CONCERTO N.º 1 PARA LAURA 2022

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CONCERTO N.º 1 PARA LAURA 2 A 6 FEV 2022 DANÇA/ESTREIA M/6

© Sofia Afonso / Real Pelágio 2021

SÍLVIA REAL

teatrosaoluiz.pt


“O TEU CORPO É O MEU CORPO”, OS NOSSOS CORPOS SÃO O INSTRUMENTO s ílvia re al e su sana ribeiro martins

“Canções de embalar, canções de amor e canções de intervenção sempre fizeram parte da minha vida. Sempre adorei cantar, sempre cantei para adormecer os meus filhos, no duche, a cozinhar ou quando viajo sozinha de carro. (...) Quando nos vimos forçados a ficar em casa, comecei a desenvolver esta ideia a partir de um princípio que se adivinhava, o formato a solo, aquele que perante a pandemia seria o mais seguro face à complexidade logística e financeira de continuar a circular o meu último projeto que envolvia uma equipa de 17 pessoas, entre jovens e adultos (Grupo 23: silêncio!). Cada pessoa encontra o seu possível escape. Este foi o que encontrei para suportar este momento na nossa história. E é no palco, este lugar de refúgio onde ainda reina uma liberdade inigualável, que gosto de estar, onde tenho a grande sorte de poder rodear-me de outras pessoas, e em conjunto construirmos um mundo com as nossas inquietações e devaneios. A arte sempre teve esse papel político e interventivo, mas também o de aliviar nos momentos mais duros. É esse também o meu desejo para este espetáculo”. Partindo desse lugar de fala a solo, muito chão se percorreu, até que da estreita vereda se fez estrada larga. Da vontade de expor a uma nova luz um repertório pontuado por canções de amor romântico, nasceu um exercício de reconhecimento arriscado, acompanhado de um precioso diálogo em estúdio, 2

partilhado com uma nova geração de bailarinos, portadores de outras visões, e acompanhado pelo exímio olhar de um cúmplice de longa data, o coreógrafo Francisco Camacho. Cantar uma velha canção, estranhá-la, dançá-la, distorcê-la, tocá-la, reincorporá-la já outra, e assim reinventar uma nova relação com a música e com a palavra, som a som, gesto a gesto, movimento a movimento. Empenhados numa luta constante, que nunca se basta, desafiamos os obstáculos que nos oprimem e apropriamo-nos de novas armas, para continuar a sonhar a possibilidade de um amor universal, mas nunca igual. “O teu corpo é o meu corpo”, como nos dizia Ernesto de Sousa. Nós acrescentamos: os nossos corpos são o instrumento. Foi assim que descobrimos Carolina e o seu legado, celebrámos bell e a sua memória, escutámos Nawal e Vandana, e evocámos todas as Lauras de quem nunca ouvimos nem ouviremos falar. No pensamento e na ação de cada heroína que nos iluminou neste caminho, encontrámos milhões de mulheres sem rosto, remetidas para a cruel e injusta invisibilidade que historicamente paira sobre a sua condição, sobre a sua identidade. Mas também percebemos que por vezes, o impossível acontece, que mesmo desse lugar remoto, contrariando todas as probabilidades, algumas conseguiram romper os muros da exclusão e fazer soar bem alto uma voz insurgente, transportando consigo a avassaladora força de todas as outras. Este Concerto é para todas elas.


WE STILL DON’T KNOW WHAT LOVE IS ou PARA AS NOSSAS HEROÍNAS simone longo de andrade

Toda a luta tem seus heróis. Todos nós temos também os nossos heróis e as nossas heroínas. Podemos não chamá-las assim, mas temo-las sempre e creio precisarmos delas. Oxalá tal título fosse reservado só para quem trava guerras pacíficas. Isto dizia-o bell hooks, uma heroína (minha, quando crescer, quero ser como ela), cuja revolução era o amor – o amor que se interconecta com classe, género e raça. O amor que, historicamente negado aos outros, marginalizados, oprimidos, violentados, permite (a sua ausência) manter de pé e alimentar a política do medo, da dominação, da conquista e da morte. Agora, “se nós temos amor, teremos a comunidade de pertença que vem com ele... um lugar onde não existe o outro”. O Concerto n.º 1 para Laura habita este agora, buscando os afetos e a harmonia, buscando a possibilidade de construirmos humanidade, de pertencermos. A música como arma, a arte como fôlego, a criatividade como necessidade para existir(mos) e ser(mos). Existimos. Somos aqui e agora. Cada história individual se entrecruza com todas as demais, entrelaçando-se, tecendo a história coletiva, desta humanidade projetada sempre a futuro e negada sempre a presente. Fazemos parte, somos responsáveis. Lutar ou alhear-se pode ser um dilema, mas é sempre uma escolha. Existirmos. Resistirmos. Resistimosaestesistemadeviolênciaeopressão–oimperialist-white-supremacist -capitalist-patriarchy, como sempre dizia bell hooks, buscando o inevitável e necessário conflito, o resultado natural “de tentar ter um relacionamento com alguém que não nós mesmos”. Resistimos ao cansaço da luta. A heroína é muitas vezes aquela que não vem nos livros, não ascende à categoria de excecional. É necessariamente a que ama, não a que violenta, oprime ou se omite. Excecional é resistir. A resistência é a própria esperança.

