UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
NÃO É ELOGIO ASSÉDIO DE RUA EM CAMPO GRANDE
FERNANDA LETÍCIA SILVINO PALHETA JULIANA BARROS CORRÊA BORGES JULIANE CAROLINA GARCEZ
Campo Grande – MS 2015/2
FERNANDA LETÍCIA SILVINO PALHETA JULIANA BARROS CORRÊA BORGES JULIANE CAROLINA GARCEZ
NÃO É ELOGIO ASSÉDIO DE RUA EM CAMPO GRANDE
Relatório final apresentado como requisito para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador: Prof. José Márcio Licerre
UFMS Campo Grande – MS 2015/2
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................... 6 1 - ALTERAÇÕES NO PLANO DE TRABALHO ....................... 7 2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................ 10 2.1 Período Preparatório ......................................... 10 2.2 Execução ........................................................... 12 2.3 Revisão Bibliográfica ......................................... 14 2.3.1 Livros..............................................................14 2.3.2 Periódicos.......................................................15 2.3.3 Redes, sites e outros......................................15 2.3.4 Outros documentos.........................................20 3 - SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS .................................21 3.1 Produção Jornalística .........................................21 3.2 Assédio de rua ....................................................25 4 - OBJETIVOS ALCANÇADOS .................................................29 5 - DIFICULDADES ENCONTRADAS ........................................30 6 - DESPESAS (ORÇAMENTO) .................................................33 7 - CONCLUSÕES ......................................................................34 8 - APÊNDICES ..........................................................................36 8.1 Projeto Gráfico Inicial............................................36 8.2 Projeto Gráfico Usado.......................................... 40 8.3 Lista de Entrevistas...............................................47 8.4 Roteiros de Perguntas...........................................48 8.5 Enquete ................................................................53 8.6 Desenho do Livro..................................................55 9 - ANEXOS ................................................................................57
6 RESUMO: Este projeto experimental consiste em uma produção híbrida de reportagem jornalística e história em quadrinho que tem como objetivo tratar o assédio de rua vivido cotidianamente pelas mulheres em Campo Grande. O livro “Não é elogio – Assédio de rua em Campo Grande” aborda os principais aspectos das cantadas e assobios em lugares públicos por meio da história de quatro personagens. A reportagem trata da construção do conceito de assédio de rua, da naturalização e inversão de valores que culpabilizam as mulheres pelas violações que sofrem, da perspectiva da violência de gênero e dos recortes sociais e objetificação do corpo da mulher. O trabalho foi feito com base no levantamento bibliográfico sobre a produção jornalística, narrativa sequencial e assédio de rua. Seguido pelo trabalho de campo que consistiu na coleta de entrevistas com fontes conceituais e personagens e elaboração de uma enquete local. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo; Livro-reportagem; Histórias em quadrinhos; Mulheres; Assédio de rua.
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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO
Desde o início do ano de 2015 trabalhamos com a ideia de abordar a questão da luta pela terra, optando por relatar a história do povo indígena Ofaié, residente da região de Brasilândia, Mato Grosso do Sul. Chegamos a ter o primeiro contato com a aldeia e o consentimento do cacique, mas por problemas pessoais nos desviamos do cronograma por dois meses. Quando retomamos à nossa programação, na última semana de outubro, percebemos que não teríamos tempo para fazer a quantidade de viagens necessárias para dar a profundidade que o tema exige. Diante disso iniciamos a produção do trabalho com o tema assédio de rua em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, pouco antes da entrega do pré-projeto. Contudo, a proposta de mesclar a produção jornalística, por meio da grande reportagem, com histórias em quadrinhos (HQs) manteve-se. A escolha do novo tema surgiu pela mobilização virtual, em outubro de 2015, contra o assédio na infância, idealizada pelo Coletivo Feminista Think Olga. A campanha nas redes sociais “#MeuPrimeiroAssédio” foi desencadeada pela exibição do programa televisivo de culinária MasterChef Júnior, no qual uma das participantes, Valentina, de 12 anos, foi assediada pelo público masculino. Diversos homens proferiram, sem o menor pudor, comentários de cunho sexual sobre a aparência da menina e o conteúdo das postagens, divulgadas na internet, continha o desejo de adultos em se relacionar com uma criança. Esses acontecimentos chamaram atenção para o fato de como o assédio está presente na vida das mulheres desde muito cedo. Diante desse cenário, a campanha foi realizada principalmente no Twitter 1, onde mulheres de todo o Brasil compartilharam suas primeiras experiências com o assédio.
Dentre
mais
de
82
mil
dos
tweets
que
usavam
a
hashtag
MeuPrimeiroAssédio, o coletivo analisou pouco mais de três mil relatos e constatou que a média de idade das vítimas era de 9,7 anos. O coletivo Think Olga surgiu em abril de 2013 questionando as cantadas de rua a partir da campanha nacional “Chega de Fiu-fiu”, com proposta de traçar um
1
Twitter é uma rede social e servidor para microblog que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, em textos de até 140 caracteres.
8 panorama do assédio de rua e combatê-lo. Com mensagens que repudiam esse tipo de violência, a campanha cresceu e deu início a um movimento contra as cantadas e assobios na rua. Com isso, nossa proposta era abordar o primeiro assédio que as mulheres sofreram. Mas durante o levantamento bibliográfico e o trabalho de campo, percebemos que o primeiro assédio ocorre ainda na infância, como constatado na campanha #MeuPrimeiroAsseio, e pode ser confundido com a pedofilia, que não é o objeto de estudo. Queremos tratar de uma violência de gênero, por isso decidimos abordar o assédio mais marcante na vida de nossas personagens, independente de qual período ele ocorreu. O projeto inicial contava com o aprofundamento dos recortes necessários para entender o assédio sofrido por todas as mulheres, pois entendemos que somos todas mulheres, porém com vivências diferentes. Propusemos abordar as diferentes relações em ser mulher negra, indígena e camponesa, mas com as dificuldades de tempo e logística não conseguimos entrevistar
personagens indígenas e
camponesas. No projeto inicial desenhamos o livro com cinco capítulos, nos quais abordaríamos o que consideramos os principais aspectos do assédio de rua: naturalização, gênero, interseccionalidade, objetificação e culpa/silêncio. No decorrer da redação do livro esta proposta se alterou. Pelo pouco tempo de produção fundimos o capítulo de interseccionalidade e objetificação pela proximidade entre os temas, dos recortes dentro do movimento feminista e a ligação da objetificação do corpo com as violações às mulheres negras. O capítulo de culpa/silêncio foi abordado junto ao capítulo de naturalização, também por sua proximidade temática. Durante o processo de entrevistas percebemos o importante papel da mídia como reforçadora de estereótipos. Devido ao curto período que tivemos para escrever o livro e a dificuldade de encontrar fontes especializadas, resolvemos falar brevemente sobre o papel dos meios de comunicação apenas no capítulo 4, no qual abordamos a objetificação do corpo da mulher e a maneira como a mídia reforça essa visão. Mudamos a ordem dos temas, organizando-os de forma que acreditamos ser mais coerente. O que inicialmente seria uma introdução ao tema transformou-se no
9 primeiro capítulo, que trata o assédio de rua. Em sequência, os capítulos de gênero, naturalização e interseccionalidade/objetificação. Durante a diagramação do livro sentimos dificuldade com a montagem das Histórias em Quadrinhos (HQs) e percebemos que o formato retangular não favorecia a construção da narrativa sequencial dos HQs. Inicialmente o projeto gráfico (conferir Apêndice 8.1) tinha como formato de 24 cm de comprimento por 21 cm de altura, mas ao montar a primeira história percebemos que invertendo os tamanhos elas teriam melhor distribuição nas páginas. O novo formato escolhido foi de 21 cm de comprimento por 24 cm de altura, para valorizar a linguagem dos quadrinhos (conferir Apêndice 8.2).
