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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
LIXO NOSSO DE CADA DIA
Gabriela Bastos Pavão Mariana Rodrigues Cintra
Campo Grande, MS Dezembro, 2013
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GABRIELA BASTOS PAVÃO MARIANA RODRIGUES CINTRA
LIXO NOSSO DE CADA DIA
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Greicy Mara França.
Campo Grande, MS Dezembro, 2013
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiro a Deus, pela dádiva da vida, pela saúde e proteção de todos os dias. Em segundo lugar, aos nossos familiares pelo apoio e paciência. À Sizete, mãe da Mariana, e Wellington, namorado da Gabriela pela colaboração. À nossa orientadora Greicy, por cada correção e palavra amiga durante o trabalho. Aos colegas de profissão pelas dicas práticas, em especial à Priscilla Bitencourt, que nos sugeriu o tema. Aos colegas de curso e aos cinegrafistas Nelson Mandu e Raimundo Dias, também da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). À empresa CG Solurb por nos autorizar acompanhar a rotina de trabalho e principalmente a entrada no lixão e aterro sanitário, e aos demais entrevistados por aceitarem participar do documentário.
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RESUMO
O documentário tem como objetivo mostrar o caminho do lixo na cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul (MS), explorando desde o descarte, coleta, destinação, até a fase da reciclagem. O município está em fase de transição em relação ao local de disposição dos resíduos sólidos, substituindo o lixão por um aterro sanitário. Essa mudança cumpre com o que determina o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, onde prevê a proibição de trabalhadores dentro do lixão, por isso obriga que as prefeituras e concessionárias de coleta de lixo construam usinas de triagem de resíduos onde os catadores possam reaproveitar o lixo para reciclagem. Neste contexto, reunimos depoimentos e tivemos contato direto com os catadores para entender melhor sobre as condições de trabalho e os pontos de vista acerca desta mudança, além de mostrar a situação da cadeia de resíduos sólidos. A intenção é promover o respeito à profissão de quem recicla materiais, ressaltando a importância social desses agentes para a manutenção da sociedade e do meio ambiente.
Palavras-chave: Documentário; reciclagem; aterro sanitário; catadores.
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ABSTRACT
The documentary aims to show the path of the garbage in the city of Campo Grande, capital of Mato Grosso do Sul (MS), exploring from the disposal, collection, allocation, up to the phase of recycling. The city is in transition over the place of solid waste disposal, replacing the dump for a landfill. This change complies with what determines the National Waste Plan Solid, which prohibits workers within the landfill, so mandates that local governments and dealership garbage collection to build waste sorting plants where collectors can reuse the trash for recycling. In this context, we gathered testimonials and had direct contact with the collectors to have a better understanding about the work conditions and points of view on this change, besides showing the situation of the chain solid waste. The intention is to promote respect for the profession who recycles materials, emphasizing the importance of these social agents to maintenance of society and the environment.
Key-words: Documentary; recycling; landfill; pickers.
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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7 1.1. Justificativa ................................................................................................................ 8 1.2. Objetivo Geral ........................................................................................................... 8 1.3. Objetivos Específicos ................................................................................................ 9 2. ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO............................................................ 9 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.............................................................................. 11 3.1. Período Preparatório ............................................................................................... 11 3.2. Execução................................................................................................................. 12 3.2.1. Reconhecendo a área .......................................................................................... 12 3.2.2. Primeiro contato com fontes e personagens ........................................................ 12 3.2.3. Conhecendo a Usina de Triagem de Resíduos .................................................... 13 3.2.4. Conhecendo a cadeia de resíduos sólidos e seus integrantes ............................. 14 3.2.5. Entrevistas com fontes oficiais (Solurb, OAB, Defensoria Pública) ...................... 15 3.2.6 Fechando a cadeia do lixo (depósito e indústria) .................................................. 16 3.2.7. Decupagem, roteiro e edição ............................................................................... 17 3.3. Revisão Bibliográfica ............................................................................................... 18 4. SUPORTES TEÓRICOS E PRÁTICOS ADOTADOS............................................... 20 4.1. Fundamentação teórica ........................................................................................... 20 4.2. Formato e Gênero ................................................................................................... 24 4.3. Suporte prático ........................................................................................................ 25 5. OBJETIVOS ALCANÇADOS.................................................................................... 27 6. DIFICULDADES ENCONTRADAS............................................................................ 28 7. DESPESAS (ORÇAMENTO)..................................................................................... 29 8. CONCLUSÕES.......................................................................................................... 30 APÊNDICE A – Roteiro................................................................................................. 34 APÊNDICE B – Diário de Campo................................................................................. 47
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1. INTRODUÇÃO
Cerca de 750 toneladas de lixo são produzidas por dia por mais de 800 mil habitantes da cidade de Campo Grande – MS, de acordo com a concessionária de manejo de resíduos sólidos do município, CG Solurb. Conforme a empresa, há mais de 30 anos, os resíduos sólidos da população são destinados ao lixão Dom Antônio Barbosa, localizado na região sul da cidade, onde cerca de mil catadores de lixo trabalham diariamente. Para Souza (1995) tanto o mercado formal de trabalho, quanto o informal foram ampliados em sua relação com o lixo, que surge enquanto opção de trabalho na sociedade moderna. O autor relata que a sobrevivência de milhares de pessoas está vinculada com o setor econômico do lixo, e que o aumento da atividade profissional do catador é diretamente vinculado com a ampliação dos níveis de pobreza, popularizando tal ocupação, que passa por gradativos aumentos (SOUZA, 1995). Aborda-se, aqui, a realidade do lixo em Campo Grande, focando nos subtemas produção, coleta, destinação e reciclagem. Esses aspectos serão analisados dentro do contexto de mudanças que vêm ocorrendo nos últimos anos, destacando a regulamentação de trabalho dentro do lixão municipal. Em dezembro de 2012, o local foi fechado pela prefeitura, e após reivindicações dos catadores e intervenções do Ministério Público Estadual (MPE), o lixão foi reaberto, mas regras foram implantadas para a entrada e permanência de trabalhadores no local. O fechamento inicial foi justificado pela implantação do novo aterro sanitário, em conformidade com a Lei nº 12.305 que institui o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que foi coordenado e elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, e acompanhado pelo Comitê Interministerial, criado pelo Decreto nº 7.404/10, que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O plano deve ser implantado em todo o Brasil até 2016. O novo local para destinação do lixo urbano fica ao lado do atual lixão, no mesmo terreno. Dentre as diversas diferenças entre os dois locais, a principal delas que afeta os catadores é que no primeiro lugar eles não podem entrar, enquanto no segundo trabalham há décadas no meio do lixo depositado pelos caminhões da coleta. Já que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê a proibição de trabalhadores dentro do lixão, ao mesmo tempo o documento obriga que as
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prefeituras e concessionárias de coleta de lixo construam Usinas de Triagem de Resíduos (UTR) onde os catadores de materiais recicláveis possam reaproveitar o lixo para a reciclagem. Atualmente existe uma cooperativa de catadores localizada no bairro Dom Antônio Barbosa, com cerca de 140 membros. A organização é fruto da iniciativa dos próprios trabalhadores. A maioria deles foi contrária ao fechamento do lixão, pois a UTR não estava pronta, o que descumpre o acordo firmado entre a prefeitura e a cooperativa. Um dos focos desta pesquisa é mostrar a profissão e condições de trabalho dos catadores de lixo e quais consequências essas mudanças de lixão para aterro estão trazendo para suas vidas, na questão econômica, social e cultural. Outro ponto a ser explorado é a forma de coleta e venda dos materiais retirados do lixão. Além de analisar a UTR, seus benefícios e prejuízos na visão dos trabalhadores. Para entender o contexto do lixo e os organismos que compõe esse ciclo também buscaremos as partes envolvidas e suas funções.
1.1 Justificativa O respeito e a atenção aos profissionais dessa área devem ser considerados principalmente a partir de 2014, quando as cidades brasileiras terão que desativar os lixões existentes, conforme prevê o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Diante dessa situação, o que muda na vida do catador de lixo? O poder público está preocupado em reinserir esse indivíduo na sociedade? De que forma isso será feito? Quem ganha e quem perde com essa alteração? Optamos
pelo
modelo
de
curta-metragem
dentro
do
documentário
audiovisual, em que a duração do filme não excede 30 minutos. Acreditamos que diminuir o tempo pode comprometer o entendimento da cadeia de resíduos sólidos de Campo Grande, e prolongar o tempo de duração pode tornar o material cansativo e repetitivo.
1.2 Objetivo Geral Produzir um documentário que aborde os organismos e mecanismos que compõem a cadeia de produção de resíduos sólidos de Campo Grande, desde o
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descarte do lixo produzido pela população até os catadores de materiais recicláveis que trabalham em usinas de triagem e no lixão da cidade de Campo Grande - MS.
1.3 Objetivos Específicos Compreender a realidade do lixo, produção, coleta, destinação e reciclagem de Campo Grande; Mensurar a produção de lixo na cidade; Conhecer a rotina dos catadores de materiais, o ganho médio mensal e a carga horária de trabalho; Entender a importância dos compradores de materiais recicláveis e quanto pagam pelos materiais; Compreender a importância da transição de lixão para aterro e por que órgãos públicos, como a Defensoria Pública, estão ligados diretamente com o assunto; Contribuir para a construção de uma nova realidade acerca dos catadores de lixo e promover o respeito à profissão de quem recicla materiais, ressaltando a importância social desses agentes para manutenção da sociedade; Avaliar as vantagens e desvantagens das mudanças para os catadores sob diversos pontos de vistas, incluindo aspectos de saúde e economia entre outros; 2. ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO A ideia inicial era mostrar a reação dos catadores diante da mudança no sistema de trabalho com a execução do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, analisar quais os impactos dessas transformações na vida do profissional, pessoal e economicamente falando. Mas depois de algumas visitas e conversas com os catadores resolvemos ampliar a discussão e retratar a cadeia de resíduos sólidos em Campo Grande – MS, desde o descarte até a transformação.