© Estelle Valente

“Sempre pensámos os nossos heróis em conexão com a morte e a guerra” (...) “vivendo nós numa cultura de dominação, escolher verdadeiramente amar é heróico...” bell hooks 4

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carolina maria de jesu s

QUARTO DE DESPEJO DIÁRIO DE UMA FAVELADA VS Editor, Portugal, 2021

© Estelle Valente

ahora si! ganas de gritar, de luchar, de cambiar todo que ya no va, que no va, que ya no ahora si! tu color es mi color la piel es solo piel un deseo universal pero nunca igual mejor así! ahora sí! A partir da letra de Luis El Gris, revisitada por Francisco Camacho para o tema ahora no!, música original de Sérgio Pelágio para o espetáculo Road Movie (Real Pelágio, 1996)

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12 de junho (p.75) Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa a pensar nas miserias que nos rodeia. (...) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. (...) É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. Fiz o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como é horrível pisar na lama. 12 de julho (p.224) Minha luta hoje foi para fazer o almoço. Não tenho gordura... Deixei a carne cosinhar e puis linguiça junto para fritar e apurar gordura para fazer o arroz e o feijão. Temperei a salada com caldo de carne. Os filhos gostaram. Quando a Vera come carne fica alegre e canta. 20 de maio (p.49) A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso paiz tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo o que está fraco, morre um dia... Os políticos sabe que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê o seu povo oprimido.

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2 a 6 fevereiro 2022 dança/estreia

CONCERTO N.º 1 PARA LAURA SÍLVIA REAL Sala Mário Viegas Quarta a sábado, 19h30; domingo, 16h €12 (com descontos); M/6

Ainhoa Vidal1, Álvaro Rosso2, Ana Sofia Sequeira3, Beatriz Valentim4, Carlos Bártolo6, Catarina Lourenço7, Diego Lasio2, Ermelinda Nunes8, Estelle Valente9, Fernando Baggio2, Francisco Camacho10, Frank Laubenheimer2, Grupo 23: silêncio!2, Isabel Machado11, João Dias2, Laura Monteiro12, Luís El Gris2, Magnum Soares4, Manon Marques2, Olinda Gil2, Paulo Cunha13, Pedro Baptista14, Rita Delille9, Sérgio Milhano (PontoZurca)14 e 15, Sérgio Pelágio16, ShowBuzz17, Simone Longo de Andrade18, Sílvia Real4 e 19, Sofia Afonso20, Sofia Pelágio2, Susana Ribeiro Martins21, Tasso Adamopoulos22 1apoio guarda-roupa (a partir do espólio de figurinos de Ana Teresa Real); 2agradecimentos; 3interpretação (participação especial) e direção musical; 4interpretação; 6apoio moral e gráfico; 7tradução; 8auxiliar de limpeza; 9fotografia; 10apoio dramatúrgico e coreografia; 11produção executiva; 12apoio cénico (a partir de antigos adereços); 13operação de luz; 14operação de som; 15desenho de som; 16assistência musical; 17assessoria de imprensa; 18investigação na área dos Direitos Humanos; 19direção artística e coreografia; 20direção de produção e realização de teaser; 21comunicação; 22desenho de luz Coprodução: Produções Real Pelágio, Câmara Municipal de Castelo Branco, Câmara Municipal de Torres Vedras e São Luiz Teatro Municipal Produções Real Pelágio é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura – Direção Geral das Artes e apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa e sib A Voz do Operário As Produções Real Pelágio são membro da REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea www.realpelagio.org

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Andreia Luís, Catarina Ferreira, Marta Azenha, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, João Reis

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