição do videodocumentário.


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5. DIFICULDADES ENCONTRADAS A primeira dificuldade que a dupla encontrou foi com relação à familiarização do tema. Antes de definir que Doulas seria o tema do Trabalho de Conclusão de Curso, os autores do projeto já haviam tido contato com o assunto, porém, de forma superficial. A partir daí, iniciou-se um trabalho de embasamento teórico. A profissão da Doula foi regulamentada pela União no início de 2013. Trata-se de uma função ainda desconhecida pela sociedade. Ao se aprofundarem no tema, os integrantes da dupla perceberam que há também muitas histórias nas entrelinhas desta temática. O termo Doula, por si só, significa ‘aquela que serve’. Logo, as acompanhantes das grávidas fazem um trabalho de extrema dedicação e fidelidade. Entretanto, há as profissionais que oferecem este serviço voluntariamente, enquanto que outras cobram caro pelo serviço. Surgiu então o desafio de explorar esse ponto em si. Como o documentário busca informar, existe a necessidade de apresentar, a quem assiste quanto custa o acompanhamento de uma profissional que promoverá o parto humanizado e qual a diferença deste serviço para os que são prestados pelas Doulas voluntárias que se desdobram em hospitais públicos atendendo mães, que na maioria das vezes são desinformadas

dos

procedimentos

os

quais

será

submetida

ao

longo

do

acompanhamento pré-natal. Quando se fala em parto humanizado, vem à tona uma ideologia carregada de argumentações embasadas no feminismo. Uma das entrevistadas confirmou essa situação, alegando que o corpo é da mulher e é de direito dela decidir qual será a forma pela qual a criança dela virá ao mundo. Além disso, um trecho interessante no documentário conta com o depoimento da socióloga ouvida por nós. Ela pontuou que no século passado a mulher perdeu a autonomia de seu corpo, ficando sob critério dos médicos determinar as maneiras de se viabilizar um parto. Essa inversão histórica foi bem acentuada e mostra é categórica ao afirmar que a intervenção médica é algo mais invasor do que se imagina no momento de se realizar um parto. O posicionamento ideológico da Doula Fernanda Leite explica o quão ofensivo e traumatizante essa intervenção é para a mãe e que reflete em consequências para a criança.


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Uma dificuldade a ser citada aconteceu no dia 13 de setembro, quando uma jovem de 18 anos bateu no carro do Carlos Henrique. Em virtude do sinistro, o dia de gravações teve de ser cancelado para a resolução das avarias no veículo, o que atrasou um pouco a sequência dos trabalhos. Na parte técnica, a primeira gravação apresentou uma falha no resultado final. O foco na imagem de uma entrevistada foi ajustado com o zoom em seu limite máximo. Todavia, ao recuar o zoom, o Carlos Henrique, que estava atuando como cinegrafista, começou a trabalhar um novo plano para enquadrar a personagem. No display da câmera, estava tudo certo. Porém, ao checar as imagens na tela do computador, a imagem da entrevistada ficou embaçada e desfocada. Contudo, o áudio ficou bom, por isso, uma das alternativas para solucionar o problema será cobrir as imagens desfocadas com imagens de apoio. Outra dificuldade foi vivida no dia de gravações no Hospital Universitário. Cansados de repetir planos no interior do prédio, a dupla resolveu entrevistar uma Doula em ambiente externo. Entretanto, o horário escolhido – entre 12h e 13h - pelas entrevistadas não favorecia muito a captação em ambiente à luz do dia, já que a imagem poderia ficar saturada. Posicionamos a entrevistada abaixo de uma sombra. Só que, no meio da gravação, o sol que estava escondido pelas nuvens, resolveu aparecer. Ou seja, a gravação começa com o céu em uma tonalidade e termina mais amarelado. Em contato com um editor de imagens, ele falou que a alteração não comprometeu a gravação e as imagens poderão ser corrigidas. Em virtude da falha ocorrida na primeira na primeira bateria de gravações que realizamos na casa da Doula Carolina Figueiró, retornamos à casa dela no fim de outubro para fazer uma nova coleta de imagens – desta vez com uma grávida que recebeu suporte das Doulas do I’memby no parto. Entretanto, enquanto gravávamos com uma enfermeira obstetra, o microfone lapela não acusou que a bateria estava fraca, o que comprometeu o áudio da gravação. A falha só foi percebida quando fomos decupar o material. O áudio da gravação ficou cheio de ruídos. Ainda tentamos recuperar alguns trechos com a ajuda de softwares para tratamento de áudio, mas a inserção de tal conteúdo comprometeria o resultado final.


