UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE JORNALISMO
VALENTINA: REVISTA DE INFORMAÇÃO FEMININA E FEMINISTA
BRUNA MÜLLER FIORONI LUANA OLARTE DE MOURA
Campo Grande MARÇO / 2017
VALENTINA: REVISTA DE INFORMAÇÃO FEMININA E FEMINISTA
BRUNA MÜLLER FIORONI LUANA OLARTE DE MOURA
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador(a): Profª Drª Katarini Giroldo Miguel
UFMS Campo Grande MARÇO - 2017
SUMÁRIO Resumo
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1. Introdução 1.1. Justificativa 2. Atividades desenvolvidas 2.1. Execução
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2.1.1. Análise das revistas Marie Claire e Glamour
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2.1.2. Projeto editorial
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2.1.3. Projeto gráfico
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2.2. Dificuldades encontradas
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2.3. Objetivos alcançados
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3. Suportes teóricos adotados
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4. Considerações finais
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5. Referências
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6. Apêndices
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RESUMO: A revista feminina Valentina é um produto jornalístico no formato digital destinado às mulheres do Estado de Mato Grosso do Sul na faixa etária entre 18 e 30 anos. O objetivo principal é apresentar temas poucos discutidos pelas revistas existentes e trazer novos pontos de vista aos assuntos do cotidiano em uma visão mais crítica e diversificada, dando visibilidade à evolução adquirida pela população feminina. O propósito da revista é abordar as diferentes faces da mulher sul-mato-grossense do século XXI, incluir temáticas que não possuem espaço regular em uma revista feminina e explorar o universo dessas mulheres em busca de temas que contenham relevância histórica, social e política.
PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo de Revista, Revista Feminina, Feminismo, Mulher.
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1. INTRODUÇÃO
O projeto experimental da Revista Valentina busca reunir temas direcionados ao público feminino do Estado de Mato Grosso do Sul, que exploram questões não aprofundadas nos demais meios de comunicação específicos para mulheres, como, por exemplo, a diversidade étnica das brasileiras, a saúde da mulher e o próprio feminismo. O interesse foi no desenvolvimento de pautas que desconstroem estereótipos, identificados a partir de estudos e análises de produtos já existentes com conteúdo feminino. A proposta da revista é contemplar as mulheres que se identificam com os ideais feministas e que buscam informações, mas não se sentem representadas pela mídia atual. O foco do conteúdo foi a produção de gêneros e formatos que normalmente constituem uma revista, como reportagens, notícias, artigo de opinião e demais, fundamentados em pesquisas feitas a partir de livros e trabalhos e na apuração de informações que embasaram cada texto. Os assuntos estão contextualizados em Mato Grosso do Sul, principalmente na capital Campo Grande, abrangendo as mulheres da região, em pautas como: o feminismo contemporâneo, o uso do coletor menstrual e as alternativas aos absorventes, debate sobre a regulamentação da prostituição, empreendedorismo rural feminino, entre outras. Foram realizados estudos sobre os gêneros narrativos, explorando o jornalismo interpretativo. De acordo com Leandro e Medina (1973), os elementos principais para a composição de uma reportagem interpretativa são aprofundamento, antecedentes – temporais, espaciais e do fato – contextualização e humanização. O jornalismo em profundidade é o gênero que se encaixa em um produto como a revista, já que a intenção é expor os fatos fundamentados na apuração e pesquisas realizadas. Para Vilas Boas (1996), o jornalismo interpretativo se diferencia do informativo pela análise e aprofundamento dos fatos e por se estabelecer um espaço para a inovação. A internet alterou tanto a forma de propagação do conteúdo, que chega rapidamente e em uma escala muito maior, quanto o formato da comunicação e
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linguagem, que dão ao jornalismo uma nova configuração, e por isso é necessário inovar dentro dela. A partir dessa perspectiva, o conteúdo da revista está disponível gratuitamente no meio digital, e esperamos assim que atinja o nosso público com mais facilidade. Desse modo, foi criada uma página no Facebook para a divulgação da revista na íntegra e postagem de conteúdo complementar, com vídeos e fotos. A finalidade desse projeto engloba, enfim, a propagação de um conteúdo feminista para quem quer uma mídia alternativa. A revista digital segue no DVD para conhecimento e está disponível em nossa página do Issuu (issuu.com/revistavalentinams) e Facebook (facebook.com/revistavalentinams).
1.1. JUSTIFICATIVA
A proposta da revista feminina Valentina é um veículo de comunicação online no formato de revista digital com conteúdo regional, direcionado a mulheres residentes no Estado de Mato Grosso do Sul na faixa etária entre 18 e 30 anos. O produto tem como ideia principal introduzir conteúdos – como os já citados, coletor menstrual e alternativas aos absorventes sintéticos, técnicas de tratamento capilar baseadas em produtos naturais – e trazer novos pontos de vista aos assuntos do cotidiano já tratados em diversas revistas para o público feminino, em uma visão mais crítica e diversificada que evidencie as problemáticas que não são abordadas abertamente. O propósito da revista é expor as diferentes faces da mulher sul-mato-grossense na sociedade e introduzir no mundo jornalístico uma revista que dê visibilidade à evolução adquirida pela população feminina. A revista foi produzida considerando o embasamento teórico do movimento feminista e do jornalismo de revista, a partir de referências bibliográficas da área e atendendo aos procedimentos de pesquisa e entrevista para a elaboração de notícias e reportagens. Ao longo dos últimos anos, o movimento feminista vem se estabelecendo como uma das principais manifestações sociais de caráter transformador, conquistando o espaço das mulheres no mercado de trabalho, garantido o direito ao voto e derrubando aos poucos os estereótipos estabelecidos no decorrer da história. Durante
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esse período, tais transformações refletiram na modernização das revistas direcionadas ao público feminino (TAPIOCA NETO, 2013; BUITONI, 1981). Inicialmente, os assuntos das publicações se restringiam à moda e literatura, porém, conforme as pautas feministas
avançavam
no
cenário
político
do
movimento,
foi
inevitável
o
acompanhamento das revistas. De acordo com o levantamento feito por Buitoni (1981), em 1852, o Jornal das Senhoras possuía artigos de cunho feminista, denunciando a maneira possessiva com que os homens tratavam suas esposas e filhas. Com o passar dos anos, as revistas femininas foram surgindo de acordo com as novas necessidades de consumo e da mulher, e introduzindo estilos modernos de publicações. No entanto, apesar das mudanças constatadas, revistas atuais ainda tratam o universo da mulher como frágil e cercado por regras de comportamento e estética. Diante da evolução e conquistas do universo feminino, este projeto de trabalho se propõe a tratar de assuntos que introduzam um novo tipo de consciência e se adequem às necessidades e interesses da mulher sul-mato-grossense do século XXI. As revistas representam épocas e só funcionam em perfeita sintonia com seu tempo (SCALZO, 2004), assim, estando a história das mulheres em constante transformação, é imprescindível que os veículos de comunicação destinados ao público feminino acompanhem tais mudanças e as novas condições da mulher atual. A mulher do século XXI nasce diferente daquela do século XIX, o que significa mudança e evolução nos assuntos abordados. De acordo com Silva, (2014, p. 3), “os hábitos, gostos e opiniões das mulheres mudaram com o passar do tempo. O seu lugar na sociedade mudou, a maneira como o sexo feminino era visto foi transfigurada”. A partir das leituras feitas sobre a história do movimento feminista e da imprensa feminina, é possível concluir que, com o tempo, essas mulheres passaram a se unir na defesa de novos interesses em comum e, por consequência disso, é essencial que os produtos midiáticos do século XXI atendam a esse novo perfil. […] quase não vi a mulher com quem se cruza na rua […]. Não vi a funcionária dos correios do século passado, não vi a bancária de hoje. Nem eu me vi. Às vezes, vislumbrei uns rostos de carne e osso, que se perdiam ao virar das páginas. Queria ter encontrado mais mulheres de verdade na imprensa feminina brasileira. (BUITONI, 1981, p. 8-9)
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Segundo Scalzo (2004), durante o século XIX e a primeira metade do século XX, as revistas femininas eram feitas e escritas por homens, com abordagens sobre moda, culinária e artigos de interesse geral. Nesse período houve publicações de mulheres preocupadas com sua condição na sociedade e seus direitos, mas acabaram não obtendo relevância. Somente na década de 1960 que jornalistas passaram a tratar de temas até então intocáveis, como o machismo, problemas sexuais e a alienação das mulheres, em revistas conceituadas da época. Tais temas, inevitavelmente, acabaram sendo mais discutidos e abordados desde então. Apesar da evolução observada, muitas revistas femininas atuais ainda tratam o universo da mulher como frágil e cercado por regras de comportamento e estética. Diante do empoderamento que vem sendo conquistado a cada dia, devem deixar de lado assuntos tratados como tabus para um novo tipo de consciência ser introduzido em nossa sociedade. O papel da mulher vem sendo cada vez mais discutido e questionado pela sociedade atual, de modo a quebrar estereótipos e preconceitos disseminados pela história e pelo machismo. Mesmo com o sistema ainda dominado pelo patriarcado, as mulheres vêm conquistando seu espaço e buscando por mais mudanças. A desigualdade de gênero está presente não apenas em áreas como mercado de trabalho, saúde e educação, mas também em simples ações do cotidiano. O machismo mora em pequenas atitudes, que, por estar introduzido na nossa cultura, acaba por ser imperceptível e naturalizado como comportamento. Em vista disso, tem-se a necessidade de esclarecer conceitos e propor discussões em torno das relações de poder entre homens e mulheres, suas causas e consequências. Nessa perspectiva, vemos no jornalismo e no formato revista uma forma de contribuir para o debate a fim de descaracterizar os tabus em torno de questões relacionadas à mulher.
