S Ã O L U IZ T E AT R O M U N IC IPA L N O N O IL CIEL NDALE È UN FO 14 A 16 D E Z E M B R O 2018 T AOLUIZ .P
fotografia © Elizabeth Carecchio
TE ATROS
N A I R O L F E D IA R DA A NTONIO TAGLIARIN I
© Giorgio Termini
Quando estamos em casa e chove lá fora, o que pensamos dos que estão à chuva?
que Walter Benjamin refere no seu livro Passagens, em Paris, que pareciam representar os salões fechados da burguesia europeia “com o seu intérieur que olha para o mundo lá fora como se de um camarote da ópera”. Vivemos todos nessa condição que Albert Camus sugeriu ser a troca de uma vida interior por uma vida no interior. Quando os media nos mostram os emigrantes a chegar às praias do Mediterrâneo em meios improvisados, a nossa primeira reação é de espanto; os seus corpos são o único “território” a que aqueles emigrantes encapuzados podem chamar de seu. É como
Durante muito tempo transformámos o mundo no campo ou à beira-mar em segundas casas, de forma a que estar fora do nosso mundo quotidiano fosse apenas um tipo de férias. Falamos de um vazio que se abriu dentro de nós, uma fuga da rotina, do tédio ou do stress do dia-a-dia que levamos em ambientes fechados, ao mesmo tempo reconfortantes e angustiantes, entre as paredes das casas, escritórios, cinemas e teatros. Até as paredes das ruas e cidades 2
dificuldade em respirar o ar da verdade depois de estarmos algum tempo no nosso espaço de ensaios, com toda a nossa “formação” e improvisos, conscientes de que a vida está noutro lugar. Tentemos destruir esses muros. Todos eles, não apenas esse famoso quarto muro com o qual o teatro vive obcecado. Livremo-nos deles num gesto inicial, o primeiro – para a nossa entrada em palco. Se a vida está fora de nós: apenas a nossa vida coletiva nos pode decifrar. Numa entrevista, Annie Ernaux disse: “Quando estou a escrever, não sinto como se estivesse realmente a olhar para dentro de mim, mas a olhar para a memória. Nessa memória vejo pessoas, vejo ruas, ouço palavras e tudo isto acontece fora de mim. Sou apenas uma câmara. Estou apenas a ‘gravar’.” O trabalho desta autora guiou as nossas questões, permitindo-nos observar, decifrar e reconstruir essa permanente osmose dentro-fora, as trocas contínuas entre o sentimento do que somos e o que está a acontecer à nossa volta.
se estivéssemos perante o fantasma de uma vida despida a revoltar-se e insurgir-se, algo que pensávamos já ter superado. No entanto, esse mesmo sentimento, essa mesma “transferência” volta a tomar-nos quando somos confrontados com o mendigo que dorme na esquina da nossa rua, o velho que se debate com as compras; é nesse milésimo de segundo que percebemos o quão precários são na realidade os nossos privilégios. A nossa vida confortável sente-se ameaçada por estes “espetáculos”: não somos capazes de nos identificar com a nudez de alguém sem casa ou sem cidadania. Por mais próximo de nós que aconteça, é sempre longe demais. Então, entrar nesse nosso recinto remete-nos imediatamente para outro sítio, pelo menos na nossa imaginação. Os que estão despidos estão expostos e põem-nos a nu. O céu que cremos ser uma proteção, para o qual olhamos com nostalgia, também pode pesar sobre essas pessoas, sozinhas, sob o frio gelado de uma tempestade de granizo, e, nesses momentos, esse lá fora não é “casa” mas sim prisão. Il Cielo Non è un Fondale [O Céu Não é um Pano de Fundo], apesar da negação no título, pretende fortalecer o diálogo entre um espaço de faz-de-conta e esse espaço exterior, a Realidade. Este é um diálogo cada vez mais necessário, porque até nós temos
Daria Deflorian e Antonio Tagliarini
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© Giorgio Termini
14 a 16 dezembro teatro
IL CIELO NON È UN FONDALE DARIA DEFLORIAN E ANTONIO TAGLIARINI
Sexta e sábado, 21h; domingo, 17h30 Sala Luis Miguel Cintra; m/14 Duração: 1h45 (aprox.) €12 a €15 com descontos
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Texto e Encenação: Daria Deflorian e Antonio Tagliarini; Colaboração no projeto: Francesco Alberici e Monica Demuru; Interpretação: Francesco Alberici, Daria Deflorian, Monica Demuru, Antonio Tagliarini; Assistência de encenação: Davide Grillo; Iluminação: Gianni Staropoli com a colaboração de Giulia Pastores; Figurinos: Metella Raboni; Cenário: Atelier du Théâtre de Vidy; Texto Jack London: Attilio Scarpellini; Supervisão técnica: Giulia Pastore; Promoção internacional: Francesca Corona; Produção executiva: Anna Damiani; Produção: Sardegna Teatro, Teatro Metastasio di Prato, Emilia Romagna Teatro Fondazione Coprodução: A.D., Odéon – Théâtre de l’Europe, Festival d’Automne à Paris, Romaeuropa Festival, Théâtre Vidy-Lausanne, Festival Terres de Paroles, Théâtre Garonne, Scène Européenne (Toulouse) e São Luiz Teatro Municipal (Lisboa), com o apoio de Teatro di Roma, e em colaboração com Laboratori Permanenti/Residenza Sansepolcro, Carrozzerie NOT/Residenza Produttiva Roma, fivizzano27/ nuova script ass. cult. Roma
Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Joaquim René Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Nuno Samora, Ricardo Campos, Sara Garrinhas, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), José Calixto, Maria Tavora, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão
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