IL CANTO DELLA CADUTA 2019

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SÃO LUIZ TE ATRO MUNICIPA L

IL CANTO DELLA CADUTA

MA RTA CUSCUN À © Daniele Borghello

15 E 16 FEVERE IRO 2019

TEATROSAOLUIZ .PT


Il Canto della Caduta O Canto da Queda

entranhas das montanhas Dolomitas: as crianças dessa minoria étnica, a quem foi confiado o renascimento de todo o povo perdido. Ali, sete rapazes e sete raparigas esperam que regresse o “tempo prometido”, época dourada de paz na qual o reino poderá finalmente voltar à vida. A sua infância permanece suspensa, presa no tempo. Devem esconder-se para não ser assassinados: a guerra não poupa ninguém. Nem mesmo os mais pequenos. São eles uns dos protagonistas de Il Canto della Caduta. Marta Cuscunà imaginou-os como as crianças desenhadas nas paredes por Herakut, a dupla alemã de artistas de rua que tem trabalhado em campos de refugiados e em zonas devastadas pela guerra: rapazes e raparigas escondidos debaixo de cabeças de ratos.

Um espetáculo livremente inspirado no mito do reino de Fanes

O reino de Fanes No vale central das Dolomitas, a cadeia montanhosa dos Alpes orientais no norte de Itália, vivia uma pequena minoria étnica, de cerca de 35 mil pessoas, os Ladinos. Sobre eles se conta o mito popular do reino de Fanes, segundo o qual ali conviviam, em aliança, paz e prosperidade, seres humanos e natureza. Nessa idade de ouro, a liderança do povo era feita por mulheres rainhas e esta foi sempre uma tarefa feminina até chegar um rei estrangeiro e tudo mudar. O fim do reinado pacífico das mulheres deu início a uma época de domínio da espada. Foi a queda no horror da guerra – pelo extermínio do povo, pelo controlo de todas as populações da região e pela busca de uma cidade subterrânea cheia de tesouros. Assim acabava uma sociedade pacífica em harmonia com a natureza para dar lugar a uma outra beligerante, que usa a guerra como forma de poder e de domínio sobre os recursos materiais e naturais. O mito é a canção negra desta queda.

Os corvos Na guerra, no campo de batalha, o que resta do exército torna-se o banquete dos corvos, quase apáticos pela muita abundância que ali encontram. São eles os outros protagonistas de Il Canto della Caduta. Os pássaros negros falam uns com os outros, assumem o lugar do coro neste relato mórbido, descrevem a batalha, olham a terra semeada de corpos em pedaços, demoram-se sobre a maravilha da carnificina. Em palco, não se vê nunca a guerra – no entanto, ela está lá e é o tema central deste espetáculo, dada através do ponto

As crianças Segundo o mito do reino de Fanes, há ainda sobreviventes dos Ladinos, escondidos nas 2

e Sorry, Boys, dois espetáculos já apresentados no Teatro São Luiz, Il Canto della Caduta é a terceira peça da trilogia de Marta Cuscunà sobre a Resistência Feminina. Através do mito do reino de Fanes, procura recuperar a história perdida de como já fomos. Essa alternativa social que se deseja para o futuro da humanidade e que é sempre apresentada como uma utopia irrealizável, talvez, afinal, já tenha existido, acredita Cuscunà. Hoje, sublinha na reflexão que faz neste espetáculo, a guerra continua a estar entre nós – diretamente nos territórios em conflito ou indiretamente através dos refugiados que chegam à Europa, fugidos, ou das notícias que nos entram em casa pela televisão. Não a podemos ignorar. Continua a preocupar-nos. E parece sempre que é parte inevitável do destino da humanidade. Será? Segundo o mito de Fanes, pode não ser assim. Talvez a utopia não seja irrealizável. Talvez possa não haver guerra e talvez as mulheres possam ser tão líderes como os homens. Marta Cuscunà desafia-nos: pensemos nisso no palco e na plateia. Como um problema de todos e não apenas de alguns. Porque uma sociedade mais justa é um lugar melhor para todos.

de vista das únicas personagens que sempre dela tiram vantagens, os corvos. Marta Cuscunà e a cenógrafa Paola Villani criaram criaturas mecânicas através de técnicas aplicadas em animatrónica, aliando tecnologia avançada ao imaginário ancestral do mito de Fanes. Estes corvos funcionam com um sistema de alavancas e de freios de bicicletas, e são manipulados com joysticks mecânicos – a lembrar a força aérea e o lançamento de mísseis numa guerra – possibilitando executar com uma mão sete movimentos diferentes nas marionetas. Uma inovação no teatro de marionetas, ainda muito ligado à tradição popular em Itália, que permite a Cuscunà formular novas interrogações artísticas: qual o futuro para as marionetas na era da automação? As montanhas Diz a lenda que, nas Dolomitas, as rochas são muito claras porque os anões das montanhas as envolveram em raios de lua. Já a ciência garante que a razão dessa cor está no facto de serem constituídas sobretudo por minerais dolomitas de carbonatado de cálcio e magnésio. No palco de Il Canto della Caduta, as montanhas brancas transformaram-se em ferro e recortam o cenário onde tudo acontece, dando casa às crianças escondidas e aos corvos mecânicos.

Fontes de pensamento e palavras em Il Canto della Caduta: Kläre French-Wieser; Carol Gilligan; Ulrike Kindle; Giuliana Musso; Heinrich von Kleist e Christa Wolf.

A utopia Depois de A Simplicidade Traída 3


© Daniele Borghello

15 e 16 fevereiro

Criação e Interpretação: Marta Cuscunà; Projeção e realização animatrónica: Paola Villani; Assistência de realização: Marco Rogante; Projeção vídeo: Andrea Pizzalis; Desenho de luz: Claudio “Poldo” Parrino; Execução ao vivo luz, áudio e vídeo: Marco Rogante; Construções metálicas: Righi Franco Srl; Partitura vocal: Francesca Della Monica; Assistente de realização animatrómica: Filippo Raschi; Distribuição: Laura Marinelli

teatro estreia

IL CANTO DELLA CADUTA

Uma parceria A Tarumba – Teatro de Marionetas e São Luiz Teatro Municipal

MARTA CUSCUNÀ

Coprodução: Centrale Fies, CSS Teatro Stabile di Innovazione del Friuli Venezia Giulia, Teatro Stabile di Torino e São Luiz Teatro Municipal

Sexta e sábado, 21h Sala Luis Miguel Cintra; m/14 Duração: 1h (aprox.) Espetáculo em italiano, com legendas em português €12 a €15 com descontos CONVERSA COM OS ARTISTAS

Próxima apresentação: 22 fevereiro, Teatro Viriato (Viseu)

18 a 20 fevereiro Projeto Funicular: Workshop We like to move it, move it! Marta Cuscunà e Paola Villani Pesquisa e Experimentação no Teatro de Marionetas e Formas Animadas Destinatários: Marionetistas, atores, bailarinos, encenadores, artistas plásticos, cenógrafos e estudantes de artes performativas

16 fevereiro, sábado

Apoio

SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Joaquim René Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Catarina Ferreira, Margarida Sousa Dias, Mónica Talina, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Nuno Samora, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), Maria Tavora, Sara Garrinhas, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão

TEATROSAOLUIZ.PT

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