MIL E UMA NOITES 2022

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MIL E UMA NOITES UMCOLETIVO / CÁTIA TERRINCA 13-17 DEZ

III

Vem dos vales a voz. Do poço. Dos penhascos. Vem funda e fria Amolecida e terna, anêmonas que vi: Corfu. No mar Egeu. Em Creta. Vem revestida às vezes de aspereza Vem com brilhos do dor de madrepérola Mas ressoa cruel e abjeta

Se me proponho ouvir. Vem do Nada. Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada. Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.

E sibilante e lisa

Se faz paixão, serpente, e nos habita. Hilda Hilst

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UM PROJETO PARA QUE A VOZ SEJA TRAPOLOGIA DAS PALAVRAS DE OUTRAS MULHERES
UM PROJETO PARA QUE O TEMPO SEJA TEMPO QUE POSSA MUDAR UMA GOTA DO MUNDO UM PROJETO PARA QUE O SENTIDO DE “EU” SEJA AMPLIADO ATÉ À COMUNIDADE

Manifesto ou poema, noite demasiado longa para não mudar o mundo, uma ver tigem, devaneio, loucura lúcida, uma pedrada no charco, carta, outro poema, uma voz que vem de dentro, alimento, uma voz que vai para fora, cartografia, o que é sermos mulheres se é isso que nos junta? sonho, um sonho, criação cole tiva, sementeira de futuros justos, um gesto ou uma partitura para dançar uma nova História, uma homenagem ou um ensaio, viagem, caderno aberto que pare literatura em sangue, dúvida, um grito, amor, amor comum, amor perfeito, amor em guerra, amor em pranto, amor avariado, pranto, um lamento, antologia, som, sopro, casa, casas, enciclopédia para não morrermos sem termos tentado mudar o mundo, à esquerda, um projeto político, reunião de vontades, raiz do esquecimento, convergência, oráculo, mapa astral, mapa literal, mapa oral. Leva a minha voz no bolso para que as palavras durmam no teu peito —- hás de ver amor como os poemas mergulham do coração para o sangue e não nos abando nam nunca mais —- teatro que finta o teatro, coisa eterna, vírus, febre, vontade que alastra e é feita de fogo ar e chão nuvens estrelas poeiras cósmicas espargos cardos e cogumelos, húmus galáctico, Cassiopeia de mulheres que o tempo foi tapando com o pó do desinteresse. Limpar o pó ou aspirar? Plantar palavras em vozes para ver renascer mulheres. Plantar ainda mais palavras em duas vozes para sentir renascer mil e uma mulheres.

mil e uma noites surge da necessidade de convocar mulheres a integrar a His tória. Surge porque, ainda hoje, poucas são as mulheres portuguesas estudadas nas escolas portuguesas, seja em que grau académico for. E surge porque a Lu zia, escritora portalegrense do início do século, continua a ser chamada ‘a Eça de Queirós’, e embora tenha editado em vida, não foi reeditada; surge porque a Isabel da Nóbrega é, aquando da sua morte, referida como a musa de Saramago; surge porque há muitas mulheres que nunca conseguiram publicar em vida; sur ge porque algumas tiveram que se esconder em pseudónimos para o fazer; surge porque quem queimou a obra da Judith Teixeira fê-lo para queimar o corpo e o amor daquela mulher, surge ainda porque muitas mais mulheres há que nem sabiam ler e que, ainda assim, escreveram ditando aos maridos ou às amigas. umcoletivo, enquanto estrutura implicada na construção de um mundo justo e informado, acredita que muitas destas mulheres permitem uma reflexão rica e necessária sobre o nosso país no século XX. Pela liberdade, formal e temática, com que muitas destas mulheres escreveram, são obras singulares as que par tilhamos convosco. Por isso, também, não resistimos a amassá-las com as nos sas vozes, os nossos corações, as nossas mãos, as nossas diferenças. De agora em diante, estas mil e uma mulheres constelarão em nós.

