s ã o l u i z t e at r o m u n i c i p a l
ópera 24 a 26 out Encenação de Rares Zaharia Maestro Pedro Amaral Ópera de Peter Eötvös Sexta e Sábado ÀS 21H Domingo às 17h30 SALA PRINCIPAL; M/12
Dur. 80min sem intervalo Em inglês legendado em português
LADY SARASH INA
Orquestra Metropolitana de Lisboa
Libreto de Mari Mezei, baseado no livro “As I Crossed a Bridge of Dreams: Recollections of a Woman in the Eleventh-Century Japan”, tradução inglesa de Ivan Morris do Diário de Sarashina publicada em 1975 pela Penguin Classics.
flautas Natália Monteiro * Janete Santos oboé Luis Auñón Pérez clarinetes Jorge Camacho Bruno Graça * Paulo Gaspar * fagotes Bertrand Raoulx Gonçalo Pereira * saxofone Pedro Fonseca *** trompas Nuno Cunha * Jérôme Arnouf João Gaspar ** trompetes Sérgio Charrinho Paulo Carmo* trombones Reinaldo Guerreiro * José Gato ** Thierry Redondo ** tuba Adélio Carneiro * harpa Coral Tinoco * celesta + sampler Yan Mikirtumov* percussão Fernando Llopis Marco Fernandes * 1ºs Violinos James Dahlgren Concertino Liviu Scripcaru Diana Tzonkova Carlos Damas Ana Filipa Serrão **** Romeu Madeira ****
Ópera em nove quadros (estreia nacional) Estreia absoluta em 2008 pela Ópera Nacional de Lyon compositor Peter Eötvös encenador Rares Zaharia soprano Imai Ayane Lady Sarashina soprano Carla Caramujo Princesa, Jovem Senhora, Senhora-do-Sonho, Dama de Honor mezzo-soprano Cátia Moreso Imperatriz, Mãe, Irmã, Senhora-do-Sonho, Dama de Honor barítono Peter Bording Guarda, Bobo, Mensageiro, Pai, Gata, Sacerdote, Cavalheiro figurinos José António Tenente maestro Pedro Amaral Orquestra Metropolitana de Lisboa
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2ºs Violinos Ágnes Sárosi José Teixeira Anzhela Akopyan Daniela Radu César Nogueira **** violas Valentin Petrov Joana Cipriano * Andrei Ratnikov Juliana Lopes **** violoncelos Peter Flanagan Jian Hong Ana Cláudia Serrão contrabaixos Vladimir Kouznetsov Ercole de Conca Direção AMEC / METROPOLITANA
presidente Catarina Vaz Pinto diretor executivo António Mega Ferreira diretor artístico Pedro Amaral * Convidado ** Convidado ANSO (Academia Nacional Superior de Orquestra) *** Convidado Ex-EPM (Escola Profissional Metropolitana **** Convidado Ex-ANSO
© Marco Borggreve
Pete r Eötvös
Notas ao Prog r ama por Ru i Cam pos Le itão
Ao iniciar a composição desta ópera, Peter Eötvös tinha em mente «que pudesse ser vista, ouvida e apreciada por um público que abrangesse verdadeiramente todas as idades, desde crianças até idosos, dos 7 aos 77 anos!» São palavras como estas, pronunciadas pelo próprio compositor, que tivemos a oportunidade de ler num conjunto de conversas que manteve em 2010 com o maestro Pedro Amaral, as quais serão brevemente publicadas em livro sob o título Parlando-rubato. Acedendo a tal fonte, torna-se incontornável tomar aqui pequenos excertos do seu discurso, permitindo-nos conhecer melhor esta obra que, por detrás de uma ostensiva simplicidade, desvenda uma variedade inesgotável de estímulos teatrais que cativam a nossa atenção e o nosso interesse do princípio ao fim do espectáculo. As citações que se encontram ao longo deste texto foram daí retiradas e acrescentam ao entendimento de cada um de nós outras referências, com origem nos propósitos e reflexões do autor. 3
Lady Sarashina foi estreada em 2008 pela Ópera Nacional de Lyon e apresenta-se aqui pela primeira vez em Portugal. A oportunidade da encomenda surgiu na sequência do sucesso internacional que vinha registando outra ópera sua, Trois Sœurs, cuja estreia havia tido lugar naquele mesmo teatro, dez anos antes. Depois de abandonadas diversas possibilidades para a elaboração do libreto, o interesse recaiu na recuperação do Diário de Sarashina, o mesmo que, por sinal, já havia inspirado uma outra composição de Eötvös: As I Crossed a Bridge of Dreams, apresentada em 1999 no Festival de Donaueschingen, no sul da Alemanha. A estreita relação de As I Crossed com Lady Sarashina tem aqui, portanto, uma muito particular importância. Não sendo uma ópera, a primeira consistia numa representação teatral, no monólogo de uma recitante/actriz acompanhada de três altifalantes e uma pequena orquestra. Ao texto, que se manteve praticamente na íntegra, juntaram-se duas cenas e foram introduzidas pequenas alterações, pelo que a mudança substancial incidiu na vertente musical e na disposição cénica. O teatro sonoro transformou-se em expressão lírica, estendendo-se no tempo, com recursos diferentes: «O texto é o mesmo, mas a obra, o espectáculo, é totalmente diferente.» Esta recriação teve também origem na vontade de ver a peça mais vezes em cena: «Apercebi-me de que a singularidade das características cénicas e instrumentais de As I Crossed a Bridge of Dreams nunca lhe permitiriam instalar-se no seio do repertório regular das casas de ópera» Os três altifalantes cederam assim lugar a um trio de cantores, cada qual desempenhando múltiplas personagens. A eles junta-se uma voz de soprano protagonista, para lá da orquestra, que se torna mais presente: «Esta maior visibilidade da orquestra corresponde exactamente à sua função em Lady Sarashina, que é mais a de acompanhar, ilustrar, por vezes representar, do que a construção do onírico, da envolvência e, até, do fantasmagórico, que a caracteriza em As I Crossed.» «Eu hesitei, admito, pois senti que estava a trair a ideia inicial de As I Crossed, que era um formato de representação muito original, enquanto Lady Sarashina, tal como a imaginava, seria forçosamente uma ópera mais tradicional, baseada, é certo, numa linguagem cénica e musical muito particular, mas, ainda assim, menos surpreendente, enquanto forma de representação, do que As I Crossed. Acabei por decidir-me, pois queria ver como conseguiria compor uma ideia diferente a partir do mesmo libreto.» Apresentava-se assim o desafio de buscar uma sonoridade atractiva para um leque maior de ouvintes: «Um desafio fascinante, pois supunha um conteúdo literário e uma linguagem dramática e musical verdadeiramente particulares, e bastante novas para mim. O Diário de Sarashina pareceu-me ideal para esta aposta, pois consiste numa sucessão de histórias, de sonhos, simultaneamente muito simples e maravilhosamente fantasiosos.» Na sua origem, o Diário de Sarashina é um clássico da literatura japonesa, escrito durante o Período Heian (794-1185), quando a corte imperial japonesa atingiu o seu maior esplendor, sobretudo manifesto na poesia e na literatura. A autoria é anónima, muito embora saibamos que se tratava de uma mulher pertencente à classe média e que seu pai desempenhou as funções de governador numa das províncias do Japão. A dada altura, 4
