CONCERTO | GIUSSANI E A MÚSICA 2022

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Giussani e a música

Teatro São Luiz, Chiado

23 2 3 de Maio às 20:00h às 2

LUIGI GIUSSANI 1922 2022

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO

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Giussani e a música “Don Giussani cresceu numa casa – como ele próprio diz – pobre de pão, mas rica em música; e assim, desde o início, foi tocado, aliás, ferido, pelo desejo de beleza e não se contentava com uma beleza qualquer, com uma beleza banal: procurava a própria Beleza, a Beleza infinita, e desse modo encontrou Cristo, em Cristo a verdadeira beleza, o caminho da vida, a verdadeira alegria.” (Card. Joseph Ratzinger, Homilia no Funeral de don Giussani, 24 Fev 2005) No ano do centenário do nascimento do seu fundador, o Coro do Movimento Comunhão e Libertação propõe um percurso por diferentes estilos musicais que don Giussani ensinou a ouvir e admirar, fazendo experimentar um gosto pela beleza de cada um: da música clássica, ao fado e cantos populares russos, passando pelo canto tradicional. Este concerto conta ainda com a presença de convidados especiais, tocados pelo mesmo gosto e pela mesma história: Simplus, Teresa Câmara, Carmo Moniz Pereira, João Maria Romeiras (piano).

CL comunhão e libertação 3


Giussani e a música 1ªparte - Beethoven: Sonata para piano nº 5 em Dó menor Op. 10 n.1

Marião

Allegro molto e con brio Adagio molto Finale prestissimo

Donde vens, ó Ana?

(trás-os-Montes)

(Alentejo)

5° feira da Ascensão piano: João Maria Romeiras

(Baixo Alentejo) Solistas: Luis Castro Reis e José Maria Leitão

2ª parte - cantos populares russos Coro de Comunhão e Libertação Viecerni Svon (O som das vésperas) Solista: António Moniz Pereira

Foi Deus (Amália Rodrigues e Alberto Fialho Janes) Voz: Susana Sequeira Mendes

Grusciza kudriavaia (A pereira frondosa)

Fado Dizer Adeus é tão triste

Nie karitie mienia

(Francisco Branco Rodrigues/ José da Câmara) Voz: Teresa Câmara

(Não me reproveis) Solista: Beatriz Perry

Fado 5 estilos Svietit svietiel miésiats (Resplandece brilhante a lua lá no alto)

(Traditional / Silva Tavares) Voz: Carmo Moniz Pereira

Coro de Comunhão e Libertação

Fado “Lágrima”

3ª parte - música popular portuguesa, cantar alentejano e fado Cantiga do Alecrim (Alentejo) Guitarra: Maria Seabra Duque Violoncelo: Margarida Vieira

(Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves) Voz: Carmo Moniz Pereira Guitarra portuguesa: Dinis Lavos Viola: Manuel Gama

4ª parte - Simplus Amália

Oh ferreiro guarda a filha (tradicional portuguesa) Guitarra: Maria Seabra Duque Violoncelo: Margarida Vieira Percussão: Constança Duarte 4

Simplus

Por dentro de um abraço Simplus


1.ª Parte: sonata para piano n.º 5 de Beethoven (Luigi Giussani)

