DEMOCRACY HAS BEEN DETECTED 2021

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20 A 25 JULHO 21 20 TEATRO

DIOGO FREITAS

M/12

© Simão Do Vale Africano

FIL IPE GO UV EIA

teatrosaoluiz.pt


se confia cegamente. Mas para se aceitar uma solução destas, não pode haver dissidentes, não pode haver resistência, tem de se abraçar o P.A.I. como quem abraça um pai, deixar fluir a novidade assoberbante que a tecnologia nos traz e esquecer que por detrás duma grande máquina há sempre um grande homem ou uma grande mulher – esse ou essa com as suas ambições e venalidades. E, spoiler alert, pode haver um relatório minoritário que esconda para lá um segredinho daqueles que nem se notam.

Uma utopia que é uma distopia: Em Democracy Has Been Detected, uma nação desiludida e tomada de assalto pela futilidade e histeria dos media, enjoada das constantes corrupções do Poder e demagogias das oposições, encontra conforto no P.A.I. É um partido que oferece uma refrescante e altamente tecnológica solução: um deputado andróide que, dotado de uma inteligência artificial evoluída e refinada é, na sua artificialidade, a representação mais real das mentes e dos desejos dos eleitores. Defendê-los-á sem preconceitos, sem preferidos, todos filhos, nenhum enteado; é a solução perfeita para muitos que veem neste partido a fuga definitiva de um Estado corrupto e sem ideias. Representa a ideia de menor esforço, a de se entregar tudo nas mãos de um poder neutro e distante, que nos possa gerir independentemente de interesses e lobbies. É uma espécie de Troika voluntária na qual

A utopia vai-se materializando e dando poder aos seus ideólogos, o P.A.I. vai crescendo em popularidade e em votos até ser Primeiro Ministro. Toda a felicidade toma conta dos cidadãos que se veem finalmente livres dos impostos absurdos, livres da corrupção, que são julgados com justiça. É lindo, tão lindo que até há um chip de felicidade para todos. O povo pede, o P.A.I. dá, o povo precisa, o P.A.I. providencia. A televisão exalta-se em programas ordinários que humanizam o andróide, não há bug que pare o pai.

E a bela tem um grande senão: a homogeneização leva à perda de individualidade; todos iguais, sem diferenças, todos felizes, todos cegos e patetas, todos na mão de um P.A.I. que se tornou o absoluto e irrevogável chefe da nação. Lembrei-me, em alguns momentos, do retrato do regime autoritário russo em Animal Farm, de George Orwell: quando a liberdade passa de ideia a ação e depois à sua imposição, deixando de ser liberdade (porque é imposta à força) e assim por diante, numa circunferência infindável que julga revolução, liberdade, individualidade e igualdade num pote demasiado estreito. Lembra-nos coisas da vida… Talvez a ideia não fosse de todo má, diria até que pode ser boa ideia recorrer a uma ajudinha externa para arrumar a casa – como quem vai ao psicoterapeuta tratar do que é seu – mas um regime vive sempre um esquema de poder e quanto mais o poder promete, mais nos agrilhoa às condições violentas que o regime precisa de impor para sua subsistência. A entropia do sistema é a morte do sistema ou a morte de quem dele depende.

Um retrato tripartido: A vida política retratada com excentricidade, em todo o seu exagero e deboche, todas as suas trocas e baldrocas. A vida mediática: com os seus repórteres sem rosto, uns saltitões irritantes que nos enchem de hashtags; o apresentador de televisão sem escrúpulos, óleo da grande máquina, fonte de sensações, explorador de emoções baratas, uma espécie de Oprah Winfrey dos tolinhos. A vida de alguns cidadãos comuns, pintados com simplicidade nas suas vidas “pequenas”, deparados com a banalidade dos seus problemas e das suas perdas. Uma novela paralela que nos liga à realidade para tentarmos dar sentido ao absurdo de tudo o resto. No final, um grande olho com vários feixes de luz há de pairar sobre o palco, forma de vigilância excessiva que nos lembra os grilhões inevitáveis de um regime que se tornou um disparate.

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Simão do Vale Africano


20 a 25 julho 2021 teatro

DEMOCRACY HAS BEEN DETECTED DIOGO FREITAS E FILIPE GOUVEIA Sala Mário Viegas Terça a sábado, 19h30; domingo 16h Duração: 1h30; M/12 €12 com descontos

Criação: Diogo Freitas e Filipe Gouveia; Dramaturgia: Filipe Gouveia; Interpretação: Ana Lidia Pereira, Daniel Silva, Diogo Freitas, Gabriela Leão e Joana Martins; Interpretação e composição musical: Paulo Pires; Desenho de luz: Pedro Abreu; Desenho de som e sonoplastia: Rafael Maia e Bernardo Bourbon; Cenografia: Maria Manada; Figurinos: Matilde Ramos; Produção executiva: Inês Simões Pereira; Acompanhamento fotográfico: Simão Do Vale Africano; Apoio: Teatro Nacional São João, Câmara Municipal de Lisboa e Polo Cultural das Gaivotas Boavista; Residências Artísticas: 23 Milhas/Ílhavo, Centro Cultural Vila Flor/Centro de Criação de Candoso, CRL-Central Elétrica, Junta de Freguesia de Joane e Armazém 22; Produção: Momento – Artistas Independentes

© Simão Do Vale Africano

Coprodução: Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, Fitei – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica e São Luiz Teatro Municipal

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Andreia Luís, Catarina Ferreira, Marta Azenha, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão

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