SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
DO ALTO DA PONTE 10 A 27 JANEIRO 2019 TEXTO ARTHUR MILLER ENCENAÇÃO
JORGE SILVA MELO
INTERPRETAÇÃO
© Jorge Gonçalves
AMÉRICO SILVA JOANA BÁRCIA VÂNIA RODRIGUES ANTÓNIO SIMÃO BRUNO VICENTE ANDRÉ LOUBET TIAGO MATIAS HUGO TOURITA GONÇALO CARVALHO JOÃO ESTIMA ROMEU VALA HÉLDER BRAZ INÊS PEREIRA
Américo Silva já merecia um protagonista assim? Sim, o Américo só tem feito de protagonista em farsas… Descobri um texto meu de 2003 em que eu dizia que ele, quando chegasse aos 50 anos – e fez este ano – tinha de fazer A Morte de um Caixeiro Viajante. Já não me lembrava… E o Américo tem feito muito bem. Apesar das interrupções dos ensaios – estreámos em setembro e vamos até março, com paragens pelo meio – tem corrido bem. Essas interrupções podem mecanizar muito o espetáculo e, por isso, temos de ter muito cuidado para voltar a dar-lhe frescura.
Não é a primeira vez que decide fazer uma peça por perceber que tinha sido “escrita para estes atores”. Encontrou Eddie Carbone, Catherine e Marco entre os Artistas Unidos? Editámos esta peça na nossa coleção dos Livrinhos de Teatro, é o número 100, um volume que queria que fosse simbólico: o nascimento do teatro contemporâneo. Tem A Morte de um Caixeiro Viajante e O Alto da Ponte, duas peças de Arthur Miller. Já não a lia há uns 20 anos e, quando estava a ver as provas na revisão, percebi que não podia deixar de fazer esta peça agora porque tinha atores com a idade certa e as características certas, com o corpo proletário que o Miller inventou para o teatro nos anos 40. O Américo é tal e qual o Eddie Carbone. A Vânia Rodrigues é tal e qual a menina espigadota e sexy dos bairros pobres de Nova Iorque. E tinha a Joana Bárcia, com quem trabalhei recentemente n’ A Noite da Iguana, sempre nos demos muito bem. E tinha os mais novos. E ainda apareceram atores que foram boas surpresas, como o Bruno Vicente, que não fazia teatro há 12 anos. Estou muito contente com o elenco.
Como é que se mantém essa frescura sempre? Não tentando pensar, nem preparar demasiado. Não ir lendo o texto nos intervalos. Um ator tem de dar a sensação de que é a primeira vez que diz aquelas palavras. Andar oito meses a fingir que as diz pela primeira vez não é simples… Mas a receção tem sido boa… apesar de todos os percalços… até tivemos um ator com sarampo! Em Vila Real, apresentámos a peça no dia do jogo Vila Realense-Benfica! Mas até tivemos espectadores… E houve uns dias em que a apresentámos, de seguida, uma sexta-feira em Aveiro e um sábado na Póvoa de Varzim, ganhou-se tensão e frescura com essa correria.
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À conversa com Jorge Silva Melo, a propósito da encenação de Do Alto da Ponte
E esta é uma peça cheia de tensão, precisa disso. A peça é estranha. Parecendo realista – e a grande tendência das encenações é acentuar o sotaque dos italianos, pôr o esparguete e a toalha aos quadrados, a pizza, fazer todo o típico italiano do pós-guerra – não o é. Arthur Miller era judeu, vivia em Brooklyn e só foi a Manhatan aos 18 anos! Era mesmo judeu pobre e escreveu coisas incompreensíveis sobre a cultura cristã e católica. Por exemplo, nesta peça diz: “Estás com o cabelo como Nossa Senhora”. Não sabemos como é o cabelo de Nossa Senhora, tem sempre um manto azul… Pior, diz: “Estás com os cabelos da Madonna”.