trabalhou na corte imperial, chegando, mais tarde, a constituir família. Este documento reúne uma série de textos que foi escrevendo ao longo da vida, o primeiro com doze anos de idade. Entre as viagens que aparecem descritas no livro, uma delas parte de Quioto com destino a Sarashina, uma região localizada no centro do Japão e cuja localização não é hoje possível determinar com rigor. Foi-lhe assim atribuído este nome, por não se conhecer a verdadeira identidade. Já a última parte do diário, terá sido escrita numa idade mais avançada, com mais de cinquenta anos. Reúne, portanto, notas dispersas escritas em diferentes momentos da vida, com testemunhos diversos, relacionados com leituras, lugares, peregrinações a templos de culto e – algo inédito à época em contexto literário – sonhos. Peter Eötvös e Mari Mezei, sua esposa e autora do libreto, selecionaram os episódios com maior apetência dramatúrgica e mais propícios para a exploração sonora, sem prejuízo da inteligibilidade cénica do conjunto. Globalmente, a música de Peter Eötvös caracteriza-se pela versatilidade. Há, porém, dois aspectos que estão sempre presentes: a dimensão teatral da escrita, ainda que se trate de música estritamente instrumental, e a plasticidade sonora, por intermédio da cuidada combinação de instrumentos ou dispositivos menos convencionais. Neste caso, para além da peculiar importância confiada aos sopros-madeiras e às percussões, recorre pontualmente a registos pré-gravados: «Eu pretendia entrar [...] no mundo onírico de Sarashina [...], reposicionar-nos enquanto espectadores diante do sonho.». Estes sons são, portanto, uma «porta para o sonho». Também os microfones, que amplificam pontualmente as vozes dos cantores, produzem um efeito ilusório: «É uma maneira maravilhosa de atravessar num instante o limiar entre o real e o imaginário.» Pelo contrário, quer a voz da soprano protagonista quer a orquestra nunca aparecem amplificadas, criando-se deste modo diferentes planos de leitura. Nalguns momentos, assiste-se à recriação de ambientes inspirados na natureza, e até exóticos: «Sim, eu guardava na memória o som dos sinos em bronze dos templos japoneses.» Noutros, trabalha-se o som no espaço: «Os três clarinetes formam um círculo em torno do público, delimitando uma espécie de fronteira acústica e simbólica daquele sonho que vemos representado em palco. A este triângulo junta-se o saxofone que, no interior da orquestra, forma nalguns momentos o topo de um losango maior, definindo, poderia dizer, o epicentro do sonho.» Folheando as páginas de Lady Sarashina, floresce uma miríade de caminhos por discorrer. Escolhemos. Percorremos sons, imagens e ideias, por entre universos fantasiosos que dispensam a linearidade narrativa; pelo fascínio do som, da palavra, da voz, dos corpos, das imagens, do teatro... da ópera.
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Arg u m e nto
Abe rtura Quando o dobre do sino do templo Me anunciou que a madrugada e o termo da minha vigília haviam por fim chegado, Senti como se tivessem atravessado cem noites de Outono.
Ce na I Primave ra Lady Sarashina recorda Primaveras e flores do passado.
Ce na II O guarda História do guarda que fez desaparecer a filha do Imperador, a seu pedido, levando-a consigo para a província de Musashi. Foi ali que a princesa, forçada pelo seu Carma, escolheu viver, para desespero de seus pais. Desde então, os guardas do palácio imperial passaram a ser exclusivamente mulheres.
Ce na III Pe regrinage ns Lady Sarashina lamenta com saudade a ausência de seu pai, governador de uma província distante. Para combater a angústia, tem a ideia de partir em peregrinação, para grande medo de sua mãe, que receia os perigos da viagem.
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Ce na IV Sonho com uma gata
Ce na VII Noite escura
Uma gata muito bela é encontrada e mantida por Lady Sarashina e sua irmã. Num sonho, a gata revela à irmã ser a reincarnação da filha do Primeiro Conselheiro, e que um Carma a liga a Lady Sarashina. Porém, um dia, a gata é queimada viva, vítima de um incêndio.
Lady Sarashina recorda o seu encontro com um cavalheiro desconhecido, numa noite de chuva e sem lua. «Havia algo tão sensível nos seus modos que, apesar de toda a minha timidez habitual, achei difícil manter-me rígida e distante.»
Ce na V A lua
Ce na VIII Recordação
Lady Sarashina evoca a sua contemplação solitária da lua:
No ano seguinte, lembra Lady Sarashina, aconteceu um desencontro: o cavalheiro estivera no palácio num momento em que ela também ali se encontrava, mas sem ter disso conhecimento.
Se eu pudesse ao menos partilhar esta lua Com alguém que tivesse sentimentos como os meus – Esta lua que ilumina a aldeia da montanha Na manhã de Outono!
Ce na VI Sonho -espe lho
Ce na IX Destino O destino de Lady Sarashina cumpre-se; ela torna-se a figura em sofrimento que havia surgido no sonho do espelho.
Lady Sarashina revela que sua mãe enviou um sacerdote para oferecer, da sua parte, um espelho ao templo de Hase e depois orar para que tivesse um sonho acerca do futuro da filha. Nesse sonho, contou o sacerdote, apareceu uma senhora de aspecto nobre que lhe mostrou, reflectida no espelho, uma figura em pranto. Depois, do outro lado do espelho, um jardim, árvores e pássaros. Lady Sarashina: «Embora o sonho do sacerdote... se referisse ao meu próprio futuro..., eu não lhe prestei atenção na altura…»
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Lady Sar ash i na PETER EÖTVÖS TRADUÇÃO DE JORGE VAZ DE CARVALHO
Abe rtura Quando o dobre do sino do templo Me anunciou que a madrugada e o termo da minha vigília tinham por fim chegado Senti como se tivesse atravessado cem noites de Outono.
