UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
GIGANTE DE CHUMBO
JONES MÁRIO DE ÁVILA MINERVINI JÚNIOR
Campo Grande NOVEMBRO/2014
GIGANTE DE CHUMBO: A CONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO MORENÃO E SUA RELAÇÃO COM A DITADURA MILITAR JONES MÁRIO DE ÁVILA MINERVINI JÚNIOR
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador(a): Prof.º Dr.º Edson Silva
UFMS Campo Grande NOVEMBRO - 2014
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 3 1 - ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO ......................................................... 4 2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS........................................................................... 6 2.1. - PERÍODO PREPARATÓRIO ......................................................................... 6 2.2. - EXECUÇÃO ................................................................................................... 7 2.3. - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 11 2.3.1. - LIVROS................................................................................................. 12 2.3.2. - PERIÓDICOS ....................................................................................... 12 2.3.3. - REDES, SITES, E OUTROS ................................................................ 13 2.3.4. - OUTROS DOCUMENTOS.................................................................... 13 3 - SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS ................................................................. 14 4 - OBJETIVOS ALCANÇADOS ............................................................................... 16 4.1. - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 16 5 - DIFICULDADES ENCONTRADAS ...................................................................... 18 6 - DESPESAS (ORÇAMENTO) ............................................................................... 20 7 - CONCLUSÕES .................................................................................................... 21 8 - APÊNDICES ........................................................................................................ 23
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RESUMO
A obra aborda aspectos da construção do Estádio Pedro Pedrossian, o Morenão, do período de 1967 a 1971 pela ótica de sua ligação direta com as políticas de difusão e propagação dos ideais nacionalistas, ufanistas e de integração do país, defendidas pelo regime militar e seus aliados no Brasil. O livro-reportagem busca mostrar ao leitor que não havia motivação senão a política para a construção de uma arena esportiva com capacidade para cerca de 40 mil pessoas em uma Campo Grande que, na época, possuía aproximadamente 140 mil habitantes. No período abordado, apesar do status de maior cidade do estado do Mato Grosso uno, a cidade não possuía nenhuma liga de futebol profissional, tampouco representante em campeonatos nacionais. Foram pesquisados arquivos do jornal Correio do Estado, periódico que se auto-intitulava como o de maior circulação em Campo Grande durante os anos da construção do estádio, para resgatar fatos históricos, causos e acontecimentos que rodearam a edificação. Após seu auge nas décadas de 1970 e 1980, o Morenão tornou-se mais um estádio abandonado e sem fomento esportivo local.
Palavras-chave: Comunicação, livro-reportagem, futebol, ditadura militar, Estádio Pedro Pedrossian (Morenão).
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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO
Ao contrário do que foi sinalizado no cronograma do projeto apresentado anteriormente, a possibilidade de início do processo de análise dos dados já no mês de agosto não foi efetivada. O equívoco aconteceu devido à morosidade do andamento das pesquisas de campo no arquivo dos jornais impressos, que demandam tempo e aplicação maiores do que o esperado, ou seja, a prorrogação do tempo de pesquisa nos acervos impediu o começo da análise dos resultados obtidos. O trabalho de busca feito no arquivo do jornal Correio do Estado só foi encerrado no mês de outubro, previamente reservado para redação e revisão final do trabalho. A prolongação da pesquisa aconteceu para que o material que forma a base do livro-reportagem pudesse estar o mais completo possível, visto que, após concluído o levantamento proposto, percebeu-se que algumas informações careciam de uma contextualização maior. Com maior tempo utilizado para pesquisa, a consequente análise dos resultados colhidos neste processo também se alongou até a primeira semana do mês de outubro. A apreciação acerca dos dados estava prevista para ser realizada durante o mês de setembro. As entrevistas com fontes pessoais sofreram mudanças em relação à viabilidade de suas realizações. A limitação de tempo impediu que fossem feitas diversas entrevistas desejadas com atletas, dirigentes e operários que participaram da construção do Estádio Pedro Pedrossian (Morenão), enquanto questões como problemas de saúde e idade avançada das fontes obstruíram a possibilidade de outras entrevistas e motivaram a recusa em colaborar com o assunto por parte de alguns dos entrevistados elencados. Duas das fontes cruciais para estabelecer um contraponto às questões levantadas pelo principal documento consultado, o jornal Correio do Estado, não foram entrevistadas. Não se conseguiu acesso ao ex-governador de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian, que não atendeu ou retornou ligações direcionadas aos números de telefone residencial do político. Ademais, soube-se por meio de uma fonte entrevistada que Pedrossian se recusou a cooperar para um
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trabalho sobre uma temática parecida, recomendando que fosse lido seu livro de memórias, O Pescador de Sonhos, de 2006. O ex-presidente da LEMC (Liga Esportiva Municipal Campo Grandense), Levy Dias, que também foi prefeito de Campo Grande, senador da república e executor das obras do Morenão pela CODEMAT (Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso), também não foi entrevistado. O contato foi feito, mas em razão de um problema de saúde alegado, a conversa não pôde ser agendada. As entrevistas com torcedores-símbolos, que frequentam o Estádio Pedro Pedrossian desde sua inauguração, foram abortadas também devido à limitação de tempo imposta à realização do projeto experimental. Toda a parte previamente destinada à apropriação dos torcedores de uma obra da ditadura militar deixou de ser realizada por causa da falta de tempo hábil e ausência de fontes habilitadas para contribuir com o livro-reportagem.