cabelo muito curto. Por isso, está mais ou menos certo e aponta-se para uma Santa… Além de ter os atores certos, o que o levou a escolher agora este Do Alto da Ponte? A peça é muito comovente e é trágica. Fala de suspeição, ciúme, delação e traição, numa altura em que arranca a caça às bruxas do MacCarthismo. Os assuntos que aborda e a tragédia de que fala são aquilo que estamos hoje a viver. Miller situa o seu teatro sobre um tema impressionante: a denúncia. Como se chega à denúncia? Nesta peça, chega-se à denúncia pela miséria das condições em que se vive. Vive-se tão mal, tão precariamente, tão inseguramente, tão clandestinamente que Eddie Carbone, que não é um homem mau, acaba por denunciar os primos da mulher. A denúncia é, para Miller, um tema fundamental, porque o seu grande amigo Elia Kazan denunciou-o pouco tempo antes desta peça. A peça não começou por ser escrita precisamente para o argumento de um filme de Elia Kazan? Sim, a primeira versão que Miller escreveu era um filme para Kazan. Em 1956, Kazan denunciou Miller no Comité das Atividades AntiAmericanas e Miller tirou-lhe o argumento. Logo depois, Kazan fez o filme Há Lodo no Cais, que é sobre um fura-greves. Marlon Brando é um herói porque fura a greve que, segundo Kazan,
Hoje essa frase assim já teria outro significado… Pois! Não pode ser! Mudámos na tradução para “Joana d’Arc”, porque na altura em que Miller escreveu a peça houve dois filmes sobre ela e foi moda cortar o 3
era corrupta porque cheia de comunistas… O cenário é o mesmo: os portos de Nova Iorque.
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Eles ainda fizeram essa pesquisa nos portos juntos? Fizeram, mas como se zangaram, Kazan acabou por desenvolver Há Lodo no Cais com uma outra pessoa que depois também denunciou, Budd Schulberg. Miller ficou com a história original e fez uma primeira versão em um ato, que foi um grande fracasso em Nova Iorque. Nunca li essa versão. Depois, convidaram-no para fazer em Londres a versão em dois atos. Foi o Peter Brook que dirigiu e aí acabou por ser um grande êxito. Foi logo repetida em Roma por Visconti, e em Paris também por Peter Brook, e por Luca de Tena em Madrid. Esta última foi feita em Lisboa pela Amélia Rey Colaço… e foi um grande desastre. Os atores eram velhos demais e tínhamos a dona Amélia, a senhora da Lapa e de Sintra, a fazer de emigrante clandestina…
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Arthur Miller, alvo de denúncia, tenta, então, compreender nesta peça como é possível alguém denunciar quem lhe é próximo? É um tema que vai percorrer sempre o trabalho dele. Há uma peça que escreveu já no final, Clara, que fiz para a rádio: a história de um homem que está no apartamento da filha, onde ela foi violada e assassinada. Depois percebe-se que ele é um esquerdista e que inspirou a filha a trabalhar nas ONGs. A filha foi trabalhar nas prisões e foi um preso que ela ajudava a recuperar quem a violou e assassinou. Por isso, foi ele que a assassinou. E só consegue dizer isso no fim. Este tema da denúncia e da dificuldade de denunciar é o tema de Miller. Ele, que com 20 anos estava no auge da fama e casado com a mais bonita mulher do mundo, Marilyn Monroe, quando foi denunciado. Mais tarde, na sua autobiografia, Kazan há de dizer: “Denunciei-o porque o meu pai, arménio, escolheu esta pátria e foi aqui que consegui chegar a ser encenador e realizador de cinema. Não podia trair a pátria que o meu pai escolheu.” É um argumento tocante, apesar de falso… E Miller diz: ”Um emigrante nunca terá a mesma liberdade de um nascido na terra.” É isso que está nesta peça. Na altura em que estreou como filme cá em Portugal, os meios de esquerda criticaram-no
muito, porque parecia desculpar o denunciante. No final, quando o advogado diz “eu quero honrar este homem” e o elogia, isso foi visto como a desculpa do que denunciava à Pide e do acossado que falava na cadeia. Mas não é bem isso. O que aqui está neste texto é o tentar compreender porquê: porque é que uma pessoa com princípios e alguma integridade chega à denúncia. Com um picante: Kazan namorava Marilyn Monroe quando aquele a roubou e casou com ela. Há aqui uma história de sexo e denúncia nesta peça, que é muito sensual. Sente-se muito a atração física inconfessável do tio pela sobrinha. Acho que ele nem sequer sabe que está atraído sexualmente pela sobrinha. Quer proteger a miúda, o que é compreensível. Uma miúda que quer sair à noite e já tem um namorado é um atestado de velhice para quem a educou.
pintado. Ele quer ser uma rock star. E há uma desconfiança até sobre a sua sexualidade. Nunca há certezas.