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mulheres com quem começamos

Maria Regina Louro (Abrantes, 1948), Zulmira Oliva (Albufeira, 1930), Vitorina Agostinho (Portalegre, ?), Celina Pereira (Ilha da Boavista, 1940), Deolinda da Conceição (Macau, 1913), Matilde Rosa Araújo (Lisboa, 1921), Ivone Dias Lourenço (Vila Franca de Xira, 1937), Maria Luísa Costa Dias (Coimbra, 1916), Aida da Conceição Paula (Lisboa, 1918), Maria Alda Nogueira (Lisboa, 1923), Fernanda Paiva Tomás (Mortágua, 1928), Maria da Graça Varella Cid (Lisboa, 1933), Eduarda Chiote (Bragança, 1930), Beatriz Rodrigues Barbosa (?), Maria Helena Barreiro (?), Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, 1938), Maria Teresa Horta (Lisboa, 1937), Judith Teixeira (Viseu, 1880), Maria Lamas (Torres Novas, 1893), Natércia Freire (Benavente, 1919), Maria Archer (Almodóvar, 1899), Fernanda de Castro (Lisboa, 1900), Maria Velho da Costa (Lisboa, 1938) e outras mulheres que, como a Avó Margarida (Elvas, 1928), cantaram e contaram histórias que ficaram escritas para sempre nas suas vozes.

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Eu amo a mulher do povo e respeito-a, até na sua ignorância, de que ela se não apercebe, mas de que sofre as terríveis consequências, representa uma acusação contra a indiferença dos que vêem nela um ser unicamente destinado a todos os sofrimentos.

Ao escrever As Mulheres do Meu País não procuro glória literária, mas, sim, repito, contribuir para que o grave problema da dignificação da mulher, em todos os aspectos da sua vida, seja estudado e resolvido, como é indispensável para que a civilização que tanto apregoamos não seja, afinal, uma palavra sem sentido ou... com um sentido falso. Farei, pois, uma reportagem directa, verdadeira, colocando cada mulher no ambiente que lhe é próprio, com os seus usos e tradições, com o seu drama e pitoresco da sua vida sempre que ele exista.

maria lamas

MIL E UMA NOITES

um projeto UMCOLETIVO: Cátia Terrinca, David Costa, João P. Nunes, Mariana Bragada, Raquel Pedro e Ricardo Boléo, com contributos da Escola Artística António Arroio

PRÓXIMAS SESSÕES AO VIVO:

Março 2023 - Montemor o Novo (O Espaço do Tempo)

Março 2023 - Portalegre (CAEP) Abril 2023 - Figueira da Foz (TNDMII / Odisseia Nacional) www.ventriloquia.pt

Falar pelo ventre, para que a voz seja um rio de lava inundando as ruas - agora vermelhas. A liberdade.

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13 a 17 dezembro 2022 teatro / estreia

MIL E UMA NOITES

UMCOLETIVO / CÁTIA TERRINCA

Sala Mário Viegas 16 e 17 dezembro sexta, 19h30; sábado, 16h e 19h30

A classificar pela CCE €7 adulto, €3 criança escolas 13 a 16 dezembro terça, 10h30 e 14h30; quarta e quinta, 10h30 e 16h30; sexta, 10h30

13 dez

CANÇÕES, SAIAS E PAIXÕES 14 dez MULHERES QUE ESCREVERAM INFÂNCIAS 15 dez ELAS ESTIVERAM NAS PRISÕES DO FASCISMO 16 dez CORPO A CORPO, OLHOS NOS OLHOS 17 dez CRÓNICAS AUTOBIOGRÁFICAS

Direção Artística: Cátia Terrinca; Dramaturgia: Ricardo Boléo; Pesquisa: Cátia Terrinca e Raquel Pedro; Interpretação: Cátia Terrinca e Mariana Bragada; Iluminação: João P. Nunes; Sonoplastia: Mariana Bragada; Design: David Costa; Apoio: Antena 2; Produção: umcoletivo

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Catarina Ferreira, Marta Azenha Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Diana Bento, João Reis, Pedro Xavier

teatrosaoluiz.pt

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