CABRAQIMERA + POROMECHANICS 2022

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teatrosaoluiz.pt © Jose Caldeira still frame 29 OUT POROMECHANICS CABRAQIMERA INSTALAÇÃO DANÇA 27 - 30 OUT CATARINA MIRANDA

à conversa com

CATARINA MIRANDA

Tanto Cabraqimera como Poromechanics trabalham no espaço de uma certa subconsciência. O que a atrai nessa espécie de limbo?

O conhecimento, a experiência humana e a fisicalidade são vividos não só de forma consciente e racional, mas também através de subterfúgios e for matos menos compreensíveis, ligados ao sensorial, ao inconsciente e ao so nho. Penso ser interessante emanci par os vários caminhos da experiência, dentro de um sistema no qual todos se re-informam e alimentam.

Nestes dois trabalhos, como em anteriores, desbrava um universo desconhecido e pouco visível. Esta é uma procura constante?

A realidade, tal como a conhecemos, transforma-se a cada segundo. Como a nomeamos, como influímos sobre ela, como a imaginamos?

Os dois projetos foram desenvolvidos em paralelo ou um nasceu das reflexões do outro?

Os dois projetos foram construídos simultaneamente, enquanto pontos

opostos de si mesmos. O projeto Poro mechanics desenha um vetor na dire ção interna do corpo hipnagógico, que cria discursos a partir de ferramentas sensoriais, de estados de consciência alterados e imersivos; enquanto que Cabraqimera é uma peça que impele a um movimento oposto, de comuni cação, de energia no sentido externo e agressivo, de lançamento de questões sobre o que são corpos e paisagens em velocidade e adaptações a acidentes e mudanças de paradigma.

Como começou o processo para Cabraqimera: pelo tema que queria explorar ou pelo dispositivo dos patins e dos desportos de velocidade?

A peça Cabraqimera começou com uma vontade de explorar a ideia de devir-de-morte, que em termos Junguianos se refere à energia que impele simultaneamente a criação e/ou a destruição. Uma vontade de colocar o corpo em situações novas, até de des conforto e risco, paralelamente, espe lhando a aceleração exponencial da história humana, tecnológica e do ca pital. Dessa vontade surgiu a ideia de

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criar um corpo pós-humano e acoplar próteses aos pés, também pela possi bilidade de condicionamento físico e construção de uma linguagem coreo gráfica. Estas próteses trouxeram tam bém a possibilidade de os bailarinos ocuparem o lugar de Coturnos, que no teatro da Grécia Antiga eram figuras que mediavam a comunicação entre as entidades divinas e profanas, não eram deuses, mas também não eram humanos. Além disso, estas próteses evocam ainda a ideia d@ bailarin@ clássic@, evocando esse fantasma do corpo etéreo e simbólico em palco. As sim escolhida a prótese “patins”, abri ram-se as portas de investigação sobre desportos de velocidade (patinagem, hóquei, ciclismo...), o mapeamento dos percursos atravessados no espaço e no chão e também as referências das várias comunidades que praticam pa tinagem para fins recreativos, sociais, de transporte e de competição.

Mais uma vez, a luz volta a ser essencial nesta criação. Considera-a tão importante como o movimento num espetáculo?

Na minha perspetiva, a perceção de um espetáculo é complexa e completa. A escolha de elevar a fisicalidade e o

diálogo entre os vários elementos que o compõem permite não só libertar as ideias de formatos estanques, mas também expandi-las na sua potência e sensualidade.

Não lhe chama uma coreografia, mas antes uma peça de dança –existe diferença?

A meu ver, uma peça de dança é composta por um sistema temporal de diferentes dispositivos cénicos (coreo grafia, música, luz, odor...) desenhados em relação a um público.

O que significa, afinal, Cabraqimera?

Cabraqimera está relacionado com a ideia de que todos somos quimeras e fruto da dimensão histórica e política do passado, da experiência do presen te e do assombramento e o entusiasmo perante o futuro.