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Em relação ao meio que trabalharíamos, escolhemos inicialmente o formato foto-vídeo. Após algumas discussões, resolvemos trabalhar com o formato audiovisual devido à diversidade de imagens e valorização dos depoimentos dos personagens.
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3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 3.1 Período Preparatório O projeto inicial do trabalho surgiu no segundo semestre de 2012, durante as aulas de planejamento da pesquisa em jornalismo, ministrada pela professora doutora Greicy Mara França, que meses depois aceitou nosso convite para ser a orientadora da pesquisa. Foram extremamente importantes os estágios antes da decisão final, quando estivemos em contato direto com o tema, em dezembro do ano passado, quando aconteceu o fechamento do lixão. O que nos chamou a atenção inicialmente foram as mudanças que ocorreriam em relação à cadeia de resíduos sólidos de Campo Grande, justamente durante a execução do nosso trabalho. Afinal, toda a população seria atingida com a destinação correta do lixo. E o que mudaria para os profissionais que vivem disso? Mesmo sem a certeza de qual tema trabalharíamos, e já que tivemos a oportunidade de acompanhar o episódio, registramos tudo. Durante a desativação do lixão houve manifestação, catadores foram detidos e policiais utilizaram bombas de efeito moral e balas de borracha para dispensar a manifestação. Outros episódios também marcaram essa transição, como por exemplo, a liminar judicial que foi concedida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) autorizando o acesso dos catadores ao lixão. Na época em que a UTR (Usina de Triagem de Resíduos) foi ativada os catadores reclamaram que o local estava inacabado e não tinha condições de comportar todos os trabalhadores que frequentavam o lixão. Então a Defensoria Pública entrou com o pedido de liminar judicial para autorizar a entrada dos catadores no lixão. Nesse período, também começamos a fazer os primeiros embasamentos teóricos, começando pela consulta do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e posteriormente a definição do produto e formato para o trabalho de conclusão de curso. Fizemos também uma pesquisa em livros na Biblioteca Central da UFMS que abordassem o assunto em questão. Encontramos os livros “Aspectos Econômicos da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”, de Larissa Steiner Chermont e Ronaldo Seroa da Motta, “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, de Sabatai Calderoni e “Gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil”, de José Dantas de Lima, que tratam sobre
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questões ambientais, socioeconômicas e culturais dos resíduos sólidos, e o livro “Documentário, Realidade e Semiose: os sistemas audiovisuais como fontes de conhecimento”, do professor Hélio Godoy, que aborda a importância dos documentários para mostrar a realidade. Todos os livros foram importantes para ajudar a definir o viés do documentário e a abordagem que buscaríamos.
3.2 Execução 3.2.1 Reconhecendo a área
Antes mesmo de darmos início ao planejamento, mas com o tema já definido, fomos até ao lixão para verificar qual situação encontraríamos, pois entendemos que seria fundamental ver a realidade de perto para avaliar o que poderíamos extrair para a pesquisa. A princípio buscamos entender as consequências do fechamento do lixão, em dezembro de 2012, após a inauguração da UTR. Deparamo-nos com diversas opiniões entre os catadores sobre o fechamento do lixão e a construção da UTR e já sentimos a primeira dificuldade em conseguir contato com essas pessoas, principalmente quando citávamos que posteriormente a conversa seria gravada em vídeo. Como na época não tínhamos solicitado autorização para entrar no lixão, abordamos os trabalhadores que estavam encerrando o expediente de coleta e indo para casa.
3.2.2 Primeiro contato com fontes e personagens
Em conversas breves, durante nossa primeira visita ao lixão, questionamos a renda mensal de um catador de material reciclável que trabalha no lixão. A maioria teve receio de revelar o valor do ganho mensal, mas em comum, todos afirmaram que a estimativa é de R$ 300 por semana, quando a semana é fraca. Segundo os catadores, o trabalhador da cooperativa fatura menos do que esse valor, por isso a resistência da maioria deles em abandonar o lixão e ir para a UTR. Questionados sobre os pontos negativos da interdição do lixão e deslocamento para a UTR, a maioria deles diz que a queda na renda mensal é a pior consequência. Alguns deles reconhecem que as condições de trabalho e saúde são melhores na UTR, mas reclamam da falta de estrutura do local que ainda está em
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obras. Outra queixa é em relação à liderança da cooperativa, pois eles temem que algum integrante da liderança ganhe mais salário que outros e trabalhe menos. Segundo eles, na usina existem pessoas que ganham mais por ter maior influência. Sobre o horário de trabalho, em conversas informais no início da execução do trabalho, levantamos que a maioria dos catadores prefere coletar material à noite. Eles explicam que nesse período o material despejado no lixão é proveniente da região central da cidade, e dos bairros ‘mais altos’, como classificam os bairros mais nobres. O receio do grupo é que na UTR não terá mais a seleção do material que será coletado, já que a proposta do município é de que o lixo da coleta seletiva seja disposto na UTR. Além desse problema, o outro empecilho apontado pelos catadores é a falta de vagas para operar na UTR e a diminuição do salário. Foi possível perceber que a ideia de cooperativismo e associação é uma realidade distante dos catadores que hoje trabalham no lixão. Eles pensam em trabalhar por conta própria, sem ter patrão ou chefe, e poder ganhar o salário compatível com a força de trabalho empregada.
3.2.3 Conhecendo a Usina de Triagem de Resíduos
No segundo momento da execução, fomos conhecer a UTR mesmo sem autorização. Conseguimos entrar e registramos imagens do local e dos operadores da UTR com a ajuda do cinegrafista da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Nelson Mandu. Conversamos informalmente com operários do local e constatamos a primeira dificuldade encontrada no momento anterior, que era de gravar os depoimentos dos catadores e creditar com nome completo. Eles alegavam medo de represálias, tanto por parte dos colegas de UTR quanto por parte da prefeitura. A ideia seria mostrar que Campo Grande é deficiente na parte final da cadeia da reciclagem, já que possui poucas empresas/indústrias de reciclagem. Encontramos a indústria Metap (Metais e Aparas de Papel), que trabalha com plástico, papel, metais, onde fizemos nossa pesquisa de campo, captação de imagens e entrevistas com o proprietário e dois funcionários.
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Começamos a fazer reuniões e coletar informações, trocar e-mails e fazer contatos com fontes e personagens. Depois da visita ao lixão, e ainda sem orientador, consultamos alguns professores do curso para nos auxiliarem a definir um viés para o produto. O professor Eduardo Romero nos orientou a consultar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que regulamenta o manejo correto dos resíduos sólidos em todo o país e estabelece que todos os municípios brasileiros desativem seus lixões e criem aterros sanitários até agosto de 2014. Os professores Marcos Paulo e Silvio Pereira nos indicaram documentários que poderiam contribuir para a elaboração do documentário.
3.2.4 Conhecendo a cadeia de resíduos sólidos e seus integrantes
Em julho de 2013, acompanhamos uma audiência pública na Câmara de Vereadores que discutia o destino dos carroceiros de Campo Grande. O tema entrou em discussão porque, de acordo com o Código Sanitário Municipal de Campo Grande, há quatro anos este profissionais trabalham na clandestinidade e desrespeitam o artigo 68 do referido código, onde fica “proibida a permanência, a manutenção e o trânsito de animais nas vias públicas ou locais de livre acesso ao público”, e o artigo 70, também do Código Sanitário de Campo Grande, onde “é proibida a criação e a manutenção de animais de espécie suína, bovina, ouvia, caprina, equina e galináceos na zona urbana do município”. A relação desses artigos com esta pesquisa surge no fato de que os carroceiros utilizam os veículos de tração animal muitas vezes para fazer coleta de lixo e materiais recicláveis. Na referida audiência, reuniram-se diversos segmentos como o Fórum Municipal de Lixo e Cidadania, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara, a União dos Trabalhadores em Carroças de MS, a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis dos Aterros Sanitários de Mato Grosso do Sul e a Comissão de Meio Ambiente da OAB-MS. Ainda no mês de julho, tivemos que definir o professor orientador. Como já tínhamos escolhido o formato de audiovisual, pensamos em convidar o professor de telejornalismo, Marcelo Câncio, mas ele aguardava a resposta de um processo seletivo para pós-doutorado na Espanha. Em seguida, o professor nos informou que havia sido aprovado e viajaria para a Europa.
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Depois disso, recebemos o email do então coordenador do curso, Silvio da Costa Pereira, sobre o prazo para escolha do orientador do TCC. Então conversamos com a professora Greicy Mara França e ela aceitou nos orientar. Logo nas primeiras conversas surgiram diversas ideias quanto à estrutura do produto, indicação de fontes e abordagens teóricas. Também foi cogitada a utilização de uma câmera filmadora amadora para captura das imagens do trabalho, mas, conforme consta no item “Alterações no plano de trabalho”, acabamos optando por usar os cinegrafistas da universidade. A professora nos emprestou DVD de outros trabalhos também orientados por ela e também de documentário, para termos base de inspiração. No fim de julho, aproveitamos uma exposição sobre lixo, intitulada “Lixo é quase nada”, realizada pelo Sesc Horto para nos aprofundar no tema. No local, fizemos diversas imagens e gravamos entrevista com o professor responsável pela mostra, Hamilton Correa. A exposição abordou o ciclo do lixo, desde o descarte até a reutilização ou reciclagem. Cada fase do ciclo era representada por maquetes, painéis com informações e fotos e vídeos. Hamilton também é professor de física na UFMS e coordenador da Casa da Ciência da UFMS. Dentre as principais contribuições, o professor comenta a importância de se exercitar a consciência ambiental, e levanta questões polêmicas sobre a produção do lixo.
3.2.5 Entrevistas com fontes oficiais (Solurb, OAB, Defensoria Pública)
Como resolvemos abordar a cadeia de resíduos sólidos, tivemos que buscar fontes de todas as etapas da cadeia, da coleta e transporte até a venda e transformação do material reciclável. Por isso, buscamos ajuda da Solurb, empresa responsável pelo serviço de coleta e disposição do lixo em Campo Grande. Dependíamos também da autorização da empresa para entrarmos no lixão. Essa solicitação foi feita através de ofício, entregue na sede da Solurb, e foi atendida depois do combinado. Entrevistamos o gerente operacional da empresa, que nos informou dados da coleta, número de funcionários e caminhões, quais serviços são realizados.