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A sorte é que já havíamos gravado com essa personagem na primeira oportunidade, o que nos surgiu como opção aproveitar a gravação dela, que não ficou com qualidade inferior às demais que nos forçaram a retornar ao local para gravar novas imagens.


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6. DESPESAS Quando decidimos fazer vídeo, pensamos muito em como conduziríamos o tema. Mas, somente quando começaram as gravações é que pensamos em todos os gastos que viriam até a conclusão do trabalho. Investimos cerca de R$ 30 em embasamento teórico que seria de extrema importância durante todo o período de estudos. Na primeira gravação também notamos a necessidade de se comprar um HD, para guardar os grandes arquivos de vídeo gerados. Outra despesa que não imaginamos foi com a formatação do notebook da Izabela, pois precisamos instalar um software de edição. O técnico em informática cobrou R$ 50 para fazer os devidos reparos no aparelho. Para se deslocar até as entrevistas, ir até os locais fazer um reconhecimento e explicar com calma toda a intenção do documentário, tivemos um gasto aproximado de R$ 300 em combustível ao longo dos quatro meses de coleta de imagens e edição do produto. Por fim, contratamos os serviços de um editor de imagens que trabalha na TV SBT MS por R$ 600. O profissional foi o responsável pelo tratamento e balanceamento das imagens, inserção das vinhetas e por fazer a edição final do videodocumentário. Além disso, pagamos R$ 300 para o colega de curso Gustavo Arakaki. O acadêmico foi o responsável por criar a vinheta de abertura, a arte do DVD e a tarja/gerenciador de caracteres onde serão inseridas as informações dos entrevistados.


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7. CONCLUSÕES

A temática das Doulas é recente no Brasil. A atividade começou a ser mais debatida a partir de janeiro de 2013, depois de o Ministério do Trabalho ter regulamentado esta profissão. Feito isso, surge a necessidade de detalhar um pouco mais sobre essa atividade. O fato é que, no país inteiro, aconteceu uma inversão de valores e o parto normal passou a praticamente deixar de existir. Em Campo Grande, essa distoância é ainda mais acentuada, tendo em vista que o número de crianças que nasceram de parto normal na Santa Casa, maior hospital do Estado, até outubro deste ano não alcançava uma centena, enquanto o total de cirurgias cesárias já ultrapassava 1,1 mil. Como já explicado no relatório, a Doula, que do grego quer dizer Aquela que serve, surge então para atuar nesse cenário desfavorável para o desempenho da função delas. No documentário, trouxemos a opinião das Doulas com relação às intervenções médicas no procedimento do parto. Apesar de defenderem que a criança deve vir ao mundo de maneira natural, há a unanimidade de que, caso a mãe e o bebê estejam correndo risco de morte, é imprescindível a atuação de um profissional da Medicina para impedir qualquer eventualidade que possa corromper a integridade física e mental dos envolvidos no procedimento de parto. Agora, um ponto que é ressaltado no documentário tem relação com a parceria e o elo de afinidade que é estabelecido entre uma gestante e uma Doula. Independente de a grávida estar pagando pelo acompanhamento ou ser assistida por uma profissional voluntária, enfatizamos que o período de gestação é um momento em que a futura mãe precisa estar rodeada de cuidados e atenções. Além de prestar apoio profissional e sugerir métodos que preparam a gestante para o parto normal, detectamos e levamos ao documentário essa relação que só vai se estreitando à medida que o tempo passa e se consolida com o nascimento do bebê. A vontade da grávida conta muito no período da gestação. A polêmica da intervenção médica é que essa situação pode significar uma invasão na privacidade da grávida.


