s達o luiz teatro municipal
8 a 19 out / 28 out a 1 nov
ana bola se m filtro São Luiz tEatro municipal
8 a 19 Out: Quarta a Sábado às 21h00 Domingo às 17h30 28 Out a 1 Nov: Terça a Sábado às 21h Teatro-Estúdio Mário Viegas M/12
Texto e Interpretação Ana Bola Direcção António Pires Vozes off Alexandra Rosa Júlio Isidro Manuel Marques Assistente de encenação Tomás Nolasco Direcção técnica Carlos Ramos Co-apresentação Memória Prodigiosa e São Luiz Teatro Municipal Agradecimentos Aos meus pais. Ao meu filho e principalmente ao meu marido.
Parceiro Rádio
Direcção Executiva Programação Temporada 2014-2015 Aida Tavares Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora) Susana Duarte (Adjunta) Mafalda Sebastião Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director) João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago Ricardo Campos Ricardo Joaquim Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma Cláudio Ramos Paulo Mira Vasco Ferreira Som Nuno Saias Ricardo Fernandes Rui Lopes Encarregado Geral Manuel Castiço Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto Maria Távora Marta Pedroso Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora) Elsa Barão Nuno Santos Design Gráfico Silva Designers Bilheteira Cidalina Ramos Hugo Henriques Soraia Amarelinho Frente de Casa Letras e Partituras Assistentes de Sala Ana Rita Carvalho Carla Pignatelli (Coordenação) Carlota Macedo Carolina Serrão Cristiano Varela (Coordenação) Domingos Teixeira Filipa Matta Helena Malaquias Hernâni Baptista Inês Garcia Joana Braz João Cunha Manuel Veloso Paulo Soares Sara Fernandes Carlos Ramos (Assistente) Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa
Por que razão aquilo que se aplica aos bombeiros se não há-de aplicar ao teatro? Existe uma íntima relação entre bombeiros e teatro. Eu, que ando pelos bastidores dos teatros há tantos e tantos anos, nunca vi nem montei uma peça que não tivesse um bombeiro presente na sala.
PORQUE É QUE OS TEATROS ESTÃO VAZIOS K ar l Vale nti n
Porque é que os teatros estão vazios? Pura e simplesmente porque o público não vem cá. De quem é a culpa? Única e simplesmente do Estado. Se cada um de nós se visse obrigado a ir ao teatro, as coisas mudavam completamente de figura. Porque é que não se institui o teatro obrigatório? Porque é que se instituiu a escola obrigatória? Porque nenhuma criança iria à escola se a tal não fosse obrigada. É claro que será um pouco mais difícil impor o teatro obrigatório, mas não é verdade que, com boa vontade e sentido do dever, tudo, tudo se consegue? E não é o teatro uma escola? Então… Tomemos o exemplo duma grande cidade. Haverá cem escolas, com mil crianças por escola todos os dias, o que faz cem mil crianças. Estas cem mil crianças irão de manhã à escola, e à tarde ao teatro obrigatório. Preço de entrada por pessoa-criança: cinco mil reis – a expensas do Estado, é claro – o que faz cem teatros *** o que dá quinhentos contos de reis por dia para cem teatros, para a cidade. A quantidade de actores que não arranjava trabalho! Se se instituísse, descentralizado, em todas as sedes de concelho, o teatro obrigatório, modificava-se por completo a nossa vida económica. Porque não é bem a mesma coisa uma pessoa perguntar-se “Vou ou não vou esta noite ao teatro?” ou saber que tem de ir ao teatro. O teatro obrigatório levaria o cidadão em causa a renunciar voluntariamente a todas as outras estúpidas distracções, à malha, às cartas, à discussão política na taberna, ao encontro amoroso, a todos esses jogos de sociedade que nos tiram e devoram o tempo inteiro. Sabendo que tem de ir ao teatro, o cidadão já não será forçado a optar por este ou aquele espectáculo, nem a saber se vai esta noite ver o Tristão ou outra coisa qualquer – não, ele assim é obrigado a ir, cause-lhe o teatro horror ou não, trezentas e sessenta e cinco vezes por ano ao teatro. Mas ir à escola também causa horror ao menino da escola, e no entanto ele lá vai, porque a escola é obrigatória. Obrigatório! A imposição! Só pela imposição é que se consegue obrigar o nosso público a vir ao teatro. Tentou-se, durante dezenas e dezenas de anos, convencê-lo com boas palavras, e está-se a ver o resultado! Truques publicitários para atrair as massas, como por exemplo “A sala está aquecida” ou “Pode-se fumar no foyer durante o intervalo”, “Os estudantes e os militares, desde o general ao de segunda classe, pagam meio bilhete”. Nenhuma destas astúcias conseguiu encher os teatros, como estão a ver!