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Também procuramos a Defensoria Pública para comentar principalmente a situação dos catadores antes, durante e depois da implantação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A defensora Olga Lemos já era nossa conhecida desde o episódio do fechamento do lixão, em dezembro de 2012. Na época, ainda não estávamos fazendo o TCC, mas tivemos contato direto com ela por conta dos nossos estágios. A defensora comentou o acordo que o Órgão fez com a prefeitura para que os catadores passassem por um curso de capacitação, previsto pelo PNRS antes do fechamento do lixão. Também buscamos informações para embasar questões jurídicas e legais referente ao plano. Procuramos o vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul (OAB/MS), o advogado Arlindo Muniz que explicou as exigências do plano, prevê que os municípios tenham suporte técnico para cumprirem as determinações de fechamento de lixões e implantação de coleta seletiva. Para entender a questão social, buscamos aprofundar o diálogo com os catadores que trabalham dentro do lixão. Só assim pudemos entender que o grupo se divide em duas ideias: a primeira de que o fechamento do lixão será negativo, e a segunda de que será positivo, pois eles continuarão trabalhando com reciclagem, mas com estrutura e segurança. Ficou claro que os trabalhadores que ali frequentam o fazem por opção e escolha própria, e essa decisão é orientada pela questão econômica e financeira. Eles alegam que é mais vantajoso financeiramente trabalhar com coleta de material do que como servente de pedreiro, pizzaiolo ou outras profissões com carteira assinada. Fizemos duas visitas ao lixão. A primeira durante o dia, quase fim de tarde, quando os catadores esperavam os compradores dos materiais e negociavam peso e valor. O segundo dia foi de madrugada, antes do sol nascer, para mostrar o horário em que os catadores chegam ao lixão e já começam a trabalhar.
3.2.6 Fechando a cadeia do lixo (depósito e indústria)
Após as fontes oficiais e os personagens, buscamos as outras duas categorias que pertencem a cadeia: os compradores do lixão e os sucateiros da
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indústria. Encontramos a Maria Estela no lixão, no primeiro dia que fomos, durante a tarde. Ela nos explicou como funciona a compra e qual o valor pago por cada material. Depois buscamos saber quantas e quais indústrias de reciclagem existem em Campo Grande, para onde os materiais são destinados após a compra dos catadores no lixão. O coordenador do curso de Tecnologia em Saneamento Ambiental da UFMS, professor Ariel Ortiz, um catador e o gerente operacional da Solurb, Bruno Velloso, nos indicaram a Metap como a principal empresa da cidade. Fizemos contato com o Ricardo Luiz Ferreira, proprietário do local e marcamos entrevista. No primeiro momento ele nos contou sobre o surgimento da empresa, sobre o mercado da reciclagem no estado e mostrou parte do trabalho desenvolvido na indústria. Por conta da limitação de tempo e pela condição climática do dia (garoa e tempo nublado), resolvemos voltar outro dia para acompanharmos mais de perto o trabalho na indústria. A decisão foi embasada pelo fato da empresa fazer a transformação do plástico em matéria-prima novamente, ou seja, a produção do polietileno. O Ricardo nos explicou que esse material depois de voltar a ser matéria-prima é vendido para São Paulo, onde é usado para fabricar produtos plásticos, como lona agrícola, por exemplo. Também explicou que em Mato Grosso do Sul não existem indústrias que reaproveitam a matéria-prima do plástico, e atribuiu esse fator ao alto custo para instalação e manutenção de uma indústria desse porte.
3.2.7 Decupagem, roteiro e edição
Depois de coletarmos todas as informações, e principalmente pela proximidade com o prazo final para entrega do relatório e do produto audiovisual, começamos a decupar as entrevistas e montar o roteiro do documentário. A tarefa demandou tempo e conhecimento teórico sobre o tema. Em primeiro lugar montamos o roteiro e começamos a edição básica. Depois fizemos contato com um editor de imagens, para que ele fizesse a edição final do material, principalmente por
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conta da estrutura que nos faltava, como equipamentos para edição e programas de edição.
3.3. Revisão Bibliográfica ASIMOV, Isaac. Espera mil anos e verás que será precioso até o lixo deixado atrás por uma civilização extinta. 2013. Disponível em: <pensador.uol.com.br/frase/NTI4OTUx/>. Acesso em: 18 nov. 2013. CALDERONI, Sabetai. Os Bilhões Perdidos no Lixo. 4. Ed. São Paulo: Humanitas Editora /FELCH/USP, 2003. CHERMONT, Larissa Steiner; MOTTA, Ronaldo Seroa da. Aspectos Econômicos da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: Ipea, 1996. COSTA, Fernando Braga da. Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social. Rio de janeiro: Editora Globo, 2004. D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero; VILHENA, André. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. FONSECA, Edmilson. Iniciação ao Estudo dos Resíduos Sólidos e da Limpeza Urbana. 2. ed. João Pessoa: JRC, 2001. GANDHI, Mahatma. Cartas ao Ashram. São Paulo: Ed. Hemus, 1982. GOVERNO FEDERAL. Lei Federal nº 12.305/2010. Brasília: GOVERNO FEDERAL, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 17 nov.2013. IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. Situação social das catadoras e dos catadores de material reciclável e reutilizável. Brasília: IPEA, 2013. Disponível em:<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/situacao_social/130910_relat orio_situacaosocial_mat_reciclavel_regiaocentrooeste.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2013. JESPERS, Jean-Jacques et al. Jornalismo televisivo: princípios e métodos. Coimbra: Minerva, 1998. MATO GROSSO DO SUL (Estado). Legislação Ambiental de Mato Grosso do Sul. de 11 de junho de 2012. Disponível em: <http://www.imasul.ms.gov.br/index.php?inside=1&tp=3&comp=&show=5013>. Acesso em: 17 nov. 2013. MICHELS, Ido et al. Resíduos Sólidos Urbanos. 1.ed. Campo Grande: UFMS, 2004.
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4. SUPORTES TEÓRICOS E PRÁTICOS ADOTADOS 4.1. Fundamentação teórica “O rico possui grande quantidade de coisas supérfluas, que não necessita e que são logo em seguida abandonadas e desperdiçadas, enquanto milhões de homens morrem de fome.” 1, afirmação feita por Mahatma Gandhi mostra que o desperdício de alguns é o pão de cada dia de muitas outras pessoas. Essa discrepância no conceito de lixo para cada indivíduo da sociedade mostra que o que vai para o lixo vale muito para alguns, como veremos em muitas histórias que vamos acompanhar. Em meio às mudanças que estão ocorrendo em Campo Grande em relação à disposição dos resíduos sólidos, e que afetam diretamente os catadores de materiais recicláveis, tentaremos esclarecer o funcionamento da cadeia de resíduos sólidos e a definição de aterro sanitário. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define os aterros sanitários como:
técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza os princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se for necessário (SILVA, [ca. 2013], p.2). ] Em Campo Grande, o aterro sanitário foi inaugurado em dezembro de 2012, um mês após a concessionária CG Solurb assumir o serviço de coleta e disposição do lixo. Desde então, os resíduos sólidos coletados na capital passaram a ser despejados em uma área de transição criada pela empresa para que os catadores pudessem continuar a atividade de coleta de materiais recicláveis. A criação dessa área foi necessária devido à proibição de entrada e permanência dos catadores na área do aterro sanitário, estipulada pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A proibição é justificada pela conservação da
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Frase de GANDHI, Mahatma. Cartas ao Ashram. São Paulo: Ed. Hemus, 1982, página 44.
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manta ecológica que envolve o solo e é indispensável para evitar ao máximo a contaminação dos lençóis freáticos. Nesse contexto, diariamente os resíduos que não são coletados pelos catadores, na área de transição, são destinados ao aterro sanitário.
Segundo Costa (2004, p.23):
Estimativas apontam que cada pessoa produz, em média, um quilo de lixo por dia. Em muitas cidades, o acúmulo de resíduos gera problemas de saúde pública e de ordem social. Os catadores autônomos tiram cem toneladas de lixo por dia, enquanto a coleta seletiva das principais prefeituras das cidades brasileiras não chega a ultrapassar o contingente de 60 toneladas de resíduos recolhidos das ruas e casas. A questão do lixo em Campo Grande, bem como em outras capitais brasileiras, está basicamente na argumentação de Portilho (2005) sob os enfoques social, econômico, ambiental e da saúde. De acordo com o Michels (2004), a Câmara Municipal promulgou o 1º Código de Posturas da Vila de Campo Grande, que definia algumas medidas sobre a questão da limpeza pública, estabelecendo normas que a população deveria seguir em relação ao lixo que produzia. O autor ainda explica que na década de 1930, o município passa a ter responsabilidade sobre os serviços de limpeza pública; com o crescimento populacional e consequente aumento da geração de lixo por pessoa, a situação começa a se tornar preocupante. O município passou a cobrar um imposto para remoção do lixo, que era transportado de forma precária, em carroças, e disposto a céu-aberto. Na década de 1940, segundo Michels (2004), o lixo era coletado somente na área central da cidade, disposto a céu-aberto, às margens do córrego Segredo e em terrenos baldios, sem separação do lixo hospitalar. Na década de 1950 a cidade passou a contar com dois caminhões e um trator para a coleta de lixo, iniciando um trabalho de coleta e destinação final rumo à periferia, em regiões próximas ao espaço habitado. Em 1960, Campo Grande já possuía 74.200 habitantes. Com as novas tecnologias de urbanização às margens do córrego Segredo, ocorreu a mudança do local de destinação final dos resíduos, antes às margens do
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córrego, passando a ser depositado em áreas mais afastadas do centro. Eram quatro caminhões para a coleta (MICHELS, 2004). Em 1974, os serviços de limpeza pública atendiam a 50% das edificações urbanas e a estrutura contava com 5 caminhões e 29 trabalhadores. Anos depois, em 1981, a limpeza passou a ser dividida em duas partes: varrição da prefeitura e coleta de lixo feita pela empresa Vega Sopave – Engenharia Ambiental. Essa divisão funciona até hoje, mas atualmente a empresa CG Solurb é a responsável (MICHELS, 2004). Cadeia de produção pode ser definida como “a etapa de industrialização que representa as firmas responsáveis pela transformação das matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor.” (BATALHA, 1997 apud MICHELS, 2004, p.69). Em relação à cadeia produtiva dos resíduos sólidos urbanos, a etapa de transformação é dividida em duas partes; a primeira se refere às empresas “aglutinadoras”, que são os depósitos de materiais recicláveis, que fazem a triagem e comercialização destes, e a outra são as indústrias que utilizam o material reciclável como insumo de produção. Pretendemos incluir os proprietários destas empresas em nossas gravações para relatarem sobre as negociações que costumam fazer com os catadores, o capital que gira em torno das vendas, traçar o panorama da indústria da reciclagem em Campo Grande. No âmbito econômico, a cadeia produtiva da reciclagem de resíduos urbanos é uma estrutura composta pelos catadores informais, os empreendimentos de coletivos, que são as associações ou cooperativas, depois aparecem os intermediários; os sucateiros e empresas recuperadoras, e então, as empresas de reciclagem em si. O trabalho de coleta de resíduos não é recente no Brasil. Há cerca de 50 anos estes profissionais participam do contexto do país, e desde a metade do século XX os lixões compõem o cenário das cidades brasileiras. Atualmente são mais de 800 mil catadores no país, sendo informais ou organizados em cooperativas (MICHELS, 2004). Muitos deles, excluídos do mercado de trabalho, encontram na coleta uma oportunidade, sua inclusão no trabalho e geração de renda. De acordo com o Censo Demográfico 2010, a região Centro-Oeste concentra 29.350 catadores de material reciclável. Destes 4.972 estão em Mato Grosso do Sul.