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As Doulas são enfáticas ao afirmar que o momento do parto é sagrado e íntimo. Para tanto, alguns procedimentos médicos são considerados invasivos e afetam a saúde mental da mulher. Enfim. O documentário trouxe detalhes sobre a atuação da profissional que está ali para servir a gestante, pronta para fazer desde uma massagem dos pés até a aplicação de uma anestesia. A atuação dos médicos na gestação e a inversão de índices ao longo dos tempos também foram abordadas. Ora, na época dos nossos avós, em um passado não tão recente, as crianças nasciam de parto normal. Por isso, levamos ao produto a análise dessa variação. A temática é recente. No início do ano a profissão foi regulamentada. Em outubro de 2013, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad instituiu decreto para estabelecimento de políticas de incentivo ao parto humanizado na rede pública de saúde. Outra política, implementada em 2012, pode auxiliar na alteração desse cenário dominado pela atuação de médicos que praticam cirurgias. Trata-se da Rede Cegonha, que incentiva as mães a se prepararem no período de gestação para realizarem um parto normal. Inicialmente, a classe médica tem se mostrada arredia e resistente a essas novas diretrizes. A principal aversão vem por parte dos médicos mais antigos, conforme relatou a enfermeira-chefe da Santa Casa, Viviane da Silva Faro. O momento é de transição e está aquecido. Em um dos blocos de nosso documentário, selecionamos depoimentos de mulheres grávidas e mães que tiveram acompanhamento de Doulas ao longo de gestação. Essa iniciativa busca sim encorajar outras mulheres, tendo em vista que o parto normal passou ser visto com maus olhos pela sociedade. O medo maior é com relação às dores que a mãe vai sentir, sendo que o tempo de recuperação de um parto normal é infinitamente menos do que o de uma cirurgia cesariana. Em vista dessas modificações que são perceptíveis em uma escala de tempo não muito longa, enfatizamos que a atuação das Doulas passará a ser mais efetiva no campo de acompanhamento pré-natal. Na atualidade, médicos e Doulas não dialogam da maneira adequada.


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A partir do momento em que ambas as figuras começarem a se entender, o valor do parto será ressaltado. Trata-se de um momento sagrado, de fato, onde se respeita o valor e a vontade da mãe, que traz ao mundo uma criança que imediatamente receberá carinho e atenção da figura materna e daquela que está ali para servir.


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8. ANEXOS

O Ministério do Trabalho e Emprego atualiza 60 ocupações na Classificação Brasileira de Ocupações: O documento retrata a realidade das profissões do mercado de trabalho brasileiro.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou a atualização da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) - 2013. A revisão contou com a inclusão e exclusão de 60 ocupações, famílias ocupacionais e sinonímias. O arquivo passa a conter agora 2.619 ocupações. Os trabalhadores sentem-se amparados e valorizados ao terem acesso a um documento elaborado pelo governo que identifica e reconhece seu ofício. As inclusões das ocupações na CBO têm gerado, tanto para categorias profissionais quanto para os trabalhadores, uma maior visibilidade, um sentimento de valorização e de inclusão social”, destaca o diretor do Departamento de Emprego e Salário do MTE, Rodolfo Torelly. As novas atualizações buscam atender as demandas do público em geral e entidades governamentais como: Ministério da Saúde; do Desenvolvimento Social; do Turismo; Secretária de Direitos Humanos; Policia Federal; Classificação Internacional Uniforme de Ocupações (CIUO) da Organização Internacional do Trabalho; entre outros. A CBO retrata a realidade das profissões do mercado de trabalho brasileiro. A atualização e modernização do documento ocorrem para acompanhar o dinamismo das ocupações e mudanças econômicas, sociais e culturais pelas quais o país passa. Essas modificações e inclusões são elaboradas com a participação efetiva de representantes dos profissionais de cada área, em todo o país. Aplicação - A CBO é utilizada pelo MTE na confecção da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no cruzamento de dados do Seguro-Desemprego e na formulação de políticas públicas de geração de emprego e renda. Outras instituições governamentais utilizam a CBO para seus produtos, como a Declaração de Imposto de Renda, o cadastramento


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no INSS, em políticas públicas de Saúde, no Censo Educacional e em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Abaixo o link para consulta as alterações da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO): http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego