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2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o período de desenvolvimento trabalho, foram realizadas as seguintes atividades: a) Criação e definição do tema do produto; b) Pesquisas bibliográficas e leituras referentes ao tema; c) Estruturação e redação do projeto; d) Reuniões de acompanhamento com a orientadora; e) Análise exploratória e quantitativa para verificação de conteúdo das revistas Marie Claire e Glamour (edições de julho a dezembro de 2016), com a tabulação dos dados da pesquisa e construção de gráficos; f) Definição e elaboração das pautas (ver apêndice A); g) Busca e contato com possíveis fontes; h) Criação do logotipo e definição da identidade visual da revista (ver apêndices B e C); i) Criação da página no Facebook (ver apêndice D). j) Criação de vinheta para os vídeos postados na página do Facebok; k) Edição dos vídeos postados na página do Facebook; l) Criação e divulgação de formulário sobre saúde da mulher (ver apêndice E); m) Realização de entrevistas com 38 fontes para a produção de 12 pautas (não houve entrevista para o artigo de opinião, apenas instruções básicas sobre o tema a ser escrito, e para a pauta de cultura, que são sugestões de filmes e documentários, séries, livros e música); n) Decupagem das entrevistas; o) Sessão de fotos das modelos mulheres selecionadas para o editorial de moda; p) Redação de textos e apuração de conteúdo; q) Elaboração do projeto gráfico da revista; r) Realização da diagramação da revista de acordo com o projeto gráfico (ver 2.1.3. Projeto gráfico);
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s) Hospedagem
do
arquivo
na
plataforma
Issuu
(issuu.com/revistavalentinams) e divulgação na página do Facebook (facebook.com/revistavalentinams).
2.1. EXECUÇÃO
A ideia da produção de uma revista feminina com angulação feminista surgiu pela leitura e contato diário com as revistas que são atualmente voltadas ao público feminino, concluindo-se a necessidade de um produto midiático que melhor represente a mulher do século XXI. A partir disso, a proposta era introduzir conteúdos que não possuem espaço regular e trazer novos pontos de vista aos assuntos do cotidiano já tratados na mídia feminina atual. Com o tema definido, foram realizadas pesquisas bibliográficas e leituras de livros de conteúdos feministas, jornalismo de revista, revistas femininas, gêneros narrativos e trabalhos de análise da imprensa feminina, especialmente no formato revista. Iniciou-se, então, a idealização deste produto como Projeto Experimental. Foi realizada uma análise quantitativa das revistas Marie Claire e Glamour para a identificação e avaliação de matérias publicadas, principais conteúdos e temáticas reproduzidos pelas revistas femininas que estão atualmente no mercado, com a proposta de reconhecimento empírico das abordagens e verificação da hipótese de que as revistas femininas reiteram temáticas que pouco contribuem para a emancipação crítica da mulher. As edições analisadas foram de julho de 2016 a dezembro de 2016, totalizando seis edições de cada revista. Os resultados estão no item 2.1.1. Análise das revistas Marie Claire e Glamour. As leituras que embasaram a fundamentação teórica juntamente com a pesquisa experimental foram os alicerces para a concepção do planejamento editorial da revista. A escolha do nome Valentina foi embasada pela preferência por um nome próprio feminino e de sonoridade forte. Segundo o Dicionário de Significados de
10
Nomes1, Valentina é a variante feminina de Valentim e Valentino, que tem origem no nome do latim Valentinus, um diminutivo de valens e valentis, que significa “valente, forte, vigoroso, cheio de saúde”. Além disso, a escolha foi também fundamentada pela personalidade histórica, a cosmonauta russa Valentina Tereshkova 2, primeira mulher a visitar o espaço em junho de 1963. Para o planejamento gráfico e de edição da revista foi criada uma identidade visual e escolhida uma linha editorial. As pautas (seguem nos apêndices) são inclusivas e de interesse social, ou seja, abrangem uma variedade de mulheres dentro do contexto regional e visam melhorar a vida em sociedade. Os assuntos moda e beleza não foram excluídos, porém os assuntos tratados possuem visão mais ampla, de modo a fugir do modo tradicional com que as revistas atuais tratam tais assuntos. A intenção não era excluir completamente os assuntos populares de revistas femininas, mas sim atualizá-los e quebrar os padrões, buscando atingir mulheres que não se sentem contempladas pelas revistas atuais. Junto a isso, também foram pautados assuntos de interesse social e político, contemplando uma visão mais feminista. Os dados necessários para a produção da revista foram coletados através da realização de um trabalho jornalístico de apuração, entrevistas – de acordo com as técnicas de reportagem – e produção textual nos formatos jornalismo interpretativo e de revista. São utilizadas referências de O estilo magazine de Sérgio Vilas Boas, de modo a entender as especificidades dos textos escritos para revistas e pensar em novas formas de se fazer reportagem e em alternativas possibilidades de redação. Para Vilas Boas (1996), as revistas resgatam o jornalismo em profundidade. Em conclusão, para a difusão do projeto, a Revista Valentina foi publicada na plataforma digital Issuu (issuu.com/revistavalentinams) e a divulgação foi feita por meio da página criada no Facebook (facebook.com/revistavalentinams) a fim de interação com o público-alvo e produção de conteúdo multimídia complementar, como fotos e vídeos. É um modo de atender a tendência do jornalismo na internet, que permite fácil e gratuito acesso de conteúdo aos interessados. 1
Dicionário de nomes próprios, Valentina. Disponível em: < https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/valentina> Acesso em: dez. 2016. 2
Biography, Valentina Tereshkova. Disponível em: <http://www.biography.com/people/valentinatereshkova-022516> Acesso em: dez. 2016.
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2.1.1. ANÁLISE DAS REVISTAS MARIE CLAIRE E GLAMOUR – EDIÇÕES DE JULHO A DEZEMBRO DE 2016
Durante os meses de novembro e dezembro de 2016, foi realizada uma pesquisa exploratória na tentativa de compreender in loco a abordagem contemporânea das revistas femininas mais populares. A escolha das revistas Marie Claire e Glamour foi fundamentada no tempo de atuação de cada revista no Brasil, sendo uma mais antiga e outra mais recente. A revista Marie Claire é publicada desde abril de 1991 e a Glamour desde abril de 2012. Ambas são revistas inseridas no mercado de revistas femininas atual e pertencem à editora Globo. Além disso, Marie Claire 3 possui 33 edições internacionais, 53 milhões de exemplares por ano, 16 milhões de leitoras por mês e 68% delas afirmam não ler nenhuma outra revista concorrente. Glamour 4 é considerada a revista número um da Europa e a que mais vende em bancas no Brasil, possui 364 mil leitores, 146,7 mil exemplares e 328 mil leitoras exclusivas. Primeiramente, foi analisada a quantidade de matérias em cada edição das revistas, que foi dividida em duas categorias: tema e formato jornalístico. As matérias foram categorizadas em: 1) reportagem, 2) notícia, 3) entrevista, 4) artigo e coluna, 5) dossiê e 6) caderno fotográfico. A atual classificação de Marques de Melo (2010) propõe cinco gêneros jornalísticos brasileiros – informativo, opinativo, interpretativo, utilitário e diversional, cada gênero possuindo seus formatos. Os formatos reportagem, notícia e entrevista pertencem ao gênero informativo; os formatos artigo e opinião – que foram deixados juntos para essa classificação – pertencem ao gênero informativo; e o formato dossiê pertence ao gênero interpretativo. Na primeira classificação, a categoria “estilo de vida” inclui matérias sobre viagens,
gastronomia,
artigos
e
colunas
de
opinião,
enquanto
a
categoria
“comportamento” inclui entrevistas e matérias com celebridades, reportagens sobre história de vida de mulheres e atualidades. A categoria “cultura” abriga, em sua maioria,
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Mídia Kit Marie Claire, 2015. Disponível em: <http://marieclaire.globo.com/midiakit/arquivos/MidiaKit_MarieClaire_2014.pdf> Acesso em: nov. 2016. 4 Mídia Kit Glamour, 2016. Disponível em: <http://editora.globo.com/midiakit/gl/midiakit_gl.pdf> Acesso em: nov. 2016.