Há uma tensão sexual constante na peça? Sim, a mulher percebe que está a perder o marido, mas ele não tem consciência. Ele só pensa que a sobrinha pode estar a ser enganada… o que pode muito bem ser verdade, porque não sabemos se o rapaz italiano quer mesmo casar com ela ou quer só o passaporte. E ela ficará sempre na dúvida. É engraçado porque ele é o rapaz mais americanizado deles todos, até é louro platinado… falso,
Disse há pouco que esta peça é estranha porque parece realista mas não é. Porquê? Ao contrário de Tennessee Williams, o realismo de Miller é moral. Ele quer é um debate moral. Quase não precisa de adereços. Enquanto Williams precisa da escova do cabelo, do batom, aqui nada disso é necessário. Miller dizia que queria fazer uma tragédia. Até aí, a tragédia passava-se na alta esfera, entre os reis e os príncipes, e aqui é entre gente
É uma tragédia também por isso. Tudo parece uma tragédia ali… Não há solução ali. A peça fala de duas leis que não são conciliáveis: a lei dos Estados Unidos e a lei da família siciliana que se quer proteger. Não é possível conciliar o respeito pelos direitos humanos que existiria na América e a defesa da família que está destruída pela sua própria pobreza. Há um dos irmãos, o mais velho, que diz: “Não entendo este país”. O que em 1955, dito no palco da Broadway, com sotaque italiano, deve ter sido um choque violento. É como agora um mexicano dizer isso num palco de Nova Iorque. É verdade e tem uma potência dramática enorme. E isso sente-se. A escuta desta peça é muito intensa.
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Essa atualidade da peça hoje também foi uma das razões para a encenar agora? Em palco, fala-se de emigrantes, de escolhas difíceis, dos anos 50, dos dias de hoje. Nestes tempos quem não trai? Não vemos a traição lavrar terreno? Quis falar de tudo isso sem receios, sem dogmas. Cruamente, como Miller nos convida. Quando reli a peça há três anos e cheguei à cena da denúncia fiquei arrepiado. Também quis compreender a situação miserável em que as pessoas vivem. Do ponto de vista económico e não só. Como é que se chega à miséria da denúncia? Eddie Carbone nem é assim tão pobre. Como se denuncia os mais miseráveis ainda? Pelo medo? Pelo querer estar bem com a lei do país? E quando Marco acusa Eddie de ter tirado o comer aos seus filhos que ficaram na Sicília,
Não há quase adereços nesta encenação. Porquê essa opção pelo abstrato? Só temos uma cadeira e um gira-discos. E, a certa altura, há um lavatório. Na primeira cena da peça, o pai chega a casa e vai lavar-se e a miúda está na casa de banho. Há logo uma proximidade, uma promiscuidade sexual forte. 6
– quer Tennessee Williams, com o Jardim Zoológico de Vidro, quer Miller com A Morte de um Caixeiro Viajante e Do Alto da Ponte. Irrompeu a consciência de que o mundo não é só comédias e flores e rosas e smokings. Com Miller, o que me está a interessar muito é essa tal dimensão moral, o tentar fazer uma tragédia sobre o contemporâneo. Há uma peça Depois da Queda, que fala dos problemas morais de um escritor casado com Marilyn Monroe. Representar a Marilyn Monroe é quase impossível… Kazan chegou a dirigir a peça, já depois da reconciliação com Miller, e quem fazia de Marilyn Monroe era a real mulher de Kazan nessa altura, Barbara Loden. Foi na abertura do Lincoln Center. Cá foi feita e pela Lurdes Norberto, que era muito comovente naquele papel, mas tínhamos sempre aquela sensação dela não ser a Marilyn…
