SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
fotografia José caldeira
15 A 17 MARÇO 2019
DRAMA VICTOR HUGO PONTES
Quatro notas sobre Drama, a partir de quatro ideias de Pirandello
«Gostaria de saber, no entanto, quando é que alguém alguma vez viu uma personagem sair do papel e dissertar da forma como você faz e ainda por cima propor essa ideia bem como comentá-la. Pode explicar-me? É que nunca o vi acontecer antes.»
Madalena Alfaia
«Para mim, o drama reside nisto: na consciência que tenho de que cada um de nós — repare — se imagina ‘um’ com ‘uma’ consciência, o que não é verdade: somos ‘muitos’, senhor, tantos quantas as possibilidades de ser que há em nós: um com isto, um com aquilo — todos muito diferentes!»
2. Em Drama, as personagens não só saem do papel como se transformam em bailarinos. Ou talvez os bailarinos se transformem em personagens. Que espécie de objecto é este que, perdendo as palavras, não perde espessura dramática, nem ênfase emotivo, não deixa de ser um parafuso a perfurar convicções, uma balança magnificamente desequilibrada, tal como a peça de Pirandello. Victor Hugo Pontes afirma que é uma «dança das emoções», e é verdade que nunca o vimos «acontecer antes».
1. Seis Personagens à Procura de Um Autor, um dos textos fundadores do teatro moderno, levou Victor Hugo Pontes a uma operação que, condensando o trabalho de Pirandello, acaba por multiplicá-lo: as palavras foram subtraídas da peça e do extenso título original restou um conceito apenas; mas o jogo de espelhos que o dramaturgo urdiu é amplificado e o desconcerto que a peça sempre provocou, também. Em Drama há bailarinos que interpretam personagens, além das personagens que são pessoas, dos actores que fazem personagens e do encenador que é uma marioneta do coreógrafo.
«Uma personagem pode sempre perguntar a um homem quem é. Porque a personagem na verdade tem vida própria, marcada com as suas características próprias, pelo que é sempre ‘alguém’. Por outro lado, um homem — não me refiro a si agora — um homem na generalidade, pode ser ‘ninguém’.» 3. Não se sabe bem explicar por que razão às vezes os espectáculos nos parecem mais verdadeiros do que a vida. Sabe-se que a magnificam, que a escrutinam, 2
Drama na imprensa
que a interrogam, que a fantasiam. Mas sabemos que não são a verdade – ou são? O que é que, em Drama, além do sonho, resta das Seis Personagens? A narrativa foi respeitada, as características daquelas pessoas também. Mas não há palavras, e não precisamos delas para tomarmos este Drama como nosso.
«Embora repita o método usado há três anos com a peça de Tchékhov para converter texto em movimento [...], Drama não é de todo um remake de Se Alguma Vez Precisares da Minha Vida, Vem e Toma-a. A língua de Tchékhov não é a língua de Pirandello, e, ainda que ressurjam certas questões de metateatralidade (que em Seis Personagens à Procura de Um Autor ganham o efeito multiplicador de uma mise en abyme), o processo teve de ser outro […]. O caminho será agora mais tortuoso. Para o autor que as personagens procuram impedir de delegar as suas vidas em terceiros, para os actores que acreditam estar mais bem equipados do que elas para as representar em palco, para o encenador que não pode ficar toda a vida indeciso entre a verdade das primeiras e o saber-fazer dos segundos, e para os espectadores, os de dentro e os de fora, que como todos os outros intervenientes desta dança de cadeiras nunca saberão exactamente qual é o seu lugar.» Inês Nadais, Público
«Sim, óptimo. E garanto-lhe que tudo isto me interessa, interessa-me realmente. Sinto que temos aqui material para uma boa peça.» 4. Conhecem a história do artista que vivia com um imenso armário cheio de gavetas pendurado no pescoço? Pois bem: imaginemos que ele se lançava montanha abaixo com o seu armário cheio de gavetas, e que as gavetas abriam e fechavam, e que havia alguns tropeços, alguns obstáculos, mas que lá ao fundo – lá em cima? – tudo acabava bem. Esta história só é verdadeira porque o artista decidiu deixar de guardar todo o material em gavetas, e depois deixou de as arrumar.
«O público acompanha a trama original, cena por cena, com a tensão do discurso a refletir-se nos corpos do elenco, constituído por bailarinos profissionais e membros da comunidade local. Um contraste marcado por uma fisicalidade muito distinta, com o resultado a surpreender pela singularidade.» Joana Loureiro, Visão «[Victor Hugo Pontes] entra pelo universo sagrado de Pirandello adentro [...]. Tem tudo para estatelar-se ao comprido porque arrisca questionar em cima do questionamento que o siciliano já fizera nos anos 1920, mas com ferramentas mais complicadas porque subtrai as palavras mas não salta as cenas, e o que consegue, numa altura em que já ninguém inventa nada, é criar um discurso novo [...]. De repente, o texto que silenciou e mesmo — perdoe-se a heresia — as fronteiras que Pirandello quis superar passam a ser pouco relevantes, porque Victor Hugo Pontes cria efetivamente uma possibilidade inédita para a fusão entre a dança e o teatro e a narrativa, que na verdade não é bem fusão mas uma fundição que não une mas multiplica.» Helena Teixeira da Silva, Jornal de Notícias
Texto escrito na antiga ortografia
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© José Caldeira
15 a 17 março dança
DRAMA
VICTOR HUGO PONTES Sexta e sábado às 21h; domingo 17h30 Sala Luis Miguel Cintra; m/12 €12 a €15 com descontos CONVERSA COM OS ARTISTAS
16 março, sábado
Direção e Coreografia: Victor Hugo Pontes; Cenografia: F. Ribeiro; Desenho de luz e Direção técnica: Wilma Moutinho; Música original: Rui Lima e Sérgio Martins; Pianista: Joana Gama; Operação de som: João Monteiro; Figurinos: Cristina Cunha e Victor Hugo Pontes; Apoio dramatúrgico: Madalena Alfaia; Assistente de direção: João Santiago; Interpretação: Ángela Diaz Quintela, Daniela Cruz, Dinis Santos, Félix Lozano, Pedro Frias, Valter Fernandes, Vera Santos; Participantes da comunidade: Catarina Luís, Cristina Gonçalves, Eva Luna, Filipe Matos, Gonçalo Rebelo, Guto Martins, Maria João Rebelo, Marta Rijo, Sandra Costa, Vicente Campos, Violeta Carvalho; Confeção de figurinos: Emília Pontes, Domingos Freitas Pereira e Mário Ribeiro; Direção de produção: Joana Ventura; Assistência de produção: Mariana Lourenço; Apoio residência artística: Circolando e Teatro Nacional São João; Agradecimentos: Sara Barros Leitão, Teatro Praga Coprodução: Nome Próprio, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Municipal do Porto – Rivoli. Campo Alegre e São Luiz Teatro Municipal A Nome Próprio tem o apoio da República Portuguesa – Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes e é uma estrutura residente no Teatro Campo Alegre, no âmbito do programa Teatro em Campo Aberto
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Joaquim René Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Catarina Ferreira, Margarida Sousa Dias, Mónica Talina, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Nuno Samora, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), Maria Tavora, Sara Garrinhas, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão
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