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dicas de filmes, séries, livros e músicas, e traz alguns destaques da cultura pop. (Gráficos 1 e 2)
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A segunda classificação foi baseada em Marques de Melo (2010), em que 1) o formato reportagem trata-se de um relato ampliado de um acontecimento que produziu impacto no organismo social, com maior aprofundamento dos fatos; 2) o formato notícia é um relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social; 3) o formato entrevista é uma relato que privilegia a versão de um ou mais protagonistas dos acontecimentos; 4) o formato artigo é uma matéria jornalística em que os jornalistas e cidadãos desenvolvem ideias e apresentam opiniões e o formato coluna é compõe-se por um mosaico estruturado por unidades curtíssimas de informação e de opinião; e 5) o formato dossiê constitui-se de um mosaico, com dados condensados sob a forma de “boxes”, ilustrados com gráficos, mapas, tabelas ou imagens. (Gráficos 3 e 4)
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Para a terceira classificação, foi feita a contagem de matérias com assuntos que fogem aos padrões encontrados nas revistas analisadas – temas em pauta no movimento feminista, como machismo, estupro e prostituição – e matérias de moda, beleza e saúde, cujo enfoque é mais inclusivo, ou seja, compreendem mulheres diversas dentro do contexto regional. (Gráfico 5 e 6) (Tabelas 1 e 2)
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Tabela 1: Marie Claire – julho a dezembro de 2016
Julho/2016
Agosto/2016
O drama de três vítimas Debate: de estupro coletivo
Legalização
Setembro/2016 da Rosa é a cor mais cara (taxa rosa: produtos “de
prostituição
“Queria deixar um legado mulher” são mais caros) mais
positivo
para
as
mulheres” (entrevista com Dilma Rousseff) Blogueiras do sexo
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Outubro/2016
Novembro/2016
“Me libertei de um marido Dilema
sobre
a
Dezembro/2016 pílula Uma nova voz para as
conservador e me tornei anticoncepcional uma
empresária
negras do Brasil
de
sucesso” A ativista que combate o tráfico humano
Tabela 1: Glamour – julho a dezembro de 2016
Julho/2016 Lições
de
curvilínea
uma
Agosto/2016
Setembro/2016 “Por
celeb Cacho é cool
um
fio”
(designer
Um nude pra chamar de conta como sua autoestima seu
(batons
nude
diferentes tons de pele)
para ajudou a vencer o câncer)
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Outubro/2016 Especial carreira
Novembro/2016 Glamour
no
Dezembro/2016
espelho Profissões vintage: quatro
(caderno fotográfico sobre mulheres levam o charme vintage aos negócios
diversidade de corpos) Raio X dos orgânicos Slow beauty (cosméticos orgânicos,
veganos
e
cruelty-free)
Em conclusão a este levantamento, observamos que existe uma tentativa ínfima das revistas em trazer pautas mais inclusivas e com assuntos que fujam do padrão moda e beleza. Porém, tais assuntos continuam sendo prioridade absoluta e encontrados em maior quantidade, e ainda não há o aprofundamento necessário em temas mais polêmicos e que exijam um debate aprofundado.
2.1.2. PROJETO EDITORIAL
A escolha do formato revista para este produto deve-se ao fato de ser um formato que tem “a necessidade de sair da factualidade excessiva, da superficialidade do dia a dia” (SCALZO, 2004, p. 42). Tal necessidade remete ao objetivo principal deste trabalho, que é trazer pautas com novos pontos de vista dos assuntos do cotidiano já tratados em outras revistas femininas, e conteúdos diferenciados, de modo a promover a diversidade e representar suas particularidades. Segundo Scalzo (2004), atribui-se as revistas a capacidade de reunir as pessoas e, inclusive, identificar integrantes de um grupo. O formato digital foi escolhido com a intenção de atingir o público-alvo com mais facilidade. A proposta é desenvolver a revista dentro do contexto digital em que a mídia se encontra atualmente, aproveitando-se da internet como ferramenta de propagação de conteúdo feminista e atingindo um público que busca informações por mídias alternativas.
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A Revista Valentina tem como público-alvo mulheres residentes em Mato Grosso do Sul na faixa etária entre 18 e 30 anos. O projeto editorial tem como proposta produzir, assim, uma revista com conteúdo jornalístico voltado para o público feminino e feminista de Mato Grosso do Sul que busca uma mídia mais alternativa. Propõe atingir as diferentes faces do público feminino, incluindo assuntos que não possuem espaço regular em uma revista feminina. Nesse sentido, foi produzida uma revista com 42 páginas com as seguintes seções e matérias: - Editorial (1/2 página); - Quem somos (1/2 página); - Sumário (1 página); - Economia (2 páginas): Mulheres da terra; - Capa (7 páginas): Todas por todas; - Debate (3 páginas): A regulamentação da prostituição; - Vozes Femininas (4 páginas): “A origem fundamental do tráfico de pessoas está na desigualdade”; - Caderno fotográfico (7 páginas): Qual é a sua moda?; - Beleza (4 páginas): Fios saudáveis; - Make (2 páginas): Tom pra todas; - Corpo e saúde (3 páginas): Viva leve com o copinho e Gineco responde; - Dicas culturais (2 páginas); - Astrologia (2 páginas): A astrologia além dos estereótipos; - Opinião (1 página): Machismo nosso de cada dia.
2.1.3. PROJETO GRÁFICO
A Revista Valentina propõe textos mais longos e aprofundados, mas sem recusar o uso de muitas fotos e imagens ilustrativas, que são essenciais para a construção de uma linguagem visual atrativa. O projeto gráfico busca conciliar essas duas linguagens – textual e visual – para que o público leitor tenha acesso às informações de forma mais leve e com entretenimento. Ou seja, a linguagem textual
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pode ser densa, mas a linguagem visual deve ser leve, dando fluidez ao conteúdo. Esse modelo tem o foco de chamar a atenção do leitor e, após sua imersão na revista, mantê-lo até o final. A revista tem um número total de 42 páginas. Pela escolha do formato digital, o tamanho foi trabalhado em pixels, 1024x768. Para facilitar a leitura, a fonte de texto predominantemente usada foi Arial na cor preta (#000000) e branca (#FFFFFF), dependendo da cor de fundo da página. A linha fina foi padronizada na fonte Cataneo BT, podendo ser utilizada em diferentes cores. Os tamanhos também podem variar de acordo com a diagramação de cada página. Para a demarcação das seções da revista, foi usada a fonte Century Gothic, tamanho 24, em itálico. Cada matéria possui fontes e cores diferentes em seu título e boxes. A criação do logotipo da revista foi baseada no princípio do minimalismo, ou seja, o emprego do menor número de elementos para manter um visual mais leve e limpo. Desse modo, foi utilizada a fonte Adam com três possibilidades de cores (o plano de fundo pode exigir uma cor mais clara ou escura no logotipo): bordô (#733039), preto (#101010) e nude (#e5b1d4). Essas formam a paleta de cores da identidade visual da Revista Valentina (ver apêndices B e C).
2.2. DIFICULDADES ENCONTRADAS
O primeiro obstáculo encontrado durante o desenvolvimento do trabalho foi a falta de material de leitura específico e atual sobre revistas femininas. Segundo, a fragmentação do semestre resultou em redução do tempo para o desenvolvimento das pautas, o que ocasionou dificuldades para a realização de todas as entrevistas desejadas e decupagem das mesmas. Pelo menor tempo de produção, algumas das entrevistas tiveram que ser realizadas por e-mail ou telefone, já que 1) entrevista in loco demanda mais tempo, e 2) houve dificuldades na disponibilidade de horários em comum com as fontes. Tal problema resultou na necessidade de se utilizar fotos de arquivo pessoal de alguns dos entrevistados. Entre esses também está inclusa a questão geográfica, ou seja, a impossibilidade de entrevistar in loco pessoas do interior do Estado.