é verdade. O rapaz está a fazer as mais terríveis acusações de crueldade ao Carbone, mas nós estamos com este tio, sabemos que o outro tem razão, mas estamos com ele, porque seguimos o percurso mental dele. Estamos dilacerados, porque ele é um cabrão mas vimo-lo chegar a ser um cabrão. A peça é muito bem construída. E transportamo-la inevitavelmente para os dias de hoje? Hoje não se passa exatamente assim, porque o sentido de família não é exatamente o mesmo. Mas vemos que esta situação da pobreza moral não começou agora. A tragédia de Eddie Carbonne é o seu fechamento. Para defender o pouco que tem, fechou-se. E morre por causa disso. Depois de ter encenado com regularidade Harold Pinter, Pirandello, Bertolt Brecht e Tennessee Williams, quer agora trabalhar as peças de Arthur Miller. O que lhe traz este trabalho prolongado com um mesmo autor? De Miller só posso fazer as peças grandes. As peças pequenas, que ele escreveu no fim da vida, fiz para a rádio e vamos editá-las em livro. São muito experimentais e curiosas. Acho engraçado porque no pós-guerra, quando começou a haver bem-estar na civilização ocidental, o teatro esteve a pensar nos mais pobres
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Mas depois o lavatório desaparece. Miller não quer o pequeno realismo, quer o dilema moral: Posso denunciar a minha família? Posso querer uma lei que proteja a minha família? Posso querer uma lei que proteja a minha comunidade? É possível na lei grande entrarem as leis da minha comunidade? É possível usar burca no meio de Paris? Porque não é possível ir à praia de burca? São dilemas irresolúveis. É isso que faz a tragédia. Não há outra solução, ele vê-se obrigado a denunciar. Ele não tem hipótese de ter outra solução.
muito pobre. Terão os pobres direito à tragédia? Podem eles não ser o exemplo moral que se pretendia na Antígona ou no Édipo? Miller aposta que sim. É um mundo novo, este que aparece no pós-guerra, em que se acredita que mesmo a gente realmente pobre tem direito à dignidade da tragédia. Sendo que aqui é indigna… Eddie Carbone cai como Édipo também cai, mas tem o direito de ser trágico, de inspirar o terror e a piedade. O momento mais realista da peça, em que existe mesmo uma cabine telefónica, é quando ele faz a denúncia. No resto do tempo, a peça é toda muito mais abstrata – e muito mais do que aquilo que alguma vez fiz. Sendo que os corpos não o são, foi uma das coisas que pedi aos atores. Quando estão em casa a costurar ou a ouvir música, os atores estão nas posições em que estariam num quartinho ou numa sala, só que não têm nem mesa nem cadeira. Mas encontraram no corpo essa posição. É o corpo do ator que desenha o cenário e não os adereços.
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Quando trabalha várias peças de um autor, ainda vai descobrindo coisas novas ao longo desse processo? Fiquei muito surpreendido com Miller, porque achei que para mim estava arrumado. E quando o reli quis mesmo voltar a ele. Gostava de fazer também A Morte de um Caixeiro Viajante, que é a sua grande peça e que inovou muito na altura. Foi estreada há 70 anos, talvez a consiga fazer em 2021… É uma peça com flashbacks e isso torna-a difícil de representar por causa das idades dos atores. Com o realismo que a televisão nos impôs, como se consegue resolver isso no teatro? É um dos problemas que gostava de vir a ter.
de pintura. Miller é muito mais desenhador do que pintor, ao contrário de Tennessee Williams. Aqui é mais o arabesco do desenho, o pensamento do que a ação. É tudo muito realista mas só no corpo dos atores. Nesta peça temos o primeiro beijo entre homens num palco, mas não há defesa da homossexualidade, antes pelo contrário… Lembro-me perfeitamente quando o filme estreou cá no início dos anos 60, no São Luiz, toda a gente falava: “Há dois homens que se beijam!” E nunca se percebe porquê. O Eddie Carbone pega no rapaz e beija-o para dizer à miúda que ele quer é aquilo? É para o humilhar? Ou está também ele atraído pelo rapaz, pela sua juventude? Porque a velhice é um problema aqui, na peça um dos assuntos é a perda de poder, também sexual. E na altura o beijo escandalizou. Os outros estivadores estão cheios de alusões à sexualidade do rapaz, porque tem calças encarnadas, porque se veste à moderna, porque canta, porque foi ver um filme com rock n roll… O rapaz é mal visto por toda a gente, exceto pela miúda. Ele até pode mesmo ser um oportunista, é pouco mais do que um vadio… o que quer da América? Ficamos sempre com essa suspeita. Até podemos concordar com ela, que tem o direito de amar quem quiser, mas também