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46% dos trabalhadores do Estado possuem entre 30 e 49 anos, e a maioria do total é de homens (IPEA, 2013). A categoria profissional de Catador de Material Reciclável foi reconhecida em 2002, no Código Brasileiro de Ocupações (CBO). Entretanto, essa classificação ainda não foi totalmente internalizada nas pesquisas domiciliares e de mercado de trabalho no Brasil. Segundo Calderoni (2003, p.81):
o acelerado processo de transformação por que passa a sociedade contemporânea tem consequências ambientais que só recentemente – sobretudo a partir dos anos setenta – começaram a ser objeto de maior atenção por parte dos governos e das organizações comunitárias. Sobre o mesmo tema, o autor diz que há cerca de 30 anos, a questão ecológica foi incluída no debate público, fator que contribuiu para o aumento considerável da consciência social sobre o tema ambiental, como, por exemplo, na Conferência Mundial de 1992, no Rio de Janeiro (CALDERONI, 2003). Outra questão abordada por Calderoni (2003) se refere aos lucros da indústria da reciclagem.
O fato é que a questão da viabilidade econômica da reciclagem do lixo vem sendo negligenciada nos estudos até agora desenvolvidos. Isto dificulta sua compreensão em termos mais amplos, não permitindo distinguir, contextualizadamente, os interesses de cada um dos agentes, em particular, nem o interesse da sociedade como um todo. A atividade da reciclagem do lixo chega a movimentar recursos da ordem de uma centena de bilhões de dólares em países como os Estados Unidos, a maior parte da Europa e o Japão. No Brasil, também é da ordem de bilhões de dólares a magnitude dos interesses econômicos envolvidos na questão da reciclagem (CALDERONI, 2003, p.33). A reciclagem como opção de política governamental é cada vez mais fundamental nas sociedades, como explicam Chermont e Motta (1996), quando dizem que a necessidade e disposição das sociedades em diminuir o volume de resíduos sólidos produzidos deve ser incentivada pelos governos.
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A opção governamental de incentivar a reciclagem de materiais não deve ser adotada apenas pela crença em seus benefícios ambientais, mas em função de que estes, uma vez mensurados, superem os cursos implicados. A prerrogativa de confronto entre cursos (financeiros e sociais) com os benefícios da atividade recicladora, permitida pela análise custo-benefício, fornecerá um balanço final desta atividade em relação às demais (CHERMONT; MOTTA, 1996, p.7). A lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos2, não utiliza o termo lixo. Define o que são resíduos sólidos e rejeitos. O primeiro denominado como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água. Em outros casos, o descarte e a disposição exigem para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. E rejeitos são resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. Além dos livros adotados como referencial deste trabalho, também utilizamos a fundamentação teórica de diversas disciplinas frequentadas durante o curso. A principal delas foi a de prática em telejornalismo, na qual exercitamos o olhar jornalístico para a produção de material audiovisual. Dentre as outras disciplinas estão Redação Jornalística I, II, II e IV, reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística, Edição, Fotografia, Fotojornalismo, Ética e Legislação e Jornalismo Ambiental.
4.2. Formato e Gênero
2
Legislação disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 17 nov. 2013.
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A escolha do formato e gênero do trabalho foi influenciada pela diversidade de possibilidades de elementos visuais e de depoimentos que o audiovisual oferece. Como parte do trabalho aborda a realidade dos catadores de lixo, que são marginalizados e discriminados pela sociedade, acreditamos que o depoimento dessas pessoas em forma de entrevista poderia representar com maior riqueza de detalhes o sentimento delas. O documentário é um gênero cinematográfico que possibilita a exploração da realidade ao máximo, conforme Jean-Jacques Jespers (1998), autor da obra “Jornalismo televisivo”, em que destaca que o documentário resulta de um olhar pessoal sobre determinado fato, acontecimento, assunto ou tema, baseado no ponto de vista do documentarista. Outro fator importante descrito pelo mesmo autor se refere ao uso de imagens, que neste caso têm o papel obrigatório, com maior valor informativo e menos ilustrativo.
De acordo com Godoy (2001, p.27):
O documentário, entre as inúmeras tendências audiovisuais, pode então passar a ser considerado como uma das adaptações culturais desenvolvidas na evolução da espécie humana, onde a questão do Conhecimento e da Realidade assume posição destacada. Sua forma de produção aproximase do fazer investigativo, que também está presente na ciência. Neste contexto, o formato contribuiu para explorar toda a cadeia de resíduos sólidos até a reciclagem. Esta atividade permite refazer a cadeia, recuperar, voltar a ser matéria-prima, e claro, o catador de material reciclável é peça fundamental nesse processo.
4.3 Suporte prático Câmera de filmagem da universidade; Câmera fotográfica Sony; Câmera de foto, vídeo e gravador de voz do celular Samsung Galax Y;
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Câmera de foto, vídeo e gravador de voz do celular Iphone 4; Câmera fotográfica da UFMS, departamento de Jornalismo Nikkon D7000; Notebook Samsung RV41; Netbook Acer.
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5. OBJETIVOS ALCANÇADOS Depois da produção deste trabalho, foi possível compreender a realidade do lixo, descarte, coleta, destinação e reciclagem em Campo Grande e: Mensuramos a produção de lixo na cidade; Detalhamos as formas de coleta do lixo e destinação; Conhecemos o trabalho dos catadores de materiais e o ganho médio mensal desses trabalhadores; Analisamos a carga horária e condições de trabalho; Conhecemos a importância profissional dos catadores de lixo e dos compradores de materiais recicláveis; Acompanhamos a rotina de trabalho, desde a coleta do material reciclável até a venda do produto; Conhecemos os compradores desses materiais e saber quanto eles pagam; Compreendemos a importância da transição de lixão para aterro sanitário e por que órgãos públicos, como a Defensoria Pública, estão ligados diretamente; Acreditamos ter contribuído para a construção de uma nova realidade acerca dos catadores de lixo e promover o respeito à profissão de quem recicla materiais, ressaltando a importância social desses agentes para manutenção da sociedade; Confrontamos as semelhanças e diferenças do lixão e aterro sanitário; Analisamos os impactos na atuação dos catadores do lixão antes e após a implantação do aterro sanitário e a proibição de entrada e permanência no lixão.
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6. DIFICULDADES ENCONTRADAS A primeira dificuldade encontrada foi conseguir autorização para entrar no lixão. A segunda barreira foi nos aproximar dos catadores e conquistar a confiança para gravar os depoimentos deles. Em relação aos equipamentos, não localizamos um carregador para a câmera de mão que nós mesmas faríamos imagens. A última dificuldade foi em relação à distância até o lixão, que fica na saída para Sidrolândia. Perdemos boa parte do tempo com o deslocamento até lá, e grande gasto com combustível.
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7. DESPESAS (ORÇAMENTO)
DESPESA
VALOR
Gasolina
R$ 400,00
Impressão e encadernação
R$ 40,00
Total
R$ 440,00
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8. CONCLUSÕES A questão do lixo está tão presente na vida da população que, apesar de passar despercebida diariamente, tem grande repercussão quando algum problema afeta o funcionamento habitual da cadeia dos resíduos sólidos de uma cidade. Imagine ficar com o lixo acumulado em casa por dois dias que seja? Foi o que ocorreu em 19 e 20 de setembro de 2013 em Campo Grande. A coleta de lixo nas residências foi paralisada pelos funcionários por falta de pagamento que deveria ser feito pela administração municipal. O fato, que durou apenas dois dias, ganhou notoriedade na imprensa, principalmente porque a população se sentiu desrespeitada por ter o serviço interrompido. Afinal, quem gostaria de ter o lixo com odor desagradável na calçada de casa? E se pensarmos que apesar de ser rejeitado por quem o produz, o lixo é a única fonte de renda para muitas pessoas. Segundo o Censo Demográfico de 2010, são 4.972 catadores em Mato Grosso do Sul (IPEA, 2013). Com a produção deste videodocumentário, esclarecemos vários pontos da cadeia de resíduos sólidos em Campo Grande, seu funcionamento, quais as etapas, os segmentos envolvidos, o que ocorre de fato com o resíduo, desde sua coleta até sua transformação. O paradoxo entre o lado ruim e o lado bom do lixo também é apresentado no documentário “Lixo nosso de cada dia”, que sugere a discussão sobre a questão social, ambiental e econômica, buscando abordar a situação de pessoas que vivem na cadeia de resíduos sólidos. A sociedade de um modo geral vê o catador de lixo como uma pessoa marginalizada, que não tem outra possibilidade de emprego e renda, quando na verdade, muitos deles escolhem e preferem trabalhar nos lixões, mesmo diante dos riscos à saúde. A população de Campo Grande gera mais de 750 toneladas de resíduos sólidos diariamente, cerca de 1 kg por habitante, conforme a concessionária responsável pelo manejo de lixo em Campo Grande, a CG Solurb. São resíduos de origem domiciliar, comercial e hospitalar. A cidade é dividida em 102 setores alternados e diários para a realização da coleta convencional. A região central é atendida todos os dias na parte da noite.