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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
O processo que envolveu a produção do livro-reportagem pode ser dividido em três partes: pesquisa em fontes documentais jornalísticas, entrevistas com profissionais da imprensa que cobriram o período de construção do Estádio Morenão e outras fontes habilitadas, e redação do texto final. A sistemática do trabalho se deu na mesma ordem apresentada. A primeira fase do projeto foi a busca pela documentação jornalística da época e que culminou sendo baseada no jornal Correio do Estado devido à proximidade espacial, alcance de circulação e periodicidade diária do veículo hoje e durante o período pesquisado, além da facilidade de acesso a seu arquivo, tanto na sede do jornal quanto no Arquivo Histórico de Campo Grande. Os arquivos digitais de O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo também foram consultados. A fase intermediária se deu com a viabilização de entrevistas com profissionais da imprensa que trabalharam durante o período entre 1968 e 1971, além de uma entrevista realizada com o historiador João Fernando Pelho Ferreira, autor de um trabalho acadêmico em que discorre sobre a “invenção do país do futebol” e utiliza o Estádio Pedro Pedrossian como exemplo. O engenheiro e exmilitante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Fausto Matto Grosso, também foi ouvido durante esta fase. A terceira e última etapa da produção do livro-reportagem foi sua redação, edição e revisão finais, além da diagramação. Este processo ocorreu durante um período compreendido de 20 dias e dependeu da finalização das outras duas etapas para que pudesse ser iniciado.
2.1. - Período Preparatório
A princípio, foram pensados alguns esboços sobre a estrutura com a qual o livro-reportagem-história conceituado por Edvaldo Pereira Lima em “Páginas Ampliadas”, deveria se apresentar. Títulos e temas para a esquematização dos
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capítulos e organização de sessões por temáticas gerais foram previamente desenhados e divididos em oito partes, com uma introdução, que visaria apresentar o tema e construir uma narrativa que despertasse o interesse do leitor, seis capítulos que contariam de maneira gradual e crescente a história da construção do Estádio Pedro Pedrossian, e uma conclusão, que sustentaria um apanhado geral e apresentaria um panorama atual da arena esportiva. Foram consultadas diversas obras que se relacionam com o assunto que seria abordado pelo livro-reportagem. Foram estudadas teses de mestrado e doutorado que abordaram o envolvimento da ditadura militar com o futebol, livros que embasam ideologicamente os debates e discussões acerca do tema, bem como diversas reportagens jornalísticas que trataram de tais relações devido à lembrança feita este ano ao cinquentenário do golpe militar impetrado no país. Foram realizadas pesquisas em linhas gerais sobre o assunto na internet, com o objetivo de identificar fontes documentais e pessoais que pudessem contribuir com os estudos sobre o assunto, nomes para entrevistas, datas e fatos históricos que ajudam a costurar o desenvolvimento do material proposto. Aconteceram três encontros com o orientador do projeto, Profº Drº Edson Silva, nos quais foram encaminhadas diretrizes de como proceder com as pesquisas, feitas sugestões quanto ao enriquecimento no elenco de fontes, além de orientações a respeito dos formatos do pré-projeto e do relatório parcial.
2.2. - Execução
Entre os dias 18 de agosto e 9 de setembro do ano corrente, foram realizadas sete visitas ao acervo da ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande), em que foram pesquisadas todas as edições disponíveis do jornal Correio do Estado, compreendendo o período entre 1967 a 1970, além de encartes fotográficos especiais do governo mato-grossense de 1971. A busca resultou em cerca de 90 fotografias dos documentos consultados. Já entre os dias 16 de setembro e 17 de outubro foram realizadas seis visitas ao jornal Correio do Estado, que dispõe de um espaço para pesquisa em seu arquivo
computadorizado.
Foram
pesquisados
e
coletados
no
local
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aproximadamente 60 páginas digitalizadas de edições do periódico publicadas entre os anos de 1967 e 1971. Durante evento organizado no auditório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), foi feito breve contato com o engenheiro civil, professor aposentado da UFMS, ex-vereador em Campo Grande e ex-secretário de Estado de Planejamento, Fausto Matto Grosso, uma das fontes pessoais que se desejava entrevistar. Além dele, outras fontes pessoais e alguns de seus respectivos contatos foram elencados. Tratam-se do ex-governador de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian; o médico e ex-vice-prefeito de Campo Grande, Hélio Mandetta; o ex-jogador de futebol Valmir da Costa Flores “Tachinha”; o ex-jogador e atual presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), Francisco Cesário; o ex-prefeito de Campo Grande e exgovernador de Mato Grosso do Sul, Wilson Barbosa Martins; e o fotojornalista Roberto Higa. O primeiro passo para a execução das pesquisas exploratórias foi a busca, via internet, de acervos de jornais impressos que datam do período de construção do Estádio Pedro Pedrossian (1968-1971). Percebeu-se que a Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande) possuía exemplares do periódico Correio do Estado, o que resultou em sete visitas ao arquivo disponibilizado pelo local. As pesquisas começaram com as edições do ano de 1968 por dedução de que o anúncio da construção do estádio seria naquele ano, o que não ocorreu. Com isto, deu-se a necessidade de consultar o arquivo de 1967, no qual tal anúncio foi encontrado. A partir de então, concluíram-se as pesquisas deste ano, partindo para 1969 e posteriormente, para o ano de 1970. As pesquisas foram finalizadas até sua última edição acessível. Foram registradas em fotografias mais de 90 imagens de páginas dos jornais. O critério utilizado para o registro foi encontrar no conteúdo do título ou do texto jornalístico, citações que remetiam a fatos sobre a construção do Estádio. Entretanto, matérias que abordavam questões relacionadas ao futebol local, às entidades esportivas da época e notícias que traziam nomes de dirigentes e políticos que tiveram papel importante na história do Morenão também foram fotografadas. Além das imagens, foram anotadas as datas das edições e títulos das reportagens de interesse direto ao trabalho.