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Outra barreira encontrada foi o contato direto com fontes – algumas foram difíceis de encontrar e outras tiveram que ser trocadas pela dificuldade em conseguir respostas. A pauta da taxa rosa apresentada no projeto inicial teve que ser alterada por não serem encontradas diferenças consideráveis de preços entre produtos masculinos e femininos nas lojas visitadas. Em seu lugar, foi desenvolvida uma pauta sobre o empreendedorismo rural feminino, de forma a dar visibilidade para as mulheres do campo, uma área de tanta expressividade em Mato Grosso do Sul. Por fim, houve dificuldades em conciliar linguagem textual e visual na diagramação da revista de forma que a mesma cumprisse com sua proposta. A produção foi de textos mais detalhados e com bastante informação, mas também não poderíamos – e nem queríamos – fugir da essência de uma revista, ou seja, o uso de muitas imagens e recursos visuais.
2.3. OBJETIVOS ALCANÇADOS O objetivo geral, “produzir uma revista com conteúdo jornalístico voltado para o público feminino e feminista de Mato Grosso do Sul contemplando o avanço individual e coletivo das mulheres e o surgimento de novos assuntos de interesse”, foi cumprido. O mesmo aconteceu com os objetivos específicos estabelecidos no projeto inicial. O primeiro objetivo de realizar um estudo sobre jornalismo de revista, feminismo e revistas femininas foi alcançado a partir das pesquisas bibliográficas e leituras para a fundamentação teórica do projeto. A pesquisa exploratória para analisar os conteúdos das revistas femininas atuais proposta no segundo objetivo foi realizado com a análise das revistas Marie Claire e Glamour. Dessa forma, o objetivo de fazer o levantamento das pautas a serem produzidas, fugindo da lógica da mídia convencional, também foi cumprido. A elaboração da identidade visual (paleta de cores e logotipo) da revista foi concluída assim como o planejamento gráfico. O terceiro e quarto objetivos, “criar um veículo que apresente assuntos poucos discutidos pelas revistas femininas existentes e dar visibilidade às evoluções
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social, política, econômica e cultural adquiridas pela população feminina” e “produzir uma revista que possa expor as diferentes faces da mulher campo-grandense na sociedade e que proporcione identificação por parte destas mulheres” foram cumpridos com a execução das entrevistas, decupagem, redação, diagramação e finalização da revista. Por fim, o quinto e último objetivo, “criar uma plataforma para difusão da revista e com conteúdo complementar, em uma proposta mais participativa e de diálogo com o público-alvo” também foi concluído. Foi criada uma página no Facebook (facebook.com/revistavalentinams) para a divulgação da revista e foi realizada a postagem de conteúdos complementares. A plataforma escolhida para a hospedagem da revista foi o Issuu (issuu.com/revistavalentinams).
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3. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS
O objetivo principal da proposta de Valentina é abordar os assuntos ditos como comuns às revistas femininas de modo mais inclusivo, de modo a abranger mulheres que não se sentem contempladas pelas revistas atuais, e trazer pautas combativas de teor feminista e interesse social. Considerando que a proposta será fundamentada pelo contexto do feminismo, é importante entender como “o feminismo procurou, em sua prática enquanto movimento, superar as formas de organização tradicionais permeadas pela assimetria e pelo autoritarismo” (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 8). Com o estudo de Alighieri (2015) é possível observar estratégias discursivas de duas revistas femininas populares e, com isso, entender de que modo as publicações criam vínculos com suas leitoras. O surgimento das revistas populares é um marco importante no processo de democratização da informação pelo qual o Brasil vem passando desde o fim da ditadura militar. Segundo Alighieri (2015, p. 14), “quanto mais próxima da realidade da audiência for a matéria destas publicações, maior será o contrato de comunicação”. O contrato de comunicação entre o leitor e a revista se dá pelo tema abordado, pela linguagem acessível e pela utilização de recursos gráficos que ajudam a complementar a leitura, como boxes e infográficos. Para Scalzo, “a revista é comunicação de massa, mas não muito. Quando atingem públicos enormes, começam a correr perigo” (SCALZO, 2004, p. 16). Por isso as revistas focam em um público segmentado, que tem interesse sobre o tema. Dessa maneira, o público-alvo da Valentina é direcionado às jovens mulheres sul-mato-grossenses, que querem desfrutar de um conteúdo livre de tabus.
As revistas vieram para ajudar na complementação da educação, no aprofundamento de assuntos, na segmentação, no serviço utilitário que podem oferecer a seus leitores. [...] É isso: revista tem foco no leitor – conhece seu rosto, fala com ele diretamente. Trata-o por você. (SCALZO, 2004, p. 14-15)
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De acordo com Scalzo (2004), a durabilidade de uma revista ocorre, não apenas com bons textos e linguagem de interação com o leitor, mas também é preciso seguir as tendências da época e evoluir junto com o tempo. Com o advento da internet e a inserção dos meios de comunicação nas redes sociais, se faz necessário desenvolver a revista dentro do contexto digital que a mídia se encontra atualmente.
[...] talvez a força maior, mais importante e menos aparente do movimento feminista esteja na semente de questionamento e de reivindicação que surge na consciência das mulheres que, vivendo anonimamente seu cotidiano, vêm tentando transformá-lo e recriar a sua relação com o mundo, com os companheiros, com os filhos, consigo mesmas. (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 70)
As publicações femininas se destacaram ao longo dos anos por trazerem temas do universo da mulher e do lar e por um tipo de linguagem mais “pessoal e afetiva” (BUITONI, 1986, p. 9). Na década de 1960, as revistas começaram a fortalecerse como porta-vozes de transformações sociais, abordando em revistas femininas temas como sexo, machismo, saúde, beleza, direitos da mulher e tantos outros. Tais temas, inevitavelmente, acabaram sendo mais discutidos e abordados nas revistas desde então, ajudando a consolidar as mudanças que já estavam acontecendo no universo feminino na mesma época. Scalzo (2004) ainda lembra que:
[...] com a mulher entrando para valer no mercado de trabalho, há um grande crescimento no mercado de revistas femininas. Nesse momento começam a aparecer também revistas que não tratam as mulheres como simples donas-de-casa e mães, mas como profissionais em busca de realização (2004, p. 34).
Foi nessa mesma década de 1960 que o movimento feminista ganhou força perante a sociedade, com a defesa de assuntos referentes a métodos contraceptivos e maior inserção no mercado de trabalho. O movimento feminista começou a questionar as raízes culturais das desigualdades no exercício de direitos políticos, trabalhistas e civis, passando a “se constituir em inegável força política com enorme potencial de transformação social” (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 58). A partir da década de 1960, as revistas femininas começaram a representar um espaço de debate das questões que afligiam as mulheres na época. Com tantas
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mudanças
e
transformações
acontecendo,
novos
questionamentos
ligados
à
sexualidade, à condição e ao papel feminino na sociedade, as revistas ocuparam a função de eixo norteador. Uma das principais vozes que deu força ao feminismo como movimento político veio do livro O Segundo Sexo (1949), de Simone de Beauvior. A obra representa um marco para o movimento feminista moderno e é considerada um clássico da literatura feminista. Nela, Beauvior representa uma voz isolada num momento de transição, após a ascensão do nazi-fascismo e eclosão da Segunda Guerra Mundial. Na interpretação de Alves e Pitanguy (1984), Beauvior faz uma análise profunda sobre o desenvolvimento psicológico da mulher e os condicionamentos que sofre durante sua socialização, delineando os fundamentos da reflexão feminista. Tal reflexão ressurge a partir da década de 1960, quando são publicados novos estudos considerados precursores para a construção de uma teoria feminista: A Mística Feminina (1963), de Betty Friedan; Política Sexual (1970), de Kate Millet; A Condição da Mulher (1971), de Juliet Mitchell; e, no Brasil, A Mulher na Sociedade Classes (1976), de Heleieth Saffioti. Apesar de ter consolidada sua força política somente a partir da década de 1960, os ideais da revolução feminista como movimento liberal a favor da consciência da mulher como ser autônomo e independente possuem raízes ainda no século XVII, antes da Revolução Francesa.
Na França, neste mesmo século marcado por revoluções, a mulher, que participa ativamente ao lado do homem no processo revolucionário, não vê também as políticas estenderem-se ao seu sexo. É neste momento histórico que o feminismo adquire características de uma prática de ação política organizada. (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 32)
Assim, em 1789, mulheres revolucionárias francesas se unem a um movimento que assume como discurso próprio a luta da mulher. Sua primeira reivindicação como movimento feminista é a mudança na legislação do casamento. No mesmo período, começam a surgir publicações sobre a situação da mulher, abordando questões sobre trabalho, desigualdade de direitos civis, participação política e prostituição.