E tudo o que num teatro se gasta com reclames passaria a ser economizado, uma vez que o teatro seja obrigatório. Porventura será necessário pagar à publicidade para enviar os meninos à escola obrigatória? Assim como também deixaria de haver problema com o preço dos bilhetes, que deixará de depender da condição social e passará a depender, sim, das fraquezas ou da invalidez do público. Da primeira à quinta fila, os surdos e os míopes. Da sexta à décima, os hipocondríacos e os neurasténicos. Da décima à décima quinta, os doentes da pele, os doentes da alma. Nas frisas, nas galerias, nos camarotes, os reumáticos e os asmáticos. Tomemos o exemplo duma grande cidade: à excepção dos recém-nascidos, das crianças com menos de oito anos, dos velhos e dos entrevados, haverá dois milhões ou um milhão de pessoas submetidas ao teatro obrigatório, o que é um número bastante superior ao que o teatro livre nos fornece. Ensinou-nos a experiência que não é aconselhável que os bombeiros sejam voluntários, por isso até se discutiu há pouco tempo a criação de um serviço nacional de bombeiros. Por que razão aquilo que se aplica aos bombeiros se não há-de aplicar ao teatro? Existe uma íntima relação entre bombeiros e teatro. Eu, que ando pelos bastidores dos teatros há tantos e tantos anos, nunca vi nem montei uma peça que não tivesse um bombeiro presente na sala. O Teatro Obrigatório Universal que nós propomos, o T.O.U., chamará, numa grande cidade, dois milhões de espectadores ao teatro. Ou seja, para isso é necessário que existam vinte salas com cem mil lugares, ou quarenta salas com cinquenta mil lugares, ou cento e sessenta salas com doze mil lugares, ou trezentas e vinte salas com seis mil e cinquenta lugares, ou seiscentas e quarenta salas com três mil cento e vinte cindo lugares ou dois milhões de teatros com um único lugar. É preciso uma pessoa ser actor para saber a força que daí nos pode advir, quando o ambiente de uma sala à cunha, com um público de – digamos – cinquenta mil pessoas nos arrebata! Aqui tendes a única maneira que existe de auxiliar o teatro, que anda, como se sabe, pelas ruas da amargura. Não se trata de distribuir borlas. Não, trata-se de impor o teatro obrigatório. Ora quem poderá impor a não ser… O ESTADO?