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O elenco de fontes foi levantado através de registros históricos observados nas reportagens jornalísticas pesquisadas, bem como em contato com o orientador do projeto. Os contatos pessoais foram viabilizados através de colegas de redação que repassaram seus telefones e/ou endereços eletrônicos. Foram feitos os contatos preliminares para agendar as entrevistas com as fontes elencadas, em que confirmaram e colaboraram com a produção do livroreportagem, respectivamente, o fotojornalista Roberto Higa, o ex-editor de esportes do jornal Diário da Serra, Valdir Cardoso, o jornalista Silvio de Andrade, o engenheiro e ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Fausto Matto Grosso, e o historiador João Fernando Pelho Ferreira. Para viabilizar a entrevista com o último, foi necessário se deslocar até a cidade de Aquidauana. Da entrevista com Roberto Higa, surgiu a oportunidade de ilustrar o livroreportagem com algumas das fotografias presentes em seu arquivo. Foram autorizados o uso de seis imagens, enviadas via correio eletrônico, que reproduziam o período de construção e inauguração do Estádio Pedro Pedrossian. Em contrapartida, a liberação dependeu da assinatura autoral do fotógrafo, impressa no canto inferior direito de cada fotografia. Foram adquiridos dois livros biográficos no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul de modo a tentar preencher a lacuna deixada pela ausência das entrevistas de Pedro Pedrossian e Levy Dias, figuras consideradas chaves para a construção do Estádio. Tratam-se das obras O Pescador de Sonhos, de Pedro Pedrossian, e A Poeira da Jornada, de Demóstenes Martins, que remontam cenários e trazem versões diferentes de histórias que tangem ao livro-reportagem. Teve-se acesso a uma entrevista concedida por Levy Dias para um artigo biográfico sobre a vida do engenheiro Euclydes de Oliveira após entrevista com Fausto Matto Grosso, que enviou o documento via correio eletrônico. O artigo mostrou-se útil, pois trazia uma versão de Levy Dias para uma história até então tratada apenas pela ótica do jornal Correio do Estado, suprindo de forma parcial a ausência de uma entrevista pessoal. Os acervos digitalizados dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo também foram consultados, buscando matérias com as palavras-chave “Morenão” e “Estádio Pedro Pedrossian”. Foram encontradas 9 reportagens que tratavam do tema e que foram utilizadas durante a produção do livro-reportagem. Os periódicos Jornal do Brasil e O Estado de Mato Grosso foram consultados por meio
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da Hemeroteca Digital Brasileira, porém não foram encontrados artigos pertinentes ao trabalho. Finalizadas as fases de pesquisa e coleta de materiais, se deu início ao processo de redação do livro-reportagem. Antes da produção de cada capítulo, foi utilizada uma metodologia baseada na leitura de todos os dados coletados que compreendiam o período abordado por determinada sessão do livro. Desta forma, construiu-se uma narrativa gradual com a intenção de partir desde o anúncio da edificação do Estádio Pedro Pedrossian até sua inauguração. Foram apresentadas as reportagens do Correio do Estado durante o texto para que fosse criada uma atmosfera de tempo crescente, em que novidades da construção do estádio se desmembravam a cada nova notícia exposta. O material jornalístico do jornal Correio do Estado serviu como linha-guia da elaboração textual do livro-reportagem. Foram empenhadas pelo menos seis horas diárias durante os 20 dias dedicados ao processo de redação do trabalho. Já a fase de revisão durou três dias e contou com o auxílio direto do professor Edson Silva, orientador deste projeto, que leu e indicou as modificações no texto. As mudanças pertinentes foram efetuadas em meio ao processo da segunda revisão, efetivada pelo autor deste livroreportagem. Duas tardes do mês de outubro foram reservadas para uma sessão de fotografias no Estádio Pedro Pedrossian (Morenão), de modo a buscar uma imagem para ilustrar a capa do livro-reportagem. Foram clicadas cerca de 30 fotografias, em que escolheu-se uma para figurar na capa e outra para encerrar o miolo da obra jornalística. A diagramação do livro-reportagem foi facilitada por um modelo previamente elaborado, desenvolvido durante a disciplina Laboratório de Produção Gráfica II, ministrada durante o sexto semestre do curso de Jornalismo da UFMS. Foi utilizado o programa Adobe InDesing CS3 para a diagramação final, com escolha da fonte Edo SZ para títulos, sumário e numeração de página, e da fonte Adobe Garamond Pro para o corpo de texto. A impressão do livro-reportagem foi encomendada junto a Gráfica Pontual, de Campo Grande, onde foi orçado o melhor preço e custo-benefício, tendo em vista a qualidade das amostras apresentadas pelo local. A empresa solicitou prazo de três dias úteis para a conclusão do material.
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2.3. - Revisão Bibliográfica
O principal pilar que contribuiu com a proposição do projeto sobre o livroreportagem foi a tese de doutorado do professor João Fernando Pelho Ferreira, do curso de História da UFMS, campus de Aquidauana. Na obra intitulada “De (pre)potência olímpica à “invenção do país do futebol: a política para os esportes do Governo Emílio Garrastazu Médici (1969-1974)”, o autor aborda em seu capítulo final alguns detalhes da construção do Estádio Pedro Pedrossian e sua relação direta com a política de integração nacional difundida pelo regime de Médici. Partindo deste ponto, foram realizadas as pesquisas nos acervos históricos do jornal Correio do Estado, disponibilizado para consulta pública no Arquivo Histórico de Campo Grande. Foram vistas as edições acessíveis dos anos de 1967, 1968, 1969 e 1970. O local também ofereceu duas edições de álbuns especiais dos governos do estado de Mato Grosso e da prefeitura de Campo Grande, que ilustravam em fotos e textos curtos alguns dos feitos e obras das respectivas administrações da época. O arquivo computadorizado do Correio do Estado também prestou serviço determinante para o desenvolvimento do trabalho, em que foram consultadas e coletadas diversas edições do periódico de um período entre os anos 1967 e 1971. O livro biográfico O Pescado de Sonhos, de Pedro Pedrossian, constituiuse sobremaneira como parte importante para o desenvolvimento do livroreportagem. Sua consulta e posterior utilização foram úteis a partir do pressuposto de que não houve entrevista pessoal com o autor da obra, devido a dificuldades encontradas em entrar em contato com o ex-político. Ademais, a obra trouxe uma versão de vários dos fatos abordados pelo trabalho por uma perspectiva do exgovernador de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Do mesmo modo, as informações colhidas junto a edições dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo foram relevantes, pois observou o caso da construção do estádio e de sua inauguração a partir de um ângulo nacional e mais distanciado. Documentos como o artigo sobre Euclydes de Oliveira, onde consta uma entrevista com Levy Dias, e reportagens jornalísticas consultadas na internet também exerceram papel fundamental para a execução do trabalho.