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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades desenvolvidas corresponderam ao cronograma apresentado.
2.1 Período Preparatório O projeto teve início com reuniões entre nós, acadêmicas, para desenvolver a plataforma em que o trabalho seria desenvolvido. Dentre os diversos formatos disponíveis, estávamos em dúvida entre monografia e livro-reportagem. Optamos pelo livro, formato que dá suporte às práticas jornalísticas, pois resulta em um produto que não se restringe à academia e tem maior alcance na sociedade. O livro também permite uma aproximação com o leitor por meio da liberdade de construção do projeto gráfico que contribua para dar mais leveza ao produto jornalístico. As reuniões com o coorientador foram importantes, pois abriram novas possibilidades de linguagens do jornalismo, nos apresentando as histórias em quadrinhos como ferramenta jornalística. Este contato possibilitou a construção híbrida da reportagem e da narrativa sequencial, ressaltando os quadrinhos como um elemento integrante do livro e não com caráter ilustrativo. Ao optar pelo uso de HQs como elemento narrativo em nosso produto, acreditamos explorar uma área do jornalismo ainda pouco divulgada: o jornalismo em quadrinhos. Para a utilização dessa categoria de linguagem, iniciamos a pesquisa nessa área pouco explorada do jornalismo. Encontramos o jornalista e quadrinista Joe Sacco, reconhecido mundialmente por dar forma a essa união do jornalismo e da arte sequencial. Após ler algumas de suas obras, interpretamos seu traço como rígido que dialoga com o assunto central de suas obras, jornalismo de guerra, e percebemos que ainda não havíamos encontrado a linguagem que queríamos adotar para o nosso livro. Nosso projeto se distancia da temática e estilo de Sacco, pois idealizamos o uso do HQ para trazer uma linguagem e estilo de desenho mais lúdico. Consideramos que o tema exige sensibilidade, por se tratar de um problema social que aflige tantas mulheres diariamente, portanto, continuamos nossa busca por referências.
11 A nossa militância dentro do movimento feminista nos permitiu compreender o patriarcado como um sistema opressor no qual as mulheres ainda lutam pela conquista de espaço nas mais variadas áreas da sociedade. Como critério editorial, percebemos a importância de se pesquisar sobre quadrinistas mulheres. O universo das histórias em quadrinhos ainda é composto por homens em sua maioria, tanto na produção quanto no consumo, mas cada vez mais mulheres têm se destacado. Conteúdos sobre arte sequencial produzida por mulheres divulgados em fanpages no facebook como Mina de HQ, Mulheres nos Quadrinhos e Desalienada exerceram forte influência no desenvolvimento das HQs deste trabalho. Para o desenvolvimento da narrativa sequencial foi feita pesquisa sobre o suporte para a produção das ilustrações, que poderia ser uma plataforma digital ou com os desenhos feitos no papel. Por questão financeira e pela familiaridade da acadêmica responsável pela criação, escolhemos o meio tradicional. Julgamos essencial para o nosso trabalho o uso de um estilo artístico para os quadrinhos, conferindo sensibilidade às histórias que foram retratadas. Para isso, a técnica da aquarela permite essa abordagem. O tema do livro-reportagem trata de um problema social que não é abordado em sua complexidade pela mídia. A escolha da narrativa humanizada dá voz às vítimas que são colocadas à margem pelas notícias veiculadas nos meios de comunicação local. Durante a fase preparatória aprofundamos a pesquisa nos principais aspectos do assédio com gênero, interseccionalidade, objetificação, na conceituação do tema com conteúdo de assédio em ambiente de trabalho e nos tipos de violência contra a mulher previstos em lei. Fizemos uma vasta pesquisa sobre conteúdos para a produção jornalística, como na conceituação de livro-reportagem, no tipo de narrativa a ser utilizada, na forma de narrar as histórias em quadrinhos, na editoração e diagramação do produto. A pesquisa bibliográfica foi feita por meio de livros, como “Meu corpo não é seu” do Coletivo Think Olga, “Quadrinhos e a arte sequencial” do quadrinista Will Eisner; palestras com o quadrinista S. Lobo; documentários e filmes como “O mercado de notícia” do Jorge Furtado e “Filha da Índia” da Leslee Udwin; campanhas como “Chega de Fiu Fiu” e “#MeuPrimeiroAssédio” do coletivo Think
12 Olga; revistas como Istoé e Época; dados como da Agencia Patrícia Galvão e da Defensoria Pública do Estado de São Paulo ; notícias, artigos e ensaios. Com base nas pesquisas feitas no período preparatório traçamos as linhas gerais do trabalho como a estrutura do livro, linguagem a ser usada, definição das fontes para pautar a execução. Desta forma conseguimos direcionar a captação de informações com as entrevistas de acordo a proposta do trabalho.
2.2 Execução Por uma escolha editorial decidimos que somente mulheres seriam entrevistadas. Durante o processo de captação fizemos 14 entrevistas dentre elas 8 conceituais com profissionais que trabalham com o tema como sociólogas, assistentes sociais, militantes feministas e 6 com personagens (conferir Apêndice 8.3). As fontes conceituais foram importantes para traçar um panorama cultural da sociedade e delimitar o tema que é pouco abordado. As personagens são fontes primárias e retrataram os assédios sofridos. Criamos diferentes roteiros de perguntas (conferir Apêndice 8.4), baseados nas diferentes áreas de atuação e especialidades de cada fonte, para abordar o assunto de maneira mais aprofundada. Do total de entrevistas, 12 foram usadas diretamente no texto e transcritas e duas foram usadas como suporte para compreender o tema. As principais fontes conceituais deram suporte teórico. Para levantar dados locais de assédio de rua na capital sul-mato-grossense criamos uma enquete na plataforma do google docs: “Assédio de rua em Campo Grande” (conferir Apêndice 8.5). A pesquisa foi realizada entre os dias 20 de novembro 2015 e 4 de janeiro de 2016 e apontou a opinião de mulheres sobre as cantadas, assobios, buzinadas e olhares de estranhos que recebem. A enquete foi feita e divulgada nas redes sociais, o levantamento online foi respondido por 449 mulheres que aceitaram e quiseram participar e contribuir na construção desse panorama em Campo Grande. O resultado apontou que 98,4% das mulheres que moram na cidade já receberam algum tipo de cantada, assobio ou olhares de desconhecidos em locais públicos. A idade que os assédios de rua começaram é maior a partir dos 13 anos, ocorreu com 56,1% das participantes. Segundo as 194 participantes, 43,9% das cantadas começaram antes dos 12 anos.