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Os demais bairros recebem a coleta em dias alternados segunda, quarta, sexta e terça, quinta, sábado. Para garantir a limpeza da cidade, a CG Solurb emprega 800 funcionários. Eles são responsáveis pela coleta, varrição e serviços correlatos, que consiste na pintura dos meios fios e capinagem. Tem ainda a coleta seletiva, que passa em 16 bairros, o que representa 10% da cidade, e recolhe oito toneladas de material por dia. A concessionária de coleta de lixo prevê a expansão do serviço em até quatro anos, com a meta de atingir todos os bairros da capital. Enquanto isso, os moradores que não estão incluídos na coleta seletiva podem separar os resíduos em casa e levar para algum LEV (Locais de Entrega Voluntária). De lá os resíduos seguem para a UTR (Usina de Triagem de Resíduos) juntamente com o material da coleta seletiva. A usina foi criada para receber catadores cooperativados que deverão sair do lixão até agosto de 2014. É um dos pontos que determina o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que considera o protocolo de Kyoto e estabelece que até 2015, os países signatários terão que implementar a reciclagem de 20% de toda a sua matéria sólida produzida. O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional que tem o objetivo de fazer com que os países desenvolvidos socioeconomicamente assumam o compromisso de reduzir a emissão de gases poluentes que agravam o efeito estufa, para aliviar os impactos causados pelo aquecimento global. Além disso, são realizadas discussões para estabelecer metas e criar formas de desenvolvimento que não sejam prejudiciais ao Planeta.
O
projeto
do
protocolo surgiu em 1988, na “Toronto Conference on the Changing Atmosphere” no Canadá. A partir desse encontro, várias outras conferências sobre o Meio Ambiente e Clima foram realizadas, até que foi discutido e negociado a criação do Protocolo de Kyoto, no Japão, em 1997. Para alcançar este objetivo de reduzir a emissão de gases poluentes, o Brasil instituiu o documento que trata do fechamento dos lixões do país (Plano Nacional de Resíduos Sólidos) até agosto do ano que vem. Estes locais deverão ser substituídos por aterros sanitários ou controlados que vão garantir o descarte correto do material. Enquanto o prazo não se cumpre, os resíduos sólidos são encaminhados primeiro para uma área de transição do antigo lixão. Os catadores separam desses
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materiais o que lhes interessa, que é tudo o que é reciclável, para vender para os depósitos. Os compradores vão até o local, fazem a pesagem do material lá mesmo e pagam os catadores. Depois os catadores retornam para casa com seu pagamento, e os compradores seguem para seu depósito. No depósito eles realizam uma segunda triagem do material e a compactação para vender para as indústrias de reciclagem. Na indústria que visitamos eles compram todo o tipo de material reciclável, menos o vidro. Com o papel, é feita a desfragmentação e depois a prensagem. Este processo gera fardos de 500 quilos aproximadamente, que são vendidos para empresas de embalagens e papel higiênico. Já as latinhas passam por uma esteira rotatória para tirar as impurezas. Depois vão para a prensa, que deixa as latinhas bem comprimidas em fardos de 20 kg. Isso para facilitar o transporte para outros estados, principalmente São Paulo. O último processo envolve o plástico. Eles possuem uma unidade fabril com duas linhas de produção trabalhando nos três turnos. São produzidas 320 toneladas por mês que são destinadas para produção de sacolas, sacos de lixo, mangueiras, etc. O plástico é separado manualmente e segue para a moagem, onde é triturado. Depois de moído, o material é lavado, secado e compactado. Novamente é triturado e passa por mais duas secadoras. A secagem é extremamente importante porque garante a qualidade do produto. Vem então a parte do derretimento e finalmente cai na bica d’água onde é resfriado. O material é depositado em grandes sacolas e está pronto. Ele é vendido, sobretudo, para a região sudeste do país. Percebemos que o empresário procura tratar alguns materiais e apenas revende-lo para indústrias de outros estados, que são as que realmente operam a fase da reciclagem. Já o plástico passa por várias etapas, é reciclado e poderá ser reutilizado. O debate proposto confrontou o preconceito e tornou visível a importância social dos catadores no fluxo de resíduos sólidos da cidade. Muitos deles não acreditam que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos será cumprido, outros se preparam para ter que trabalhar recolhendo materiais na rua.
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Mesmo com o fechamento dos lixões em todo o país, o agente reciclador nunca perderá sua importância neste ciclo. Eles atuarão nas usinas, em cooperativas, continuarão com a missão de separar o que pode ser reaproveitado e consequentemente contribuir para a diminuição dos impactos sobre o meio ambiente, na parcela de crescimento da economia e o bem-estar da população. A discussão sobre o lixo e a relação da população com ele, não só em Campo Grande, mas em muitos outros lugares do mundo, não são encaradas com a importância que devia. Todos os dias abrimos um pacote de biscoito, apontamos o lápis, compramos algo no mercado, entre outras coisas, gerando lixo diariamente. Muito material é descartado e não é reciclado. A reciclagem tem um conceito que favorece a todos, meio ambiente, população, economia. Por que extrair se a matéria-prima que precisamos já está ao nosso alcance? Por que descartar, se podemos reaproveitar? Acreditamos que este é apenas o começo da valorização de conceitos como sustentabilidade, reciclagem e educação ambiental, por exemplo. Num futuro muito próximo, estes termos farão parte do cotidiano das pessoas; elas se tornarão dependentes desses recursos. E todas essas atividades ainda vão passar por um processo de aperfeiçoamento e de modernização. Ainda assim, é importante considerarmos que o que não serve mais atualmente pode mudar daqui alguns anos. Com o aperfeiçoamento da tecnologia, poderemos reutilizar outros materiais que hoje não temos capacidade de reutilizar. Percebemos o quanto o tema é relevante para a sociedade e como a cadeia de resíduos sólidos possui importância para diversos setores de diferentes classes sociais, do catador ao empresário de reciclagem, dependem economicamente disso. Por isso, a questão que engloba também aspectos sociais, ecológicos e culturais deve ser vista com atenção pelo poder público e principalmente pelo cidadão comum, que faz parte do processo de produção do lixo e também é afetado quanto à coleta, disposição do lixo e todos os cuidados necessários para a saúde pública.
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APÊNDICE A – Roteiro
O QUE É LIXO? (texto surge sobre o fundo de lixo)
// SONORAS SOBRE O QUE É LIXO // (RETRANCA: SONORAS) ANTONIO FOGAÇA JUNIRO “Lixo pra mim é dinheiro, é meio de vida, é você preservar o meio ambiente, reciclando” PEDRO LIMA “lixo é lixo mesmo, não tem nem o que falar, tudo que é de ruim, entendeu, que não tem valor nenhum, isso é lixo pra mim.” GENIVALDO SILVESTRE “Lixo é aquilo que não tem utilidade pra nada, esse que nós recolhe vai voltar a ser outro material, outra vez” JEANE GOETZ “lixo é tudo que não serve mais pra uso, tudo que é descartável, tudo que não serve mais pra nada, que nao tem serventia” HAMILTON CORREA “Lixo é quase nada. A maior parte das coisas que a gente descarta na lixeira pode ser reutilizado e não precisar ser tratado como lixo” ARIEL ORTIZ “Damos o nome de lixo apenas para aquela pequena fração ou parte dos resíduos que nas condições atuais de tecnologia não conseguimos reaproveitar.. ainda.”
ENCERRA INÍCIO COM VINHETA
- TEXTO DE TRANSIÇÃO: DESCARTE
- OFF 1: QUANTO PRODUZIMOS DE LIXO POR DIA? PARA ONDE VAI TUDO ISSO? O QUE É FEITO COM O SACO DE LIXO QUE VOCÊ COLOCA NA CALÇADA DE CASA? PARECE MÁGICA: OS SACOS PLÁSTICOS SOMEM DO DIA PARA A NOITE. E O QUE PARA MUITOS É O FIM DA UTILIDADE DE UM MATERIAL, PARA OUTROS É O INÍCIO DA TRANSFORMAÇÃO. COBRIR COM IMAGENS GENÉRICAS
// SONORA HAMILTON CORREA, DOUTOR EM QUÍMICA E PROFESSOR DA UFMS
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// (RETRANCA HAMILTON CORREA_EXPOSIÇÃO) INÍCIO: 45:36 – Hoje o Brasil, se você pegar o mundo, se todos vivessem como os brasileiros, nós precisaríamos de um planeta vírgula seis. Nós precisaríamos de 60% a mais de planeta, se o mundo vivesse como o brasileiro. O brasileiro não é sustentável, é uma população pequena e não é sustentável. Então a gente precisa mudar esse quadro. A gente precisa ter um planeta, para uma população. E não mais que um planeta, mesmo porque a gente não tem esse planeta. A gente tem que viver nesse planeta e fazer esse planeta ser viável, sustentável.
- TEXTO TELA: DIARIAMENTE SÃO PRODUZIDAS MAIS DE 750 TONELADAS DE LIXO EM CAMPO GRANDE.