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2.3.1. - Livros
HELAL, Ronaldo; LOVISOLO, Hugo Rodolfo. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2007. 162 p. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura : jornalismo literário. 4. ed. rev. e ampl. Barueri, SP: Manole, 2009. 470 p. RIBEIRO, André. Os donos do espetáculo: histórias da imprensa esportiva do Brasil. 1. ed. São Paulo. Editora Terceiro Nome, 2007. 328 p. RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia do poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 1984. 114 p. MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, 1990/1991,
p.
149-158.
Disponível
em:
<http://www.eduinclusivapesq-
uerj.pro.br/images/pdf/manzinisaopaulo1990.pdf> Acesso em: 09 ago.2014 COIMBRA, Oswaldo. O Texto da Reportagem Impressa: um curso sobre sua estrutura. São Paulo, SP: Ática, 2002. 183 p. CRUZ, Antonio Roberto. Futebol brasileiro: um caminho para a inclusão social. São Paulo: Esfera, 2003. REIS, Heloisa Helena Baldy. Futebol e Sociedade. Brasília: Liber Livros, 2003. MARTINS, Demóstenes. A poeira da jornada - memórias. Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2 ed., 2013. 368 p. PEDROSSIAN, Pedro. O Pescador de Sonhos. Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2006. 275 p.
2.3.2. - Periódicos
Correio do Estado. Campo Grande, 1967 a 1971. O Estado de São Paulo. São Paulo, 6 edições de 1971, 1972 e 1982. Folha de São Paulo. São Paulo, 3 edições de 1971 e 1972. Revista Concreto e Construções Nº 54. Brasil, 2009. Revista do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo ESPM. Ano 8, Volume 8, Nº 21, março de 2011.
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2.3.3. - Redes, sites, e outros
MORETZSOHN, Silvia. Estágio em jornalismo: adestramento de focas? Cartilha Discutindo
o
estágio
em
jornalismo.
Enecos,
1997.
Disponível
em:
<http://issuu.com/enecos/docs/1997_-_discutindo_o_estagio_em_jornalismo#> Acesso em: 09 ago.2014> Acesso em: 09 ago.2014 STEIN, Leandro. Da criação do Brasileirão aos elefantes brancos, como o futebol entrou no Plano de Integração Nacional. Trivela. Disponível em: <http://trivela.uol.com.br/da-criacao-brasileirao-aos-elefantes-brancos-como-ofutebol-entrou-plano-de-integracao-nacional/> Acesso em: 20 jul.2014 Governadores de Mato Grosso. Disponível em: <http://www.mt.gov.br/matogrosso/historia/historia-de-mato-grosso/70485> Acesso em: 30 set.2014 BOAMORTE, Robson. Da construção à demolição: Estádio Verdão e suas histórias.
Globoesporte.com.
Disponível
em:
<http://globoesporte.globo.com/mt/noticia/2014/03/da-construcao-demolicao-estadioverdao-e-suas-historias.html>. Acesso em: 22 out. 2014.
2.3.4. - Outros documentos
Cadastro
Nacional
de
Estádios
de
Futebol
2013.
Disponível
em:
<http://www.agenciach.com.br/wp-content/uploads/2013/08/CNEF-Estadios-deFutebol-no-Brasil-2013.pdf> Acesso em 29 jul.2014 Cadastro
Nacional
de
Estádios
de
Futebol
2009.
Disponível
em:
http://www.creaba.org.br/Imagens/FCKimagens/122009/CadastroNacionaldeEstadiosdeFutebol.pdf Acesso em 29 jul.2014 BITTAR, Marissa; JUNIOR, Amarilio Ferreira. Euclydes de Oliveira: Uma trajetória de ética, competência profissional e militância no Partido Comunista Brasileiro. Artigo, 2005
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3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS
O suporte ideológico do livro-reportagem foi escolhido visando a importância social que o futebol exerce, visto que as diversas facetas que constroem sua identidade estão distribuídas e arraigadas na cultura popular brasileira. Sua relevância foi embasada na obra “A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria”, de Ronaldo Helal e Hugo Rodolfo Lovisolo, no qual se destaca a associação do esporte bretão a um conjunto de sociedade para que se compreenda a mesma. Ao longo do século, o futebol firmou-se como uma das atividades que preocupam os brasileiros, embora também outros povos, principalmente, os latino-americanos e europeus. O “preocupar” pode ser entendido como anterioridade de ocupação da coisa em relação a outras, da mesma forma que a “pré-escola” precede à escola. Mas, também, podemos entender que o futebol nos ocupa quando não estamos ocupados, então, no tempo livre ou de lazer. Entender um grupo etnograficamente significa, dito de forma simples, entender suas ocupações e preocupações. (2007, p.9)
Ainda que de maneira discreta, foi utilizado o livro “Futebol: ideologia do poder”, de Roberto Ramos e publicado em 1984 pela editora Vozes. A obra aborda uma visão apocalíptica do futebol quando inserido na cultura e nos costumes do ser humano social e busca abordar, de forma didática, a modalidade esportiva como reprodutora e mantenedora dos interesses políticos, financeiros e sociais do Estado capitalista. Com seu uso, buscou-se estabelecer um diálogo entre a construção e posterior utilização do Morenão de modo a propagar um imaginário de que o país estava em processo de modernização, proposto pelo governo Médici, que também sinalizava para a utilização do futebol como maneira de maquiar problemas e distrair a atenção da população aos atos de corrupção, de violência policial e crimes de tortura e execução cometidos nos porões daquela ditadura. O futebol é um aparelho ideológico do Estado. Ele sublima o capitalismo. Concede uma visão ficcional da realidade, aperfeiçoando-a. [...] A democracia, aparentemente, é total. Não solicitam atestado ideológico de ninguém. Há um clima de liberalismo imponente. A liberdade de expressão atinge níveis amplos e irrestritos. O torcedor pode descarregar toda a sua frustração. O sistema garante, preservando o seu domínio sobre os seus servos. (1984, p.105-6)
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A abordagem deste tema em materiais de cunho jornalístico justifica-se ainda por sua enorme reciprocidade, advinda de um nicho social que dedica atenção especial ao futebol e ao esporte como um todo desde sua inclusão nas pautas diárias dos veículos de comunicação do país, em meados dos anos 1930. De acordo com André Ribeiro, autor de “Os Donos do Espetáculo: histórias da imprensa esportiva no Brasil”, a presença do futebol nos cadernos diários, semanais, quinzenais ou mensais, nos programas de rádio ou nos espaços da televisão, se tornou praxe e oportunidade de faturar financeiramente.