A quinta sonata de Beethoven evoca em mim um episódio do período passado no seminário que recordo sempre com gratidão comovida, porque é significativo de uma amizade, de um amor gratuito. As aulas de Religião estavam confiadas a monsenhor Gaetano Corti, um professor que me “apadrinhou”, de forma verdadeiramente cordial, mesmo tendo mais vinte anos do que eu. Ele professor e eu aluno do liceu: era verdadeiramente um amigo, de uma amizade real, cordial, afetuosamente viva. Quando depois celebrei Missa - que para ele foi uma festa pessoal - para além de preparar a licença, recebi também uma função: tratava-se da Missa festiva e das confissões numa paróquia milanesa. Acontecia-me em alguns domingos descer a Milão de Venegono duas ou três vezes, porque combinava, com um dos rapazes, fazer um programa juntos mas, quando chegava, ele não estava. Mas «quem não arrisca não petisca» e «quem vai à guerra vence»... Naquele período, portanto, fazia este esforço enorme ao domingo e à noite chegava cansadíssimo a casa; monsenhor Corti, durante todos os domingos de um ano inteiro, esperava-me ao piano, ao belíssimo piano que existia no salão dos professores. A primeira vez disse-me: «ouve, ouve esta.» Era a quinta sonata de Beethoven, a mais bonita entre aquelas mais juvenis. Esta sonata em Dó menor é muito melancólica e adaptava-se bem ao cansaço - ele tinha-a escolhido de propósito - com que chegava sempre no domingo à noite. Essa sonata exprime de facto a natureza do estado de ânimo com que eu voltava a casa: uma comoção por a resposta ao desejo do próprio coração, que é Cristo, não encontrar, no homem, acolhimento, porque o próprio desejo não é verdadeiramente perseguido pelo homem. A melancolia, a tristeza, são um sinal claro e comovente do facto de que ter nascido para a felicidade não é um fenómeno que tenha que ver apenas com a pessoa individualmente; implica a pessoa de todos e o destino de todos. Esta tristeza anda, paradoxalmente, junta com uma ligeireza ou uma ternura – como também o documenta esta sonata com a sua doçura que pacifica –, ou, na verdade, com uma alegria porque, no fundo, há uma segurança: a segurança que o mistério de Deus, fazendo justiça de tudo, realizando-se, salvará tudo. Monsenhor Corti, com enorme descrição, quase que se identificando com aquela música, oferecia assim o conforto da sua comparticipação, cheia de razões, ao peso do meu dia. No abraço do peso, do cansaço, a um certo ponto o horizonte abre-se e tudo se torna leve: cansaço, dor, sofrimento físico não 5


desaparecem, mas ficamos cheios de letícia porque estamos apoiados, suportados, ajudados, amados. Da mesma forma, no itinerário descrito pelos três movimentos da sonata: o limite das coisas no final é transfigurado e já no próprio limite nós pressentimos e antegozamos o ilimitado: quase um crepúsculo, quase uma alvorada que ainda não existe, mas já está presente. Dentro do horizonte ultimamente cego ainda da nossa experiência de homens, já existe aquele ponto de fuga e Aquilo de que a realidade é sinal entra no sinal e toca-nos, solicita-nos e diz-nos: “vamos juntos”. O verdadeiro, o último, com toda a sua sugestividade, tornou-se companheiro do nosso passo cheio de peso. Como me entusiasmei naquela primeira vez, monsenhor Corti voltou a tocá-la também no Domingo seguinte, e no seguinte, durante um ano inteiro. Durante um ano inteiro, este homem, que estava ocupadíssimo com o estudo, vinte anos mais velho do que eu, esperou-me todos os domingos, às 10 da noite em ponto, quando eu chegava de comboio (ou de bicicleta) e tocava para mim a 5.ª sonata de Beethoven; durante um ano inteiro! Experimentem pensar como eu voltava, depois da terceira ou quarta vez, como voltava para o meu quarto, que pensamentos tinha, que tipo de estímulo tinha para com este comportamento de amigo! Beethoven: Sonata para piano nº 5 em Dó menor Op. 10 n.1 Allegro molto e con brio Adagio molto Finale prestissimo piano: João Maria Romeiras

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2.ª Parte: Cantos populares russos (Luigi Giussani)

Nos trechos musicais da milenar tradição oriental o povo é o sujeito de tudo, o verdadeiro protagonista: ouvindo-os, torna-se evidente a tendência a realizar uma voz que cante sozinha, mas sempre dentro de um coro. Não existe, de facto, nenhum canto de solista que não reclame o povo: assim acontece que, cantando o solista sente-se o povo, e, todavia, é uma pessoa que se exprime. Enquanto a tónica do canto ocidental é colocado na pessoa, o oriental é todo centrado no povo: o cantor solista está sempre em função da coralidade, aquilo que é característica própria da pedagogia cristã mais autêntica, pela qual todas as ações da pessoa estão em função do povo. Descobri tudo isto com comoção ouvindo os cantos populares russos, seja aqueles corais - fascinantes sobretudo pelos baixos cujas vozes são célebres em todo o mundo - seja os solistas. Quer uns quer outros têm títulos banalíssimos, como por exemplo estes: À volta do velho choupo, A velha pereira. Imaginemos a isba com a família, a pequena aldeia, a casinha que tem perto uma planta: o hino à planta, àquela planta, reassume toda a memória da vida, a própria história, os próprios pais, os próprios avós. O canto popular russo está entre as expressões mais altas da religiosidade e o testemunho mais verdadeiro da vida do povo: experiência de uma humanidade encarnada, e, ao mesmo tempo, nostalgia de qualquer coisa que existe, ainda que não se consiga imaginar. A alma russa vive segundo este modelo característico da melancolia forte e dramática - clamorosamente expressa ou só acenada como subfundo -, que se faz pressentir sem ser esclarecida. O canto é tristíssimo, mas intenso, pacato, mas sem hesitações, porque é ditado pela potência do coração que se demonstra como exigência de satisfação, como exigência comovida da felicidade que virá e que ainda não veio.