// SONORA ARIEL ORTIZ GOMES MARTINS, PROFESSOR E COORDENADOR DO CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DA UFMS
INÍCIO: 02:30
Primeiro nós temos a geração do resíduo, quem gera somos
nós, você gera esse resíduo. Esse resíduo é acondicionado, quer dizer, colocado numa lixeira, num saco plástico. Depois de acondicionado, ele é transportado. Você pode ter transporte interno e externo. Interno é quando você tira o lixo da cozinha e leva em frente da sua casa. Transporte externo seria aquele que o caminhão passa, pega esse resíduo leva para uma estação de tratamento, ou processamento, ou diretamente para o aterro sanitário.
- TEXTO DE TRANSIÇÃO: COLETA/TRANSPORTE
- OFF 2: EM CAMPO GRANDE, A LIMPEZA URBANA E O MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS SÃO RESPONSABILIDADES DA CG SOLURB SOLUÇÕES AMBIENTAIS QUE ASSUMIU O SERVIÇO EM NOVEMBRO DE 2012. O CONTRATO COM A PREFEITURA MUNICIPAL TEM 20 ANOS DE VALIDADE.
//SONORA BRUNO VELLOSO, gerente operacional CG SOLURB (RETRANCA BRUNO VELOSO)
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INÍCIO: 00:00 Hoje a gente trabalha com a coleta convencional, que é a coleta domiciliar e comercial, são feitos em 102 setores no município de Campo Grande. Esses setores são divididos em alternados e diários. São nove setores diários, que é feito a coleta todo dia, e o restante é setores alternados, que coleta segunda, quarta e sexta, ou terça quinta e sábado, diurno e noturno. E por outro lado tem a coleta seletiva, são 16 bairros que a gente coleta, por volta de sete toneladas-dia. Pra fazer a coleta seletiva, a gente trabalha com três veículos. O resíduo da coletiva seletiva vai para a UTR, aonde lá tem uma cooperativa de catadores que fazem a triagem desse material e a comercialização desse material. Na coleta convencional nós trabalhamos com 34 veículos, que são os caminhões coletores compactadores, é um caminhão diferente da coleta seletiva. E aí nós fazemos a coleta hospitalar de resíduos de saúde, a coleta e tratamento desses resíduos e operamos o aterro. Isso engloba os serviços da Solurb. Ao todo são empregados 800 funcionários. FIM 01:34 - TEXTO DE TRANSIÇÃO: FONTE BRANCA COM FUNDO PRETO “Coleta seletiva”
// SONORA BRUNO VELLOSO, SOLUBR (RETRANCA BRUNO VELOSO) INÍCIO: 01:33 “Na verdade hoje a gente tem contratualmente que prover 100% do município de Campo Grande num período de 4 anos, e aí fazemos 10% do município em média FIM 02:50
- DISPOSIÇÃO - OFF 3: DEPOIS DO DESCARTE E DA COLETA, PARTE DOS RESÍDUOS CHEGA AO SEU DESTIO FINAL ENQUANTO O RESTANTE ENTRA PARA A CADEIA DA RECICLAGEM. // SONORA ARIEL ORTIZ INÍCIO: 04:55 – Nós temos três nomenclaturas, ou três categorias que sirvam para disposição do lixo, onde você coloca o lixo, são elas: LIXÃO, ATERRO CONTROLADO E SANITÁRIO. Lixão: onde você deposita o lixo, sem nenhuma
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segurança, controle... gera risco de segurança. Aterro controlado: tem pelo menos uma área de segurança, uma guarita que regula a entrada de pessoas e caminhões, sabe que resíduos estão entrando ali, tem uma vala onde resíduos são depositados, e uma cobertura de terra, com compactação. Aterro sanitário: dispõe de todos itens do controlado, segurança, sabe que resíduo ta entrando, pesagem, quantidade, vala separadas para resíduo de saúde e domestico, serviço de captação de chorume e gases gerados ali. Sistema de impermeabilização, lixo, camada de terra ou argila, solo argiloso, ou camadas de plástico, mantas, lonas que cobrem a superfície do solo, depositado e compactado. ELE USA UMA IMAGEM DO PC. IMAGENS CATADORES NO LIXÃO RETRANCA “IMAGENS LIXÃO PITALUGA” // SONORA GUSTAVO PITALUGA, ENCARREGADO OPERACIONAL CG SOLURB RETRANCA GUSTAVO PITALUGA SONORA INÍCIO 01:14 Diariamente os resíduos coletados nos domicílios são trazidos para cá, aqui essa é a área do antigo lixão, hoje denominada área de transição do aterro Dom Antônio Barbosa I. Então os caminhões depositam os resíduos aqui e posteriormente eles são basculados, são levados para o Dom Antônio Barbosa II, ou seja, de fato para a célula do aterro sanitário. Os resíduos quando saem das residências nos caminhões compactadores, esses caminhões trazem aqui, depositam todo o resíduo aqui, os catadores têm 24 horas, de acordo com uma reunião que nós fizemos junto ao Ministério Público, Defensoria Pública e Ministério do Trabalho, então eles ficam de um dia pro outro separando, catando esses resíduos sólidos, e só então, a Solurb, através de outros caminhões basculantes não caminhão compactador, leva para o aterro sanitário. A remoção desse resíduo é feito através de pá carregadeira e escavadeira hidráulica e hoje atualmente estamos com oito caminhões. Essa coleta é feita das 7h às 17h, de segunda a sábado. (corta nossa fala) Domingo não tem coleta. Os resíduos da varrição também vêm pra cá, só que não tem porque eles [catadores] estarem fazendo a separação de varrição, então os resíduos são levados direto pra célula do aterro sanitário. FIM 02:53
//SONORA ARIEL ORTIZ: PARTE II
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INÍCIO 03:15 Em Campo Grande, nós temos uma usina de processamento de lixo, uma UPL, em que vc pode ter a separação desses resíduos. Então você tem resíduos que podem ser reaproveitáveis e resíduos que são inertes, que nós não podemos utilizar de forma satisfatória. Cumpre ressaltar que, boa parte dos resíduos domésticos, 50% ou mais são resíduos orgânicos e que vc pode utilizar fazendo compostagem. O restante são aproveitáveis ou não, por exemplo, vc pode reaproveitar o plástico, o alumínio, vários outros materiais. Então depois de todo esse processo, só vai para o aterro sanitário, aquilo que de fato não nos serve mais. É importante ter em mente que o que não serve mais hoje pode ser diferente daqui alguns anos, porque como a tecnologia vai aumentando, vai se aperfeiçoando, a gente pode reutilizar outros materiais que hoje não temos capacidade de reutilizar. IMAGENS COM SONORA 04:55 Aqui a gente pode observar o caminhão coletor descarregando os resíduos. Os catadores ficam tudo a volta do caminhão coletor. O nosso operador Solurb está operando o caminhão, então é proibido o catador ficar em volta do caminhão porque existe o risco de ter um acidente no cocho do caminhão, aquele que está descendo, arrebentar uma mangueira do hidráulico podendo ser fatal esse acidente. Então tem um risco de vida de estar nas proximidades. 05:23
// SONORA OLGA LEMOS CARDOSO DE MARCO, DEFENSORA PÚBLICA 05:09 “A gente não vê mais riscos tá? Eles continuam trabalhando normalmente, eles usam os EPIs fornecidos pela solurb. Os que não tem EPI continuam, estão lá trabalhando, ninguém nunca se machucou, eles têm umas regras internas que eles estão cumprindo. Estão indo, trabalhando e conseguindo ganhar o dinheirinho deles”
- TEXTO TELA: A IMPLANTAÇÃO DO ATERRO GEROU PROTESTO DOS CATADORES QUANDO A PREFEITURA FECHOU O LIXÃO, EM DEZEMBRO DE 2012. Texto branco com fundo preto: “18 de dezembro de 2012” // VÍDEO ‘QUEREMOS TRABALHAR’ // (RETRANCA QUEREMOS TRALHAR)
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// SONORA OLGA CARDOSO LEMOS DE MARCO, DEFENSORA PÚBLICA
// (RETRANCA OLGA LEMOS) INICÍO: 06:02 “Foi um descumprimento da lei, porque pra fechar o lixão tem que ter toda uma base já cumprida. Que seria a capacitação dos catadores de materiais recicláveis, a associação deles ou a vinculação a uma cooperativa de catadores e principalmente um local para trabalhar que seria a Usina de Triagem de Resíduos, a chamada UTR, onde pela legislação ela tem que ter maquinários e equipamentos fornecidos pelo município ou pela empresa que for responsável pela coleta de resíduos na cidade”
- TEXTO TRANSIÇÃO: CATADORES
OFF 6: O LIXÃO ABRE DE SEGUNDA A SÁBADO, DAS CINCO DA MANHÃ ÀS CINCO DA TARDE. OS CATADORES CHEGAM CEDO PARA APROVEITAR O QUE ELES CHAMAM DE LIXO VALIOSO, QUE É COLETADO DURANTE A NOITE NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE.