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9. APÊNDICES 9.1 ROTEIRO DO VIDEODOCUMENTÁRIO

ROTEIRO

“AQUELA QUE SERVE”

0’00’’ >>>>ABERTURA<<<<

Maria Conceição - Doula do grego é a mulher que serve. E nós estamos aqui para servir. 0’10’’ Caroline Figueiró – A gente precisa só acolher, dar carinho, dar a ela suporte ao que ele precisa oferecer o que ela pede naquele momento, seja uma água, seja inclusive uma analgesia. 0’25’’ Fernanda Leite – no momento do parto sempre teve uma cumadre, a mãe, a tia, a avó, a sobrinha, uma prima. Essa mulher nunca esteve sozinha. 0’38’’ Joana Arruda – A Doula ela dá esse suporte emocional, esse suporte afetivo, esse toque. Esse ‘eu também sou mulher e eu estou do seu lado. 0’50’’ Caroline Figueiró – ela tá ali então pra prepara esse casal pra todo o processo da gestação e do nascimento. 1’00’’ Maria Maia – Você pode fazer com que a vontade daquela mulher seja respeitada. Você vai ser uma ponte entre essa mulher e os profissionais que estão atendendo. 1’14’’ Fernanda Leite – uma vez eu estava conversando com uma jornalista e ela perguntou: então a Doula é uma personal-colega? E eu falei: mais ou menos.


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1’27’’ Maria Maia – existe a psicóloga-doula, a fisioterapeuta-doula, enfermeira-doula. Mas eu como Doula que não tenho outra profissão só consigo ver a Doula como Doula. Uma mulher que usa da natureza dos conhecimentos para ajudar a outra. 1’48’’ Maria Conceição – às vezes eu brinco que nós somos tias velhas que estamos aqui para ajudar, fazer companhia. Às vezes elas ligam no meio da noite pra gente e dizem: olha, ele que não quer mamar, ele não acordou. Então falamos: deixa dormir. Nós damos essas dicas mínimas que fazem que elas se tornem mais tranquilas, mais seguras.

2’10’’ >>>>VINHETA COMPLETA<<<<

2’21’’ Joana Arruda – nós precisaríamos retroceder há pelo menos um século, um século e meio pra tentar entender tudo que aconteceu nesse período. Os profissionais de saúde começaram a colocar essas mulheres em posição deitada para ter os seus filhos por que dessa forma eles poderiam intervir 2’46’’ Ana Maria Gomes – A partir do século 19 nós vamos ter realmente a apropriação médica do corpo da mulher. Então o corpo dela não vai ser mais da mulher, mas vai ser daquilo que o médico diz que deve ser feito com ele. Então os partos passam a ser uma atribuição médica. 3’15’’ Joana ARRUDA – A mulher deixou de ser protagonista do papel dela, que é o papel dela, que é parir. No momento em que se transformou o parto em parto hospitalar, é como se nós tivéssemos transformado a gravidez em doença. 3’35’’ Ana Maria Gomes – conforme os médicos vão tomando conta as mulheres vão deixando o interior da casa, do lar para irem para hospitais e ai você vai ter toda uma


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propaganda, um desmerecimento do parto feito em casa. Então você tem que o parto em casa é perigoso e não deve ser feito. Só no hospital. Você vai ter um fenômeno no final do século 19, na Inglaterra, que as mulheres fugiam do hospital por que existia quase uma obrigação de ir pro hospital. 4’17’’ Fernanda Leite – A mulher sempre foi assistida por outras mulheres porque ela tinha que conseguir passar por todo o processo, porque se não conseguisse era um caso muito sério de sobrevivência daquela família. 4’31’’ Maria Conceição – nós procuramos dar pra mulher exatamente isso. Esse em poderamento. É a palavra que usamos. Ela é sujeito principal, protagonista do parto. Ela vai botar o filho dela no mundo. 4’46’’ Fernanda Leite – Então a gente desmistifica aquela expressão ‘quem fez seu parto?’. ‘ah, foi médico fulano, beltrano’. Geralmente você vai ouvir essa expressão. E a gente coloca que o parto é da mulher. Quem faz o parto é o corpo da mulher, junto com o bebê. 5’06’’ Joana Arruda – É importante a gente saber que pelo menos 90% das mulheres tem condições de parir seus filhos. Ou seja, elas têm condições de ter um parto fisiológico, natural.