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Não nos deixaremos, portanto, intimidar pelo número e pela violência dos ataques dirigidos contra a mulher, nem nos impressionar com os elogios interesseiros que se fazem à “verdadeira mulher”; nem nos contaminar pelo entusiasmo que seu destino suscita entre os homens que por nada no mundo desejariam compartilhá-lo. (BEAUVIOR, 1949, p. 20)
O movimento feminista atual levanta a questão do processo social como aprendizagem e raiz cultural da diferenciação entre homens e mulheres. Segundo Alves e Pitanguy (1984, p. 55), “a política, o sistema jurídico, a religião, a vida intelectual e artística são construções de uma cultura predominantemente masculina” e, dessa forma, o movimento feminista atual refuta a diferenciação de papéis baseada em critérios biológicos. Ainda afirma: O “masculino” e o “feminino” são criações culturais e, como tal, são comportamentos apreendidos através do processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprirem funções sociais específicas e diversas. Essa aprendizagem é um processo social. Aprendemos a ser homens e mulheres e a aceitar como “naturais” as relações de poder entre os sexos. (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 55).
Diante de tais criações culturais, o machismo acaba se tornando um comportamento naturalizado. A mulher é comumente retratada como um símbolo fraco e inferior, que não executa tão bem tarefas que envolvem liderança, esforço físico e intelectual quanto os homens. Esse discurso se repassa e se reproduz de forma imperceptível. Atos de violência doméstica – física, verbal e psicológica – ainda são frequentes, o assédio sexual existe e é relativizado, tanto quanto preconceitos e diferenças salariais no mercado de trabalho, padrões de beleza incessantes, entre outros. A romantização de relacionamentos abusivos, proveniente da ideia de superioridade masculina, são exaustivamente abordados tanto na literatura quanto nos diversos meios de comunicação, que acabam por perpetuar que o amor é indissociável da posse. Esse pensamento é o que faz do feminicídio um dos crimes mais praticados no Brasil e no mundo. De acordo com o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, realizado sob a direção do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, dos 4.762 assassinatos
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de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários em 2013. O Mapa da Violência 2015 revela ainda que 85% das mulheres brasileiras têm medo de sofrer violência sexual. Dados da pesquisa Percepção da sociedade sobre violência e assassinatos de mulheres (2014), realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Data Popular, apontam que três em cada cinco mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos. A pesquisa ainda revela que o problema está presente no cotidiano da maior parte dos brasileiros: entre os entrevistados, de ambos os sexos e todas as classes sociais, 54% conhecem uma mulher que já foi agredida por um parceiro, 56% conhecem um homem que já agrediu uma parceira, e seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. Sobre o mercado de trabalho, dados do décimo relatório de desigualdade de gêneros no mundo (The Global Gender Gap Report 2015), realizado pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) mostram que, no Brasil, o salário médio das trabalhadoras é de US$ 12.000, enquanto, no caso dos homens, é de US$ 20.600 – uma diferença de US$ 8.500. Em relação a 2014, o país recuou nove posições no ranking de igualdade salarial, passando da 124ª para 133ª posição. O estudo ainda revela que a participação de mulheres em cargos de alto nível é de apenas 15%. Quando se trata de revistas femininas, a partir dos estudos de Antonio (2009), os assuntos mais pautados referem-se à beleza, corpo e estética.
As revistas femininas, ao longo dos anos, foram incorporando e ampliando as questões ligadas à beleza em sua pauta, e a cirurgia estética, ao longo dos últimos anos, passou a exercer um fascínio enorme diante da possibilidade de modelagem do corpo. (ANTONIO, 2009, p. 19).
A sociedade contemporânea vive em plena vigência do culto ao corpo. A mídia explora e ultrapassa os limites daquilo que é real. Para Antonio, a preocupação com o corpo e a beleza é “reflexo de uma supervalorização da aparência que tomou conta de tudo e todos nos últimos tempos, gerando uma busca frenética pelas formas
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ideais” (2009, p. 30). Flor afirma que os meios de comunicação veem no corpo um “elemento essencial na construção da imagem do indivíduo na sociedade e um bem simbólico” (2012, p. 30). A pesquisa A real verdade sobre a beleza (2010/2013) realizada pela Dove ouviu seis mil mulheres em 20 países e revela que apenas 4% das mulheres em todo o mundo se consideram bonitas. Ainda, nove em cada 10 mulheres gostariam de mudar algum detalhe na própria aparência e apenas 11% se sentem confortáveis em se descreverem como bonitas. Dados como esses apresentados nos fazem refletir sobre a produção, internalização e reprodução de ideologias de diferenciação entre os gêneros. Apesar das conquistas adquiridas, tais questões ainda permanecem enraizadas culturalmente em nossa sociedade e integram frentes de luta do movimento feminista atual.
O movimento feminista denuncia a manipulação do corpo da mulher e a violência a que é submetido, tanto aquela que se atualiza na agressão física – espancamentos, estupros, assassinatos – quanto a que o coisifica enquanto objeto de consumo. Denuncia da mesma forma a violência simbólica que faz de seu sexo um objeto desvalorizado. Reivindica a autodeterminação quanto ao exercício da sexualidade, da procriação, da contracepção. Reivindica, também, o direito à informação e ao acesso a métodos contraceptivos, seguros, masculinos e femininos. [...] O movimento feminista voltou-se para o campo da saúde, onde propõe uma reapropriação do conhecimento do corpo. [...] O movimento feminista vem travando uma luta para no sentido de denunciar os conceitos “masculino” e “feminino” na sua oposição “superior” e “inferior”. [...] é uma construção ideológica e não o reflexo da diferenciação biológica. (ALVES; PITANGUY, 1984, p. 60-61).
De modo a acompanhar as transformações de pensamento trazidas pelo movimento, as revistas femininas começaram a estender seus conteúdos para um formato mais libertário e introduzir novos assuntos de interesse – muitos até então tratados como tabus – em suas publicações. Algumas das revistas brasileiras que surgiram foram: Capricho (1952), Manequim (1959), Claudia (1961), Nova (inspirada na norte-americana Cosmopolitan) (1973), Vogue Brasil (1975), Elle (1988) e Marie Claire (1991). Apesar das transformações alcançadas durante esse período, atualmente as grandes revistas femininas estagnaram-se em um mesmo padrão de conteúdo.
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Segundo os artigos estudados que realizaram pesquisa experimental, as publicações sobre assuntos referentes à moda e beleza ainda são maioria sendo que assuntos de cunho político, social ou econômico são minoria ou quase inexistentes. Segundo Rodrigues (2005), “os assuntos destacados seguem aquele velho conceito de que mulher só se interessa pelo que é fútil, superficial e aparente”. Corpo, beleza e estética ainda são temas recorrentes nas revistas atuais e todas as revistas apresentam temas relacionados a sexo, beleza e moda. (ANTONIO, 2009; KLEIN, 2009). O levantamento feito com as revistas Marie Claire e Glamour confirma a tendência em tratar os assuntos de forma superficial. (ver item 2.1.1. Atividades Desenvolvidas) A ditadura de comportamento não deixou de existir, apenas é retratada de modo mais subjetivo. Segundo Klein e Ramos (2003), é muito comum que as matérias de capa tenham chamadas em formato de cartilha orientadora. Para Klein, “nesse sentido, multiplicam-se os manuais de como ser mulher, de como ter o corpo em forma, de como se vestir, portar-se, seduzir seu parceiro” (2009, p. 24). As revistas retratam a mulher de um modo geral, de uma forma doméstica, ainda parcialmente submissa ao homem e ditam modos idealizados de ser mulher (LANINI, 2010; KLEIN, 2009). As revistas são “um fio invisível que une um grupo de pessoas” e ajudam a construir identidades na medida em que geram um sentimento de pertencimento a um determinado grupo (SCALZO, 2004, p. 11-12). Segundo ela, “uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento” (2004, p. 11). Tendo isso em consideração, o grande sucesso do mercado de revistas femininas pode muito contribuir para a perpetuação de ideias e pensamentos equivocados e discrepantes da realidade de muitas mulheres. De fato, houve uma evolução no modo pelo qual a figura feminina é retratada pela imprensa, porém muitos conceitos precisam ser revistos e padrões reavaliados, uma vez que entendemos como ideal a mulher refletida como entidade mais forte e independente. É possível unir o sucesso deste mercado com a evolução dos veículos de comunicação, de modo a produzir conteúdos novos e diferenciados para o público feminino, a fim de não nos escravizarmos pelos padrões e produtos que nos são impostos constantemente. A Revista Valentina se propõe a realizar este trabalho e
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fazer sua devida contribuição para preencher a lacuna do cenårio atual de revistas femininas e atender as demandas locais, retratando a mulher sul-mato-grossense.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização da Revista Valentina foi possível devido à vontade de discutir assuntos referentes à população feminina de forma mais crítica e diversificada, dando visibilidade aos avanços adquiridos pela mulher e sua relação com o feminismo. O interesse também surgiu pela observação das revistas femininas atuais e o desejo de romper com os estereótipos de “universo feminino”, trazendo leituras mais aprofundadas e abrangendo as diferentes faces da mulher sul-mato-grossense do século XXI. Com as pesquisas realizadas, é claramente perceptível que as revistas femininas não cumprem seu papel de representação da mulher. A partir do processo de investigação jornalística e contato com as fontes, pode-se notar a falta de identificação desse público com as revistas. Desse modo, a intenção de Valentina é mostrar que as mulheres são diversas, estão inseridas em diferentes realidades, e precisam de um espaço de manifestação. As entrevistas realizadas com várias mulheres inseridas em diferentes contextos nos proporcionaram maior conhecimento sobre os assuntos em questão, o que foi refletido no conteúdo da revista. Acreditamos que dar voz e espaço a essas mulheres nos meios de comunicação é essencial para a nossa sociedade e é, acima de tudo, um dever do jornalismo. E, cada vez que essas vozes são difundidas e esses espaços se expandem, um novo olhar pode ser construído. Os temas escolhidos para serem mostrados na revista refletem as mudanças que vêm acontecendo na sociedade, e a forma que escolhemos retratá-los, com mais profundidade e amplitude, representa não somente o interesse em destacar vozes que muitas vezes não são ouvidas, mas também levar essas vozes adiante com a difusão das informações. Esses foram os principais motivos que nos nortearam durante a realização deste projeto. Dessa forma, temos convicção no papel que o jornalismo desempenha ao levar informação e conhecimento em todas as instâncias.