Anabola S e m fi ltro N u n o Artu r S i lva
A Anabola foi sempre um caso singular. É actriz, mas não pensamos nela só como actriz. É autora, mas não pensamos nela só como autora. É cómica, mas não é só cómica. É a Anabola. Na rádio, na televisão, no teatro, até nos festivais da canção, a Anabola foi sempre uma presença constante nas últimas décadas da vida deste país. Uma presença e uma persona – uma persona grata, bem-vinda a todos os públicos dos inúmeros palcos por onde andou nestes anos. Porque se é verdade que nos lembramos de muitas personagens que ela criou ou a que ela deu vida, é a personagem da Anabola aquela que sempre se impôs para lá de todas as outras. É essa personagem que aqui encontramos agora “sem filtro”, ou seja, disposta a deixar passar todas as impurezas. E é precisamente nessas impurezas que reside a principal novidade – e curiosidade, deste espectáculo. Como se não lhe bastasse ter sido durante anos praticamente a única mulher a escrever humor – e a dar a cara por ele em Portugal, a Anabola é agora também a primeira a falar directamente e num solo sobre a vida do artista, ou no caso, da artista, enquanto já não jovem. E a falar do outro lado dessa profissão de alto desgaste que é a de ser comediante, essa estranha profissão que obriga os que a escolhem a ter sempre de ter graça em público. E a falar desse outro lado do estado de graça dos cómicos. E a falar do que os cómicos normalmente não falam, que é dos pequenos poderes instalados no mundo das televisões e da maneira como eles condicionam e determinam não só o trabalho – e muitas vezes a vida, dos comediantes, mas também aquilo que o público, aquilo que as pessoas podem ver ou deixar de ver. Fala-se muito do humorista como um contestatário do poder, mas pensa-se sempre no poder como poder político, muito raramente como outro tipo de poder. E hoje é tão fácil fazer humor político de generalidades em Portugal, gozar com os políticos pela rama da imitação ou pelo reconhecimento mais básico do lado mediático do político em questão. (território que a própria Anabola desbravou há uns anos). Difícil é ir mais longe na desmontagem do poder e dos seus mecanismos, não necessariamente do poder político, mas de outros poderes activos e determinantes, neste caso para a carreira do próprio comediante. Isso, isso é que eu não vejo ninguém a fazer, porque é isso que imediatamente pode custar muito caro ao comediante que o faça.
É engraçado que a Anabola se proponha fazer isso aqui, nesta sala que leva o nome do Mário Viegas, alguém que sempre fez humor sem filtro e sem cálculo de carreira, coisa tão rara nos jovens comediantes de hoje. É que, como dizia o outro, “se vais contar a verdade é melhor que tenhas graça, senão matam-te”. A Anabola, tenho a certeza, está aí para as curvas e ninguém a vai calar tão cedo.
Jo rg e Salavi sa
Para mim foi um privilégio conhecer pessoas com as quais nunca pensei cruzar-me na vida. Uma delas foi Ana Bola, uma mulher e atriz absolutamente formidável, divertida, inteligente. Como devem facilmente deduzir, estar ao seu lado na cavaqueira ou jantar com ela é o melhor tratamento anti-stress que se pode imaginar!
Mar ia Ru e ff
Sem filtro, desbocada, inteligente, culta, engraçada, trapalhona, divertida, estrepitosa, com bom gosto, muito gosto, afinada, mais à esquerda, humanista, feminina, feminista, criativa, autora, artista, sedutora, educada, empreendedora, simpática, mentora, empática, arrasadora, humílima, anti-poder, agnóstica mas admite ter algures no Universo, uma fadinha que lhe arranja sempre lugar pro carro entre outras coisas prosaicas mas boas, com sorte portanto, intuitiva, com bom astral sem ser mística, hippie chique, muito chique, brincalhona, bem disposta, atrevida, atraente, de bem com a vida, comediante, descomplicada, humorista, informada, leitora compulsiva de tudo quanto há até de prontuários terapêuticos, sonhou ser médica, mas pronto sempre se “remedeia” e trata-se necessário da saúde a muita gente, agora info-incluída, cúmplice, musical, amiga, mais que amiga, siamesa, leal, um portento, rechonchuda, loiraça, sexy, “sexigenaria” como ela própria diz, amiga dos cães, amiga da Natureza, amiga de comer, boa cozinheira, Senhora do seu nariz, Senhora Nabo também, actriz, palhaçorra, estarola, e...não sei mais que diga... ANA BOLA!
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