Se no começo de sua trajetória a imprensa esportiva implorava por espaço nas páginas dos principais jornais do país, a partir da década de 1930, com o surgimento do rádio, e na década de 1950, com a televisão, noticiar a maior paixão do brasileiro tornou-se, além de um grande negócio, obrigação. (2007, p.9)
As
referências
conceituais
e
técnicas
para
a
proposição
e
desenvolvimento do livro-reportagem têm como base a obra “Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, de Edvaldo Pereira Lima. O autor classifica as características adotadas no texto de um livro-reportagemhistória que, segundo ele, “focaliza um tema do passado recente ou algo mais distante no tempo. [...] porém, tem em geral algum elemento que o conecta com o presente, possibilitando um elo comum com o leitor atual” (2009, p. 54). A técnica textual do livro-reportagem é contemplada pelo que conceitua Oswaldo Coimbra em seu livro “O Texto da Reportagem Impressa: um curso sobre sua estrutura”. Serão utilizados os modelos de narrativas descritiva, dissertativa e narrativa, cujas definições são elucidadas na obra citada. As entrevistas foram conduzidas nos moldes de semi-estruturada segundo as classificações propostas por E. J. Manzini. De acordo com ele, “na entrevista semi-estruturada, a resposta não está condicionada a uma padronização de alternativas formuladas pelo pesquisador como ocorre na entrevista com dinâmica rígida”. Ainda segundo o autor, “é mais adequada quando desejamos que as informações coletadas sejam fruto de associações que o entrevistado faz, emergindo, assim, de forma mais livre” (1990/1991, p. 154).
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4- OBJETIVOS ALCANÇADOS
Foram traçados paralelos entre a construção do Estádio Pedro Pedrossian com o regime militar no Brasil, e ligados os pontos que relacionaram a política institucional da ditadura com a organização do esporte bretão em Campo Grande. O formato escolhido para a materialização da obra foi o de um livroreportagem, o que qualificou de modo satisfatório o produto, visto que, uma vez acessível ao público interessado na temática, deve encontrar compreensão didática, absorção e interpretação do conteúdo, pois foi bem produzido, apurado, concebido, finalizado e revisado, dentro das possibilidades estabelecidas pelo limite de tempo. Para rebuscar os fatos sobre a construção do Estádio Pedro Pedrossian em Campo Grande, foram efetuadas pesquisas no arquivo do jornal impresso da capital sul-mato-grossense, Correio do Estado, que deu ampla cobertura ao andamento das obras, tratando de aspectos financeiros, movimentações políticas, agrados e desagrados aos atingidos pela edificação da arena. Foram executadas uma série de entrevistas pessoais com profissionais da imprensa que vivenciaram a construção do estádio até a data de sua inauguração. Também foram entrevistados o engenheiro e ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Fausto Matto Grosso, e o historiador João Fernando Pelho Ferreira.
4.1. - Objetivos específicos
A proposta de abordar a história da construção do Estádio Pedro Pedrossian (Morenão) foi bem sucedida, pois contou de forma inédita, como se deu o processo de edificação do estádio e sob quais influências políticas, econômicas e sociais foi construído, sempre por intermédio de entrevistas e consultas aos arquivos dos veículos de imprensa que cobriam os acontecimentos de Campo Grande.
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Com auxílio de documentação histórica e trabalhos acadêmicos, conseguiu-se apresentar um paralelo entre as diversas construções de estádios Brasil afora durante a ditadura militar, inclusive o Morenão, e as políticas institucionais tocadas pelo regime em questão. O lobby de seus aliados e simpatizantes também foi ilustrado com êxito pelo livro-reportagem.