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5. REFERÊNCIAS
ALIGHIERI, Bianca. As revistas femininas e seus contratos de leitura no ambiente da midiatização. São Paulo: Appris, 2015. ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. ANTONIO, Agostinho Celso. Revistas Femininas e a Plasticidade do Corpo: a Progressiva Modelagem Comunicativa. Faculdade Cásper Líbero, 2009. Disponível em: < http://casperlibero.edu.br/mestrado/dissertacoes/revistas-femininas-e-aplasticidade-do-corpo-a-progressiva-modelagem-comunicativa/> Acesso em: nov. 2016. BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: fatos e mitos. Tradução Sérgio Milliet. 4ª ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970. BEKHOUCHE, Yasmina. et al. The Global Gender Gap Report 2015. World Economic Forum, 2015. Disponível em <http://reports.weforum.org/global-gender-gap-report2015/> Acesso em: nov. 2016. BUITONI, Dulcília Helena Schroeder. Mulher de papel: A representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. São Paulo: Loyola, 1981. DOVE. A real verdade sobre a beleza. Revisitada, 2010/2013. Disponível em <http://www.dove.com/br/resources/The_Truth_About_Beauty_White_Paper_Pt.pdf> Acesso em: nov. 2016. FLOR, Gisele. O corpo como objeto de consumo na revista Boa Forma. Universidade Metodista de São Paulo, 2012. Disponível em < http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/624/1/GISELE%20FLOR%20PG%201_108. pdf> Acesso em: nov. 2016. INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO; DATA POPULAR. Percepção da sociedade sobre violência e assassinatos de mulheres. 2014. Disponível em <http://agenciapatriciagalvao.org.br/wpcontent/uploads/2013/08/livro_pesquisa_violencia.pdf> Acesso em: nov. 2016. KLEIN, Jane Jordan. O perfil da mulher leitora no Brasil: um estudo de revistas femininas. Universidade de Santa Cruz do Sul, 2009. Disponível em <http://btd.unisc.br/Dissertacoes/Jane.pdf> Acesso em: nov. 2016. KLEIN, Jane Jordan; RAMOS, Flávio Brocchetto. Revistas femininas: construindo a imagem da mulher-leitora. Universidade de Santa Cruz do Sul, 2003. Disponível em < http://www.unisc.br/pt/portal/images/stories/mestrado/letras/coloquios/ii/revistas_feminin as.pdf> Acesso em: nov. 2016.
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LANINI, Patrícia; QUEIROZ, Vanessa. A Representação da Mulher pela Imprensa Feminina. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2010. Disponível em: < https://pt.scribd.com/document/69318208/A-Representacao-Feminina-na-ImprensaBrasileira> Acesso em: nov. 2016. MARQUES DE MELO, José; ASSIS, Francisco de (Orgs.). Gêneros Jornalísticos no Brasil. São Bernardo do Campo: Metodista, 2010. MEDINA, Cremilda; LEANDRO, Paulo Roberto. A arte de tecer o presente. São Paulo, Ed. Media, 1973. RODRIGUES, Luciana Varga. A representação da mulher na imprensa feminina. Intercom, Rio de Janeiro, RJ, 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0992-1.pdf> Acesso em: nov. de 2016. SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2004. SILVA, Janaina Isidoro da. et al. Imprensa Feminina: Comparação entre as Capas de Claudia, Lola Magazine E TPM. XIX Intercom, Vila Velha, ES, 2014. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2014/resumos/R43-1164-1.pdf> Acesso em: jul. 2016. TAPIOCA NETO, Renato Drummond; D’ANGELO, Luisa Bertrami. A trajetória do movimento feminista e suas lutas frente aos dilemas do século XXI. Site R7. Disponível em: <http://causasperdidas.literatortura.com/2013/10/27/a-trajetoria-domovimentofeminista-e-suas-lutas-frente-aos-dilemas-do-seculo-xxi/> Acesso em: jul. 2016. VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus Editorial, 1996. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil. Flacso/OPAS-OMS/ONU Mulheres/SPM, 2015. Disponível em < http://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2016/04/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf> Acesso em: nov. de 2016.
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5. APÊNDICES
5.1. APÊNDICE A: PAUTAS
Pauta 1: Feminismo
Editoria: Capa. Tema e questão central: O que é feminismo, quais são as principais vertentes e o que elas defendem. Enfoque: Como o feminismo influencia na vida das mulheres brasileiras, especialmente no contexto da mulher sul-mato-grossense, e na sociedade como um todo. Contextualização: Feminismo é um movimento social e político com início no século XIX e que tem como objetivo conquistar a equidades de direitos entre homens e mulheres. No Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é violentada (pesquisa da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal), a cada dez minutos, uma mulher é estuprada (dados do Mapa da Violência 2015), e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada (dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Com uma taxa de 4,8 assassinatos em 100 mil mulheres, o Brasil está entre os países com maior índice de homicídios femininos: ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações, segundo informações do Mapa da Violência 2015. Todas essas violências estão relacionadas à questão de gênero. Mulheres também são maioria no trabalho doméstico, acumulando funções dentro e fora de casa, são as maiores vítimas de assédio sexual no trabalho, normalmente cometido por homens em situação de hierarquia superior e, ainda, segundo pesquisas, ganham cerca de 30% a menos que os homens. Apenas por serem mulheres. Principais perguntas: 1) O que é feminismo? Quais as vertentes do feminismo? No que se diferenciam?
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2) Como cada fonte iniciou seu contato com o movimento feminista? Como é hoje essa relação? Participa de algum grupo de militância? 3) Feminismo é política? Por quê? 4) Com a popularização do feminismo, você acha que o movimento tornou-se individualista? Por quê? 5) Você acha que a palavra “feminista” foi demonizada? Por quê? Como reverter essa situação? 6) Quais os principais mitos sobre o feminismo que deveriam ser esclarecidos? 7) Qual a opinião do movimento feminista – de acordo com sua vertente – sobre: aborto, liberdade sexual da mulher, prostituição, pornografia e cultura do estupro. 8) A Lei do Feminicídio trouxe ajuda no combate à violência contra a mulher? As políticas públicas ainda são falhas nessa questão? Como o movimento feminista busca atuar? 9) Homem pode ser feminista? Por quê? 10) O que o movimento feminista entende por objetificação do corpo da mulher? Como isso afeta as mulheres de forma geral? 11) Autoaceitação do corpo é uma pauta feminista? Qual a posição do movimento diante das imposições estéticas? 12) De que forma o machismo influencia a vida das mulheres? Homens também são afetados pelo machismo? 13) Feminismo negro: Qual a importância da vertente dentro do feminismo? Quais são as principais pautas? Com a popularização do feminismo, principalmente na mídia e entre celebridades, há muitas críticas em relação ao chamado ‘feminismo branco’. Qual sua opinião sobre isso? O movimento feminista no geral não contempla a mulher negra? As mulheres negras são mais afetadas na questão da objetificação do corpo? 14) Mulheres indígenas: Quais as pautas da mulher indígena? Em que se diferenciam em relação às outras mulheres? Qual a importância da inclusão dessas pautas no movimento feminista? Como é o trabalho de liderança feminina no Conselho Terena?