5’20’’ >>>>ARTE GRÁFICA<<<<

A Organização Mundial da Saúde recomenda que índice de cesarianas não deve ultrapassar 15% por país. No Brasil esse índice é de 82% na rede privada e 37% na rede pública. Em Campo Grande essa realidade não é diferente. Em 2012 a Santa Casa registrou 61% de cesarianas e 39% de partos normais. De janeiro a agosto de 2013 foram registrados 94% de cesarianas e 6% de partos normais. 5’54’’]


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Ana Maria Gomes – passou a haver uma cultura da cesariana por comodidade dos médicos, por muitas vezes a mulher sequer decidir. A mulher não tem palavra. Quem decide é o médico. Você tem mulheres pedindo pra ser normal e o médico desconhece esse desejo da mulher. Ele diz que precisa uma cesariana e quem é que vai contestar isso? 6’24’’ Viviane Faro – a gente não tá aqui pra abolir a cesária. Ela é pra ser feita com critérios e tem suas indicações. A gente está aqui pra mostrar os benefícios do parto normal e da cesariana. 6’39’’ Alice de Paula – Se o bebê tem uma distocia, se tá dando sinais de que não vai dar certo o parto natural, a gente entra com intervenção sim. Não estou aqui defendo o parto natural e banindo a cesariana não. 6’56’’ Viviane Faro – Aqui ela chega com dor e se livrar da dor. Então a primeira opção que elas veem é o parto cesariano. É difícil a gente fazer esse trabalho no momento do parto. Temos que intensificar lá na rede básica. 7’11’’ Joana Arruda – a maneira como esta sendo olhada para esse parto é que talvez esteja sendo passada errada para nós profissionais de saúde. Eu digo para nós e me incluo nesses profissionais também porque eu fui formada assim. A minha formação foi para por a mulher em posição ginecológica, fazer a episiotomia, assistir o nascimento desta forma. 7’36’’ Viviane Faro – A gente percebe que tem muita resistência em estar diminuindo as intervenções. Estamos trabalhando com oficinas de boas práticas. É um novo aprender, porque é uma mudança de atitude que eles sabem que é correto. Mas eles foram fazendo o que é cômodo. 7’56’’ Fernanda Leite – A gente não tá interferindo no âmbito médico porque são escolhas que percebemos que as pessoas podem fazer. São coisas simples que não interferem


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no trabalho do médico. Às vezes ele tá tão acostumado a dominar o ambiente e alguns médicos se sentem ressabiados. Os outros, que são médicos humanizados recebem as Doulas e os planos de parto de braços abertos porque tem visto o benefício que isso gera no nascimento. 8’29’’ Caroline Figueiró – o plano de parto quando construo tem referencias científicas. A gente não quer isso por conta disso, com embasamento científico. Então não é só porque eu quero. Eu quero e porque é possível e é seguro.

8’49’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO<<<<

8’52’’ Maria Maia – quando você chega numa sala de pré-parto trabalhando aquela mãe e ela tá evoluindo maravilhosamente bem e sabe que tá conseguindo fazer com que ela entenda que ela pode, que ela consegue... De repente chega o médico e fala pra ela ‘vou te examinar’ e faz aquele exame de toque seco né. Na verdade sem nem explicar pra ela o que tá acontecendo. Ele fala ‘deita ai que vou te examinar’, ‘desce, que vou te operar’. 9’32’’ Alice de Paula – a maioria que eu acompanhei teve uma violência mental e física com essas mães nos dizeres, de falar que na hora é gostoso e no nascer não é. De bater, já vi alguns casos onde o profissional batia na perna da mãe porque não era pra era fechar. Porque no momento que a cabecinha tá saindo o primeiro intuito da mãe é por a mão, tentar amparar. Porque ela acha que vai cair. Pois ela não tem confiança no profissional. 10’10’’ Maria Maia – Tem momento que você sente que ela foi muito violentada. Não deram a ela o direito de parir, de trazer o filho dela da maneira mais certa, natural. 10’22’’


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Fernanda Leita – eu acompanhei uma gestante que ela tinha pressão arterial nas alturas. Foi na segunda conversa que a pressão dela já tinha baixado. Mas era a pressão externa do parto. É emocional. Pouca coisa dos distúrbios da gravidez efetivamente dá resultado clínico. Mas a origem não é clínica, ela é psicologicamente emocional.

