Folha de sala A Instalação do Medo

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são luiz teatro municipal

teatro / estreia

13 a 22 mar

a instala ç ão do medo te x to R U I Z I N K E N C E NAÇÃO J ORG E LI STO PAD


José Luís Ferreira

© Luís Gouveia Monteiro

Na contagem decrescente para aquela noite de Abril em que os desejos se acenderam, em que ficou esboçada a possibilidade de decidirmos dos nossos destinos, damos início ao programa 25/40 com uma criação singular e, de alguma maneira, problemática. Ou problematizadora, talvez. Ou as duas coisas. Aceitamos que a normalidade do medo nos conquistou e impediu de, como diria Hamlet, sermos, mesmo sermos? Aceitamos que esta ficção

preocupantemente realista de Rui Zink defina um olhar possível sobre os quarenta anos de democracia? Seria difícil, dadas as coisas, não aceitarmos. Este é um espectáculo que se propõe num espaço improvável, a uma hora improvável, a sugerir que já não podemos encontrar-nos connosco próprios, sem medo, sem medo, não a repetição não é gralha, é mesmo assim, a não ser no segredo do sub-palco a horas avançadas. Um exagero, portanto. Um exagero.


Rui Zink

Jorge Listopad

A Instalação do Medo tenta ser uma resposta – a resposta possível – aos ataques de acupunctura cínica que diariamente nos são lançados numa espécie de bombardeamento cirúrgico. É um texto político no sentido em que colecciona palavras, mais do que recriá-las, e no-las devolve com apenas um poucochinho de exagero. Mais do que «baseada em factos reais», é baseada em frases reais. Só não sei se quem nos ataca é terrorista ou apenas malandro, pide bom ou pide mau, se estamos a ser vítimas de um ataque preventivo ou apenas de fogo amigo. Sei que isso me chateia e que chuva não é certamente, porque a chuva não bate assim. Tal como acontece noutros livros meus, há quase uma volúpia zen de tentar atingir uma criatividade zero, de anular a minha voz na voz dos outros, de deixar falar os monstros porque eles próprios se definem muito bem, quando muito apenas precisam de um empurrão para mostrarem a verdadeira natureza em todo o seu esplendor. Obviamente, isto dá trabalho e a certa altura fico farto de os ouvir – mas consolo-me sabendo que, se a arte não os vence, pelo menos pode ajudar-nos a rir deles. Ter leitores atentos é o sonho de qualquer escritor. E não conheço mais atento do que o fabuloso Jorge Listopad. A ele e à sua equipa, a minha gratidão. Razão tem o outro: natal é mesmo quando um homem quiser. Felizmente, Abril também.

Fazer teatro em Portugal, como se sabe, é difícil; por isso é um labor excitante, às vezes, até para o público. Durante a minha vida aprendi a ser sintético, e assim tento explicar porque é que a nossa equipa faz o que faz. Fazemos teatro que não é teatro mas é romance, que não é romance mas é uma reflexão sobre o que estamos a viver. Rui Zink é o autor que nos provocou. Não sei se fazemos exatamente o que idealizou. O espetáculo é apresentado em hora noturna, avançada, e num espaço do São Luís menos habitual para representações. Quem diz menos habitual pensa em inabitual. Porém, visto que o teatro é coisa efémera, vai desaparecer da cena ao fim das suas oito sessões, o que me faz pena porque no simples ato de teatro há algo de profético que se passa connosco no caminho da nossa vivência. De cada vez que faço um espetáculo é sempre o meu último. Felizmente posso contar com três atores: Diogo Dória que é alguém que admiro desde a primeira vez que o vi, intelectual perfeito embora sem querer sê-lo por pertencer à elite clandestina do teatro português. José Artur Pestana é como parece e parece como é; já fez comigo várias coisas, de modo espantoso, como rei Basílio de Calderón, até à sua obra-prima, Meu Tio, o Jaguar. E ainda a colaboradora de bons tempos, Joaquina Chicau, a atriz ainda não descoberta que se revela num papel, por assim dizer, mudo, que pode lembrar o cinema mudo a preto e branco. Ou o expressionismo nunca perdido ou não longe da nossa esquina: o expressionismo que é o barroco do séc. XX. Aos outros que participaram no erguer do dito espetáculo, (para alguns apenas um mero divertimento, para outros mais), o meu agradecimento.

texto

encenação


© Luís Gouveia Monteiro

13 A 22 MAR TEATRO / ESTREIA

A INSTALAÇÃO DO MEDO

DE RUI ZINK ENCENAÇÃO DE JORGE LISTOPAD 13, 14, 15, 18, 19, 20, 21 E 22 ÀS 23H30 SUB-PALCO; M/12; Duração: 1h

€10 (com descontos €5 a €7)

Rui Zink Escritor, Humorista, Professor Jorge Listopad Escritor, Encenador, Professor Diogo Dória Actor, Encenador, Professor José Artur Pestana Actor, Conservador, Restaurador Joaquina Chicau Actriz, Dramaturgista, Advogada Sérgio Loureiro Cenógrafo, Professor, Designer

www.teatrosaoluiz.pt

Dramaturgia e Encenação Jorge Listopad Interpretação Diogo Dória José Artur Pestana Joaquina Chicau Crianças Gonçalo Garcia Joaquim Pinto Agradecimentos Araceli Galán Lourenço Vaz Gil Sara Senra Monteiro Teatro da Garagem Valente Produções Co-produção Companhia de Teatro Salomé e São Luiz Teatro Municipal


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