O GUARDA Porquê? Oh, porque cheguei eu a isto? Em casa tenho muitos Vasos de vinho, e acima dos vasos pendem as conchas de cuia. Viram-se para norte quando o vento do sul sopra, Viram-se para sul quando o vento do norte sopra, Viram-se para leste quando o vento do oeste sopra, Viram-se para oeste quando o vento do leste sopra, Mas agora não vejo nenhum. SARASHINA & MEZZO A filha favorita do Imperador olhava o homem fixamente. Estava curiosa por aquelas conchas de cuia E como elas se viravam acima dos vasos. PRINCESA
CENA I Primave ra
Vem cá, homem! Deixa-me ouvir outra vez essa canção! O GUARDA
SARASHINA & TRIO VOCAL Cada Primavera, quando as flores despontavam E eram sopradas para longe, lembrava-me tristemente Que esta era a estação em que a minha ama morrera. Mesmo no início da Quinta Lua, Quando contemplava as flores de laranjeira de branco puro Junto aos beirais da nossa casa, A cena inspirou-me a escrita de um poema: É tão só o seu perfume Que me diz o que são essas dispersas flores de laranjeira. Se não teria pensado que eram Flocos de neve precoces.
Viram-se para norte quando o vento do sul sopra, Viram-se para sul quando o vento do norte sopra, Viram-se para leste quando o vento do oeste sopra, Viram-se para oeste quando o vento do leste sopra. A FILHA DO IMPERADOR Leva-me lá e deixa que veja com os meus próprios olhos. SARASHINA & MEZZO Pondo a Princesa às costas, ele caminhou Sete dias e noites até chegarem a Musashi. O Imperador e a Imperatriz estavam aflitos E procuravam-na por todo o lado. O BOBO
CENA II Guarda SARASHINA, SOPRANO & MEZZO Há muito tempo, um homem desta província Foi indicado no Palácio Imperial Como guarda das fogueiras das sentinelas. Um dia em que varria nos jardins imperiais Cantava para si mesmo: 8
Foram informados de que um guarda fora visto saindo a correr Do palácio com uma criatura esplendidamente perfumada Agarrada ao seu pescoço. SARASHINA & MEZZO Uma busca foi ordenada, enviaram mensageiros imperiais Em urgente perseguição.
O BOBO
SARASHINA & TRIO VOCAL
Levaram três meses até localizarem finalmente O homem em Musashi.
O cume dos meus sonhos seria que um homem de nascimento nobre, De beleza e maneiras perfeitas, me visitasse Uma vez por ano na aldeia da montanha Onde me tivesse escondido. Vem-me à mente que a minha posição no mundo melhoraria bastante Se o meu pai recebesse uma boa nomeação.
SARASHINA & MEZZO A Princesa chamou os mensageiros imperiais e disse-lhes:
CENA II . 2
PAI Mas parece que tu e eu temos maus karmas.
A PRINCESA O que eu fiz devia estar predestinado. Estava curiosa por ver a casa deste homem, E disse-lhe para me trazer aqui. E achei que é um excelente lugar para viver. Se este homem for punido por este acto, o que será de mim? É sem dúvida o karma de uma vida anterior Que me fez deixar os meus traços nesta província. Regressai à capital e reportai isto ao Imperador! Ide! Ide! SARASHINA Os mensageiros regressaram e contaram ao Imperador o que tinham ouvido. SARASHINA & MENSAGEIRO O que ela fez devia estar predestinado. Estava curiosa... Ela disse-lhe para a levar ali. Excelente lugar... É sem dúvida o karma... Ide... Ide... IMPERATRIZ Não há mais nada a dizer. Mesmo que punamos o homem, Nunca poderemos trazer a nossa filha de volta à capital.
SARASHINA & TRIO VOCAL Finalmente, o seu novo posto foi anunciado, Mas foi-me atribuída uma província muito distante. «Todos estes anos...» PAI, SARASHINA, SOPRANO & MEZZO Todos estes anos estive à espera do dia Em que seria nomeado para uma das províncias próximas. Assim poderia cuidar de ti devidamente. Poderia ter-te levado para a minha província E mostrado o mar e as montanhas. PAI As províncias são lugares terríveis. Não poderia cuidar de ti como desejava. As coisas estão ainda mais difíceis. SARASHINA, SOPRANO & MEZZO Assim se lamentava dia e noite, fazendo-me tão infeliz Que nem conseguia já reparar Na beleza das flores e das folhas. MÃE Oh, depois de o pai partir, tivemos menos visitas do que nunca.
TODOS
SARASHINA & JOVEM SENHORA
Depois disto, só as mulheres foram nomeadas Para guardar as fogueiras dos sentinelas.
Sentei-me abandonada no meu quarto, Perguntando-me onde poderia ele estar exactamente. Enquanto passava o tempo em devaneios sombrios, Ocorreu-me que poderia fazer algumas peregrinações.
CENA III Pe regrinage ns SARASHINA Sempre vivi num mundo de sonho.
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MÃE
IRMÃ
Peregrinações! Isso é terrível! Se formos a Hase, podemos ser atacadas por salteadores Na encosta de Nara e então que será de nós? Ishiyama também é muito perigoso Porque temos de atravessar a barreira da montanha.
Chiu! Chiu! SARASHINA & JOVEM SENHORA Nem uma palavra seja a quem for! É uma gata adorável. SARASHINA & IRMÃ Vamos ficar com ela!
CENA III . 2
SARASHINA, IRMÃ & JOVEM SENHORA
PAI
A gata era muito amistosa, e tomámos conta dela com grande cuidado... Até que um dia a minha irmã adoeceu
As províncias são lugares terríveis.
SARASHINA
MÃE
... e eu decidi...
E o monte Kurama, Kurumayama – Oh, como isso me aterrorizaria! É melhor esperares até que o teu pai volte E ele que decida onde é seguro ir.
SARASHINA & JOVEM SENHORA
JOVEM SENHORA
Ela miou muito alto.
A minha mãe era uma mulher antiquada. SARASHINA A minha mãe era uma mulher antiquada. O máximo que ela permitiria seria um retiro em Kiyomizu. Quando chegámos ao templo eu ainda não conseguia Rezar sinceramente como devia.