10’48’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO<<<<

10’51’’ Caroline Figueiró – na verdade a Doula não tá ali para extinguir que algumas coisas sejam feitas. Mas que algumas intervenções sejam feitas caso necessárias, ela tá ali para dar suporte pra essa mulher, informação, para que ela saiba escolher e compreender tudo que está acontecendo no momento de trabalho de parto dela. 11’15’’ Fernanda Leite – tem um trabalho muito importante que pode ser feito antes da gravidez que é de concepção consciente. Ajuda bastante no parto e durante a gravidez a partir do terceiro trimestre. E pro parto trabalhamos com métodos não farmacológicos de alívio pra dor. São baseados em movimentos e massagens, banhos e aromas. 11’43’’ Caroline Figueiró – tem educação perinatal, que são encontros ou aulas de como essa mulher vai se preparar pra esse momento. Nós ensinamos respiração, alguns exercícios apropriados para que ela fortaleça esse períneo, para que ela esteja em uma condição física boa na hora do nascimento. Ensinamos alguns movimentos e posições para o próprio parto em si. É importante que a mulher entre em contato com esse cenário e essas experiências antes do nascimento para que não fique com medo. Para que esse cenário já seja mais conhecido por ela. 12’28’’ Maria Conceição – no pós-parto nós ajudamos nas dificuldades de aleitamento. Muitas mulheres acreditam que não podem amamentar ou não conseguem. O bebe às vezes não suga e elas acham que o leite delas é fraco. Então são mitos.


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12’49’’ >>>>SOBE SOM<<<<

12’57’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO<<<<

13’01’’ Vandelor Carvalho – a gente não tinha conhecimento a respeito das Doulas. A gente conhecia história de parteiras e tal. Mas não que fosse Doula. E isso pra gente trouxe bastante tranquilidade. 13’13’’ Janaína Baggio – Eu tive contato com duas Doulas, mas não me identifiquei. 13’17’’ Mariana Simões – acho que quando a gente está preparada psicologicamente, minha família e minhas duas vós tiveram parto normal e eu nasci de parto normal com meus irmãos. Então acredito que não como não conseguir fazer isso. Eu acho que o que falta na mulher hoje é conhecimento. 13’39’’ Vandelor Carvalho – até então não tinha conhecimento da anestesia, que seria a mesma dose que a mãe recebe e o filho receberia e que mais pra frente isso poderia trazer dependências pro bebê. 13’51’’ Janaína Baggio – a gente teve preparo para o perinatal que veio meu esposo junto e praticou exercícios que poderiam ser feitos durante o parto para amenizar a dor. 14’02’’ Vandelor Carvalho – já tinha uma ideia formada que não era de outro mundo. A partir do momento que as meninas passaram a conversar com a gente orientando ou sanando dúvidas. Pra saber se o bebê tá bem ou não, até que momento eu sei se tenho que ir por hospital ou não pra fazer uma intervenção. 14’24’’


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Janaína Baggio – eu senti essa necessidade de ter alguém pra me acompanhar e me incentivar. Minha mãe não mora aqui e eu tinha medo de o meu marido não estar aqui no dia e eu senti muito essa necessidade mesmo. 14’35’’ Mariana Simões – o parto está previsto para perto do natal. Aí ele falou ‘ ah mas se for dia 25 de dezembro?’. Não tem por que não. Seria mais um presente de natal poder ter meu filho e uma vez na vida eu passar essa situação. Não tem por que não. Eu acho que é um presente, não ponho empecilho. 14’59’’ Daniela Cristiane da Silva – Pra ter um parto tranquilo eu tenho que confiar na pessoa que vai estar junto comigo. Se não tiver essa confiança, não vai fluir perfeitamente. 15’10’’ Janaina Baggio – A gente teve um trabalho durante toda a minha gestação, então você cria um vínculo. 15’15’’ Essa integração que a gente vai tendo uma com a outra, quando eu falar com você, quando eu tocar em você, quando eu disser as coisas pra você, você vai saber o que é preciso, o que a gente precisa juntas fazer. Porque ali é um momento como se fosse uma sinfonia, que pra aquela orquestra correr tudo bem precisa estar todo mundo integrado. 15’43’’ Fernanda Leite – Cada mulher é única, cada mulher é individual, cada uma na sua individualidade, então esse atendimento mais personalizado, mais personificado, mais carinhoso faz muita diferença para a mulher no momento do nascimento do filho dela.