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15) Movimento LBT: Qual a importância de ter um movimento ligado às questões de gênero priorizando a mulher? Quais são as principais pautas? No que se diferencia do movimento LGBT? Como é o trabalho na secretaria de políticas públicas em relação às mulheres LBT? Elenco de fontes: 1) Luciana Azambuja – subsecretária de Políticas para Mulheres do Governo do Mato Grosso do Sul; 2) Ana Luisa Cordeiro – historiadora e militante feminista do Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul “Raimunda Luzia de Brito”; 3) Ana José Alves – Diretora e cofundadora do Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul “Raimunda Luzia de Brito”; 4) Maria José “Baiana do Acarajé – presidente do Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul “Raimunda Luzia de Brito”; 5) Sarah Santos – estudante de Jornalismo, militante feminista, secretária na Associação de Mulheres com Deficiência de Campo Grande-MS (AMDEF-CG) e cofundadora do Coletivo Menina Livre; 6) Miriam Pereira – subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres (pasta de Violência Doméstica contra as Mulheres LBT e Aplicação da Lei Maria da Penha); 7) Évelin Hekeré – indígena terena, professora e líder do Conselho Terena; 8) Lindomar Lili “Linda Terena” – indígena terena, professora e Mestre em Antropologia pela PUC-SP; 9) Izabela Sanches – jornalista e feminista; 10) Francisleni de Souza – internacionalista e feminista radical.
Pauta 2: Prostituição
Editoria: Debate. Tema e questão central: Debate sobre a regulamentação da prostituição.
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Enfoque: O que mudaria efetivamente com a regulamentação e qual a posição do movimento feminista de acordo com suas diferentes vertentes. Contextualização: O Projeto de Lei 4211/12 propõe a regulamentação da prostituição como profissão e foi proposto pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). O projeto de lei contempla uma modificação do Código Penal onde prostituição e exploração sexual aparecem quase necessariamente associadas. O texto especifica que só deve ser considerada exploração sexual a coação para se prostituir ou a prostituição exercida por menores de 18 anos – o que já é crime –, o não pagamento por serviços sexuais e a apropriação de mais de 50% por parte de terceiros do serviço sexual. O projeto também legaliza as casas de prostituição sempre que nelas não se exerça exploração sexual e contempla a aposentadoria dos trabalhadores sexuais após 25 anos. O projeto foi batizado de Lei Gabriela Leite em homenagem à escritora, presidente da ONG Davida (instituição que defende os direitos dos profissionais do sexo) e ex-aluna de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), que decidiu virar prostituta aos 22 anos. Suas bandeiras eram o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a união civil homossexual, o direito ao aborto e a regulamentação da prostituição. Gabriela morreu no Rio de Janeiro, aos 62 anos, vítima de câncer. O tema do projeto de lei é polêmico e não há consenso entre defensores e opositores. O autor, Jean Wyllys, defende que a marginalização das pessoas que lidam com o comércio do sexo leva à exploração sexual. Prostituir-se é legal e reconhecido desde 2002 pelo Ministério do Trabalho, porém bordéis, boates e clubes configuram crime de rufianismo (exploração de sexual de terceiros ou terceiras visando lucro) castigado com até quatro anos de prisão. Principais perguntas: 1) Para o advogado: Há chances do projeto ser aprovado? Quais as mudanças que a regulamentação da prostituição traria legalmente? Se aprovada, como funcionarão as questões trabalhistas? Qual a diferença entre legalização e a regulamentação? 2) Muitas mulheres e militantes feministas que se posicionaram contra a lei afirmam que “a regulamentação legitima a mercantilização do corpo feminino”. Você concorda com essa afirmação? Por quê?
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3) Por outro lado, quem apoia o projeto, afirma que a prostituição não deixará de existir e os bordéis continuarão funcionando, por isso é necessária a regulamentação. Qual sua opinião sobre isso? 4) Prostituição é objetificação e exploração sexual ou um trabalho que gera renda através do prazer, e por isso inferiorizado? 5) Para quem é contra a regulamentação: Na sua opinião, quais seriam as ações e políticas públicas necessárias? Como a não-regulamentação afetará a vida das mulheres que estão na prostituição? 6) Para quem é a favor da regulamentação: Como a regulamentação afetará a vida das mulheres que estão na prostituição? Elenco de fontes: 1) Estela Scandola – assistente social, especialista em direitos humanos e militante feminista; 2) Carlota Philippsen – feminista radical, psicóloga, fotógrafa, mestranda em Psicologia Social; 3) Ivanete Pinho – presidente da ONG Dignidade, Ação, Saúde, Sexualidade e Cidadania de Corumbá (DASSC); 4) Adilson Viegas de Freitas Junior – advogado da área de Direito Civil.
Pauta 3: Estela Scandola
Editoria: Vozes Femininas. Tema e questão central: Traçar um perfil sobre a assistente social, especialista em direitos humanos e militante feminista Estela Scandola. Enfoque: O trabalho de Estela Scandola na militância feminista e no combate ao tráfico de pessoas, exploração sexual e trabalho escravo.
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Contextualização: Estela Scandola é graduada em Serviço Social pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal e Mato Grosso do Sul (UFMS) e Doutora em Serviço Social pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ISCTE-IUL), além de especializações na área de Saúde Coletiva, Saúde do Trabalhador e Psicologia Social. Há 17 anos, pesquisa sobre o tráfico de pessoas, a exploração sexual e o trabalho escravo na América Latina. Hoje, com 54 anos, trabalha na articulação com organizações que lutam pelos direitos humanos, especialmente na região Centro-Oeste e nas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia, participando de ações com grupos em situação de vulnerabilidade e discriminação. Estela está associada à Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos e participa do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conatrap), onde monitora a implantação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Brasil. Atualmente, também trabalha como pesquisadora e professora na Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul (ESP/MS). Principais perguntas: 1) Como começou seu trabalho na luta pelos direitos humanos? 2) Você sempre quis trabalhar na área dos direitos humanos? 3) Como funciona o seu trabalho atualmente? 4) Qual a diferença entre exploração sexual e trabalho sexual e entre tráfico de pessoas e trabalho escravo? 5) Qual é a origem do tráfico de pessoas na América Latina? 6) Quando se fala em tráfico de pessoas, associa-se, na maioria das vezes, ao trabalho sexual de mulheres. É um pensamento equivocado? 7) Esse pensamento comum de que o tráfico se resume ao trabalho sexual é baseado em quê? 8) Qual é a participação do Mato Grosso do Sul no tráfico de pessoas, sendo um Estado de fronteira internacional? 9) Quais são as ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas no Estado? 10) Essa falta de dados também se relaciona com o medo das pessoas em denunciarem?
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11) Por que há essa “vista grossa”? 12) Agora falando sobre a sua militância feminista, como começou seu trabalho na Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos? 13) Você acha que a saúde da mulher ainda é um tabu? 14) O que você considera um avanço nestes últimos dez anos em relação aos direitos sexuais e reprodutivos femininos? O que você percebe ainda como uma grande dificuldade? Elenco de fontes: 1) Estela Scandola – assistente social, especialista em direitos humanos e militante feminista.
Pauta 4: Empreendedorismo rural feminino
Editoria: Economia. Tema e questão central: Mulheres que trabalham no empreendedorismo rural em Mato Grosso do Sul. Enfoque: Mulheres que possuem renda baseada na agricultura familiar. Contextualização: A economia de Mato Grosso do Sul é baseada na pecuária e agricultura. A agricultura familiar é produção brasileira mais importante, correspondendo a cerca de 70% dos alimentos consumidos, e também movimenta a economia do Estado. Em 2015, das 34,4 mil pessoas capacitadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MS), 16,6 mil foram mulheres. Principais perguntas: 1) O que é empreender? Qual a diferença em empreender no campo? Agricultura familiar é empreendimento? 2) Há muitas mulheres trabalhando nesse setor? 3) Há quanto tempo trabalha no campo? O que produz? Para quem vende? Qual é a renda? 4) Você já teve outro tipo de trabalho ou pensou em mudar?
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5) Você sente que há preconceito com as mulheres no campo? É mais difícil encontrar mulher que trabalha com a terra? Vocês têm alguma organização? 6) Você faz curso, recebe técnicos ou participa de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MS)? 7) Quais as principais dificuldades? 8) Você acha que as pessoas ainda veem com preconceito a mulher trabalhando no campo? Elenco de fontes: 1) Jacira Correa de Jesus – produtora de horticultura no assentamento Sucuri; 2) Silvia Ponce – produtora de hortifrúti em Terenos.