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Viecerni Svon (O som das vésperas)

Viecerni svon, (2v) kak mnoga dum navodit on.

O som das vésperas quantos pensamentos me traz.

O junich dniach v kraiu radnom, gdie ia liubil, gdie oci dom.

Recorda-me os dias da juventude da minha terra natal onde tanto amei, onde está a casa de meu pai.

I kak ia snim naviek prastias, tam sliscial svon v pasgliedni ras.

E quando me despedi dos meus para sempre ouvi aquele som pela última vez.

I skolkich niet tiepier givich tagda viesielich maladich.

E muitos deles que hoje morreram eram então jovens e alegres. Grusciza kudriavaia (A pereira frondosa)

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Grusciza kudriavaia, oi ti, kucieriavaia, ti staisc sielionaia, vieliciavaia.

Pereira frondosa Oh, tú, exuberante, Ergues-te verde imponente.

Vsio taboi liubuiuza: riecienka scirokaia, sorka iasnaia i ia, adinokaia.

Todos gozam de ti: O largo río, A clara aurora e eu, Sozinha.

Dalieko uiehal moi sinieglasii, daragoi, sierze skorai vstrieci jdiot i o niom paiot.

Foi para longe O meu amor de olhos azuis, O coração espera encontrá-lo pronto E canta sobre ele.

Gdie ti, milli, gdie ti, moi sinieglasii, daragoi, grusciza v sadu svietet nascei vstrieci jdiot.

Onde estás, meu amor, onde estás Meu querido de azuis olhos? A pereira floresce no jardim E espera pelo nosso encontro


Nie karitie mienia (Não me repreendam)

Nie karitie mienia, nie branitie, nie liubit ia ievo nie magla. Paliubit ze vsio to imiela vsio iemu ia tagda addala.

Não me repreendam, não me censurem, não pude deixar de o amar. E amando-o, deixe-lhe tudo aquilo que possuía.

Pasmatritie to stala sa mnoiu. Gdie dievais maia krasata. Gdie rumianez to sporil sarieiu. Gdie vainistih valos gustata.

Vejam o que me aconteceu. Onde acabou a minha beleza? Onde está o meu rubor, que competia com o da aurora? Onde estão os meus espessos cabelos ondulados?

Gdie devici moi smieh sieriebristi. Gdie biespiecnaia riesvast maia. Vsio iemu adnamu biesrasdieina addala bies assudnaia ia.

Onde está o meu riso argentino de criança? Onde está a minha despreocupada vivacidade? Dei-lhe tudo a ele somente, imprudentemente.

Ia gotova sabit svaie gorie i prastit iemu vsie ievo slo. Nie katitie mienia, nie branitie, mnie i tak tiazeio.

Estou pronta a esquecer toda a minha dor e a perdoar-lhe todo o seu mal. Não me repreendam, não me censurem, o meu coração está já tão oprimido.

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Svietit svietiel miésiats (Resplandece brilhante a lua lá no alto)

Sviétit sviétil miésiats, vesakó nhinhísska

Resplandece a lua no alto do céu

Tóli, sióli, tota liúchenhki maí, tota liúli, tota liúli liúli, tota liúchenhki maí

De um modo e de outro, assim, meu pequeno, adormece, adormece, assim meu pequeno

Vesakó nhinhísska, daliekô nhi blisska

No alto, não cá em baixo, longe, não perto

Kak va tchístam pôlie diefka prôssa pô- fora, no campo, a rapariga junto do liet milho Diefka prôssa pôliet biéle ruki côliet

A rapariga junta o milho e pica as suas mãos brancas.