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5- DIFICULDADES ENCONTRADAS
O maior empecilho encontrado foi a escassez de tempo para pesquisa e execução do trabalho. Reconhece-se o atraso na escolha do tema, planejamento da pesquisa, buscas a campo, porém, acredita-se que o espaço entre a entrega do projeto (11 de agosto) e a entrega do produto final (3 de novembro) é curto demais para tornar possível a finalização ideal ao formato escolhido, no caso, um livroreportagem. Ademais, deve-se levar em consideração que a maioria dos acadêmicos que cursam a disciplina Projetos Experimentais possui vínculo de estágio em alguma empresa, o que limita ainda mais o tempo dos mesmos. Durante as pesquisas no acervo do periódico Correio do Estado disponibilizado pelo Arquivo Histórico de Campo Grande, foram enfrentadas dificuldades quanto ao funcionamento do local. O órgão permaneceu fechado durante pelo menos três dias na semana de aniversário da cidade, fatores estes que evitaram a conclusão das pesquisas previamente programadas no lugar. Devido à diferença temporal entre o fato histórico e a pesquisa (46 anos), muitas das fontes pessoais do livro-reportagem já faleceram, encontram-se em estado de pouca lucidez para tratar profundamente do assunto ou passam por problemas de saúde. Tal fator limitou o conteúdo desejado ao livro-reportagem no que diz respeito à variedade e qualidade dos depoimentos coletados. O difícil acesso ao arquivo do jornal Diário da Serra impossibilitou que a história fosse contada também a partir da ótica deste veículo, o que culminou no uso exclusivo dos fatos noticiados pelo jornal Correio do Estado, cujo acervo mais antigo pode ser encontrado tanto no Arquivo Histórico de Campo Grande quanto na sede da empresa jornalística, em formato digital. A pouca experiência acumulada com programas de diagramação durante o curso de Jornalismo na UFMS impôs barreiras quanto ao processo de editoração do livro-reportagem, visto que certos detalhes que fugiam do básico aprendido podem ter prejudicado o produto final. Foram perdidos os áudios das entrevistas realizadas com o ex-editor de esportes do Diário da Serra, Valdir Cardoso, e com o jornalista Silvio de Andrade,
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devido a problemas técnicos com o gravador, restando assim apenas anotações rascunhadas durante as conversas. A limitação bibliográfica sobre a construção do Estádio Pedro Pedrossian exerceu influência negativa no livro-reportagem, visto que foi preciso se voltar apenas aos fatos noticiados pelo jornal Correio do Estado, às entrevistas concedidas ao autor do projeto e à tese de doutorado do historiador João Fernando Pelho Ferreira. A ausência de obras que abordassem o tema impossibilitou uma maior pluralidade de fontes. Ademais, o calor de 40 graus Celsius de média pelo qual passou Campo Grande durante uma semana de outubro levou o autor do livro-reportagem à exaustão física e mental por muitas vezes.
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6- DESPESAS (ORÇAMENTO)
Transporte (gasolina)
R$ 200,00
Papelaria (impressões)
R$ 200,00
Livros
R$ 80,00
Gravador de Áudio
R$ 140,00
Passagem para Aquidauana (ida e volta)
R$ 65,00
Total
R$ 685,00
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7- CONCLUSÕES
Aguçado pela curiosidade, característica impregnada nos jornalistas, foram investigados com afinco todas as histórias e relatos que se relacionam e explicam o tema abordado no livro-reportagem que este relatório busca descrever. A identificação com a área esportiva, principalmente a que se volta de forma específica para o futebol, e o envolvimento político nos meios universitários alcançado durante os quatro anos de graduação, institucionalizado ou livre, foram os dois fatores primordiais para fazer girar a engrenagem da execução deste projeto. Foram pesquisados cinco anos inteiros de edições do jornal Correio do Estado (1967-1971), em que estas buscas serviram para rememorar os fatos e acontecimentos que rodearam a construção do Estádio Pedro Pedrossian e sua relação com a ditadura militar no Brasil. As notícias veiculadas no periódico ajudaram na construção das questões aos entrevistados de modo a confirmar e acrescentar à informação ou contradizê-la, além de reconstituir de maneira gradual as histórias que envolveram a fundação do local. O papel dos resultados obtidos com as pesquisas nos jornais foi de proporcionar um caráter temporal ao livro-reportagem, de maneira que, com a incorporação dos depoimentos obtidos nas entrevistas, tornasse possível apresentar uma narrativa gradual e crescente e, ao mesmo tempo, de reflexão política e social, ao texto da obra. A intenção foi de que o leitor pudesse mergulhar na história como se estivesse vivendo a época da edificação do estádio e sendo informado por um jornal local da época. As entrevistas foram o maior empecilho para um sucesso integral do projeto, visto que muitas delas não foram viabilizadas por problemas já enumerados por este relatório. Ademais, as conversas que foram efetuadas pouco somaram de maneira determinante ao trabalho, pois algumas das fontes ou não apresentavam lucidez, ou, apesar de ter vivenciado a construção, tinham pouca idade e experiência nos veículos de imprensa durante o período pesquisado. A limitação dos depoimentos colhidos pelas fontes exerceu influência negativa também na narrativa proposta ao livro-reportagem. Com poucas lembranças por parte dos entrevistados sobre a época abordada pelo projeto, não foi
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possível empregar no texto do produto final um tom mais humanizado, com passagens descritivas de situações e lugares e com mais depoimentos pessoais. O livro-reportagem, todavia, atingiu seu objetivo de contar a história da construção do Estádio Pedro Pedrossian (Morenão) a partir de uma perspectiva que considerou as motivações políticas de um período regido pela ditadura militar no Brasil. Seu texto aborda de forma clara os fatores políticos, econômicos e sociais que confluíram para o surgimento da arena em Campo Grande, levando sempre em consideração as mínimas justificativas de cunho esportivo para a edificação do estádio na cidade. Devido ao limite de tempo para a produção do livro-reportagem, o resultado obtido após seu processo de criação ficou aquém do ideal quisto por seu autor, porém, entende-se que as habilidades exigidas para o bom desempenho do Jornalismo, como pesquisa, entrevista, reflexão, leitura e redação, foram postas à prova e superadas com êxito.
A viabilização deste trabalho ainda abriu a
possibilidade e despertou o interesse, com todo o material já coletado, para que seja produzido posteriormente um projeto que dê seguimento ao que foi concluído como requisito da disciplina Projetos Experimentais.