Ter a nossa gata na ala norte da casa. JOVEM SENHORA
IRMÃ O que aconteceu? Onde está a nossa gata? Trá-la cá! JOVEM SENHORA Porquê? Porquê? IRMÃ Eu tive um sonho. A nossa gata veio ter comigo e disse:
CENA IV. Sonho com uma gata SARASHINA Altas horas de uma noite de Primavera, ouvi um miar prolongado. Olhei para cima sobressaltada e vi uma gata extremamente bonita. SARASHINA & JOVEM SENHORA Donde será que ela veio... SARASHINA ... perguntei-me. SARASHINA & JOVEM SENHORA Foi então que a minha irmã veio de trás da cortina. 10
GATA, IRMÃ, JOVEM SENHORA & SARASHINA Sou a filha do Conselheiro-Mor, e é nesta forma que renasci. Por causa de algum karma entre nós, a tua irmã gostou muito de mim E por isso fiquei nesta casa por uns tempos. IRMÃ Quando acordei, compreendi que as palavras no meu sonho Eram os miados da nossa gata. SARASHINA & JOVEM SENHORA Este sonho tocou-me profundamente E, a partir daí, nunca mais mandei a gata para a ala norte.
SARASHINA, IRMÃ & JOVEM SENHORA
SARASHINA
Na Quarta Lua do ano seguinte, houve um fogo na nossa casa E a gata morreu queimada.
Quando acordei, a lua estava suspensa junto ao cume ocidental dos montes, E pareceu-me que o seu rosto estava banhado de lágrimas. Infelizmente, vejo que o ano está a chegar ao fim E que a noite dá lugar ao amanhecer, Enquanto raios de luar me iluminam palidamente as mangas.
SARASHINA É tão lamentável que ela tenha morrido assim! SARASHINA & JOVEM SENHORA É realmente extraordinário!
SOPRANO, MEZZO & SARASHINA
CENA IV. 2 Requ ie m
Se eu pudesse ao menos partilhar esta lua Com alguém que tivesse sentimentos como os meus – Esta lua que ilumina a aldeia de montanha Na manhã de Outono!
TODOS Fumo... fumo... que vimos... sobre... A pira... pira... pira... sumiu-se completamente... Como pode ela ter esperado achar a sepultura Entre as canas de bambu da planície? Como pode ela ter esperado achar a sepultura... Achar... fumo... pira.
CENA V A Lua SARASHINA Noite após noite fico acordada, Escutando o sussurrar das canas de bambu, E uma estranha tristeza enche o meu coração. TRIO VOCAL Prometeste voltar. SARASHINA Uma noite de luar resplandecente, fiquei a pensar e a contemplar A lua e sem conseguir pregar olho toda a noite. Oh, lua, que agora deslizas para ocidente. TRIO VOCAL & SARASHINA Quanto terei ainda de esperar até cumprires esse juramento? A Primavera não esqueceu a árvore Cujos ramos a geada outrora embranquecia.
CENA VI Sonho -espe lho SARASHINA & SOPRANO A minha mãe... encomendou... um espelho... feito para Hase... Para o Templo de Hase. O Templo de H-A-S-E. Ela decidiu enviar um sacerdote... enviar um sacerdote... Em seu lugar... e deu-lhe... as seguintes instruções: MÃE & SARASHINA Deves orar para teres um sonho sobre o futuro da minha filha. SARASHINA & SOPRANO No seu regresso... o sacerdote relatou... à minha mãe: SACERDOTE Orei com devoção ante o altar, depois fui dormir... E sonhei que apareceu uma senhora de aspecto nobre. SARASHINA Erguendo o espelho... SACERDOTE Erguendo o espelho... que vós dedicastes ao templo, ela disse: SENHORA-DO-SONHO Muito estranho! Olha o que está reflectido aqui... 11
SACERDOTE Ela apontou para o espelho... SENHORA-DO-SONHO A visão enche-nos de dor. SACERDOTE & SARASHINA No espelho ela viu uma figura... Rolando pelo chão em pranto e lamentação. SENHORA-DO-SONHO Muito triste, não é? Mas agora: olha para isto! SARASHINA Então ela mostrou o outro... SACERDOTE & SARASHINA Outro lado... Para lá do quarto podia ver-se as... Flores de ameixeira e as flores de cerejeira no jardim, E os rouxinóis esvoaçavam de árvore em árvore a cantar. SENHORA-DO-SONHO A quem o mostrarei, A que ouvidos o levarei – Esta manhã na aldeia de montanha, Esta música do hototogisu quando saúda outro dia? Isto faz uma pessoa feliz, não faz?... SACERDOTE ... Embora o sonho do sacerdote... se referisse ao meu próprio futuro..., Eu não lhe prestei atenção na altura, Mas escrevi o poema: SARASHINA Destino... o destino não é meu amigo – Esse foi meu amargo pensamento. Mas a vida tornou-se agora uma coisa realmente bela.
CENA VII Noite escura JOVEM SENHORA & DAMA DE HONOR Juntas vasculhámos a costa varrida pelo vento, Mas não encontrámos conchas que nos fossem úteis, 12
Tivemos apenas as nossas mangas salpicadas pela rebentação. Se ela não esperasse encontrar alguma alga que cresce na baía, Este mergulhador nunca teria esquadrinhado a costa varrida pelo vento, Perscrutando alguma brecha entre as ondas. SARASHINA Numa noite muito escura, eu e outra dama de companhia Ficámos junto à porta da capela. Estando nós ali, conversando e escutando os sacerdotes, Um cavalheiro aproximou-se. Falou de uma maneira serena e gentil E eu podia afirmar que era um homem de perfeitas qualidades. CAVALHEIRO Há uma elegância e um encanto especiais em noites escuras como esta. As senhoras não concordam? Se tudo fosse iluminado pela lua, o brilho só nos confundiria. SARASHINA Cada uma tem o seu próprio encanto... CAVALHEIRO Cada uma tem o seu próprio encanto... JOVEM SENHORA ... próprio encanto. CAVALHEIRO A lua assim não é demasiado brilhante E a sua luz parece flutuar na distância. JOVEM SENHORA ... O céu... CAVALHEIRO Quando chega o Outono, o céu ainda está enevoado, Mas a lua luzente brilha tão claramente Que sentimos que a podíamos colher na nossa mão. Mas depois vem a noite de Inverno, quando o céu é gelado, O ar frio de rachar e as camadas de neve reflectem o luar. JOVEM SENHORA A lua brumosa de Primavera –
É essa que eu amo, Quando o céu claro e verde e flores fragrantes Estão todos igualmente envoltos na névoa. DAMA DE HONOR Parece que os vossos corações foram todos atraídos pela Primavera. Serei eu a única a contemplar as luas de Outono? CAVALHEIRO Quando alguma coisa me toca profundamente Seja triste ou alegre, o aspecto particular da natureza Nesse momento, o aspecto do céu, da lua ou das flores Mergulha profundamente no meu coração. SARASHINA Depois, ele começou a falar sobre a tristeza do mundo, E havia algo tão sensível nos seus modos que, Apesar de toda a minha timidez habitual, Achei difícil manter-me rígida e distante. SARASHINA & TRIO VOCAL Deverei ser poupada a viver além desta noite, As noites de Primavera permanecerão no meu coração Em memória de como nos conhecemos. SARASHINA Depois de ele nos deixar, ocorreu-me Que ele não fazia ideia ainda de quem eu era.