13 Dentre as mulheres que já receberam algum tipo de “cantada de rua” 94,1% sentem-se inseguras e desconfortáveis quando isso ocorre. A maioria das participantes, 88, 4%, gostaria que esse tipo de prática social parasse de acontecer. Falar sobre esse assunto com outras pessoas é difícil e 59% destas mulheres acham que quando reclamam do assédio de rua as pessoas não consideram o caso como um assunto sério. Em 59% das situações, ao responderem e rejeitarem uma cantada na rua o assediador foi ofensivo, agiu com violência ou seguiu a vítima. O nome do livro-reportagem foi escolhido a partir da opinião destas mulheres relatadas na pesquisa, em que 92,9% não enxergam as cantadas e assobios como uma forma de elogio. Durante o processo de execução, as entrevistas e a enquete foram os principais agentes para a construção do texto e dos quadrinhos. Das entrevistas das personagens foram extraída cada detalhe para a construção do roteiro das HQs como a sequência da narrativa e detalhes de ambientação, como local, horário, expressões físicas, roupas. As
abordagens
mais
reflexivas
e
outras
situações
narradas
pelas
personagens foram utilizadas para a composição da personagem no texto. As entrevistas conceituais foram usadas apenas no texto, como suporte teórico para conceituar e problematizar o assédio de rua e seus aspectos. Para obtermos maior profundidade em cada aspecto abordado e dar pesos iguais a cada um em relação a quantidade de texto, conseguimos reorganizar os capítulos em quatro pontos: assédio, gênero, naturalização/culpa/silêncio e interseccionalidade/objetificação (conferir Apêndice 8.6). Por meio de entrevistas com personagens, transformamos os relatos de assédio vivido pelas entrevistadas em histórias em quadrinhos, buscando explorar os elementos dessa ferramenta para enriquecer a narração. Para isso, foi necessária a preparação de roteiros para a criação da arte e a composição dos desenhos na página, bem como a seleção de informações que seriam imprescindíveis para a história. Na produção do projeto gráfico optamos por criar identidades visuais para dividir os temas abordados no livro, desta forma cada capítulo possui uma cor. O livro é comporto por duas fontes gráficas: a CC Wild Word para as histórias em quadrinhos e Adobe Garamond Pro para o texto. As escolhas destas fontes gráficas
14 se deram de acordo com a finalidade – uma fonte sem serifa para a história em quadrinho com textos curtos e diretos e uma fonte com serifa para o bloco de texto – , pois é preciso uma leitura mais atenta e este estilo de fonte é próprio para esta finalidade. Para a produção das representações foram definidos e adquiridos os materiais a serem usados: tinta aquarela e papel canson da linha universitária no formato A3 e gramatura 300. Acreditamos que os desenhos em aquarela proporcionariam a sensibilidade que achamos necessária para o tema. Trabalhar com essa técnica nos permitiu imprimir ludicidade ao livro, traçando uma contraposição ao assunto, que trata um problema social.
2.3 Revisão Bibliográfica O suporte teórico que contribuiu para a abordagem do tema sobre o assédio foi o livro “Meu corpo não é seu: desvendando a violência contra a mulher”, das autoras Juliana de Faria e Bárbara Castro. A obra foi resultado das mobilizações do coletivo Think Olga, e desconstrói o ideário do conceito de que violência contra a mulher é apenas física, colocando em pauta as cantadas, assobios, buzinadas, olhares que subjugam a mulher. Para a produção jornalística foram usadas as obras “Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, do escritor Edvaldo Pereira Lima e livro “Entrevista: o diálogo possível”, da autora Cremilda Medina. A construção das histórias em quadrinho teve como suporte técnico e suporte teórico o manual “Quadrinhos e Arte Sequencial”, do quadrinista Will Eisner.
2.3.1 Livros BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: A Experiência Vivida. 2. ed. SP: Difusão Européia do Livro, 1967. BUITONI, Dulcilia Helena Schroeder. Mulher de Papel - A Representação da Mulher Pela Imprensa Feminina Brasileira. 2 ed. SP: Editora Summus, 2009. BUZINARO, Suelen Soares, Fregatto, Eduardo Rafael e Paludeto, Cynthia. Portão 2: A vida e a rotina do presídio feminino em Campo Grande. MS: 2013. DIMENSTEIN, Gilberto. Meninas da Noite: A prostituição de meninas-escravas no Brasil. 16. ed. SP: Editora Ática, 2000.
15 EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. 1. ed. SP: Livraria Martins Fontes Ltda., 1989. FARIA, Juliana de e Castro, Bárbara. Meu corpo não é seu: desvendando a violência contra a mulher. 1. ed. SP: Companhia das Letras, 2014. FRIEDMAN, Jaclyn e Valenti, Jessica. Yes Means Yes: Visions of Female Sexual Power and a World Without Rape. CA: Seal Press, 2008. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4. ed. SP: Manole, 2009. MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: O diálogo possível. 4. ed. SP: Ática, 2005. SACCO, Joe. Palestina: Na faixa de Gaza. 2. ed. SP: Conrad Editora do Brasil, 2005.
2.3.2 Periódicos GRILLE, Cristina; OLIVEIRA, Graziele e BUSCATE, Marcela. A primavera das mulheres. Época, São Paulo, edição 909, pag. 66-82, nov. 2015. BRANDALISE, Camila e PEREZ, Fabíola. O grito das mulheres. Isto É, São Paulo, edição 2397, pag. 40-45, nov. 2015.
2.3.3 Redes, sites e outros A Pública, A história de Jailson, um operário da copa. Disponível em: <http://apublica.org/2014/07/a-historia-de-jailson-um-operario-da-copa/>. Acesso em 16 de maio de 2015. A
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Como
um
sonho
ruim.
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<http://apublica.org/2013/12/jornalismo-em-quadrinhos-adolescentes-internetselfie/>. Acesso em 15 de maio de 2015. A
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Intimidade
violada.
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<http://apublica.org/2014/12/intimidade-violada/>. Acesso em 2 de fevereiro de 2016. Agência Patrícia Galvão, Dossiê Violência contra as Mulheres. Disponível em: <http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/>. Acesso em 30 de outubro de 2015. Ação Educativa, A Intersecionalidade na Discriminação de Raça e Gênero. Disponível
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17 Carta
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Mas
eu
não
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<http://thinkolga.com/2015/10/26/hashtag-transformacao-82-mil-
tweets-sobre-o-primeiroassedio/>. Acesso em 30 de outubro de 2015.
20 Universidade do Estado da Bahia, Corpos em trânsito: casos de assédio sexual nos transportes
coletivos
de
Aracaju.
Disponível
em
<http://www.uneb.br/enlacandosexualidades/files/2015/07/comunica%C3%A7%C3% A3ooralmariadaconcei%C3%A7%C3%A3odossantos.pdf>.
Acesso
em
5
de
novembro de 2015.
2.3.4 Outros documentos FILHA da Índia. Direção: Leslee Udwin. Produção: Nick Fraser. Reino Unido da GrãBretanha e Irlanda do Norte, 2015. 63 min. Colorido, documentário. HISTÓRIAS
Cruzadas.
Direção:
Tate
Taylor.
Produção:
Chris
Columbus.
DreamWorks Pictures. EUA, Índia, Emirados Árabes Unidos, 2011. 2h26min. Colorido, longa-metragem. MERCADO de Notícias, O. Direção: Jorge Furtado. Produção: Nora Goulart. Cubo Filmes. Porto Alegre – RS, 2014. 94 min. HD.
21
3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS O suporte teórico do projeto estruturou-se em duas etapas – a produção jornalística e o aprofundamento do tema.