Com Poromechanics, aventura-se na criação fora de um palco. O que lhe traz de diferente este formato e estes dispositivos?

A temporalidade e o espaço são ajus tados para outras formas de perceção, mas no fim estou sempre a construir sistemas cénicos.

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Como foi o processo de desenvolvimento desta instalação até chegar à ideia desta grande baleia adormecida?

Os processos de perceção relaciona dos com imersão, consciência altera da, possessão e hipnagogia têm como forte base a vivência física do corpo e a emancipação para além de normas instituídas. A produção de imaginários e ficção é também um produto dessa vivência.

Ao estudar sobre estados de sono profundo, hipnagógicos e hipnopômpicos, questionei-me sobre como é que outros corpos sonham e apercebi-me de que as baleias dormem na vertical. Pensei, por isso, criar um corpo insu flável, leve e suspenso, com um forma to aproximado ao de uma baleia bicéfa la, em rotação infinita, para simbolizar esse estado do inconsciente ativo.

Olhando para os dois projetos, um fala de uma busca de verdade e o outro de um caminho para a ficção. São, afinal, opostos?

Penso que ambos os projetos se relacionam com a ideia de que tudo é verdade, equívoco e inconclusivo.

Entrevista realizada em janeiro de 2022, por Gabriela Lourenço / Teatro São Luiz

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CABRAQIMERA © José Caldeira

POROMECHANICS

CATARINA MIRANDA

Sala Bernardo Sassetti Quinta, sexta e domingo, 18h às 20h; sábado, 18h às 22h

Entrada livre sujeita à lotação da sala, com levantamento prévio de bilhetes

Direção Artística e Vídeo: Catarina Miranda; Artistas convidados: Ana Isabel Castro, Ana Rita Teodoro, António Pedro Lopes, Cristina Planas Leitão, Marco da Silva Ferreira, Laura Kirshenbaum; Vocalistas/ Sessões de Filmagens: COBRA’CORAL (Catarina Miranda, Clélia Colonna, Ece Canli); Música: Lechuga Zafiro; Pós-Produção Vídeo: Catarina Miranda, João Brojo, João Parra, Jonathan Saldanha; Correção de Cor: Mark Gomez; Produção e Difusão: Materiais Diversos; Produção Executiva: João Brojo; Produção Escultura Insuflável: Área Cúbica

29 outubro 2022 dança

CABRAQIMERA

CATARINA MIRANDA

Sala Luis Miguel Cintra Sábado, 20h

Duração: 1h (aprox.); M/12 €12 a €15 (com descontos)

Direção Artística: Catarina Miranda; Performance e Cocriação Coreográfica: Duarte Valadares, Francisca Pinto, Lewis Seivwright, Madalena Brandão Pereira; Desenho de Luz: Leticia Skrycky; Operação de Luz: Leticia Skrycky/Joana Mário; Composição Sonora: Lechuga Zafiro; Desenho e Operação de Som: José Arantes; Figurinos: Simão Bolivar; Suporte Dramatúrgico: Cristina Planas Leitão (TMP); Produção e Difusão: Materiais Diversos; Produção Executiva: João Brojo

Coprodução: Materiais Diversos (PT), SOOPA (PT); Teatro Municipal do Porto (PT); Walk&Talk (PT); CND Centre National de la Danse (FR), ICI-CCN Montpellier – Occitanie (como parte da Rede Life Long Burning projeto apoiado pela Comissão Europeia — Montpellier / FR)

Projeto financiado pela República Portuguesa - Cultura | Direção-Geral das Artes e pela Rede 5 Sentidos (Centro Cultural Vila Flor, TAGV - Teatro Académico de Gil Vicente, Teatro Municipal da Guarda, Cine-Teatro Louletano, Teatro Micaelense, Teatro Municipal do Porto, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional São João, Teatro Viriato)

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Catarina Ferreira, Marta Azenha Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Diana Bento, João Reis, Pedro Xavier

27 a 30 outubro 2022 instalação
teatrosaoluiz.pt

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