15’56 >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO <<<<

15’59’’


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Janaina Baggio – Na hora que você pare você esquece na hora da dor, porque vem a recompensa. Mas eu tinha muito medo da dor, quando eu decidi pelo parto normal, no começo eu não dormia de medo da dor. 16’15’’ Viviane Faro – Tem aquele tabu de que no parto normal eu vou sofrer, vou ficar sozinha, vou ficar longe da minha família, vou sentir muita dor. 16’24’’ Caroline Figueiró – A gente nunca deixava que esse medo se torna-se maior que a vontade dela de ter a Maria Antônia de parto natural. E esse medo é uma questão muito mais interna e a dor não é a dor do parto, é a dor da pessoa, é a dor daquele ser humano. 16’46’’ Wandelor Carvalho – Se é uma coisa natural, então não tem porque ter medo. E estando bem amparado, como no caso da gente com as Doulas, tem toda uma estrutura, acho que é tranquilo. 16’58’’ Mariana Simões – A mulher fica com os sentimentos muito a flor da pele, você imaginar o poder que tem de trazer um filho ao mundo é uma coisa muito especial. É uma responsabilidade muito grande, então por essa responsabilidade que a gente tem como pai e mãe com nossos filhos, é ai que está minha busca de querer fazer o melhor.

17’25’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO <<<<

17’27’’ Maria Conceição – Nós mostramos pra ela como o corpo dela é sábio e a natureza é sábia, e ela pode. 17’33’’ Fernanda Leite – O bebê estava dentro da barriga da mãe, completamente aconchegado, ai ele vem para o mundo externo e o primeiro contato que ele tem é com a mesa dura e fria do pediatra ou aquele berço aquecido. Sendo que a sequência lógica


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e completamente fisiológica é colocar esse bebê em cima da barriga da mãe pra ele poder se familiarizar com o seio e poder mamar. 18’03’’ Maria Maia – Depois do momento de o bebê nascer, da expulsão, eu vi um profissional deitar no chão pra acolher esses bebês, da forma mais natural, da forma mais respeitosa. No silêncio, aceitando aquele pai do lado, aquele pai que está ali perdido naquele momento. Eu achei emocionante. Eu acompanhei um parto gemelar na Santa Casa dessa forma, não me contive, sai lágrimas, cheguei em casa ainda em lágrimas. 18’40’’ Caroline Figueiró – Eu como Doula, minha forma de me colocar com a equipe hospitalar, a forma como eu me relaciono com isso é uma forma amorosa. Então eu respeitando o espaço deles, eles acabam respeitando o espaço que eu estou exercendo ali naquele momento. 18’57’’ Joana Arruda – Então as Doulas, elas vieram de uma certa forma, de uma necessidade de resgatar esse parto, de resgatar essa fisiologia natural do nascimento. 19’11’’ Caroline Figueiró – E o engraçado é que o clima que a gente constrói, a energia que a gente deixa nesse local, ela fica tão sensível, tão iluminada, que as pessoas que passam daquela porta pra dentro, elas acabam passando com mais respeito.