Jalka mnhie divítsse, snhial b rukavítsse,

Custa-me vê-la assim; tirarei as minhas luvas

Snhial b rukavítsse, padaril divítsse

Tirarei as minhas luvas e lhas daria à rapariga

Chtô prôssa palôla a ruk nhi kalôla

para que apanhe o milho sem picar as mãos.

Coro de Comunhão e Libertação

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3ª parte - música popular portuguesa, cantar alentejano e fado (adaptado de várias intervenções de Luigi Giussani para o contexto específico do presente espetáculo)

O canto e a música são a expressão mais alta do homem. Expressam muito melhor os sentimentos e as exigências do homem do que as palavras porque surgem da necessidade humana: necessidade de amor, necessidade de justiça, de saúde, de beleza, necessidade de primavera. Há que recuperá-los e criá-los. Primeiro recuperá-los, depois criá-los. Ao recuperar os cantos da tradição, assimilamos todo o sabor do antigo, que por sua natureza encerra uma experiência maior e, portanto, é mais profundo do que o que se possa inventar partindo do zero. Don Giussani educou-nos num gosto e uma paixão pelos cantos populares. E isto não é uma fixação que alguns de nós temos por sensibilidade ou temperamento - ainda que também -, mas por uma riqueza que estes cantos têm e que não queremos perder. O canto popular transmite uma sabedoria, uma concepção da vida, uma humanidade. Quando se canta, a voz sai do peito e da garganta mas expressa uma consciência. «Alguma vez entraram numa casa onde havia uma jovem mãe afetuosa? É impossível que o seu filho pequeno não cantarole. Canta, cantarola, apanha não se sabe de onde certas harmonias, e tem quatro anos! É a expressão da alegria e da tranquilidade que vem de sermos amados, que vem da pertença». O povo no sentido carnal do termo, devemos reeditá-lo nós; devemos fazê-lo renascer nós, aprendendo os cantos populares de qualquer tipo, qualquer tipo, basta que sejam belos! É uma tarefa que se encomenda acima de tudo a vocês que têm esta vocação, a de voltar a despertar o coração humano dos vossos companheiros! E o instrumento para despertar o coração, o instrumento principal, é o canto.

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Cantiga do Alecrim (Alentejo)

Alecrim, alecrim doirado que nasces no monte sem ser semeado. (bis)

Ó ferreiro, guarda a filha, não a ponhas ao postigo. Anda aí um sujeitinho que a quer levar consigo.

Marião Ai meu amor, quem te disse a ti que a flor do monte era o alecrim. (bis) Alecrim, alecrim aos molhos, por causa de ti choram os meus olhos. (bis) Ai meu amor, quem te disse a ti que a flor do monte era o alecrim. (bis) Alecrim, alecrim a arder, o teu fumo é santo, junto a Deus vai ter. (bis) Ai meu amor, quem te disse a ti que a flor do monte era o alecrim. (bis) Oh ferreiro guarda a filha (tradicional portuguesa)

Ó ferreiro, guarda a filha, não a ponhas à janela. Anda aí um sujeitinho que não tira os olhos dela. Vai tu, vai tu, vai ela, vai tu p’ra casa dela. É do meu gosto, é da minha opinião, hei-de amar a moreninha da raiz do coração (bis) Ó ferreiro, guarda a filha, não a ponhas ao portal. Anda aí um sujeitinho que a quer por bem ou mal. 12

(Trás-os-Montes)

Adeus ó Vale de Gouvinhas, Marião Não és vila nem cidade, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião És um povo pequenino, Marião Feito à minha vontade, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião Hei-de cercar Vale de Gouvinhas, Marião. Com trinta metros de fita, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião À porta do meu amor, Marião Hei-de pôr a mais bonita, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião Os meus olhos não são olhos, Marião Sem estarem os teus defronte, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião Parecem dois rios de água, Marião Quando vão de monte a monte, Marião Sim, sim, Marião Não, não, Marião


Donde vens, ó Ana?

5ª feira da Ascensão

(Alentejo)

(Baixo Alentejo)

D’onde vens, ó Ana? - Venho da junqueira Cheira-me o teu lenço, ó Ana À flor da laranjeira

Venho-te dar um raminho Colhido da própria planta Por me teres dado amêndoas Quando foi Sexta-feira Santa. Quinta-feira da Ascensão Saem as moças pró campo De vestido cor-de-rosa, No chapéu um laço branco.