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8 - APÊNDICES
Figura 1 - Fotografia da edição do Correio do Estado de 14/10/1967 anuncia construção do Morenão
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Figura 2 - Arquivo do jornal O Estado de SP
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Figura 3 - Arquivo do jornal Correio do Estado
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Transcrição da entrevista com Fausto Matto Grosso
Falavam muito de corrupção, corrupção não, roubo do dinheiro público. De maneira geral sobre o governo do Pedrossian, mas ali tinha uma situação especial. Eu não sei qual era o papel dele, mas pelo que consta é que quem tinha um papel importante na coordenação da administração era o Levy Dias, que depois veio a ser prefeito de Campo Grande, foi senador, candidato ao governador. Foi um político que se tornou proeminente. Ele era do exército e era escrivão da justiça militar. Ele foi um cara, que antes de ser militar, era uma liderança estudantil de direita, que atuava na UCE. O posicionamento dele sempre foi a favor do golpe. O Pedrossian foi um candidato da oposição do golpe. Ele disputou com o Lúdio Coelho, que era um candidato da UDN, com apoio explícito à ditadura. Naquela eleição de 1965, a oposição ganhou em três estados: em Mato Grosso do Sul, no Estado da Guanabara, e em Minas Gerais, com o Israel Pinheiro. Então, a ditadura, diante dessa derrota, tomou a decisão de extinguir os outros partidos. Nesse processo, segundo consta, ele foi chantageado pelo Filinto Muller, diante do fato de que ele tinha um processo de corrupção, quando era engenheiro da Estrada de Ferro, e que esse processo o impeachment era relacionado com isso, foi uma maneira de chantageá-lo. Ou seja, ou você vem ou nós te cassamos. O Pedrossian recebeu apoio do Partido Comunista. O Pedrossian ouvia muito na área de engenharia, um velho camarada nossa, que foi o dr. Euclides de Oliveira, que foi fiscal da obra pelo departamento de obras públicas. Era o ufanismo do milagre brasileiro, do Brasil potência. Tudo tinha que ser grande, exemplar e provocar a adesão do regime, que veio para modernizar. Via prussiana, modernização pelo alto. Nos nossos documentos a gente chamava isso de modernização conservadora. Construção de estrada, hidrelétrica. O Pedro fez o papel da ditadura aqui no Estado, o caro abriu estrada para tudo quanto é coisa, modernizou as telecomunicações. O Pedrossian cumpriu esse papel modernizador também com esse estilo de obra da ditadura. E de uma certa forma, a representação disso foi o Morenão. O Levy Dias era fornecedor de areia, e concreto leva muita areia.
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Transcrição da entrevista com João Fernando Pelho Ferreira
Morenão são várias histórias. É uma congruência de fatores. Tem o campeonato brasileiro de 1971, a loteria esportiva de 1969 ou 1970, então o Morenão é fruto disso. Campo Grande era muito isolado dos grandes centros, e o governo militar além de incentivar o esporte e o futebol, tinha também a prerrogativa de ligar os lugares periféricos a centros mais pro lado do litoral. Então o Morenão também é fruto disso. As pessoas que estavam envolvidas nessa construção também tinham alguma coisa que confluía com as ideias militares. Pedrossian é um exemplo disso, Levy Dias também é exemplo disso. Ele não serviu só para a preparação física e o aperfeiçoamento dela, mas também para ligar com a Marcha para o Oeste brasileiro. Não só o Morenão, como outros estádios. Além do que também, o Morenão pode ser visto como uma força da localidade campo-grandense de colocar a cidade em voga, haja vista que não era ainda Capital, Mato Grosso ainda era uno. Então muita gente da elite ajudou na construção em termos de influência. Campo Grande e Cuiabá têm uma rixa. O José Fragelli, estádio que leva o nome do ex-governador do Estado, só foi ser construído em 1975. Então tinha uma divergência entre a elite campo-grandense, que queria se sobressair, e já queria transformar Campo Grande numa capital, e a elite cuiabana com o poder daquela localidade. Não dá para se medir a força disso, mas dá para ter noção que existia uma divergência. Campo Grande só vai ter um status quando a modernidade vai para lá, e o Morenão é um exemplo dessa modernidade. Como o estado era muito grande, e Campo Grande era muito distante da capital, e existia uma elite local que queria se sobressair ante a elite cuiabana... Além disso, o estádio tem que ser visto como uma obra dentro da faculdade, da universidade. Então é fruto de uma outra coisa, que é a universidade. Pelo que eu pesquisei, essa elite do pessoal da farmácia levara o estádio para dentro da cidade universitária. O João Havelange, como era presidente da CBD na época, hoje CBF. Mesmo a CBD sendo uma estrutura privada, ela recebe uma grande influência não só política como financeira do governo federal. Então quem era o presidente da CBD? O João Havelange. E como ele consegue se eleger? Com o voto dos presidentes das federações. E todo esse arranjo político vem com o João
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Havelange, que tinha livre acesso aos gabinetes dos militares, apesar de ele ter sido monitorado por eles, assim como o Pelé. A influência militar veio na sua estrutura, que tinha o poder, e tinha também pessoas que eram, vamos dizer assim, simpatizantes do regime. Tem que pensar nisso também, que não só os militares construíram tudo, e tiveram tanta influência, mas também por pessoas civis que coadunavam com as ideias militares. Eles não tinham certeza que seria, mas de forma processual, começou a galgar o perfil de uma cidade que poderia ser uma capital. No campo historiográfico, você não pode afirmar uma coisa sem ter uma fonte primária. Eu vejo o Pedrossian mais ou menos como o Tancredo Neves, o avô da Aécio. Porque há uma utopia de que o Tancredo seria um divisor de águas no Brasil depois da ditadura, mas se você for ver a história do Tancredo Neves, ele começou como ministro do Getúlio Vargas. Ele teve sempre esse papel conservador, de não desagradar nem um, nem outro, como o Pedrossian. Se você chegar em Miranda e falar mal do Pedrossian, você apanha. Ele tem esse caráter conservador, mas passa uma imagem progressista, porque construiu um monte de coisa. Se for pensar assim, o Médici foi progressista, porque também construiu um monte de coisa. Só que ele matou um monte de gente. É uma visão meio dúbia. O João Havelange tinha pressa nisso. Em 1974, ele ia concorrer a eleição da Fifa. Ele fez a Copa do Sesquicentenário para provar não só para o Brasil, mas para o mundo, que ele no cargo de presidente da Fifa, poderia fazer um Copa do Mundo, uma Mini-Copa. O então presidente da Fifa, Stanley Rous, era uma figura mais antiga, não tinha essa visão empreendedora do Havelange. E ele tinha sua reeleição como certa. Mas o Havelange mexeu os pauzinhos, deu dinheiro para o Pelé fazer o cabo eleitoral dele. O Morenão só pode ser pensado com o anseio do Havelange a galgar ao cargo de presidente da Fifa. O papel dele é chave, ele estava na inauguração, falou um monte de besteira. É um processo: tem a divisão do estado, tem a vontade do João Havelange de ser presidente da Fifa, tem a política do diagnósticos dos militares, de que se precisava investir nisso, além de ter a coisa da CBD, da loteria esportiva. Campo Grande, como está mais perto de São Paulo, usava dessa prerrogativa. A gente precisa se desmembrar por que: somos filhos dos bandeirantes, devemos isso aos paulistas. E Cuiabá não, Cuiabá está longe, aquela coisa modorrenta, calor infernal maior que Campo Grande.