JOVEM SENHORA E depois a voz de um homem... CAVALHEIRO ... Se tudo fosse iluminado pela lua, O brilho só nos confundiria. JOVEM SENHORA ... Cada uma tem o seu próprio encanto... CAVALHEIRO Nunca esqueci aquela noite de chuva, Nem por um só instante. Pensei que fosse a chuva, Esse regato do vale que corre entre as árvores. JOVEM SENHORA Como pôde ela permanecer tão clara em vossa mente? Não havia mais nada se não o tamborilar da chuva nas folhas. CAVALHEIRO Se voltarmos a ter mais alguma noite de chuva assim, Gostaria de tocar alaúde para vós. Tocarei o meu melhor. SARASHINA Eu desejava ouvi-lo e esperei o tempo apropriado. Ele nunca chegou. SARASHINA & TRIO VOCAL
CENA VIII Recordação SARASHINA Na Oitava Lua do ano seguinte, Acompanhei a Princesa ao Palácio Imperial. Entre os presentes estava o cavalheiro que eu encontrara Naquela noite de chuva; Mas, não fazendo a mínima ideia de que ele lá estava, Permaneci no meu quarto. Pela calada da noite, abri a porta deslizante E olhei para fora. Ouvi passos aproximando-se da varanda...
A culpa foi da flauta, porque se foi cedo de mais E não esperou pela resposta da Folha de Cana.
CENA IX Destino SARASHINA Destino... o destino não é meu amigo... Lembrei-me de que, quando a minha mãe dedicou um espelho Ao Templo Hase, o sacerdote sonhou Com uma figura a chorar rolando pelo chão. Esse era o meu estado presente, esse foi o fim de tudo.
Fim 13
BIOGRAFIAS
PETER EÖTVÖS com positor Peter Eötvös é um dos mais prestigiados intérpretes de repertório do Século XX. Nascido na Transilvânia, diplomou-se em Composição na Academia de Música de Budapeste e em Direcção de Orquestra na Universidade de Música de Colónia. Entre 1968 e 1976 integrou o Ensemble Stockhausen. Entre 1971 e 1979 colaborou com o Estúdio de Música Eletrónica da Westdeutscher Rundfunk de Colónia. Em 1978, a convite de Pierre Boulez, dirigiu o concerto inaugural do IRCAM, em Paris e foi seguidamente nomeado director musical do Ensemble InterContemporain, lugar que ocupou até 1991. Desde a sua estreia nos Proms, em 1980, tem-se apresentado regularmente em Londres. Entre 1985 e 1988 foi o Maestro Principal Convidado da Orquestra Sinfónica da BBC. Foi também Maestro Principal da Orquestra de Câmara da Rádio de Hilversum, entre 1994 e 2005, e Maestro Principal Convidado das orquestras do Festival de Budapeste, entre 1992 e 1995, Sinfónica da Rádio de Estugarda, entre 2003 e 2005, da Sinfónica de Gotemburgo, para repertório moderno e contemporâneo entre 2003 e 2007, e da Sinfónica da Rádio de Viena, entre 2009 e 2012. Trabalhou com muitas outras orquestras, entre elas as mais importantes orquestras de rádios europeias e as orquestras Real do Concertgebouw, Filarmónica de Berlim, Filarmónica de Munique, Philharmonia de Londres, Filarmónica de Viena, de Cleveland e NHK de Tóquio. Trabalhou também em teatros de ópera, incluindo o La Scala de Milão, a Royal Opera House, o Convent Garden e o La Monnaie de Bruxelas, o Festival de Ópera de Glyndebourne e o Théâtre du Châtelet de Paris, com maestros como Luca Ronconi, Robert Altman, Klaus-Michael Grüber, Robert Wilson, Nikolaus Lehnhof e Ushio Amagatsu. Entre 1992 e 1998 foi professor na Universidade de Música de Karlsruhe e entre 1998 e 2001 da Universidade de Música de Colónia. Regressou depois, entre 2002 e 2007, à mesma função em Karlsruhe. Em 1991 fundou o Instituto e Fundação Internacional Eötvös e, em 2004, a Fundação de Música Contemporânea Eötvös em Budapeste, para jovens compositores e
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intérpretes. Orienta com regularidade masterclasses e seminários em todo o mundo. É membro da Academia de Arte em Berlim, da Academia de Arte Szechenyi em Budapeste, da Academia de Sächsische em Dresden, da Academia Real Sueca de Música e membro honorário da Academia Nacional de Santa Cecília em Roma. As suas inúmeras composições, de que são exemplo Atlantis, zeroPoints, Shadows, Levitation, CAP-KO, SEVEN, DoReMi, e óperas como Trois Sœurs, Le Balcon, Angels in America, Love e Other Demons, são regularmente interpretadas em todo o mundo. Têm sido também gravadas pelas etiquetas BIS AG, BMC, DGG, ECM, KAIROS, col legno, Naive, e as partituras publicadas pelas editoras Editio Musica (Budapeste), Ricordi (Munique), Salabert (Paris) e Schott Music (Mainz).
Imai Ayane soprano Lady Sarashina A soprano Imai Ayane nasceu na ilha de Hokkaido, no Japão. Terminou a sua formação musical elementar em 2006, na Escola Sapporo Ōtani, prosseguindo os estudos superiores na universidade da mesma instituição, até 2010. Em 2011 radicou-se na Húngria, prosseguindo os seus estudos enquanto cantora de ópera na Universidade de Pécs. Em 2012, ingressou na Academia de Música Franz Liszt, em Budapeste, para estudar com a mezzo-soprano húngara Meláth Andrea. Estudou ainda com a soprano japonesa Noriko Hagiwara. Imai Ayane foi distinguida em vários concursos de canto no Japão, de que se destaca a o terceiro prémio no Concurso de Canção Japonesa Yoshinao Nakada, em 2010. No presente mês de Outubro, distinguiu-se da interpretação deste mesmo papel de Lady Sarashina no Festival de Artes Contemporâneas CAFe Budapeste, com direcção musical do maestro Gergely Vajda e encenação de András Almási-Tóth.