À flor da laranjeira, À flor do alecrim; Diz-me de onde vens, ó Ana? - Eu venho do jardim D’onde vens, ó Ana? Lenço na cintura, Não conheço andar tão firme Com tanta formosura Com tanta formosura Só os anjos do céu; Diz-me de onde vens, ó Ana? És minha e eu sou teu D’onde vens, ó Ana? Há tanto nevoeiro! - Venho de lavar a roupa, Eu venho do ribeiro Eu venho do ribeiro E estou tão cansada! Fica tu comigo ó Ana Minha rosa amada!

No chapéu um laço branco Com um raminho na mão Vêm as moças do campo Quinta-feira da Ascensão. Oliveira à luz divina O trigo simboliza o pão Alegria, saúde e força Paz e amor no coração. Quinta-feira da Ascensão Saem as moças pró campo De vestido cor-de-rosa, No chapéu um laço branco. No chapéu um laço branco Com um raminho na mão Vêm as moças do campo Quinta-feira da Ascensão.

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Fado Foi Deus (Amália Rodrigues e Alberto Fialho Janes) Voz: Susana Sequeira Mendes Guitarra portuguesa: Dinis Lavos Viola: Manuel Gama

Não sei, não sabe ninguém, porque canto o fado neste tom magoado de dor e de pranto; e neste tormento todo o sofrimento que sinto na alma cá dentro se acalma nos versos que canto. Foi Deus que deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu oiro ao sol e prata ao luar. Foi Deus que me pôs no peito um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar. E pôs as estrelas no céu, e fez o espaço sem fim; deu luto às andorinhas. Ai! E deu-me esta voz a mim. Se canto, não sei o que canto: misto de ventura, saudade, ternura e talvez amor. Só sei que cantando sinto o mesmo quando se tem um desgosto e o pranto no rosto nos deixa melhor. Foi Deus que deu voz ao vento, luz ao firmamento e deu o azul às ondas do mar. Foi Deus que me pôs no peito o rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar.

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Fez poeta o rouxinol, pôs no campo o alecrim, deu as flores à primavera. Ai! E deu-me esta voz a mim. (x2)

Fado Dizer Adeus é tão triste (Francisco Branco Rodrigues/ José da Câmara) Voz: Teresa Câmara Guitarra portuguesa: Dinis Lavos Viola: Manuel Gama

Dizer adeus é tão triste Como é triste a noite escura é dor que dói e persiste em saudade e amargura Quando alguém então nos deixa Ai, dói tanto a despedida O coração não se queixa mas perdem-se anos de vida Um Adeus dito à partida fica na alma a roer e lembra por toda a vida quem se não pode esquecer “Adeus”, palavra singela que é tão triste de verdade não há saudade sem ela nem adeus sem saudade.


Fado 5 estilos

Fado “Lágrima”

(Traditional / Silva Tavares) Voz: Carmo Moniz Pereira Guitarra portuguesa: Dinis Lavos Viola: Manuel Gama

(Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves) Voz: Carmo Moniz Pereira Guitarra portuguesa: Dinis Lavos Viola: Manuel Gama

E eu quero bem aos teus olhos Mas muito mais quero aos meus Pois, se perdesse meus olhos Não podia ver os teus

Cheia de penas, cheia de penas me deito, e com mais penas, com mais penas me levanto. No meu peito, já me ficou no meu peito esse jeito, o jeito de te querer tanto.

Se eu de saudades morrer Apalpa o meu coração Talvez eu torne a viver Ao calor da tua mão

Desespero, tenho por meu desespero dentro de mim, dentro de mim o castigo. Não te quero, eu digo que não te quero, e de noite, de noite sonho contigo.

Se os meus olhos te incomodam Quando estão na tua frente Ai! Eu prometo arrancá-los E amar-te cegamente Gosto de cantar o fado E acho que o fado tem raça E que não foi só criado Para cantar a desgraça Se tenho medo da morte Não tanto como supões Se tenho medo da morte Não tanto como supões

Se considero que um dia hei-de morrer no desespero que tenho de te não ver, estendo o meu xaile, estendo o meu xaile no chão estendo o meu xaile, e deixo-me adormecer. Se eu soubesse, se eu soubesse que morrendo tu me havias, tu me havias de chorar, por uma lágrima, por uma lágrima tua que alegria, me deixaria matar.