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Essa costura política envolvendo muita gente. Envolvendo Pedrossian, Médici, Havelange. Essa articulação política, teve uma articulação política para trazer o estádio. Tinha um deputado que não queria isso. Foi legal antes de discutir a sede, essa divergência voltou a tona. Porque Campo Grande não conseguiu? Cuiabá é mais rica que Campo Grande, Cuiabá tem soja, que é muito cara. Outra questão política, quem vai conseguir, quem tem mais força no cenário político nacional? Cuiabá, Mato Grosso. Tem muito mais peso, recurso, influência.
Transcrição da entrevista com Roberto Higa
Aqui a coisa era bem assim, apesar de ser fronteira e de ter todos os quartéis aqui, nós tínhamos a nona região militar, a quarta DC era aqui. Você ouvia falar, mas não era tão escancarado. Hoje tem mais gente que fala do que naquela época. O brasileiro tem muito disso, gosta de agir por baixo dos panos. O TPF (Tradição, Família e Propriedade), quebrou todo o jornal O Democrata. Teve um amigo nosso também que a TFP imaginava que ele fosse veado, homossexual, prenderam ele e levaram da casa dele na Rua Pedro Celestino perto da Cândido Mariano até a delegacia central, que ficava na Rua 14 onde hoje é o Bombeiros. Levaram ele a pé e só de cueca, cara. Levaram ele lá para todo mundo ver porque achavam que ele fosse veado. Os comunistas aqui a gente conhecia, tinha uns vereadores que eram comunistas. A coisa era muito abafada. Eu tenho a fotografia do lançamento do Morenão, que aconteceu no Belmar Fidalgo. Estavam lá o Levy Dias, que já tinha pretensões políticas, o Pedro Pedrossian, que foi o governador que lançou a obra, e pessoas que mexiam com isso. O Chileno, o Louro, que era taxista. O pessoal que mexia com esporte aqui era bem humilde. Eram algumas pessoas que movimentavam o esporte. Eu tenho certeza que a construção do Complexo Universitário, com Morenão, Moreninho, Cidade Universitária, Drive In, mudou o comportamento do próprio mato-grossense. A fama do Estado era de que imperava a lei do 44, do 38. Era comum se matar aqui, um matar o outro, o outro matar o um. Você ia jogar um bingo, quando falavam Lei do Mato Grosso, você sabia que era 38 ou 44. Com isso
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vem uma nova mentalidade. Acho que foi a partir dessa implantação da universidade e todo aquele complexo. A gente chamava aqui, quando começaram a colocar lombadas, a gente chamava de cuiabano deitado. Tamanho era a rixa. Quando a seleção de Campo Grande ganhou aqui no Belmar Fidalgo da seleção de Cuiabá por 2 a 1, cara, o pau quebrou. Todas as vezes era briga, aqui ou lá, o pau quebrava. Não sei nem o porquê. A Lemc é uma liga como a de Dourados, Ponta Porã. Não era capaz de bancar 50%. Na época a gente só informava, não entrava no mérito da coisa. Não é como a imprensa de hoje, que tem uma certa liberdade. Pouca, mas tem. Na época não tinha essa de vasculhar. Não existia a coisa investigativa. Você noticiava até o ponto que os homens deixassem. Quantas vezes recebemos na redação que determinado fato não poderia ser denunciado. Eu me lembro que o Havelange era tipo um presidente da república. Tamanho era o poder do homem. A festa que prepararam para a passagem dele aqui era espetaculosa. Ele veio uma vez com o presidente da Fifa para vistoriar o gramado do Morenão. O Pedrossian nasceu politicamente com o Morenão. Ele construiu o Moreninho. Essas coisas de ginásio coberto foi o Pedrossian que começou, você pode ver a arquitetura é a mesma. O Guanandizão nasceu com ele, feito com ele e inaugurado por ele. Era tanta festa. A chegada de um governador aqui, pra gente de imprensa era um tumulto. Não me lembro de nenhum fato marcante naquele dia, mas a festa foi muito grande, o estádio lotou. Tinha imprensa do Brasil inteiro, era algo inusitado. Além de tudo era um fato histórico. Um estado como Mato Grosso receber um estádio daquele tamanho. Metade a população de Campo Grande cabia no estádio. Era tudo muito grande e feito e concreto. A gente não estava acostumado com isso aqui. Aqui toda obra tinha que ter reboco. A obra marcou o Estado, porque as pessoas o povo esquece. Aqui você não vai ver nenhuma relação da cidade com o regime militar.