3.1 Produção Jornalística A base teórica para a produção do livro-reportagem foi a obra “Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, do jornalista Edivaldo Pereira Lima, que traz “como proposta criar instrumentos que permitam delinear de forma mais completa o campo do livro-reportagem”. (LIMA, 2009, p.4) A plataforma do livro-reportagem foi escolhida para desenvolver o trabalho jornalístico, pois o produto cumpre relevante papel de ampliar os fatos. “Avança para o aprofundamento do conhecimento do nosso tempo, eliminando, parcialmente que seja, o aspecto efêmero da mensagem da atualidade pelos canais cotidianos da informação jornalística”. (LIMA, 2009, p.4) O autor classifica em categorias as temáticas abordadas nos livrosreportagem. Dentre os grupos citados o que mais se aproxima de nossa proposta é o retrato. Exerce papel parecido, em princípio, ao do livro-perfil. Mas, ao contrário deste, não focaliza uma figura humana, mas sim uma região geográfica, um setor da sociedade, um segmento de atividade econômica, procurando traçar o retrato do objeto em questão. Visa elucidar, sobre tudo, seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade. (LIMA, 2009, p.53)
Lima usa como base a reportagem para construção do conceito de livroreportagem. O tempo e espaço são ressaltados e ganham uma abordagem diversificada. E tudo isso voltado para um abordagem multiangular, para uma compreensão da realidade que ultrapassa o enfoque linear, ganhando contornos sistêmicos no esforço de estabelecer relações entre as causas e as consequências de um problema contemporâneo. (LIMA, 2009, p.21)
A reportagem é o produto jornalístico que mais corresponde aos ideais democráticos. Pois é justamente a pluralidade de vozes e a pluralidade de significados sobre o imediato e o real que fazem com que a reportagem se torne um
22 instrumento de expansão e instrumentação plena da democracia, uma vez que a democracia é polifônica e polissêmica. (LIMA, 2009, p.23)
Além da pluralidade de vozes, a reportagem permite aprofundar o fato abordado de forma horizontal e vertical. [...] a horizontalização do relato – no sentido da abordagem extensivo em termos de detalhes – e também sua verticalização – no sentido de aprofundamento da questão em foco, em busca de suas raízes, suas implicações, seus desdobramentos possíveis –, o livro-reportagem é o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. (LIMA, 2009, p.26)
A produção do livro-reportagem se ancora nas práticas jornalísticas como a elaboração da pauta sendo o primeiro passo desse processo. “A construção da pauta que visa ao conhecimento da realidade deve localizar os conflitos e transcendê-los, para identificar as causas, os efeitos, as linhas de força que determinam.” (LIMA, 2009, p.75) A imparcialidade é um conceito associado ao jornalismo e muitas vezes ensinado nas universidades, porém é uma utopia. A construção jornalística perpassa pela captação do real que, ao ser mediada pelo repórter, são influenciadas por seus fatores pessoais. E a objetividade jornalística, questão polêmica, parece nos dias de hoje ganhar a condição de mito ou de utopia. Dentro da imperfeição inerente à percepção humana, porém, e considerando a relatividade de tudo, o livroreportagem é o instrumento que apresenta, de momento, ao menos em tese, o melhor potencial para diminuir os vieses de leitura com que o jornalismo tem encarado habitualmente o real. (LIMA, 2009, p.81)
A captação do real também ocorre na observação participante, quando o repórter se aproxima do seu objeto de apuração. “Consistia no registro de gestos cotidianos, hábitos, maneiras, costumes […]. O registro de tais detalhes não é mero ornamento em prosa. Está tão perto do centro do poder do realismo quanto qualquer outro recurso da literatura.” (LIMA, 2009, p.124) Em sua obra, Lima faz uma crítica ao processo de captação jornalística no Brasil. A pesquisa documental não é aprofundada, partindo diretamente para a entrevista. O que resulta na falta de sensibilidade de abordagem do tema proposto. Referindo-se à coleta de dados em fontes registradas de conhecimento, o termo aplica-se tanto ao jornalismo cotidiano quanto ao livro-reportagem. Mas, sem dúvida, é neste que a documentação, com auxílio à fundamentação do tema de que trata a reportagem, sobretudo na matéria de profundidade e em especial a que focaliza a situação e a questão, do
23 que o fato ou o acontecimento isolado, ganha vigor e poder se sustentação. (LIMA, 2009, p.129)
Para o embasamento de conteúdos sobre o modo de estruturar e fazer a entrevista, utilizamos o livro “Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, do jornalista Edivaldo Pereira Lima, e a obra “Entrevista: o diálogo possível”, da autora Cremida Medina. Em seu texto, Medina afirma que a entrevista torna-se um diálogo quando há pontos de vista em comum entre o jornalista e a fonte. “O entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade que pode dizer respeito à pessoa do entrevistado ou a um problema.” (MEDINA, 2005, p.15) A entrevista não será eficaz se usada apenas como uma técnica para conseguir respostas por meio de um roteiro. Esta formalidade jornalística não alcança a relação harmoniosa entre entrevistado e entrevistador, o próprio diálogo. [...] a entrevista desponta no livro como uma forma de expressão por si, dotada de individualidade, força, tensão, drama, esclarecimento, emoção, razão, beleza. Nasce daí o diálogo possível, o crescimento do contato humano entre o entrevistador e o entrevistado, que só acontece porque não há a pauta fechada castrando a criatividade. (LIMA, 2009, p.107)
A proposta do livro-reportagem se afasta da realidade das rotinas de produção do jornalismo cotidiano, ampliando o processo de apuração. [...] experimentar novas formas de captação, expandir o leque de fontes de consulta, criar novas maneiras de interação entre repórter e seus entrevistados, munir-se de instrumentos inovadores na observação do real em suas múltiplas complexidades, já que, em princípio, não há necessidade de se submeter a um gosto médio. (LIMA, 2009, p.106)
Medina pontua em seu livro que a entrevista “é uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação.” (MEDINA, 2005, p.8) A autora destaca a necessidade de resgatar o lado humano como uma fonte de informação indo além do conhecimento obtido nas respostas do entrevistado. O repórter captou o perfil humano. O depoimento desceu ao subsolo do entrevistado, afloraram traços de sua personalidade, revelaram-se comportamentos, valores. É a humanização conquistando um espaço na comunicação coletiva. (MEDINA, 2005, p.51)
Os jornalistas em suas obras classificam as entrevistas em categorias. Dentre elas, foram usadas para este trabalho a entrevista conceitual, a entrevista enquete e o perfil humanizado.
24 [...] a entrevista conceitual, em que o repórter busca conceitos, versando sobre diferentes temas, nos especialistas de cada área; a entrevista/ enquete, na qual um único tema é privilegiado por uma pauta ou por questionários básicos aplicados a fontes selecionadas aleatoriamente; […]; o perfil humanizado, que se caracteriza pela abertura e proposta de compreensão ampla do entrevistado em vários aspectos, do histórico de vida ao comportamento, dos valores aos conceitos. (LIMA, 2009, p.92)
Para Medina, a entrevista conceitual busca no entrevistado uma bagagem informativa sobre determinado conceito. O repórter no sentido mais amplo de sua função de intermediador na sociedade não é um especialista. É especializado, sim, na técnica de reportagem, na qual a entrevista ocupa espaço privilegiado. Vai procurar especialistas de várias correntes de informação e interpretação. No caso, está acima de tudo interessado em conceitos, não em comportamentos. (MEDINA, 2005, p.16)
Em nosso trabalho, utilizar o perfil humanizado como conceito central durante a apuração de informação com as fontes nos permitiu dar maior profundidade ao conflito abordado. Ao contrário da espetacularização, a entrevista com finalidade de traçar um perfil humano não provoca gratuitamente, apenas para acentuar o grotesco, para “condenar” a pessoa (que estaria pré-condenada) ou para glamorizá-la sensacionalisticamente. Esta é uma entrevista aberta que mergulha no outro para compreender seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida. (MEDINA, 2005, p.18)