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4ª parte - Simplus Quando encontrei o movimento já tínhamos gravado o nosso primeiro disco. Estou convencida de que, do meu lado, teria ficado por ali se não se tivesse dado este grande encontro. Porque não teria nada para dizer aos outros. No encontro com o Carisma de Don Giussani tornou-se para mim experimentável que é a Fé que faz viver. Nós cantamos porque nos aconteceu qualquer coisa de grande que queremos dizer a todos. Maria Durão

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Amália

Por dentro de um abraço

Simplus

Simplus

Quando me dás a tua voz Fico cheia de tempo Pouso os braços e o pensamento Num ritual discreto e lento Feito de sede e de pedido

Esperas um dia diferente Esperas um dia alcançar Esperas da tua força Esperas do teu esforço a paz E os dias são todos um suportar

Quem és tu? Que acordas o que estava escondido Por trás das palavras usadas e gastas Pelo repetir-se dos dias?

Olhas p’ra dentro Pensas saber em detalhe Aquilo que podes mudar Sobes as escadas e vês Que há sempre mais um passo a dar

Quando me dás a tua voz Abres a janela dum lugar Levantas o véu de qualquer coisa E és mensageira da misericórdia Que desce com força Sobre mim.

Mas ainda não morreu em ti A lembrança dum lugar Onde ser é mais que conseguir Onde aprendeste a esperar Ainda podes ser leal Ainda podes e podes sempre Viver por dentro dum abraço Viver nascendo a cada instante De um amor que te lança mais alto


Apresentação dos artistas

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João Maria Romeiras

Teresa Câmara

Pianista português nascido em Lisboa a 10 de Julho de 1988. Começou a aprender Piano com o Pai, Francisco Maria Teixeira Malta Romeiras aos 5 anos. Aos 9 anos ingressa na Escola de Música do Conservatório Nacional, concluindo os seus estudos sob a orientação de Ana Sousa Lima e Anne Kassa. Conclui a Licenciatura e o Mestrado em Piano no Instituto Piaget sob a orientação da Pianista e Professora Tânia Achot, a sua maior influência enquanto pedagoga e intérprete de música clássica. Para além de pianista e compositor, é também professor há mais de 10 anos. Passou por diversas instituições de ensino, tais como o Conservatório de Música de Minde, Conservatório de Música de Leiria, Escola de Música do Conservatório Nacional, entre outros. Atualmente é gestor e Professor de Piano, na Academia de Música do Colégio de S.Tomás em Lisboa, da qual é também fundador. É pianista residente no Hotel Avenida Palace em Lisboa. Tocou em diversos palcos como a Casa do Alentejo, Clube dos Jornalistas, Grémio Literário, Teatro Trindade, Teatro Tivoli. Participou em diversos concertos a solo, com vários tipos de agrupamentos de música de câmara e com orquestra. Tocou com músicos como André Costa, João Espirito Santo, Inês Amano, Nuno Vilalonga e Francisco Sasseti.

Teresa da Câmara Fonseca, de 26 anos e natural de Lisboa, descobriu o fado através da sua família. Rodeada de vários géneros musicais desde a sua infância, estreou-se, aos 11 anos a cantar fado com “A moda das tranças pretas” no lançamento do livro do seu avô. Com 15 anos, começou a frequentar casas de fado e é incluída no projecto “Câmara, um nome, três gerações”, através do qual percorre o país com um espectáculo em família. Canta, atualmente, em diversas casas de fado em Lisboa, conjugando o fado com a sua profissão de professora de 1.º ciclo. Em breve apresenta o seu álbum de estreia, intitulado “Lugares”, um projeto levado a cabo em parceria com a SPA e o Museu do Fado.