O que descobriu em Miller nestas releituras? Pensava que era muito mais realista do que é. Pode ser muito mais rarefeito e muito mais limpo. O Visconti diz isso. Quando fez este Do Alto da Ponte em Roma, irritava-o o folclore italiano que a peça tinha e tirou tudo: não havia esparguete nem toalhas encarnadas. Eu ainda tirei mais. A peça aguenta-se muito raciniana, sem nada, só com os corpos dos atores. Aqui a essência da cena são os atores, são eles que desenham o espaço. Há uma altura em que o Américo fuma um charuto e vai sentar-se numa cadeira e senta-se como se fosse num sofá, refastelado. É como se fosse uma atmosfera de ensaio, de desenho e não 8
Biografias
concordamos com o tio, que acha que ela vai ter uma vida desgraçada. Chegou a ver o filme na altura, aqui no São Luiz? Não, ainda era muito novo, só o vi mais tarde. Foi o primeiro filme realizado pelo Sidney Lumet para cinema, depois de já ter feito coisas para televisão. É uma produção francesa, com atores franceses e americanos, filmada em Nova Iorque e com um realizador americano. Os primeiros dez minutos são perfeitos, é um documentário extraordinário sobre os portos de Nova Iorque. O filme deve ter passado em 1962, logo a seguir às greves dos estudantes e foi um escândalo porque, além do beijo entre homens, era visto como a defesa da denúncia, o que não calhava nada bem... com tanta gente presa pela Pide nessa altura.
Arthur Miller (1915- 2005) é um dramaturgo fundamental do teatro americano. Estreou-se em 1944 com The Man Who Had All The Luck, que ganhou um prémio da Theatre Guild mas foi um desastre de bilheteira com apenas quatro apresentações. Seguiu-se um romance sobre o racismo, Focus (1945). Mas terá sido com a estreia, em 1947, de Todos Eram Meus Filhos, com que recebeu o primeiro Tony, que o seu nome se afirmou mundialmente. A esse primeiro êxito seguiu-se, em 1949, Morte de Um Caixeiro Viajante (que recebeu mais um Tony, o prémio do Drama Circle e um Pullitzer), obra-prima que marcou todo o teatro do pós-guerra e que estabeleceu uma forte ligação com Elia Kazan, que, no entanto, veio a denunciá-lo como membro do Partido Comunista perante a HUAC. As perseguições do macartismo marcaram um dos seus títulos mais famosos, As Bruxas de Salém (1953). A essa experiência dolorosa, seguiram-se Do Alto da Ponte (1955, revista em 1956), o argumento para Os Inadaptados, filme de John Huston (1961) e Depois da Queda (1964) com que veio a reconciliar-se com Elia Kazan que, simbolicamente, dirigiu a peça na abertura do Lincoln Center. Depois desses triunfos mundiais e do seu casamento tormentoso (1956- 1961) com Marilyn Monroe, a sua obra conheceu um certo declínio público, de que apenas emerge o êxito de O Preço (1968). E, no entanto, mais experimental, menos afirmativo, mais secreto, continuou a assinar obras cruciais como Incident at Vichy (1964), The American Clock (1980), Two Way Mirror (1982), The Last Yankee (1983), Broken Glass (1994), Finishing The Picture (2004). Em 1987, publicou uma autobiografia, Timebends, por muitos saudada como um dos grandes testemunhos sobre Nova Iorque a partir da Guerra de Espanha. Toda a sua vida foi marcada por intensa atividade política em defesa das liberdades.
Agora Do Alto da Ponte volta à mesma sala, em formato de peça de teatro. Pois é!
Américo Silva trabalhou com Ávila Costa, José Peixoto, João Lagarto, Carlos Avilez, Rui Mendes, Diogo Dória, Depois da Uma… Teatro?, Francisco Salgado, Manuel Wiborg e no cinema com Jorge Silva Melo, Alberto Seixas Santos e Miguel Gomes. Colabora com os Artistas Unidos desde 1996, tendo participado recentemente em A Noite da Iguana, de Tennessee Williams (2017), e A Vertigem dos Animais Antes do Abate, de Dimítris Dimitriádis (2017).