Carla Caram ujo soprano Princesa, Jovem Senhora, Senhora-do-Sonho, Dama de Honor Diplomada pela Guildhall School of Music and Drama e pelo Royal Conservatoire of Scotland, Carla Caramujo foi vencedora dos concursos Nacional de Canto Luísa Todi, Musikförderpreis der Hans-Sachs-Loge (Alemanha), Dewar Award, Chevron Excellence e Ye Cronies Awards (Inglaterra). O seu repertório abarca uma grande diversidade de papéis, desde a ópera barroca à produção contemporânea, destacando-se as suas interpretações de La Contessa di Folleville em Il viaggio a Reims de Rossini, Gilda em Rigoletto, D. Anna em Don Giovanni, Adele em Die Fledermaus, Lisette em La Rondine de Puccini (Teatro Nacional de S. Carlos), Violetta em La traviata (Festival de Sintra); Adina em L’elisir d’amore (Teatro da Trindade); Nena em Lo frate ‘nnamorato de Pergolesi, La Jeunesse em Le Carnaval et la Folie de Destouches (CCB / Músicos do Tejo), Vespina em La Spinalba de Francisco A. Almeida (Festival de Vigo / Músicos do Tejo), Valetto em L’Incoronazione di Poppea (Traverse Theatre, Edimburgo), Armida em Rinaldo de Händel (Festival Theater, Edimburgo); Rainha da Noite em Die Zauberflöte (Trinity Theatre, Kent); Fiordiligi em Così fan tutte (Rivoli); Herz em Die Schauspieldirektor de W. A. Mozart (Faro); Frasquita em Carmen (Teatro Comunale de Bolonha); Fada Azul em La bella dormente de Respighi e Controller em Flight de J. Dove (New Atheneum Theatre, Glasgow) e Salomé na estreia mundial de O sonho de Pedro Amaral (London Sinfonietta, Londres e Gulbenkian), entre outros. Em concerto foi solista em Messias (Händel), Requiem (Brahms), Missa em Dó Menor, Missa da coroação e Requiem (W. A. Mozart), Sinfonia n.º 9 (Beethoven), Gloria (Poulenc), Paixão segundo S. João (J. S. Bach), Elijah (Mendelssohn), Carmina Burana (C. Orff), Stabat Mater (Haydn e Pergolesi), Cap al meu silenci (Salvador Pueyo) e Requiem Inês de Castro (Pedro Camacho). Estreou a versão sinfónica de Lua, canção de uma morte 15
de Nuno Côrte-Real, tendo-se apresentado em salas como Heidelberg Hall, Smetana Hall (Praga), The New Sage Gateshead Music Centre (Newcastle), Fairfield Hall, St. James Piccadilly, Barbican Hall (Londres), Teatro Péon Contreras (Mérida, México), Gulbenkian e CCB, SODRE (Montevideu), Usina del Arte (Buenos Aires), Teatro San Martin (Córdova, Argentina), para além de vários festivais nacionais e internacionais. Atualmente integra o elenco de Un moto di gioia, Mozart Concert Arias com a CNB e a orquestra barroca Divino Sospiro numa criação de Anne Teresa De Keersmaeker. Acaba de regressar da Argentina onde se apresentou com o Ensamble de los Buenos Aires e a Orquesta de Cuerdas Municipal de Córdoba. Brevemente será solista na Grande Missa em Dó Menor e nas Vesperae solennes de confessore de Mozart, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, e interpretará o papel de Clorinda em La Cenerentola de Rossini, no Teatro Nacional de S. Carlos.
Cátia Moreso m ezzo -soprano Imperatriz, Mãe, Irmã, Senhora-do-Sonho, Dama de Honor Iniciou os seus estudos de Técnica Vocal no Conservatório Nacional de Música de Lisboa após o que ingressou na Guildhall School of Music and Drama onde obteve um mestrado em Ópera. Diplomada pela National Opera Studio com o apoio de Lionel Anthony e da Fundação Gulbenkian. Estuda actualmente com Susan Waters. Cátia Moreso venceu vários concursos realizados em Portugal, entre os quais a segunda edição do Concurso de Canto Lírico da Fundação Rotária Portuguesa (1º Prémio – 2008), o Concurso Nacional Luisa Todi (Prémio Bocage – 2007) e o Prémio José Augusto Alegria. Dos papéis desempenhados em produções de ópera merecem especial destaque: Giano em O Triunfo do Amor, Terceira Camponesa em Village Romeo and Juliet (Delius), Terceira Dama em A Flauta Mágica, Eva em Comedy 16
on the Bridge, Segunda Bruxa e Espírito em Dido e Aeneas, Pagem em Salomé, Giovanna em Rigoletto, Baronesa em Cherubin, Elisa em La Spinalba, Madame de Croissy no Diálogo das Carmelitas, Proserpina em Euridice, papel principal em Zanetto, Carmella em A vida breve, Marcelina em As Bodas de Fígaro. Cantou igualmente árias de Beatrice, de Beatrice et Benedict, Isabella de L’Italiana in Algeri e Olga de Eugene Onegin. Como solista apresentou-se no Requiem de Mozart, Nelson Mass de Haydn, Gloria e Magnificat de Vivaldi, Stabat Mater e Magnificat de Pergolesi, Magnificat de Bach, Stabat Mater e Petite Messe Solenelle de Rossini, Missa nº 3 e Te Deum de Bruckner. Do seu repertório constam igualmente obras contemporâneas, tendo interpretado Cicero Dixit de Christopher Bochmann (estreia mundial), Aventures de Ligeti e Folksongs de Berio. Para a Naxos gravou La Spinalba, no papel de Dianora.