19’30’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO <<<<

19’33’’ Maria Conceição – Nós damos fatos científicos, resultados de pesquisas, nós damos evidências, nós damos conhecimento nessas reuniões aqui. 19’43’’ Maria Maia – Eu como Doula, consigo fazer o meu trabalho na Santa Casa, porque encontrei uma médica que é totalmente humanista, a enfermagem que trabalha com ela também, que estão sempre no mesmo plantão, também são pessoas que respeitam


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muito. Os médicos de formação que estão com ela também aceitam muito e ela consegue transmitir isso pra eles. A gente tem sido bem aceita. 20’15’’ Viviane Faro – Tem um ano que o hospital aderiu a Rede Cegonha, o que ela prevê é uma ambiência mais humanizada pra essa gestante. Tanto é que a Santa Casa aderiu a Rede Cegonha e já tem uma proposta de reforma para criar essa ala de ambiência. O que é essa ambiência? É um espaço mais acolhedor, a gente vai ter salas PP, que é um quarto individualizado para a gestante ficar com a sua família em um ambiente humanizado.

20’44’’ >>>>ARTE GRÁFICA<<<< Os serviços prestados pelas Doulas podem variar de acordo com os pacotes, feitos sob medida para cada paciente. O preço pode ser cobrado por consulta ou até pelo acompanhamento semanal, variando entre 50 reais e 700 reais. A Doulagem para o acompanhamento do parto, varia entre 400 reais e 1.500 reais. Se o interesse for para um parto domiciliar, no Mato Grosso do sul, o único grupo que realiza esse serviço cobra 12 mil reais, nos grandes centros esse valor pode chegar até 20 mil reais. Mas para aquelas mulheres que não tem uma condição financeira para ter acesso a esses serviços, existem ainda Doulas Voluntárias que fazem esse trabalho por amor.

21’26’’ Maria Conceição – Quando nós somos voluntárias, é um processo totalmente de conscientização. 21’37’’ Maria Maia – Como Doula Voluntária é diferente o meu trabalho, porque eu chego no momento. Eu posso tanto ser bem recebida por aquela mulher, como posso ser rejeitada. Campo Grande realmente está me surpreendendo. Eu tenho tido muita procura das gestantes para informações, elas querem saber, elas tem sede de conhecimento, elas estão questionando muito os profissionais cesaristas. 22’11’’


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Joana Arruda – A partir do momento que as pacientes começarem a tomar a rédea da situação, elas vão conseguir mudar a cabeça dos profissionais, não o contrário.

22’25’’ >>>>VINHETA DE TRANSIÇÃO <<<<

22’28’’ Janaina Baggio – Tem umas amigas que tiveram parto normal e só o marido acompanhou, e eu senti nelas que faltou uma presença feminina, uma ajuda extra para lidar com aquilo tudo, pra preparar o psicológico e o físico também. Então eu acho essencial a mulher ter uma acompanhante, que é a Doula. 22’50’’ Mariana Simões – Eu acho que vai ser o primeiro presente que eu vou estar dando pra ele, respeitando o momento do nascimento dele, quando ele tiver pronto, eu acho que isso é respeito. Então eu estou fazendo isso mais pelo meu filho mesmo. 23’14’’ Daniela da Silva – Foi uma confiança que acabamos ganhando a partir do primeiro momento, a partir da primeira consulta nós criamos esse vínculo e ficamos, e vai ser pra sempre. 23’26’’ Wandelor Carvalho – Eu estou tentando imaginar ele sabe, mas é muito difícil a gente ter um norte pra dizer, é por aqui, eu não faço ideia. Eu acho que dai eu vou descobrir o que o meu pai sentiu naquela época, 33 anos atrás. Acho que vai dar pra ter uma ideia legal do que ele sentiu na época. 23’56’’ Joana Arruda – Pra que eu consiga mudar hoje o profissional de saúde é a população que tem que pedir isso.

24’03’’ >>>>FICHA TÉCNICA<<<<


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9.2 ARTES GRÁFICAS UTILIZADAS NO VIDEODOCUMENTÁRIO

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que o índice de cesarianas não ultrapasse 15% por país.

No Brasil, este índice na rede pública atinge os 37%.


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Na rede privada, esta taxa ĂŠ ainda maior: 82%.

Em 2012, a taxa de cesarianas na Santa Casa de Campo Grande foi de 61%, enquanto o total de partos normais atingiu o Ă­ndice de 39%.


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Em 2013 essa realidade se agravou. O dado parcial de partos de janeiro a agosto daquele ano apontava 94% de cesárias e apenas 6% de procedimentos normais.

Fontes consultadas para elaboração dos gráficos: OMS e Santa Casa de Campo Grande.


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