Pauta 5: Técnicas No Poo e Low Poo
Editoria: Beleza. Tema e questão central: O que são as técnicas No Poo e Low Poo e como aderir. Enfoque: Explicação sobre cuidados com os cabelos fazendo uso das técnicas No Poo e Low Poo e dicas de produtos. Contextualização: Lorraine Massey, inglesa referência internacional no tratamento de cabelos cacheados, sistematizou o que chamou de “método da garota cacheada” e publicou no livro Curly Girl. O livro está à venda no Brasil sob o título “O manual da garota cacheada”. As técnicas tornaram-se um manifesto da revolução das cacheadas e crespas, um gesto de libertação em meio à ditadura dos cabelos lisos. Principais perguntas: 1) O que são as técnicas No Poo e Low Poo? Qual a diferença entre elas? Como saber qual é a mais indicada? Quais produtos são indicados?
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2) Quais os cuidados especiais que cabelos cacheados e crespos precisam? Por que as técnicas ajudam esses tipos de cabelo? 3) Mulheres de cabelo lisos e ondulados podem utilizar as técnicas No Poo e Low Poo? 4) Qual técnica você faz? Há quanto tempo? Como você ficou sabendo? 5) Por que decidiu começar a técnica? 6)
O que mudou no cabelo desde o início da técnica?
7) Utiliza produtos e receitas naturais? Elenco de fontes: 1) Valéria Menegazzo (salão Universo das Cacheadas) – cabeleireira especialista em cabelos cacheados e crespos e que faz uso das técnicas; 2) Vitória Machado – faz Low Poo e tem cabelo cacheado (fazia progressiva); 3) Jéssica Apacite – faz Low Poo e tem cabelo cacheado; 4) Júlia Estevam – faz Low Poo e tem cabelo com química e colorido.
Pauta 6: Maquiagem para a diversidade das brasileiras
Editoria: Make. Tema e questão central: Produtos de maquiagem para a diversidade das mulheres brasileiras. Enfoque: Dicas de produtos de maquiagem que possuem coloração para diversos tons de pele, tais como base, corretivo e pó. Contextualização: De acordo com as informações obtidas pelo Censo Demográfico de 2010, 47,51% da população brasileira é branca, 43,42% parda, 7,52% preta, 1,10% amarela e 0,43% indígena. A partir dessas informações podemos concluir que o Brasil é um país que possui uma grande diversidade étnica e por isso a necessidade em apresentar produtos
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para os diversos tipos de pele reforça a necessidade de representatividade da identidade feminina brasileira nos meios de comunicação atuais. Elenco de fontes: 1) Stefanny Veiga – maquiadora no salão Galeria; 2) Vult Cosméticos; 3) O Boticário.
Pauta 7: Editorial de moda
Editoria: Caderno fotográfico. Tema e questão central: Desenvolver um caderno fotográfico com sete modelos, incluindo diferentes etnias e tipos de corpo. Enfoque: Cada modelo irá utilizar suas peças favoritas. Será inserido um box com uma citação da modelo sobre sua roupa, onde comprou, como usa, etc. Elenco de fontes: 1) Fernanda Nogueira; 2) Fernanda Graciolli; 3) Larissa Melo; 4) Jacqueline Aguiar; 5) Helen Cristina; 6) Vitória Cristine; 7) Thailine de Souza.
Pauta 8: Coletor menstrual e as alternativas aos absorventes
Editoria: Saúde.
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Tema e questão central: Os benefícios do uso do coletor menstrual e informar sobre outros métodos alternativos ao uso do absorvente. Enfoque: Esclarecer dúvidas e divulgar informações que mostram como o uso do coletor pode substituir o absorvente e que, além dele, já se pensam em outras alternativas ao uso dos absorventes comuns. Contextualização: Coletor menstrual é um dispositivo de barreira, desenvolvido para coletar o fluxo menstrual internamente. Ao contrário dos absorventes externos ou internos (tampões), coleta o fluxo ao invés de absorvê-lo. O coletor é produzido industrialmente desde a década de 1930, porém a produção paralisava de tempos em tempos por não ter se tornado popular. Atualmente, o coletor é vendido por diversas marcas, mas ainda há falta de informação sobre seu uso. Além do coletor, existem outras alternativas ao uso dos absorventes externos e internos, que investem na sustentabilidade e numa composição mais natural e ecológica. Principais perguntas: 1) Como funciona o coletor? Como utilizá-lo? 2) O seu material não é perigoso para o desenvolvimento de doenças? 3) Quais as vantagens e desvantagens? 4) Como soube do coletor? Foi fácil de comprar? Qual marca usa? Há quanto tempo usa? 5) Como é a adaptação? Há dificuldades? 6) Por quanto tempo é permitido ficar com o coletor? 7) Há diferença em relação à cólica e fluxo menstrual? 8) Ainda há tabu em relação ao uso do coletor? 9) Quais são as outras alternativas ao uso dos absorventes comuns? É fácil de ser encontrado? Quais as vantagens e desvantagens? 10) Quais as dúvidas que as pacientes geralmente têm sobre o coletor? 11) Há contraindicações? Elenco de fontes: 1) Denya Teixeira dos Santos – revendedora; 2) Dr. Laurindo Basso – ginecologista; 3) Korui – marca que produz coletores menstruais e absorventes reutilizáveis;
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4) Sara Maria Sguissardi. 5) Thais Barros; 6) Nathalia Escobar.
Pauta 9: Saúde da mulher
Editoria: Saúde. Tema e questão central: Coluna de dúvidas sobre a saúde do corpo e sexual da mulher. Enfoque: A intenção é responder perguntas das mulheres sobre a saúde e o corpo feminino – questões simples, mitos e tabus. Contextualização: Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) de 2011, a maioria dos médicos recém-formados não tem conhecimento suficiente para abordar ou simplesmente orientar suas pacientes quando o assunto é sexo. Apenas 22,7% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento e confiança para orientar. Para a maioria das pessoas, falar de sexualidade remete imediatamente ao ato sexual e à reprodução, mas a sexualidade feminina é muito mais abrangente. Além disso, questões relacionadas à higiene íntima das mulheres ainda são tratadas com desconforto. De acordo com um estudo da Carefree em parceria com o Ibope Inteligência, na região sul, quase metade das entrevistadas (47%) ainda se sente incomodada para falar sobre corrimento e umidade, por exemplo. Do ponto de vista de saúde, os benefícios vão desde a eliminação de odores até a prevenção de doenças e infecções, mas é importante entender como funciona essa região. A higiene íntima interfere nos cuidados emocionais e a partir do momento em que a mulher começa a cuidar mais de si mesma, ela melhora sua autoestima e se sente mais segura, para o seu bem-estar e para a vida como um todo. Principais perguntas:
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Serão selecionadas perguntas de mulheres (que poderão se identificar ou não) por plataformas online (Questionário Google postado na página do Facebook). Elenco de fontes: 1) Dr. Laurindo Basso – ginecologista.
Pauta 10: Machismo no dia a dia
Editoria: Opinião. Tema e questão central: Comportamentos machistas intrínsecos na sociedade. Enfoque: O artigo será uma colaboração da jornalista Isabela Domingues.
Pauta 11: Astrologia
Editoria: Astrologia. Tema e questão central: Astrologia sem estereótipos. Enfoque: Tratar das características desconhecidas de cada signo e previsão dos astros em relação ao mundo atual. Contextualização: A propagação de estereótipos acontece até na Astrologia. Com a popularização do assunto, muitas pessoas se atêm a informações generalizadas e que, inclusive, levam a descrença.
O estudo da Astrologia envolve várias questões
determinantes e uma pessoa de um signo nem sempre vai ser a mesma pessoa moldada pelos arquétipos do mesmo. Elenco de fontes: 1) Rosângela Oliveira – Astróloga.
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Pauta 11: Dicas de cultura
Editoria: Dicas culturais. Tema e questão central: Fazer uma pequena lista de dicas de filmes, séries, músicas e outros produtos da cultura pop, que tenham temáticas femininas e feministas.
5.3. APÊNDICE B: PALETA DE CORES
5.4. APÊNDICE C: LOGOTIPO
O logotipo poderá variar entre as três cores definida na paleta de cores para se ajustar a fundos claros e escuros.
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5.5. APÊNDICE D: PÁGINA DO FACEBOOK – @revistavalentinams
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PÁGINA DO ISSUU – @revistavalentinams
OPÇÕES DE AVATAR PARA PÁGINA NO FACEBOOK
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5.6. APÊNDICE E: FORMULÁRIO SOBRE SAÚDE DA MULHER
Link para acesso: https://docs.google.com/forms/d/1SVmxQpiY5CFcniuumTjBolUV0NAVIju_EJcBHAdGFs