Pete r Bording barítono O Guarda, O Bobo, Mensageiro, Pai, Gata, Sacerdote, Cavalheiro Peter Bording nasceu na Holanda e estudou canto com Jan Handerson, tendo-se graduado cum laude no Conservatório de Amesterdão. Concluiu os estudos na Guidhall School of Music and Drama, em Londres. O seu vasto repertório abrange todas as formas de teatro musical. Na ópera desempenhou os papéis principais em O barbeiro de Sevilha e em Pelléas et Mélisande, com fortes aplausos da crítica e do público em Viena, Estugarda, Hanover, Braunschweig, Essen e também com a Dutch Touring Opera. Outros papéis importantes incluem Marcello (La Bohème), Silvio (Pagliacci), Germont (La Traviata), Malatesta (Don Pasquale), Enrico (Lucia di Lammermoor), Riccardo (I Puritani), Valentin (Faust), Albert (Werther) e Ramiro (L’heure espagnole). Foi também Papageno (Die Zauberflöte) em numerosas produções, Guglielmo (Così fan tutte), Nardo (La finta giardiniera) e um
surpreendente Conte Almaviva (Le nozze di Figaro) sob a direcção de Marc Albrecht. Foi convidado a apresentar-se no Wiener Festwhochen, no Theater an der Wien, na Ópera Estatal de Budapeste, na Dutch Touring Opera, a muitas das principais casas de ópera na Alemanha e também em cidades como Amesterdão, Bruxelas, Antuérpia, Madrid, Barcelona, Lisboa, Tóquio, Colónia, Innsbruck, Basileia, Lucerna e Washington DC. Na área da música contemporânea, interpretou papéis principais em óperas de compositores como Peter Eötvös e Michael Jarrell, na Opéra-Comique de Paris, na Ópera Nacional de Lyon, no Grande Teatro Wielki de Varsóvia (estreia mundial de Lady Sarashina), no Grande Teatro de Genebra (estreia mundial de Galilée) e na Bienal de Munique (estreia mundial de Ramanujan). Foi também convidado do Bregenzer Festspielen, para interpretar as obras de Kurt Weill Der Protagonist e Royal Palace. Tendo crescido com a opereta, Peter Bording é frequentemente requisitado para papéis românticos, tais como Danilo (Der lustige Witwe), Eisenstein (Die Fledermaus) e Edwin (Die Csárdásfürstin), sendo igualmente bem sucedido em clássicos do teatro musical de Bernstein, Kern, Porter, Sondheim e Webber. As Paixões de Bach, A Canção da Terra de Mahler e Carmina Burana de Orff, entre outras, são obras de concerto que integram o seu repertório. Trabalhou sob a direcção de maestros como Marc Albrecht, Philippe Auguin, Peter Eötvös, Adam Fischer, Carlo Franci, Yakov Kreizberg, Helmut Rilling, Mstislav Rostropovitsch, Stefan Soltesz e Lothar Zagrosek, entre outros. Os próximos compromissos incluem uma estreia na Komische Oper Berlin, no papel de Eisenstein. Fará os papéis principais n’O barbeiro de Sevilha, num concerto a apresentar no Royal Concertgebouw, em Amesterdão, e na nova produção de Werner Egk de Peer Gynt, na Ópera Estatal de Braunschweig. Poderá igualmente ser ouvido em produções: como Heerrufer em Lohengrin, no Teatro de Maddeburgo, e como Danilo em Die lustige Witwe, em Tóquio. Peter Bording é Professor Convidado do Conservatório de Utrecht.
Rares Zaharia e nce nador Rares Zaharia nasceu em Sibiu, na Roménia, no seio de uma família de artistas. Começou a estudar piano aos sete anos de idade, em Iaşi. Estreou-se poucos meses mais tarde como actor na peça A família de Toth, de Orkény Istvàn, no Teatro Nacional de Iaşi, seguindo-se o seu primeiro recital de piano. Estudou História de Arte na Universidade de Belas Artes de Bucareste e na École des Hautes Études en Sciences Sociales da Sorbonne, em Paris. Paralelamente, teve aulas de canto, como barítono, com a soprano Cornelia Gavrilescu, em Bucareste, e em masterclasses com a soprano Medea Iassonidi, na Grécia. Presentemente, está a preparar o seu doutoramento na Sorbonne, com uma tese acerca das origens da ópera, intitulada «La renaissance du théâtre antique de l’Orfeo du Politien à l’Orfeo de Monteverdi». Começou a interessar-se pela encenação de ópera em Paris, quando trabalhou junto de Irina Brook numa de produção de Giulio Cesare in Egitto de Händel no Théâtre des ChampsElysées em Paris, em 2006. Em 2007 tornou-se assistente de Silviu Purcarete. Trabalhou com vários encenadores reputados em Gianni Schicchi de Puccini no Teatro Húngaro de Cluj, em 2007, em Measure for measure de Shakespeare no Teatro Nacional de Craiova em 2008, na estreia mundial de Love and Other Demons de Peter Eötvös, no Festival de Ópera de Glyndebourne em 2008, e em Artaserse de Leonardo Vinci, na Ópera Nacional de Lorena, em 2012. Em 2009, Rares Zaharia estreou-se como encenador na Ópera Nacional de Bucareste com Don Pasquale de Donizetti, uma produção muito elogiada pelo público e pela crítica. Em 2010, repôs Love and Other Demons de Eötvös na Ópera de Colónia e, em Estrasburgo, na Ópera Nacional do Reno. Em 2011, foi convidado para integrar a Academia do Festival de Aix-en-Provence no Ateliê «Ópera em Criação». No mesmo ano, foi assistente de Petrika Ionesco numa produção de Der Fliegende Holländer de Wagner para a Ópera Real de Valónia, na Bélgica. Em março de 2012 participou num workshop 17
orientado pelo reputado encenador Christof Nel na Bayerisches Theatherakademie August Everding em Munique com um seu projecto para Hamlet de Thomas. Foi bastante bem recebido. Em Julho de 2012 desenvolveu um projecto de ópera contemporânea baseado n’A Mandrágora de Maquiavel, com música de Gianluca Verlingieri, para o qual escreveu o libreto. Apresentou-o na Academia do Festival de Aix-en-Provence. Dirigiu uma apresentação semi-encenada com o título Hamlet-fragments no Temple du Luxembourg, em Paris. Em 2013 foi assistente de Silviu Purcarete nas produções Aleko e Francesca da Rimini, duas óperas em um ato de Rachmaninov no Teatro Colon, em Buenos Aires. Foi depois convidado para participar na Academia de Ópera de Verona com uma obra raramente apresentada, Isabeau de Pietro Mascagni. Em Outubro encenou, no contexto do bicentenário de Verdi, Otello, na Teatro Nacional de Craiova. Este trabalhado foi premiado pela Academia de Artes Elena Teodorini. O mesmo espectáculo foi incluído na programação no Festival Internacional Shakespeare, em Craiova, já em 2014, ao lado de produções de encenadores famosos como Robert Wilson, Declan Donnellan, Eimuntas Nekrosius e Silviu Purcarete. Em 2014 repôs Artaserse de Vinci na Ópera Real de Versailles. Também venceu o Segundo Prémio no Concurso do Festival Aix-en-Provence com um projecto intitulado Amore/Guerra, baseado nos Madrigali Guerrieri ed Amorosi de Monteverdi. Entre os seus próximos compromissos contam-se a reposição de Aleko de Francesca da Rimini de Rachmaninov na Ópera Nacional de Lorena, no início de 2015, e a encenação da estreia mundial da ópera Le roi se meurt, de Dan Variu, a partir de Eugene Ionesco, na Ópera Nacional Romena, em Cluj. Irá também encenar Lucrezia Borgia de Donizetti na Ópera Nacional de Craiova e The Battered Bride de Smetana, na Ópera Nacional de Belgrado. Em Janeiro de 2017, Rares Zaharia irá repor Love and Other Demons de Peter Eötvös na Ópera Nacional Húngara, em Budapeste.
