A PRAIA 2022

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DE PETER ASMUSSEN

ENCENAÇÃO JOÃO REIS

M/12

teatrosaoluiz.pt

© Estelle Valente

6 A 17 JUL 2022 TEATRO/ESTREIA



UMA PRAIA PRIVADA Perguntamo-nos: o que é que faz alguém regressar repetidamente a um mesmo lugar, numas desejadas férias de Verão, sem que se vislumbre qualquer indício de algo que nos prenda definitivamente? Há quase cinco anos, quando li este texto pela primeira vez, interessei-me sobretudo pela ideia ou pela possibilidade que ele indiciava, a de um confronto, a todos os títulos apetitoso, de quatro pessoas (dois casais), num lugar inóspito e onde nada acontece, num hotel sofrível, de serviço medíocre e condenado a ser engolido pelo mar nos próximos anos, sem crianças e agitação familiar, onde “os poucos hóspedes que existem são esquisitos e preferem manter-se isolados”, fora dos estereótipos dos destinos de verão aprazíveis e abundantes em acontecimentos memoráveis. Portanto, uma espécie de retiro acidental pronto a acolher criaturas de alguma forma desafinadas ou desatinadas com a vida, afundadas em champanhe e pedrinhas de âmbar e conversas mais ou menos banais sobre o que “aconteceu no ano passado”. Um somatório de equívocos e desencontros, desenvolvidos habilmente por Asmussen em quatro andamentos distintos, onde percebemos alguns dos sinais que alimentam e ampliam os efeitos de uma catástrofe emocional, próxima da depressão ou de outras patologias no contexto da saúde mental.

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© Estelle Valente

Jan e Sanne estiveram ali pela primeira vez no ano do seu casamento. E foram regressando sempre, por nostalgia, por inércia, por incapacidades várias que se manifestam na repetição da escolha e no isolamento que ela sugere. Verner e Benedikte, por sua vez, foram parar ali por acaso, reserva de última hora, mas tal como os outros dois, acabam por voltar sempre, como um vírus que se replica e que os quatro vão alimentando entre si. Talvez que um lugar assim, a ser escolhido por vocação, nos assalte de incertezas relativamente à personalidade dos hóspedes? Ou talvez não, talvez sejam pequenos e destemidos sinais, lançados para nosso reconhecimento? Seja como for, quem procura ou repete um lugar onde nada acontece, está seguramente a despedir-se ou a fugir de alguma coisa. A Praia tem um efeito curioso na sua dimensão de refúgio inusitado, convoca as dúvidas e os fantasmas dos casais em fim de linha ou em crise, mas acrescenta-lhes uma melancólica exaltação reforçada pela escolha do lugar e pela natureza das suas motivações, de cada vez que regressam.

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© Estelle Valente

Depois de uma pandemia que nos atordoou de forma implacável, a meio de uma guerra que potencia medos e inseguranças de natureza diversa, olho hoje para este quarteto de um modo menos estranho ou distanciado. Isto é, consigo percebê-los melhor, consigo decifrar os mecanismos que os empurram para este lugar e para esta fuga mais ou menos premeditada. Bem sei, são apenas coincidências. Asmussen escreveu este texto há vinte e cinco anos, não há nenhum lastro, nenhum efeito de contaminação, o tempo que aqui corre e se instala é um tempo em desaceleração, um tempo que corre paralelo à agitação diária e aos desacertos comuns entre humanos e as suas aspirações, mas há qualquer coisa de absolutamente tangível entre esta Praia e uma necessidade de consolo impossível de satisfazer (parafraseando aqui um título de Stig Dagerman, o escritor suicida), própria dos tempos modernos, do spleen que de quando em vez nos devolve os medos e os fantasmas que vamos acumulando como o depositário das coisas que ficam sempre por dizer… as nossas, praias privadas. João Reis Julho 2022

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6 a 17 julho 2022 teatro / estreia

A PRAIA

DE PETER ASMUSSEN ENCENAÇÃO JOÃO REIS Sala Luis Miguel Cintra quarta a sábado, 20h; domingo, 17h30 Duração: 2h (aprox.); M/12 €12 a €15 (com descontos) 17 julho, domingo, 17h30 Encenação: João Reis; Assistente de Encenação: Marta Félix; Texto: Peter Asmussen; Tradução: João Reis; Interpretação: Filipa Leão, João Pedro Vaz, João Vicente e Lígia Roque; Desenho de Luz: Nuno Meira, Cenografia e Adereços: Daniela Cardante; Desenho de Som: Francisco Leal; Figurinos: Nuno Baltazar; Registo do Processo: João Cardoso Ribeiro; Produção Executiva: Pinguim Púrpura Coprodução: Teatro Nacional São João e São Luiz Teatro Municipal Projeto financiado por República Portuguesa – Cultura / Direção Geral das Artes Apoios: Polo Cultural das Gaivotas | Boavista, IFICT e CPBC - Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo Agradecimentos: Agostinho Trindade, Daniel Courinha, Guilherme da Luz, Patrícia Soares, Rita Morais, Rui M. Silva, Sara de Castro e Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira

O Teatro São Luiz/EGEAC é parceiro no Projeto Europeu Inclusive Theater(s) Rede de desenvolvimento de novos públicos através de ações inclusivas para pessoas com necessidades específicas Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Andreia Luís, Catarina Ferreira, Marta Azenha, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Diana Bento, João Reis, Pedro Xavier

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