Entrevista realizada em dezembro de 2018, por Gabriela Lourenço / Teatro São Luiz
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Joana Bárcia tem o curso do IFICT, frequentou a ESTC. Trabalhou no teatro com Ávila Costa, Sandra Faleiro, Pedro Carraca/Rui Guilherme Lopes, António Simão, Fura Del Baus. No cinema, participou em filmes de Jorge Paixão da Costa, Jorge Silva Melo, Paulo Rocha, Edgar Feldman. Foi bolseira da Gulbenkian em Nova Iorque tendo frequentado a escola de Lee Strasberg. Nos Artistas Unidos, trabalhou regularmente entre 1995 e 2005, tendo recentemente participado em A Noite da Iguana, de Tennessee Williams (2017).
Alvim, Nuno Correia Pinto, Antonino Solmer, Jorge Listopad, Carlos Pimenta e Pedro Penim. Aí interpretou textos de Tchekóv, Nuno Bragança, Maquiavel, Bernardo Soares/ Fernando Pessoa, Gao Xingjian, entre outros. Na Cornucópia trabalhou com os encenadores Luis Miguel Cintra e Christine Laurent em textos de Brecht, Pirandello, Sófocles, Shakespeare e Tchekóv. Tem participado em diversas séries de televisão e faz dobragens de desenhos animados e locuções de documentários. Nos Artistas Unidos participou recentemente em A Noite da Iguana, de Tennessee Williams (2017), O Grande Dia da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018), e Nada de Mim, de Arne Lygre (2018).
Vânia Rodrigues trabalhou com André Uerba, Miguel Moreira, Mónica Calle, João Mota, João Abel, Há Que Dizê-lo, Latoaria, Tiago Vieira, Pedro Palma, Raul Ruiz. Nos Artistas Unidos participou recentemente em A Noite da Iguana, de Tennessee Williams (2017), A Vertigem dos Animais Antes do Abate, de Dimítris Dimitriádis (2017) e O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018).
Hugo Tourita nasceu e vive em Lisboa. Iniciou a sua formação como ator em 2004, na Act – Escola de Actores, onde trabalhou com João Mota e João Canijo, entre outros. Passou depois pelo curso de teatro da Universidade do Algarve, tendo aprendido interpretação com Manuela de Freitas. Por fim, estudou acting na Atlantic Acting school, em Nova Iorque, e frequentou vários workshops com Beatriz Batarda. Estreou-se profissionalmente em 2006, com A tragédia de Júlio César, pelo teatro da Cornucópia, com encenação de Luis Miguel Cintra. Trabalhou ainda com outros encenadores, como Martim Pedroso, Beatriz Batarda, Alexandre Lyra Leite e Susana Sá. Em cinema, trabalhou com Ivo Ferreira, António Pedro Vasconcelos, Joaquim Leitão, Rita Azevedo Gomes e Werner Schroeter. Com os Artistas Unidos, participou recentemente em Na Margem de Lá – Um Lamento, de Jorge Silva Melo (2017), e O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018).
Bruno Vicente é licenciado em Teatro – Actores pela ESTC. Trabalhou com Pedro Carmo, Bruno Schiappa, Lia Bertollazo, Luca Aprea, Maria Repas, Natália de Matos e teve participações em televisão, cinema e publicidade. Tem dirigido a sua atividade para a formação teatral de crianças e jovens, tendo passado no âmbito da mesma pelo Fraserburgh Arts Center (Escócia), Fundação Artemisszio (Budapeste), Creative Cooperation (programa da Comissão Europeia, Hoffenheim, Alemanha) e mais recentemente por Luanda, Angola. É professor de Teatro em Queijas. André Loubet é licenciado pela ESTC. Iniciou a sua formação teatral na ACE. Trabalhou com Teatro do Bolhão, Kuniaki Ida, Teatro da Cornucópia, Oscar Murillo, Martim Pedroso, Hop Produções. Frequentou workshops com Rogério de Carvalho e Maria Duarte. Nos Artistas Unidos participou em Na Margem de Lá – Um Lamento, de Jorge Silva Melo (2017), A Vertigem dos Animais antes do Abate, de Dimítris Dimitriádis (2017) e O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018). António Simão tem os cursos do IFICT (1992) e IFP (1994). Trabalhou com Margarida Carpinteiro, António Fonseca, Aldona SkibaLickel, Ávila Costa, João Brites, Melinda Eltenton, Filipe Crawford, Joaquim Nicolau, Antonino Solmer e Jean Jourdheuil. Integra os Artistas Unidos desde 1995, tendo participado recentemente em A Estupidez, de Rafael Spregelburd (2017).