Carmo Moniz Pereira

Simplus

Neta d’”o Professor” e compositor de grandes fados, Mário Moniz Pereira, Carmo é fascinada pelos fados desde sempre. Aos 14 pisa pela primeira vez um palco, aos 17 cantava semanalmente em duas casas de fado. Em 2007 leva o fado a outros países, como Roménia, Turquia, Marrocos, Cabo Verde, Espanha e ganha o prémio “Maria Severa” do concurso “Há Fado na Mouraria”. Em 2009 juntou-se ao elenco de uma das casas de fado mais prestigiadas de Lisboa, o “Clube de Fado”, ao lado de conhecidos nomes do fado como Cuca Roseta, Maria Ana Bobone e Rodrigo Costa Félix, e funda o projecto “Fado Rezado” com Francisco Salvação Barreto, Matilde Cid, Dinis Lavos e Manuel Gama; missa fadista um domingo por mês, então na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação em Lisboa. Em 2018 participa na edição de um CD do projeto Fado Rezado e em 2019 edita o seu próprio CD de autor, “Entrega”. Durante estes anos, Carmo formou-se em Economia e Gestão pela Universidade Nova de Lisboa, é gestora, casou-se e tem três filhos.

Os Simplus são um grupo composto pelos primos Maria Durão e Luís Roquette, que acaba de editar o seu 6º disco, “Levanta-te”, em Março de 2022 . Com quase 20 anos de existência, contam com uma participação no Rock in Rio de 2004 e com um tema na banda sonora da telenovela “A Outra”(2008), da TVI. Vários nomes da música portuguesa se juntaram aos Simplus no decorrer da sua história, seja através de participação especial em discos (Tozé Brito - disco “Entrega”, Diana Castro - disco “Cada vez mais Tu”, Francisco Salvação Barreto - “Cada vez mais Tu”, Bernardo Couto - disco “Quero-te Mais”), ou marcando presença em concerto (Tiago Bettencourt - Teatro da Trindade, Cuca Roseta - Teatro da Trindade, Joana Espadinha - Teatro Gil Vicente, Peu Madureira - Teatro da Trindade).

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Coro de Comunhão e Libertação O coro de Comunhão e Libertação nasce da expressão da gratidão pelo encontro gerado através do Movimento Comunhão e Libertação e tem como objectivo contribuir para a beleza nos encontros do mesmo movimento através do canto e da música coral. Don Giussani dizia “ O início do canto no Movimento coincide com o início do Movimento. Não há diferença. Nasce o Movimento e canta-se.” O coro da Fraternidade de Comunhão e Libertação de Portugal nasceu em 1990, pouco depois de começar o Movimento em Portugal, e tem apresentado diversas composições ao longo dos anos, partindo da disponibilidade de cada um que, a cada momento, decide dar o seu tempo para o construir. Atualmente tem cerca de 15 elementos aos quais se junta para a ocasião do presente concerto o Coro dos Universitários de Comunhão e Libertação que conta com cerca de 20 elementos. Estes coros apresentam-se regularmente nos gestos do Movimento de Comunhão e Libertação contando tanto com reportório sacro como ligeiro. O momento com maior visibilidade exterior é a anual Via Sacra pelas ruas da Baixa Chiado em Lisboa.

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Sopranos

Contraltos

Tenores

Joana Ramos Maria Pignatelli Margarida Vieira Maria Douwens Rita Iap Mariana Lopes Catarina Abranches Pinto Teresa Soares Mendes Joana Quintela Ana Lúcio

Maria Seabra Duque Constança Duarte Matilde Santos Filipa Azevedo Neves Rita Boleto Inês Avelar Santos Teresa Quintela Sara Fonseca Maria Sousa Mendes Margarida Pacheco de Amorim Leonor Frazão Catarina Duque Margarida Marim Sara Gomes

José Leitão Diogo Lúcio Gonçalo Santos Lourenço Douwens Pedro Martin João Gama Matheus Alcântara Miguel Gouveia Nuno Santos Duarte Madeira

Baixos

Direção

Miguel Arriaga e Cunha Ricardo Saldanha Paulo Rebelo Luis Castro Reis Luis Martins Lourenço Baptista Pedro Douwens

António Moniz Pereira Leonor Frazão Margarida Vieira

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Agradecimentos

EGEAC - pela cedência da sala, meios e equipas técnicas e por todo o apoio prestado ao longo de todo o processo de conceção e montagem do espetáculo. Rafael Andreo - Conceção do espetáculo, seleção dos textos e ajuda na adaptação para o presente espetáculo. Artistas convidados: João Maria Romeiras, Teresa Câmara, Carmo Moniz Pereira, Simplus, Dinis Lavos, Manuel Gama. Coros da Fraternidade e dos Universitários de Comunhão e Libertação, ao maestro António Moniz Pereira e a todos os que colaboraram na execução do presente espetáculo.

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©EstelleValente

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