Lima aponta as diferenças na relação da entrevista na produção jornalística. Nas redações se valoriza a notícia, enquanto no livro reportagem a fonte é o eixo principal. Há a pauta, mas também coexiste a flexibilidade de o entrevistador momentaneamente abandoná-la para entrar numa variante mais empática com seu entrevistado. Surge a emoção, surge a pessoa por detrás do mito. Ascende-se ao circuito e não é mais a corrida atrás desse produto volúvel, a informação que se dá. (LIMA, 2009, p.113)
Nos vemos como mediadoras da informação e por meio das entrevistas vamos abordar a vivência das mulheres. “O repórter reconhece que não é ele que detém a informação […], mas que deve ir em busca daquela fonte que efetivamente tem o que dizer.” (MEDINA, 2005, p.37) Utilizamos como base teórica para a produção das HQs a obra de Will Eisner, “Quadrinhos e a Arte Sequencial”. O livro frisa o uso dos elementos dos quadrinhos como a característica de uma linguagem. As histórias em quadrinhos comunicam numa “linguagem” que se vale da experiência visual comum ao criador e ao público. Pode-se esperar dos
25 leitores modernos uma compreensão fácil da mistura imagem-palavra e da tradicional decodificação de texto. A história em quadrinho pode ser chamada “leitura” num sentido mais amplo que a comumente aplicada ao termo. (EISNER, 1989, p.7)
Ao utilizar os quadrinhos como um meio de transmitir uma mensagem, o artista deve antecipar as experiências de vida do leitor, que influenciará no entendimento da história. Por isso o autor deve prever a reação do público. Ao escrever apenas com palavras, o autor dirige a imaginação do leitor. [...] Uma vez desenhada, a imagem torna-se um enunciado preciso que permite pouca ou nenhuma interpretação adicional. Quando palavra e imagem se “misturam”, as palavras formam uma amálgama com a imagem e já não servem para descrever, mas para fornecer som, diálogo e textos de ligação. (EISNER, 1989, p.122)
A HQ utiliza de recursos visuais como um fundamento amplo do diálogo. Desta forma “o artista, para ser bem-sucedido nesse nível não verbal, deve levar em consideração a comunhão da experiência humana e o fenômeno da percepção que temos dela.” (EISNER, 1989, p.38) O processo de criação do quadrinho não consiste apenas na produção do desenho, mas também na elaboração do roteiro que construirá a narrativa. “Essencialmente, a criação do quadrinho começa com a seleção dos elementos necessários à narração, a escolha da perspectiva a partir da qual se permitirá que o leitor os veja e a definição da porção de cada símbolo ou elemento a ser incluído.” (EISNER, 1989, p.41)
3.2 Assédio de rua O que deu suporte para nossa pesquisa sobre o tema assédio de rua, ao que se refere à cantada, assobios, buzinadas e olhares, foi o livro “Meu Corpo Não é Seu – Desvendando a violência contra a mulher”, das autoras Juliana de Faria e Barbara Castro. A obra é resultado das mobilizações do coletivo Think Olga com a campanha “Chega de Fiu-Fiu”, que mapeou as denúncias e perguntou às mulheres o que sentiam sobre essa situação. Ao estudar as causas do Assédio de Rua, identificamos o gênero como fator determinante na forma como essa e outras violências se dão. As mulheres sofrem por serem mulheres. [...] enquanto eles [homens] são as maiores vítimas letais da violência no espaço público, elas [mulheres] são as maiores vítimas da violência doméstica e sexual. E não são raros os casos: cerca de 70% das mulheres
26 sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. (FARIA e CASTRO, 2014, p.1)
Para conceituar as cantadas, assobios e buzinadas de rua utilizamos as definições de diversas violações que atingem as mulheres como o assédio em ambiente de trabalho, assédio sexual, assédio verbal e violência psicológica. As autoras conceituam o entendimento sobre o assédio sexual, que até pouco tempo não era reconhecido como crime. Trata-se de abordagens grosseiras, ofensas e propostas inadequadas que constrangem, humilham, amedrontam e tentam reduzir as mulheres a um objeto passivo que não reage sob tal forma de opressão. Grande parte desse assédio sequer envolve contato físico, mas isso não significa que não afetam as mulheres. (FARIA e CASTRO, 2014, p.3)
O assédio sexual é tipificado como crime desde 2001, pela Lei nº 10.224, no Código Penal. Esta de violência é descrita como qualquer ato que constranja alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, que se prevalece da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função e tem como pena detenção de um a dois anos. Em setembro de 2006 entra em vigor a Lei Maria da Penha, que “cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher”. (Lei n. 11.340, 2006) No artigo 5º da Lei é descrito que independente das orientações sexuais da vítima o que configura violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação ou omissão baseada no gênero “que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. (Lei n. 11.340, 2006) O livro “Meu Corpo Não é Seu” também traz a público a discussão de que os assédios sofridos cotidianamente são comuns e aceitáveis perante a sociedade. Entendemos que o assédio, a versão mais pública e mais bem-aceita da violência contra a mulher, é apenas a ponta do iceberg. Mas justamente por ser revelado pela sociedade, discuti-lo e problematizá-lo ajuda a jogar luz sobre a causa universal de tipo de violência. (FARIA e CASTRO, 2014, cap.4, p.5)
A “cantada” é enquadrada juridicamente no artigo 61 da Lei de Contravenções Penais, que julga este tipo de delito como importunação em lugar público ou acessível ao público que ofenda alguém. A pena dada a este tipo de situação é apenas multa. O assédio sofrido pelas mulheres é uma consequência da sexualização dos
27 seus corpos e isso acontece desde a infância. A mídia e a cultura corroboram para que a normalização da objetificação do corpo aconteça. Assim, meninas passam a ser vistas como possíveis alvos sexuais e, um agravante, ainda são alvos fragilizados que não tem repertório de como se defender ou até mesmo compreender a violência com que estão lidando. (FARIA e CASTRO, 2014, cap.1, p.5)
O assédio de rua é estereotipado e apresenta as mulheres como vulneráveis e alerta aos perigos que podem justificar um abuso, como um beco ou o horário. Mas esse cenário é apenas um recorte da realidade. O risco que corremos ao nos ater a ele é reproduzir um imaginário de que a violência só pode ser praticada por alguma espécie de monstro sem humanidade, sem habilidades sociais, distante, portanto, do nosso círculo de convivência. Mas a verdade é que essa pessoa, muitas vezes, está mais perto que imaginamos. (FARIA e CASTRO, 2014, cap.1, p.2)
Na sociedade esta prática é naturalizada e não é vista como a primeira esfera da violência contra a mulher. As mulheres sentem receio de tocar no assunto prevendo serem subjugadas pela sociedade. “O assunto era um monstro invisível, sem qualquer dado ou informação para ajudar em seu combate. Havia quem enxergava as ‘cantadas’ apenas como um traço da cultura, uma cordialidade brasileira.” (FARIA e CASTRO, 2014, cap.4, p.3) Dentro do campo de gênero existe uma pluralidade de outras realidades sociais que interferem na forma como a violência atinge as mulheres. Isto é chamado de interseccionalidade. E para além dos modelos de masculinidade e feminilidade, todas são atravessadas por outras séries de marcadores sociais da diferença, como cor, etnia, classe, idade, nacionalidade, região de nascimento, etc. Assim, a experiência de ser uma mulher negra é diferente da experiência de ser uma mulher branca, [...] assim como experiência de ser uma mulher branca e rica é diferente de ser uma mulher branca e pobre. (FARIA e CASTRO, 2014, cap.2, p.2)
A mídia deveria retratar a violência contra a mulher de forma clara e acessível, por ser um espaço público capaz de formar opiniões. Mas, frequentemente, reproduz o discurso de desimportância e restrição à vida doméstica. Tal mentalidade arcaica pode aparecer em sutilezas como revelar a roupa que uma sobrevivente de estupro vestia ou até mesmo na culpabilização escancarada da vítima – como ‘dicas’ para evitar abuso sexual do tipo '‘não saia de casa desacompanhada’ ou ‘não beba muito’. (FARIA e CASTRO, 2014, cap.3, p.4)
28 Enquanto fonte de informação, os meios de comunicação acabam imprimindo juízo de valor nas notícias com práticas sutis que transferem para a vítima a culpa dos acontecimentos.