Gonçalo Carvalho Tem o curso de interpretação da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Integrou durante quatro temporadas o TEC – Teatro Experimental de Cascais, onde trabalhou em vários especáculos dirigidos por Carlos Avilez, dos quais se destacam Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, de Tom Stoppard, A Visão de Amy, de David Hare, A Cozinha, de Arnold Wesker, entre outros. Trabalhou igualmente no Teatro da Terra em espetáculos dirigidos por Fernando Gomes e Maria João Luís. Em 2010, fundou o Palco 13 que integra desde então. Em 2016 estreia-se na encenação com O Autor, de Tim Crouch. No cinema trabalhou com Ivo Ferreira. Nos Artistas Unidos participou em O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018).
Tiago Matias estreou-se profissionalmente em 2000 na Companhia de Teatro de Sintra, onde trabalhou com os encenadores João de Mello
João Estima é formado na ACE (2011) e frequenta a ESTC. Em 2013 produziu e interpretou O Inventor de Ideias, com texto e encenação de
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Ricardo Alves. Trabalhou com António Capelo, António Júlio, Joana Providência, João Paulo Costa, Maria do Céu Ribeiro, Victor Hugo Pontes, André Guedes, Esperanza Lopez e Oskar Goméz-Mata. Nos Artistas Unidos participou recentemente em O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018). Hélder Braz fez formação IFICT, Chão de Oliva, Câmara de Oeiras e no Centro Dramático de Évora. Trabalhou com Paulo Filipe Monteiro, Alexandre de Sousa, António Fonseca, Margarida Carpinteiro, J. M. Alvim, David Wheller, Luís Varela, Jean François Lapallus, Fernando Mora Ramos, Axél Boosére, Ruy Otero e com os grupos Orquestra Dramática O Bife, Living Theatre, Royal de Luxe, O Bando, Companhia de Teatro O Sonho (onde fez Auto da Barca do Inferno, Auto da Índia, de Gil Vicente, e Falar Verdade a Mentir, de Almeida Garrett), GICC – Teatro das Beiras (Zoo Story de Edward Albee) e Pogo Teatro. No cinema fez a curta-metragem É Só Um Minuto, de Pedro Caldas. Com os Artistas Unidos trabalhou em Na Selva das Cidades, de Bertolt Brecht, Torquato Tasso, de Goethe (1999), e O Meu Blackie, de Arne Sierens (2001).
Nos Artistas Unidos participou em Nesta Hora Primeira – nos 40 anos da Constituição da República (2016), O Cinema, de Annie Baker (2017) e O Grande Dia da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018). Sara Inês Gigante formou-se na ACE (Porto), tendo concluído a licenciatura na ESTC em 2017. Estreou-se profissionalmente num espetáculo dirigido por Pedro Frias, tendo, em 2015, participado num coletivo que levou à cena uma peça de Tiago Rodrigues no Teatro do Bairro. Foi estagiária no TNDMII. Nos Artistas Unidos participou em O Grande Dia da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo, e O Vento Num Violino, de Claudio Tolcachir (2018). André Pires é membro fundador da Locomotivo, do grupo de teatro-circo Plot e do Pé Antemão. Foi baterista dos R.E.F., fez os arranjos e a direção musical de Parece que o Tempo Voa e fez a música de Sons de Fogo, do grupo Tratamento Completo, de que foi percussionista. Trabalhou com Manuel Wiborg, Miguel Hurst, Rissério Salgado, Solveig Nordlund, João Meireles, João Fiadeiro. Trabalha frequentemente com os Artistas Unidos desde 2001.
Inês Pereira é licenciada pela ESTC. Estreou-se no teatro em 2004 no Teatro Tapa Furos, tendo entretanto trabalhado como atriz e, por vezes, como assistente de encenação com os Primeiros Sintomas, o Teatro da Terra, o TEP, o Teatro do Eléctrico, Causas Comuns, Ruínas, e com diretores como Bruno Bravo, Sandra Faleiro, Gonçalo Amorim, Maria João Luís, Ricardo Neves-Neves e Carlos Marques. É ainda vocalista do Conjunto Vigor. Nos Artistas Unidos participou recentemente em A Vertigem dos Animais Antes do Abate, de Dimítris Dimitriádis (2017), O Grande Dia Da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018), e Retrato de Mulher Árabe que Olha o Mar, de Davide Carnevali (2018).