(imagem do sol nascendo e catadores chegando, sobe som // GC Lixão de Campo Grande)
// SONORA DAVID SOUSA TIMÓTEO, CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL INÍCIO: 29:05 “Minha profissão? Eu não tenho vergonha de falar que trabalho no lixão não. Minha ex-mulher era um nojo. É metidinha. Quando comecei a namorar com ela falei que eu trabalhava no lixão, ela não acreditou, fi antes de fechar lá, que eu trabalhava só a noite e a tarde batia perna. Vergonha é roubar, vergonha é roubar, eu não tenho vergonha de trabalhar não.” FIM: 29:55
// SONORA GENIVALDO SILVESTRE DA SILVA, CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL
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INÍCIO: 03:50 “A gente não fica cheiroso trabalhando aí dentro, nunca, mas a gente faz a limpeza do que o rico faz a sujeira. A gente tem ainda a oportunidade de limpar, de deixar a gente a trabalhar aqui dentro. O rico faz a sujeira, a gente vem aqui e faz a limpeza do meio ambiente. Acho que isso é importante pra todos nós, tanto ser humano quanto animal. LIXO: é aquilo que não tem utilidade pra nada, esse que nós recolhemos vai voltar a ser material outra vez, vai ser reutilizado. Entre o rico e o pobre nessa parte do lixo, pra ele todas as coisas são descartáveis, pra nós todas as coisas reutiliza de novo.” FIM: 05:24
// SONORA CLEUZA SOARES DA SILVA, CATADORA DE MATERIAL RECICLÁVEL INCÍCIO: 25:28 “É a necessidade, porque não tem emprego mais, difícil conseguir um emprego né. Na minha idade mesmo, se eu for procurar um emprego por aí, ninguém vai querer, ainda mais que eu tenho esses problemas de diabetes, e se eu caio, machuco, ninguém vai querer me empregar mais, não quer, não adianta 25:50 // 25:51 Graças a Deus eu vivo bem lá. Lá eu faço o que eu quero, não sou mandada por ninguém .25:57 // 18:54 A senhora acha que as pessoas desperdiçam?? Desperdiça, principalmente alimento! Jogam muito, que tem muita criança, gente aí com fome né, e desperdiça muito. Inclusive vai aquele caminhão wall mat, um verdão, cai muito, até sacolaozinho cai, assim arroz, feijão, macarrão, fralda.Esses alimentos que eles jogam fora dá pra alimentar muita gente que tá passando fome por aí.” 20:41 48:00 IMAGENS DONA CLEUZA MOSTRANDO A CASA – TERMINA COM A FALA DELA DE QUE ELA NÃO É DO LIXO 48:36 // SONORA RUDIMAR SOARES REIS, “NANDO”, CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL // RETRANCA NANDO (Início: 03:19) “Eu trabalho aqui desde os 12 anos.” (Fim 03:22) (Início: 04:30) “Eu ganho por mês R$ 5 mil por mês” (Fim: 04:31) (Início 04:34) “Eu tenho carro novo. Se fechar isso aqui pra pagar um salário mínimo pra mim eu não vou” (Fim 04:47)
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Início: 05:48 “Todo mundo que chega aqui chega reportagem, pessoal de fora, chega aqui como um coitado. Todas as pessoas que chegam aqui olham pra nós trabalhando aqui e fala coitado. Mas por que coitado. Eu nunca vi coitado andar de carro G4, ter moto T300, ter casa que vale R$ 30 mil. Eu tenho. Eu não sou coitado. A única coisa que nós precisa é do lixo de vocês” (Fim 06:15) Início 06:40 “Lixo é uma reciclagem pra mim. Lixo pra mim é orgânico e resto de comida. Eu vivo na reciclagem. (Fim 06:59) Início 07:48 “Antigamente chamavam nós de lixeiro, hoje não, hoje a gente é catador de resíduo reciclável”. (Fim 07:54)
// SONORA MÁRCIO DE LIMA GOMES, CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL Início 01:50 “Foi uma felicidade que reabriu o lixão pra nós trabalhar. Hoje to alegre, trabalhando de novo, sossegado, tranquilo. (01:57) Início 02:03 “Aqui é o salário nosso. Tem 15 anos que trabalho aqui, eu e minha mulher” (02:08) Início 02:28 “Não importa a sujeira, importa o dinheiro e o sustento da minha família” (02:35) Início 02:42 “Cada pessoa aqui pra não ganhar nada tira R$ 2 mil por mês”. 02:52 Início 04:34 “O lixo é tudo. É a fonte de renda de 605 catadores que tem aqui. Todo mundo sustenta a família. Aqui tudo no Dom Antônio e Parque do Sol gira em torno do lixão”
- TEXTO: TODOS OS DIAS, O EXPEDIENTE NO LIXÃO TERMINA COM A PESAGEM E VENDA DO MATERIAL COLETADO.
- TEXTO DE TRANSIÇÃO: INDÚSTRIA DE RECICLAGEM
- OFF 6: A RECICLAGEM DIMINUI OS IMPACTOS SOBRE O MEIO AMBIENTE, REDUZINDO A POLUIÇÃO QUE DECORRE DA EXTRAÇÃO E FABRICO DESSE PRODUTOS, ALÉM DE REDUZIR O CONSUMO DE ENERGIA. É A FORMA MAIS EFICIENTE DE GARANTIA DAS RESERVAS NATURAIS DO PLANETA, BEM COMO PARA A ECONOMIA DO PAÍS.
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// SONORA HAMILTON INÍCIO (37:42) “Dos quatro materiais que a gente associa a reciclagem - qual dos materiais pode ser reutilizado mais vezes - Dos quatro materiais que a gente associa a reciclagem, que é o papel, plástico, vidro e alumínio, o alumínio e o vidro podem ser reciclados infinitas vezes, quer dizer, você pode fazer latinha virar latinha, quantas vezes você quiser, você pode fazer o vidro virar vidro, quantas vezes você quiser. Você não precisa buscar novo material no meio ambiente. Inclusive a energia que você gasta pra pegar o minério, a bauxita, e transformar em alumínio é seis vezes mais do que você simplesmente, você pegar o alumínio, que já é alumínio e reprocessar” (39:38) INÍCIO (00:00) O papel e o plástico tem certas limitações, o plástico tem menor tempo de vida de reciclagem. Ele é o que realmente termina se deteriorando no processo. Mas se você já reciclou, duas, até três vezes, e alguns casos até quatro vezes, imagina a quantidade de celulose, de árvores que você evitou de ter cortado. Então essas multiplicação dos pães, ela também é fundamental. No caso do plástico ele pode muitas vezes não virar mais plástico, mas ele pode virar alguma outra coisa que tenha uma vida longa. Vou dar um exemplo, o plástico que você utiliza para fazer a chamada pet, ela pode ser reprocessada várias vezes, e num dos processos ela pode virar tecido. Você tem calça a base de matéria pet, roupas íntimas a base de matéria pet, sabiam disso? (39:38)
- TEXTO TELA: O BRASIL PERDE 8 BILHÕES DE REAIS AO ANO POR NÃO APROVEITAR SEU POTENCIAL RECICLADOR.
// SONORA HAMILTON 40:37 “Você tem um mercado muito ascendente na área de reciclagem, então hoje é rentável você ter uma indústria de reciclagem. Ate um tempo atrás você não tinha escala, hoje você tem escala. Se você criar uma política adequada de coleta, seleção, a cadeia produtiva vai absorver muito bem esse material e vai conseguir colocar no seu ciclo de produção e vai ser muito rentável, vai poder gerar renda para um conjunto de famílias e vai poder gerar riqueza sem deteriorar diretamente a matéria-prima do meio ambiente.” (42:14)
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- OFF 7: RICARDO LUIZ FERREIRA TRABALHA COM RECICLAGEM HÁ 22 ANOS. NO COMEÇO, ELE MESMO COMPRAVA E REVENDIA AS GARRAFAS PARA INDÚSTRIAS DE CAMPO GRANDE. DEPOIS DE SE ESPECIALIZAR NO RAMO, DECIDIU ABRIR A PRÓPRIA EMPRESA E APOSTOU NESSE MERCADO.
//SONORA RICARDO LUIZ FERREIRA, EMPRESÁRIO
- OFF 8: HOJE A INDÚSTRIA METAP TRABALHA COM QUASE CINCO MIL TONELADAS DE MATERIAIS POR MÊS. SÓ DE LATINHAS, SÃO TRINTA E DOIS MILHÕES DE UNIDADES. O PROCESSAMENTO DOS RESÍDUOS É DIÁRIO E DIVIDIDO EM SETORES. //
SONORA
RAFAEL
MOURA,
ENGENHEIRO
DE
PRODUÇÃO
E
DE
SEGURANÇA DO TRABALHO INÍCIO 44:47 “Conforme a gente viu no processo de papel, lá nós temos um desfragmentador e uma prensa, onde aparas de papel branco e colorido, a gente faz a desfragmentação e em seguida e prensagem. Já o papelão, não precisa ser desfragmentado, ele é diretamente prensado naquela prensa digamos ‘super potente’ que nós temos ali que produz em fardos de 500 quilos aproximadamente”
- TEXTO DE TRANSIÇÃO: PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS TEXTO TELA: “Até agosto de 2014, todos os lixões do Brasil deverão ser fechados”
// SONORA ARLINDO MURILO MUNIZ, VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DA OAB-MS INÍCIO: 18:39 “O Plano Nacional de Resíduos Sólidos ele tem como meta principal o protocolo de Kyoto, que estabelece que até 2015, os países signatários terão que implementar a reciclagem de 20% de toda sua matéria sólida produzida. Então, para alcançar isso aí, ele implementou a política nacional de resíduos sólidos traçando uma meta até 2014. Então ele terá aí um ano para se organizar e mostrar que ele alcançou essa meta pro comitê internacional. FIM 19:10
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// SONORA OLGA LEMOS CARDOSO DE MARCO, DEFENSORA PÚBLICA 18:45 “O primeiro passo na verdade era a capacitação. O município segundo a legislação federal deveria ter capacitado todos os catadores há muito tempo atrás, porque a legislação é de 2010. Esse prazo estabelecido em lei que até agosto tem que fechar o lixão ele tem que ser cumprido realmente, só que como toda legislação os prazos são impostos mas os entes não cumprem os prazos. Agora por força de um acordo estabelecido entre nós está sendo lançado o primeiro curso de capacitação promovido pelo município de Campo Grande” IMAGENS DE TRABALHADORES NA UTR – retranca DAVID DE SOUZA Minuto 33 até 40. SONORA OLGA CONTINUA: 17:09 “Eles tem noção de que um aterro um dia não vai ter mais acesso a eles. Aliás, eles tem noção que o material reciclável vai ter que vir para eles já separadinho de todas as casas. Só que essa consciência o nosso município ainda não deu a população de Campo Grande e isso vai depender de uma educação ambiental para que todas as residências de Campo Grande comecem a coletar o lixo dentro de casa, para que a próxima empresa ou se continuar a Solurb, eles vão ter que coletar esse material e levar até os catadores que estão cooperativados ou associados em uma área ou uma UTR pra eles selecionarem. E vai ter campo para todos trabalharem”
// SONORA PROFESSOR HAMILTON (32:25)
O que eu acho que falta são os hábitos, a gente precisar mudar hábitos! Precisamos nos reeducar socialmente, e aí que a coisa fica mais complicada. Porque a criança tem como exemplo o adulto, e se o adulto não exercita, não passa-se uma imagem no qual replica um comportamento adequado, a criança terá mais dificuldade de entender que o discurso te que se tornar uma prática. (32:50)
// SONORA BRUNO VELLOSO
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02:55 A dificuldade de fechar o lixão é ter onde por o lixo. Hoje Campo Grande tem. Tem o aterro. 03:07 Na verdade a intenção é tirar os catadores lá de dentro e através de uma cooperativa colocar na usina, e paralelamente a isso o aumento da coleta seletiva e da educação ambiental. (03:22) (03:35) A grande meta até lá é terminar a UTR pra ter um local pra esses catadores irem. (03:42) (03:55) Porém a execução da UTR não é responsabilidade de Solurb, é responsabilidade a prefeitura. (NOTA PREFEITURA) (04:02) (03:42) Tendo o local para os catadores irem, pode tirar eles lá de dentro. (03:47).