29
4- OBJETIVOS ALCANÇADOS O objetivo de construir uma reportagem jornalística híbrida no formato de livro utilizando a linguagem das histórias em quadrinhos abordando as experiências mais marcantes de assédio de rua sofrido por mulheres em Campo Grande foi atingido. Com o levantamento bibliográfico sobre produção jornalística, jornalismo em quadrinhos e assédio de rua, construímos uma base teórica para a elaboração do trabalho, como a captação de entrevista e ideias para a arte sequencial. O uso das histórias em quadrinhos atingiu o objetivo na composição da linguagem, de não ter caráter ilustrativo e sim informativo. O levantamento de dados sobre o assédio de rua em Campo Grande foi concluído por meio da elaboração da enquete “Assédio de Rua em Campo Grande”. Por meio de entrevistas com especialistas atingimos a construção de um conceito de assédio de rua e problematizamos seus aspectos. Com os relatos das personagens, alcançamos o propósito de denunciar essa violência silenciada por meio de uma linguagem lúdica de histórias em quadrinhos. Dentre as personagens, nem todas nasceram em Campo Grande, apesar de residirem atualmente na capital. Como parte delas nasceu no interior do estado, isso ajudou a traçar um comparativo local. Atingimos o objetivo de entrevistar apenas mulheres para dar protagonismo. No início do projeto não tínhamos conhecimento sobre leis que poderiam respaldar as mulheres ao serem vítimas do assédio de rua. Cumprimos o objetivo de entender como as violações que atingem as mulheres estão dispostas na legislação brasileira, por meio da Lei Maria da Penha e do artigo 61 da Lei de Contravenções Penais. Com o conhecimento adquirido no levantamento bibliográfico, conseguimos produzir roteiros para cada tipo de entrevista (conceitual, jurídica e personagem). Com todo o processo de entrevistas e levantamento de dados, alcançamos o objetivo de analisar a conjuntura de assédio no estado. Atingimos o objetivo de produzir um livro-reportagem com linguagem lúdica por meio das histórias em quadrinhos, que desperte a atenção das pessoas para um tema tão delicado.
30
5- DIFICULDADES ENCONTRADAS As principais dificuldades encontradas se referem à conceituação da especificidade do tema abordado e da escassez de material bibliográfico, pois tratase de uma reivindicação recente dos movimentos de mulheres e feministas sobre a autonomia do próprio corpo e o questionamento da prática social de “mexer com mulheres na rua” com cantadas, buzinadas, assobios, olhares e sons de desejo. Não há ainda uma terminologia para estas atitudes invasivas que fazem parte do dia a dia das mulheres desde a infância, militantes feministas e pesquisadoras entendem tais atos como um tipo de violência. Para a elaboração deste projeto experimental escolhemos usar o termo assédio de rua que perpassa e se apropria de outros conceitos, porém não existe uma definição com base teórica para este fenômeno social. O termo assédio é o mais utilizado para abordar estas violações, porém, seu entendimento mais difundido se refere a constrangimentos contínuos que acontecem em ambiente de trabalho. Essa restrição não engloba as intimidações cotidianas que mulheres sofrem em locais públicos. Esporadicamente, o termo abuso é usado para definir estes tipos de práticas, porém, está mais ligada à violência sexual que se concretiza fisicamente. Cantadas, buzinadas e assobios são violações verbais com conotação sexual, por isso não se enquadram no conceito. A contemporaneidade da pauta destas mulheres traduz a escassez de livros, teses, análises e trabalho acadêmico. As produções que se aproximam do tema estão relacionadas com os termos anteriormente citados – cultura de estupro, assédio em ambiente de trabalho e violência física contra a mulher. A única obra encontrada no levantamento bibliográfico que discorre sobre os aspectos específicos dessa violência é o ensaio “Meu Corpo Não É Seu: Desvendando a violência contra a mulher”, produzido pelo coletivo feminista Think Olga. A falta de visibilidade do tema também se mostrou como obstáculo durante a fase de consulta com as fontes. Para motivar as entrevistadas a discorrerem sobre as especificidades do nosso objeto de estudo teríamos que elaborar um roteiro de
31 perguntas claro e preciso. Recorremos aos orientadores e a outros professores do curso para que pudessem nos guiar nessa tarefa. Ao escolher fontes conceituais para servirem de base teórica para o nosso projeto usamos como critério mulheres aptas a contextualizarem as relações sociais e explorando os sistemas sociais para desenvolver o tema central, que é o assédio de rua. Com a falta de um termo exato estabelecido para essa prática, a princípio tivemos dificuldade em esclarecer o nosso objeto de estudo para as nossas fontes. Muitas vezes elas desviavam a entrevista para o viés da violência física, estupro ou assédio em ambiente de trabalho, dos quais não se enquadram no assunto do projeto. Essa complicação não ocorreu apenas com as fontes conceituais, mas também com as personagens. Durante as entrevistas, algumas delas nos trouxeram relatos de abuso sexual físico, feitos por pessoas próximas, quando, na verdade, nosso objetivo era obter histórias de experiências com o assédio diário em lugares públicos vindo de homens desconhecidos, sem a violação física. Ficamos bastante desconfortáveis diante dessas revelações tão íntimas e pessoais, especialmente porque teríamos que dizer a elas que não era esse tipo de experiência que estávamos procurando. Constatamos então o nosso despreparo para lidar com essa situação, recorrendo novamente aos professores para que nos orientassem a como proceder durante esses acontecimentos. Estabelecemos como objetivo utilizar a entrevista humanizada como recurso no desenvolvimento da obra. Queríamos traçar os perfis das personagens, mostrálas como seres humanos completos, e não apenas abordar as violações que sofreram. Tivemos dificuldade ao realizar essa tarefa, pois estamos habituadas à produção rápida e objetiva do jornalismo diário. A troca do tema em um prazo tão apertado nos penalizou com um tempo escasso para o desenvolvimento do trabalho. Isso acarretou em um produto diferente do qual havíamos planejado inicialmente. Durante a fase de pesquisa percebemos a necessidade de se explorar os diferentes recortes dentro do feminismo, ou seja, a vivência de mulher de diferentes raças, etnias, classes, localidades, entre outros critérios. Julgamos necessário incluir no trabalho as experiências de mulheres indígenas e camponesas com o assédio de rua. Por morarem em aldeias e
32 acampamentos afastados da cidade, o contato com essas fontes foi trabalhoso. Quando finalmente conseguíamos falar com elas, a incompatibilidade das agendas nos impedia de realizar entrevistas. No caso das mulheres indígenas, as conversas só poderiam ser concretizadas mediante aprovação de seus caciques. Inicialmente não levamos em consideração que a falta de experiência na produção de roteiro para histórias em quadrinhos nos prejudicaria na execução dos desenhos e na diagramação dos mesmos. O tempo escasso se apresentou como principal dificuldade no processo, mas o mesmo nos induziu a uma rápida adaptação à prática quadrinista. Os últimos roteiros estruturados foram mais fáceis de ser colocados em prática, em comparação com os primeiros. Mas ao final da produção, ficamos satisfeitas com o trabalho feito e com as habilidades desenvolvidas durante o processo, que certamente nos serão de grande utilidade no futuro em nossas profissões. O tempo escasso para a produção da obra não foi a nossa única dificuldade, tendo em vista o nosso despreparo para a disciplina de Projetos Experimentais. O curso de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) nos apresentou uma grade curricular cujo objetivo era o de preparar as alunas e os alunos para o mercado de trabalho. Sentimos que as demais modalidades do jornalismo nos foram negligenciadas e não fomos instruídas e nem incentivadas a experimentar as demais áreas da profissão.
33
6- DESPESAS (ORÇAMENTO) Para a produção do livro-reportagem foram necessárias despesas com transporte, alimentação, aquisição de livros teóricos, materiais para a produção de quadrinhos e impressão. Incluímos também no orçamente a despesa com a viagem para Três Lagoas – MS durante a apuração do tema anterior.