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José António Te ne nte figurinos Após ter iniciado a sua formação superior em Arquitectura, José António Tenente envereda pela Moda, revelando em 1986 a sua primeira colecção. Actualmente o universo da marca estende-se a vários projectos: ‘TENENTE escrita’, ‘TENENTE eyewear’, ‘Amor Perfeito’ perfume e perfumaria de casa. Em 2009 viu editado um livro sobre o seu trabalho, ‘JAT – Traços de União’. Em 2010 comissariou a exposição ‘Assinado por Tenente’ no MUDE, Museu do Design e da Moda, em Lisboa. Ao longo da sua carreira recebeu vários prémios de “Criador de Moda” e outras distinções como a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Cascais e a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. A concepção de figurinos para teatro e bailado, actividade que desde cedo ocupa um importante lugar no seu percurso, é a área à qual dedica actualmente a maioria do seu trabalho, tendo trabalhado com diversos encenadores e coreógrafos: Beatriz Batarda, Carlos Avilez, Carlos Pimenta, Lúcia Sigalho, Maria Emília Correia, Pedro Gil, Tonan Quito, Benvindo Fonseca, Clara Andermatt, Paulo Ribeiro, Rui Lopes Graça e Rui Horta, entre outros.
Pe dro Amaral maestro
Orquestra M etropolitana de Lisboa
Nascido em Lisboa (1972), Pedro Amaral, compositor e maestro, é um dos músicos europeus mais activos da nova geração. Inicia os estudos em composição como aluno privado de LopesGraça, a partir de 1986, ao mesmo tempo que prossegue a sua formação musical geral, no Instituto Gregoriano (1989/91). Ingressa depois na Escola Superior de Música de Lisboa onde conclui o curso de composição na classe do professor Christopher Bochmann, em 1994. Instala-se em Paris, onde estuda com Emmanuel Nunes no Conservatório Superior, graduando-se com o Primeiro Prémio em Composição por unanimidade do júri. Estuda ainda direcção de orquestra com Peter Eötvös (Eötvös Institute, 2000) e Emilio Pomàrico (Scuola Civica de Milão, 2001). Paralelamente à sua formação musical prática, prossegue os estudos universitários na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris obtendo, em 1998, Mestrado em Musicologia Contemporânea com uma tese sobre Gruppen de K. Stockhausen – com quem trabalha como assistente em diferentes projetos – e, em 2003, um doutoramento com uma tese sobre Momente e a problemática da forma na música serial. Em Maio de 2010, estreou em Londres a sua ópera O Sonho, a partir de um drama inacabado de Fernando Pessoa. Unanimemente aplaudida pela crítica, a obra foi interpretada por um prestigioso elenco de cantores portugueses acompanhados pela London Sinfonietta sob a direcção do compositor, tendo sido apresentada em Londres e Lisboa. Como compositor e/ou maestro, Pedro Amaral trabalha regularmente com diferentes ensembles e orquestras, nacionais e estrangeiros. Foi maestro titular da Orquestra do Conservatório Nacional (2008/09) e do Sond’Ar-Te Electric Ensemble (2007/10). Desde o ano lectivo de 2007/2008, é Professor Auxiliar da Universidade de Évora (Composição, Orquestração e disciplinas afins). Desde Julho de 2013, Pedro Amaral é director artístico e pedagógico da AMEC / Metropolitana.
A Orquestra Metropolitana de Lisboa estreou-se no dia 10 de junho de 1992. Desde então, os seus músicos asseguram uma intensa actividade na qual a qualidade e a versatilidade têm presença constante, permitindo abordar géneros diversos, proporcionando a criação de novos públicos e a afirmação do caráter inovador do projeto AMEC | Metropolitana, de que esta orquestra é a face mais visível. Nos programas sinfónicos, jovens intérpretes da Academia Nacional Superior de Orquestra juntam-se à Metropolitana, cuja constituição regular integra já músicos formados nesta escola, sinal da vitalidade da ponte única que aqui se faz entre a prática e o ensino da música. Este desígnio, que distingue a identidade da Metropolitana, por ser exemplo singular no panorama musical internacional, complementa-se com a participação cívica, que se traduz na apresentação frequente em concertos de solidariedade e eventos públicos relevantes. Cabe-lhe, ainda, a responsabilidade de assegurar uma programação regular junto de várias autarquias da região centro e sul, para além de promover iniciativas de descentralização cultural por todo o país. A Direcção Artística da Orquestra Metropolitana de Lisboa é, desde Julho de 2013, assegurada pelo maestro e compositor Pedro Amaral.
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São Luiz tEatro municipal
orquestra metropolitana de lisboa
Direcção Executiva Programação Temporada 2014-2015 Aida Tavares Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora) Susana Duarte (Adjunta) Mafalda Sebastião Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director) João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago Ricardo Campos Ricardo Joaquim Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma Cláudio Ramos Paulo Mira Vasco Ferreira Som Nuno Saias Ricardo Fernandes Rui Lopes Encarregado Geral Manuel Castiço Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto Maria Távora Marta Pedroso Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora) Elsa Barão Nuno Santos Design Gráfico Silva Designers Bilheteira Cidalina Ramos Hugo Henriques Soraia Amarelinho Frente de Casa Letras e Partituras Assistentes de Sala Ana Rita Carvalho Carla Pignatelli (Coordenação) Carlota Macedo Carolina Serrão Cristiano Varela (Coordenação) Domingos Teixeira Filipa Matta Helena Malaquias Hernâni Baptista Inês Garcia Joana Braz João Cunha Manuel Veloso Paulo Soares Sara Fernandes Carlos Ramos (Assistente) Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa
Diretor Executivo António Mega Ferreira Diretor Artístico e Pedagógico Pedro Amaral Fundadores Câmara Municipal de Lisboa Presidência do Conselho de Ministros – Secretário de Estado da Cultura Ministério da Educação e Ciência Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social Secretaria de Estado do Turismo / Turismo de Portugal, IP Secretaria de Estado do Desporto e Juventude
Promotora Câmara Municipal de Caldas da Rainha Câmara Municipal de Lourinhã Câmara Municipal de Montijo Mecenas Extraordinário
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