// SONORA NANDO SOBRE FECHAMENTO DO LIXÃO (02:00) “Se fechar nós vamos pra rua” (02:27)
// SONORA DONA CLEUZA SOBRE FECHAMENTO DO LIXÃO
(48:20) Minha vida é lá dentro do lixo. Se fechar eu vou ficar muito triste. Eu não sei, só se eu catar na rua né, porque lá se fechar, vou ter que catar na rua, mas acho que não fecha não, ainda vou passar mais um ano lá dentro do lixo, né. (48:34)
// SONORA NANDO 06:19 “Eu tenho profissão, sou serralheiro profissional, e aqui é o melhor lugar do mundo pra mim. Se fechar isso aqui a pessoa mais triste aqui vai ser eu. Porque o meu salário aqui... (Fim 06:36)
// SONORA MARCIO DE LIMA 05:41 “Eu quero trabalhar com reciclagem, a minha vida toda” (Fim: 05:49)
// SONORA GENIVALDO SILVESTRE
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Já que eu trabalho mexendo com esse aqui, com resíduos sólidos, eu posso até um dia chegar a ser especialista em resíduos sólidos. Eu não penso pra trás, eu penso pra frente.
Ficha Técnica
Direção, roteiro e produção: Gabriela Pavão e Mariana Cintra Câmeras: Raimundo Dias e Nelson Mandu Narração: Mariana Cintra Edição: Zé Gui Duração do vídeo: 28:30 (28 minutos e 30 segundos) Orientadora: Profª Drª Greicy Mara França Capa: Gabriela Pavão e Wellington Moura
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APÊNDICE B – Diário de Campo
1. Visita fechamento lixão: fechamento do lixão. 18/12/2012
Estavam presentes 45 policiais militares (1º, 9º e 10º BPM), 10 Guardas Municipais, cavalaria da PM, Cigcoe. Major Adilson Maido, comandante da operação de segurança do fechamento do lixão. “Estamos aqui para manter a segurança da operação, pra se houver algum tipo de manifestação contra o fechamento”, Major Adilson Maido. João Ramos da Silva – catador, Sérgio Rodrigues de Souza, vice-presidente da cooperativa de catadores de lixo do bairro Dom Antônio Barbosa. “Nós queremos trabalhar, entrar (sic) dentro (sic) do aterro, recolher os materiais recicláveis. Nós somos a favor de fechar o lixão, mas só quando a usina estiver pronta”. De acordo com o vice-presidente, 140 catadores são cadastrados na cooperativa. Olga Lemos, defensora pública – “Eles não querem que o local seja fechado. Por isso, entramos com ação para impedir isso. É um desrespeito jogar esses catadores nos galpões”. “O aterro pertence à eles, nós sociedade ignoramos esse povo o tempo todo, eles estão perdendo por dia R$ 140.” “A defensoria pede o não fechamento e o respeito. Que eles continuem trabalhando aqui independente de cadastro. Hoje o custo de uma associação é de quase R$ 1 mil. Eu vou levar isso ao judiciário.” “Se não conseguirmos agora, eles (os catadores) estão orientados a continuar vindo aqui no lixão diariamente e assinar aqui a lista de frequência, porque d epois vamos pedir ao município uma indenização por danos morais e materiais correspondentes a multas diárias por não trabalhar. Vamos responsabilizar o município e a Solurb”. Às 10h do dia 18 de dezembro de 2012 o último catador saiu do lixão. Conhecido como Carioca, fulano de tal, parou no portão de entrada. Élcio Terra, superintendente da Solurb – Terra garantiu na época que no mesmo dia a tarde a concessionária de lixo da Capital iria se reunir com os catadores da cooperativa para definir o quadro de administradores e quem ficaria responsável pelo pátio de seleção dos materiais.
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Ao chegar no local, a movimentação de pessoas demonstrava o clima de insegurança do local assustava. De um lado, catadores indignados por terem que sair do lixão. De outro, policiais militares, cães de guardas, escudos e fileira da tropa, em frente ao portão. Em seguida, o forte odor de lixo, a princípio insuportável, vai se tornando familiar e suportável. As moscas que fazem zumbidos nos ouvidos pousam nos braços, cabeça e rosto de qualquer pessoa que ali esteja. Representantes do lixão tentam retirar os últimos catadores que ainda estão dentro do lixão. A ordem, dada pelo então prefeito da cidade, Nelson Trad Filho, era de fechar o local. A partir deste dia, seria expressamente proibido a entrada e circulação de pessoas dentro do lixão. A justificativa era a questão de segurança e falta de condições de trabalho no lixão. Há cerca de um ano, uma criança morreu soterrada pela montanha de lixo, enquanto brincava e catava plástico e latinhas com colegas. A prefeitura alega que o fechamento evitará mais tragédias como esta. Os catadores discordam e dizem que ficarão sem renda, sem salário. Reclamam que o risco de vida é deles, e por isso, eles quem deveriam decidir se ficam ou saem do locaL. A maioria deles grita em coro que o lixão é deles, que ninguém se interessa pelo lixo que está no local, a não ser eles. E que é injustiça impedi-los de trabalhar. Quem vê de fora entende um pouco dos dois posicionamentos. Ouvimos histórias, muitas parecidas, mas umas mais complicadas. Rosimeire tem quatro filhos, dois deles com deficiência. Ela aproveita para ajudar a complementar a renda durante a noite no lixão, quando as crianças já estão dormindo. A primeira impressão que temos é que a proposta da prefeitura, de criar a Usina de Triagem de Resíduos (UTR) é digna, dará mais condições de trabalho e continuará a fornecer renda para os catadores. Mas, ao conversar com os envolvidos diretamente, eles afirmam que a cooperativa não renderá tantos lucros quanto o lixão. Que o material reciclável não será totalmente entregue na UTR, que a cooperativa todos tem que dividir os lucros, mesmo alguns trabalhando mais e outros menos. A situação é complicada. Uma defensora pública acompanha os catadores e afirma que a prefeitura descumpriu o acordo de fechar o lixão somente após a ativação da UTR. Mesmo contrariados, os catadores saem do lixão, cumprem a ordem policial e judicial, e se armam para manifestar no local no dia seguinte. Fim do primeiro dia de conflito no lixão.
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2. Visita UTR
A recepção é diferente na UTR. Os cooperados sentem medo de reclamar da atual estrutura em que trabalham. Quando veem a câmera ou o gravador se acanham e param de falar. Explicamos que precisamos mostrar os pontos positivos e negativos dessa mudança após a desativação do lixão e a criação da UTR. Alguns se sentem mais a vontade, mas falam pouco. Afirmam que a cooperativa não funciona da forma que deveria ser. Que os líderes não são escolhidos democraticamente, como deveria ser. Que os chefes não trabalham de verdade, como deveria trabalhar. Na concepção deles, apesar de ter mais equipamentos de segurança e menos riscos de desmoronamento do lixo, a renda não será a mesma. Eles pensam em abandonar a cooperativa e a UTR e voltar para o lixão, mas a ordem judicial impede que isso aconteça. Depois de muita negociação e pedido da Defensoria Pública, os catadores voltam a trabalhar no lixão, no dia 14 de janeiro, mas com horários, dias e identificação pré-estabelecidos. Não podem trabalhar gestantes e nem crianças. O horário de funcionamento corresponde ao período do dia, das 6h às 18h.
3. Casa de catador
Durante uma visita ao lixão, encontramos um catador de lixo indo embora de bicicleta. Nos identificamos e pedimos para acompanha-lo até em casa. David de Souza Timoteo, no crachá identificado como agente reciclador, prontamente aceita o convite e nos guia. Morador vizinho do lixão, ele diz que a rotina de trabalho é diária e que a média de retirada mensal é de R$ 2 mil. A princípios nos surpreendemos com o valor, e perguntamos se ele está na profissão por vontade própria ou por necessidade. Ele diz que poderia trabalhar de servente de pedreiro ou em outras profissões que já desenvolveu, mas que a mais rentável delas está no lixo. Influenciado, porém não estimulado, pelos pais, ele começou a trabalhar no lixo aos 12 anos. Hoje, perto dos 30, ele tem um filho pequeno, que estuda. Perguntado sobre a possibilidade do filho também virar catador, ele diz que não. Que trabalha no lixo para dar condições melhores de vida para o filho, que deve estudar, se formar e exercer uma profissão mais digna.
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E o nosso questionamento surge: por que a profissão de catador é considerada não digna? O que ela tem de menos? Só porque mexe com lixo? Só porque ajuda a reciclar o lixo produzido por cidadãos e consumidores inconsequentes e sem consciência de sustentabilidade? Essa profissão deveria ser enaltecida. O começo dessa mudança deveria ser na nomenclatura: de catador de lixo para agente reciclador, como é descrita a profissão nos crachás dos catadores que ainda trabalham no lixão de Campo Grande. Se toda a população adotasse essa nomenclatura, seria um bom começo.