Item
Descrição
Valor
Quantidade
Total
R$ 75,00
6
R$ 450,00
Campo Grande – Três Lagoas Viagem
Ida e Volta Deslocamento em
Transporte¹
Campo Grande para
R$ 100,00
reuniões e
R$ 150,00
entrevistas: gasolina
R$ 50,00
-
R$ 200,00
e passe de ônibus Refeições durante Alimentação
reuniões e
R$ 50,00
elaboração de projeto
R$ 68,91
-
R$ 118,91
“Páginas Ampliadas”
Material Teórico
“Meu corpo não é
R$ 77,40
seu”
R$ 6,00
“Ofaié – Morte e Vida
R$ 15,00
-
R$ 98,40
-
R$ 285,18
de um povo” Papéis para desenho, Material para
tinta aquarela,
R$ 28,00
Desenho
pinceis, canetas
R$ 88,73
nanquim, giz pastel,
R$ 75,00
lápis carvão
R$ 93,45
Pré-projeto
R$5,00
Relatório Parcial
R$ 5,00
Livro
R$ 380,00
Relatório Final
R$ 6,00
Impressão
Total
-
-
R$ 396,00 -
-
R$ 1.548,49
34
7- CONCLUSÕES Com as pesquisas durante o período preparatório constatamos que apesar do tema atualmente esteja sendo pautado nas mídias sociais, não há material bibliográfico disponível. Isto reforçou nossa motivação em produzir um livro que ofereça suporte teórico para futuros trabalhos acerca do tema e que seja uma fonte de informação de fácil acesso para as pessoas fora do meio acadêmico. Ao decorrer da fase de pesquisa fomos questionadas quanto à decisão de entrevistar apenas mulheres. Nos foi sugerido que entrevistássemos homens para entender o lado do opressor e seguir o padrão de jornalismo imparcial que tanto se ouve falar. Nós, autoras do projeto, não acreditamos em jornalismo imparcial e decidimos de fato nos posicionar: adotamos como linha editorial entrevistar apenas mulheres como fontes conceituais. Por ser um problema que as aflige exclusivamente, acreditamos que não existe melhor maneira de explicar esse fenômeno do que consultar as vítimas. A escolha do livro-reportagem como formato atendeu à nossa proposta de abordar o tema com profundidade e de contar a história das mulheres que lidam todos os dias com o assédio nas ruas de Campo Grande. Tínhamos como objetivo nos distanciar da objetividade do jornalismo diário, tratando de um problema social e investigando suas causas, explorando o contexto no qual ele está inserido. Com isso, notamos a importância do tempo para a realização de uma pesquisa aprofundada. As entrevistas com as fontes conceituais confirmaram o que a nossa vivência pessoal já apontava: o machismo que impera na sociedade. Elas explicaram as formas como as relações sociais se desenvolvem e como a dominação do homem sobre a mulher ainda existe em pleno século 21. Dentro desse contexto de dominação, o assédio de rua reflete como uma prática do machismo que está enraizado, que muitos homens não enxergam como violência, mas que a maioria das mulheres abomina como apontou a nossa enquete Assédio de Rua em Campo Grande. Pelo assédio de rua se materializar em forma de assobios, buzinadas, cantadas, olhares e sons de desejos, e não de forma física, essa prática não é levada a sério pelas pessoas, muito menos tratada como violência. Isso faz com que
35 esses atos continuem a ser repetidos pelos homens nos espaços públicos, não alterando esse panorama que oprime as mulheres diariamente. Por meio dos relatos das personagens e das consultas com as demais fontes, identificamos que a sociedade vê o corpo da mulher como público. As pessoas se sentem no direito de olhar, emitir comentários, tocar e julgar o tipo de roupa que ela deve usar. Fazer diferentes recortes dentro do contexto do assédio foi importante para mostrar como ele acontece de maneiras diferentes para cada tipo de mulher, como por exemplo, o assédio que a mulher negra sofre é diferente do da mulher branca. Quando pensamos o projeto tínhamos como objetivo o uso das histórias em quadrinhos para complementar a narrativa, além de conferir à obra um tom lúdico e somar sensibilidade a um tema tão delicado. Queríamos também que os desenhos chamassem atenção por ser um recurso pouco utilizado no jornalismo, destacando o ineditismo do nosso trabalho. Além disso, nosso foco principal era o de construir um projeto acessível a diferentes faixas etárias e grau de escolaridade, para que o livro pudesse ser compreendido por todos. Tivemos um retorno positivo quanto a essa questão quando crianças de nossas famílias folhearam o livro e entenderam a mensagem que queríamos passar.
36
8 – APÊNDICES 8.1 Projeto Gráfico Inicial Esboço do que foi pensado para a diagramação do livro-reportagem.
8.1.1 Capa
1Ilustração do Coletivo Think Olga 8.1.2 Contra capa
37
8.1.3 Folha de rosto
8.1.4 EpĂgrafe
38 8.1.5 Sumário
8.1.6 Abertura de capítulo
8.1.7 Início de capítulo
39 8.1.8 CapĂtulo
40 8.2 Projeto Grรกfico Usado
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8.3 Lista de Entrevistas ENTREVISTA 1 Nome: Nathália Eberhardt Ziolkowski Profissão: Socióloga Atuação: Ativista da Articulação de Mulheres Brasileiras e do Núcleo de Estudos de Gênero da UFMS ENTREVISTA 2 Nome: Estela Marcia Rondina Scandola Profissão: Assistente Social Atuação: professora e pesquisadora da Escola de Saúde Pública e da Universidade Católica Dom Bosco. Feminista, militante de direitos humanos. ENTREVISTA 3 Nome: Thais Dominato Profissão: Defensora Pública de Defesa da Mulher Atuação: Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher em Mato Grosso do Sul ENTREVISTA 4 Nome: Ana José Alves Profissão: Administradora de empresa Atuação: presidenta do Coletivo de Mulheres Negras de MS ENTREVISTA 5 Nome: Ana Luisa Cordeiro Profissão: Professora Atuação: membro do Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul; milita no Instituto dos Direitos Humanos e no Grupo de Estudos e Pesquisa de Educação Superior da UFMS. ENTREVISTA 6 Nome: Leyde Pedroso Profissão: Jornalista Atuação: secretária de Políticas para Mulheres ENTREVISTA 7 Nome: Ana Maria Gomes Profissão: Socióloga Atuação: Professora aposentada e coordenadora do Grupo de Estudos de Gênero da UFMS ENTREVISTA 8 Nome: Kamila Silva Profissão: Estudante Personagem ENTREVISTA 9 Nome: Bruna Cardoso Profissão: Estudante Pesonagem ENTREVISTA 10 - TRANSCRITA Nome: Elisangela Terena Profissão: Assistente Social Terena Atuação: ENTREVISTA 11
48 Nome: Nathalia Valdez Profissão: Estudante Personagem ENTREVISTA 12 Nome: Dandara (nome fictício) Profissão: Professora Personagem ENTREVISTA 13 Nome: Larissa Mello Profissão: estudante Personagem ENTREVISTA 14 Nome: Amanda Amaral Profissão: jornalista Personagem
8.4 Roteiros de perguntas 8.4.1 Roteiro Conceitual Pessoal 1. Breve currículo 2. Apresentação (nome e profissão) Assédio 1. O que é considerado assédio? 2. Cantadas e assobios são consideradas um tipo de assédio? Qual tipo de assédio? 3. Esse tipo de assédio é considerado uma violência contra a mulher? 4. Os estágios da violência contra a mulher (de verbal a físico) são vistos com maior ou menor gravidade? 5. É possível quantificar esse tipo de assédio na sociedade? 6. Há diferença entre assédio sexual e abuso sexual? Naturalização 1. O assédio que abordaremos é aceito na sociedade? 2. Qual o papel da mídia na naturalização do assédio? 3. Por que nós somos ensinadas a ver o assédio como um elogio? Infância 1. A campanha #primeiroassedio fez um levantamento e mostrou que a média de idade do primeiro assédio é 9 anos e 7 meses. O que isso representa? 2. No programa Master Chefe Jr. a participante Valentina de 12 foi alvo de assédio na internet. Este tipo de assédio tem um recorte de gênero?