Rita Lopes Alves trabalha com Jorge Silva Melo desde 1987. Assinou o guarda-roupa de vários filmes de Pedro Costa, Joaquim Sapinho, João Botelho, Margarida Gil, Luís Filipe Costa, Cunha Teles, Alberto Seixas Santos, Pedro Caldas, Teresa Vilaverde, Carmen Castelo Branco, José Farinha, Teresa Garcia, Fernando Matos Silva e António Escudeiro. É, desde 1995, a responsável, nos Artistas Unidos, pela cenografia e figurinos. Pedro Domingos trabalha com Jorge Silva Melo desde 1994, tendo assinado a luz de quase todos os espetáculos dos Artistas Unidos. Trabalha regularmente com o Teatro dos Aloés. É membro fundador da Ilusom e do Teatro da Terra, sediado em Ponte de Sor, que dirige com a atriz Maria João Luís.
Romeu Vala tem o curso de Interpretação da EPTC e de Formação de Atores da ETIC. É co-fundador do Palco 13. Em teatro trabalhou com Carlos Avillez, Adriano Luz, Marco Medeiros (Palco 13) e Renato Godinho. Em cinema trabalhou em O Protagonista, de Sérgio Graciano e Marco Medeiros, e em A Adorável Dor de Nunca te Ter, de Patrícia Adão Marques e Nuno de Figueiredo. Participou em várias telenovelas e séries de televisão. Trabalha regularmente em locução e dobragens.
Nuno Gonçalo Rodrigues é diplomado pela ESTC. Em 2013, em conjunto com João Pedro Mamede e Catarina Rôlo Salgueiro, funda OS POSSESSOS. É atualmente assessor de imprensa nos Artistas Unidos. Nos Artistas Unidos participou mais recentemente em A Noite da Iguana, de Tennessee Williams, A Vertigem dos Animais Antes do Abate, de Dimítris Dimitriádis (2017), O Grande Dia da Batalha, de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo (2018), e Retrato de Mulher Árabe que Olha o Mar, de Davide Carnevali (2018).
Miguel Galamba concluiu em 2016 o Curso Profissional de Artes do Espetáculo – Interpretação na Escola Secundária D. Pedro V. Frequenta a licenciatura em Teatro – Ramo Atores da Escola Superior de Teatro e Cinema.
Jorge Silva Melo fundou em 1995 os Artistas Unidos de que é diretor artístico.
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© Jorge Gonçalves
10 a 27 janeiro
De: Arthur Miller; Tradução: Ana Raquel Fernandes e Rui Pina Coelho; Com: Américo Silva (Eddie), Joana Bárcia (Beatrice), Vânia Rodrigues (Catherine), António Simão (Alfieri), Bruno Vicente (Marco), André Loubet (Rodolpho) Tiago Matias (Primeiro Agente), Hugo Tourita (Louis), Gonçalo Carvalho (Segundo Agente) João Estima (Mike), Hélder Braz (Sr. Lipari), Inês Pereira (Sra. Lipari), Romeu Vala (Tony e Clandestino) e Miguel Galamba (Clandestino); Cenografia e Figurinos: Rita Lopes Alves; Luz: Pedro Domingos; Som: André Pires: Produção: João Meireles; Assistência de Encenação: Nuno Gonçalo Rodrigues e Inês Pereira; Encenação: Jorge Silva Melo
teatro
DO ALTO DA PONTE
ARTISTAS UNIDOS TEXTO DE ARTHUR MILLER ENCENAÇÃO DE JORGE SILVA MELO
Coprodução: Artistas Unidos, Teatro Nacional São João, Teatro Viriato e São Luiz Teatro Municipal
Quarta a sábado, 21h; domingo, 17h30 Sala Luis Miguel Cintra; m/12 Duração: 1h55 €12 a €15 com descontos CONVERSA COM OS ARTISTAS
20 janeiro, domingo, 17h30
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Joaquim René Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Nuno Samora, Ricardo Campos, Sara Garrinhas, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), José Calixto, Maria Tavora, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão
TEATROSAOLUIZ.PT
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