49 Gênero 1. O que é gênero? 2. O que é ser mulher? 3. Como o gênero interfere nos tipos de violência na sociedade? Objetificação 1. Como o corpo da mulher é visto na sociedade? 2. Por que o corpo da mulher é visto desta forma? 3. Por que as mulheres têm seus corpos sexualizados desde a infância? 4. Quais as consequências desta objetificação para a violência contra a mulher? 5. Por que os homens se sentem no direito de assediar uma mulher? 6. Como a mídia interfere na objetificação do corpo da mulher? Interseccionalidade 1. O que interseccionalidade? 2. Quais os principais recortes/ marcadores sociais? 3. Qual a importância de fazer recorte de marcadores sociais para entender a violência contra a mulher? 4. Quais as principais diferenças da violência contra a mulher em diferentes esferas da sociedade? 5. Indicações de fontes: mulheres negras, indígenas, camponesas, periféricas Culpabilização 1. Quais atitudes são vistas como causadora do assédio? 2. Por que vítima não se enxerga como tal? 3. Existe uma culpabilização da vítima? (vítima e sociedade) 4. Qual o impacto da culpabilização na vida das vítimas? 5. Qual o papel da mídia na culpabilização da vítima? Silêncio 1. O que o silêncio representa? 2. Quais os mecanismos sociais que mantêm as vítimas em silêncio? 3. Qual a importância de quebrar o silêncio? Recorte local 1. Quais as características particulares do Estado que agravam o cenário de assédio? Primeiro Assédio
50 1. Você se lembra do seu primeiro assédio? 2. Caso você se sinta à vontade pode contar como foi?
8.4.2 Roteiro Jurídico Pessoal 1. Breve currículo 2. Apresentação (nome e profissão) Assédio 1. Juridicamente, o que é considerado violência contra a mulher? 2. Quais os termos usados para definir os tipos de violência contra mulher? 3.O assédio é considerado uma violência contra a mulher? 4. Como é conceituado o assédio? 5. A sociedade tem o mesmo entendimento do que é assédio verbal? 6. O conceito jurídico contempla o que as mulheres sentem como violência? 7. Na lei existem ‘níveis de gravidade’ para os tipos de assédio? (estágio da violência contra a mulher) 8. Cantadas e assobios se enquadram em que tipo de assédio? 9. Por que não existe um termo para este tipo de violência? 10. Existe algum projeto de lei/ movimento para tipificar essas práticas como violência contra a mulher? 11. O conceito de assédio verbal é 'fluido', como a interpretação pode afetar na defesa da mulher? 12. Falta informação do que é assédio? 13 Como medir o assédio? 14. Há diferença entre assédio sexual e abuso sexual? Infância 1. A campanha #primeiroassedio fez um levantamento e mostrou que a média de idade do primeiro assédio é 9 anos e 7 meses. O que isso representa? Gênero 1. O assédio pode ser visto como uma violência com recorte de gênero? Por que? Objetificação 1. Existe alguma lei quanto a objetificação do corpo da mulher? 4. Quais as consequências desta objetificação para a violência contra a mulher?
51 5. Por que os homens se sentem no direito de assediar uma mulher? Culpabilização 1. Existe uma culpabilização da vítima? (vítima e sociedade) 2. Por que vítima não se enxerga como tal? 3. Quais atitudes são vistas como causadora do assédio? 4. Qual o impacto da culpabilização na vida das vítimas? 5. Por que há a inversão de papéis na violência contra a mulher? 6. Existe uma visão meritocrata na culpabilização da vítima? Silêncio 1. O que o silêncio representa? 2. O que faz com que as mulheres não contem/ denunciem o assédio sofrido? 3. Quais os mecanismos sociais que mantêm as vítimas em silêncio? 4. Qual a importância de quebrar o silêncio? 5. Como quebrar o silêncio? 6. Caso a vítima queira quebrar o silêncio como proceder? Legislação 1. Quais as leis que abordam a violência contra a mulher? 2. Avanços e retrocessos na defesa da mulher? Recorte local 1. Quais as características particulares do Estado que agravam o cenário de assédio?
8.4.3 Roteiro Personagem Nome: Idade: Profissão: Que tipo se situações te incomodam quando você está andando na rua? Você pensa em roupa, horário ou companhia na hora de sair de casa? Você se sente insegura/ com receio de sair para rua? Você já deixou de fazer alguma coisa por insegurança? (sair com determinado tipo de roupa, deixar de ir em algum lugar) Você acha que existe diferença entre cantada e xaveco? Por que? Quais? Você acha que essas atitudes podem ser vistas como elogio?
52 Por que somos ensinadas e ver dessa forma? Você acha que o Estado/ Cidade possuem características particulares que agravam o cenário de assédio? Quais? Você já recebeu cantadas/olhares/assobios de desconhecidos em lugares públicos? Você recebe cantadas/olhares/assobios com que frequência? Você acha que essas situações são aceitas/ naturalizadas pela sociedade? Por quê? Você acha que estas situações acontecem porque somos mulheres? Explique. Na sua opinião, por que os homens se sentem no direito de assediar uma mulher? Relato Qual foi o assédio que mais te marcou? Você pode contar o que aconteceu? Por que esta situação te marcou? Como você se sentiu? Qual foi a sua reação a esta situação? Tinha outras pessoas no local? Se sim, qual foi a reação delas? Você contou o que aconteceu para alguém? Se sim: Qual foi a reação desta pessoa? Foi importante falar sobre isso? Por quê? Se não: Por quê? Se você pudesse, de cabeça fria, voltar à situação e responder o cara, o que diria? Descrição Qual a roupa que estava usando? Você estava sozinha ou acompanhada? Que horário aconteceu? Onde aconteceu? Você passa por esse local com frequência? Estava movimentado? Pra onde você estava indo? Ficou com receio de voltar lá depois?
53 Como era a pessoa que te assediou? Você já o viu antes?
8.5 Enquete
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55 8.6 Desenho do livro Capítulo 1 – Assédio Sem conceituação as cantadas de rua passaram a ser questionadas pelas mulheres que não aceitam terem seus corpos públicos. No capítulo introdutório buscamos traçar o histórico da luta feministas e da construção conceitual dessa situação que faz parte do cotidiano das mulheres. A invasão do corpo também é abordada como uma violência e desmembrada todas as formas de violência contra a mulher. Com a construção local o capítulo aborda os aspectos culturais específicos de Mato Grosso do Sul que o caracterizam como o segundo estados com maior número de notificações de estupros. Capítulo 2 – Gênero Partindo da ideia difundida na obra de Simone de Beauvoir, “O Segundo Sexo”, gênero é uma construção social, queremos abordar esta construção, a profundar o que é ser mulher de acordo com as vivências e dificuldades enfrentadas pelo gênero. Entender quais são os papéis preestabelecidos para os gêneros feminino e masculino e qual o impacto desses lugares sociais para a manutenção do assédio de rua. Acima de tudo, buscaremos compreender a função que a mulher desempenha neste modelo de sociedade atual e qual função ela desejar desempenhar. Capítulo 3 – Naturalização/ Culpa/ Silêncio Naturalizar é tornar alguma natural, inerente, intrínseco, próprio da natureza. As cantadas e assobios são naturalizados em nossa sociedade, o capítulo busca questionar e entender como se dá a naturalização desta violência. Faremos uma análise do contexto sob o qual as relações sociais estão sustentadas e como uma prática que provoca medo e desconforto às mulheres (como aponta consulta com fontes, pesquisas bibliográficas e questionário) pode ser aceita pela sociedade. Os aspectos culturais assim como os padrões que ditam qual tipo de roupa e horário são apropriados para a mulher sair na rua atuam como importante agente que reforça o assédio e transferem a culpa do assédio para a vítima ao invés do assediador. Capítulo 4 – Interseccionalidade/ Objetificação Para tratar a questão de gênero de maneira abrangente, é necessário fazer diferentes recortes, sendo os principais: classe, raça, etnia e territorialidade. O
56 contexto no qual a mulher está inserida influencia no tipo de violência que ela sofre, merecendo uma análise aprofundada de suas especificidades para que haja uma melhor compreensão do conflito. A violação do assédio traz uma das pautas mais atuais para a mulher, a reivindicação da autonomia do próprio corpo. Todos os dias, ao andaram nas ruas. Este capítulo questiona os mecanismos sociais que legitimam essas práticas vindas por homens.
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9 – ANEXOS 9.1 Resultado da campanha “#Chega de Fiu-Fiu”
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