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A VISITA A V I S I T A m a r ç o 2 0 1 3 s ã o l u i z t e at r o m u n i c i p a l

© VICTOR HUGO PONTES

Quem n ão pode pagar , tem de aguentar, se quiser entrar na dança. Voc ê s querem entrar na dança.

E eu protesto. Energicamente. Neste pa í s ningu ém acciona o sinal de alarme. mesmo em caso de alarme!


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Uma cidade arruinada espera a visita da mulher mais rica do A Visita mundo. Todas as esperanças da Velha se concentram na possibilidade Senhora de um resgate que refinancie Uma comédia a economia local e permita trágica de Friedrich à cidade viver o conforto e a Dürrenmatt opulência que já conheceu. E a visita começa por correr bem, tudo parece apontar para que o resgate aconteça. Porém, o preço a pagar é muito alto e há-de fracturar a sociedade local. 30 mar Centro Conhece esta história? Cultural 7 a 27 Mar são luiz teatro municipal

Quarta a sábado às 21h00 Domingo às 17h30 Sala Principal; m/12 Sessão com interpretação em língua gestual portuguesa: 24 Mar, às 17h30 Preçário: €13 a €17, com descontos: €6,50 a €11,90 Duração: 2h30 com intervalo

Vila Flor

Sábado às 21h30 Grande Auditório

10 a 14 jul Teatro Nacional São João

Quarta a sábado às 21h30 Domingo às 16h00

Tempo. Futuro. A Propósito d’A Visita da Velha Senhora Segunda às 21h00 Jardim de Inverno Entrada Livre

11 Mar Polis. Cidadania. Governação.

Conversa com José Gomes André, António Filipe, Daniel Oliveira Moderação de Nicolau Santos

Encenação Nuno Cardoso Tradução João Barrento Assistência de encenação e Movimento Victor Hugo Pontes Cenografia F. Ribeiro DESENHO de luz José Álvaro Correia Styling/Figurinos StoryTailors Música original Rui Lima Sérgio Martins Produção ao cabo teatro Carla Moreira Hélder Sousa Produção companhia maior luís moreira Interpretação Maria João Luís Horácio Manuel Cândido Ferreira Luís Lucas Tónan Quito Pedro Frias Daniel Pinto João Melo e Companhia Maior António Pedrosa Carlos Nery Celeste Melo Cristina Gonçalves Diana Coelho Helena Marchand Isabel Millet Isabel Simões Iva Delgado Jorge Falé Júlia Guerra Kimberley Ribeiro Manuela de Sousa Rama Paula Bárcia VÍtor Lopes

18 Mar Economia. Justiça. Direitos Humanos.

Conversa com Pedro Santos Guerreiro, António Garcia Pereira, Joana Gomes Cardoso

São Luiz Teatro Municipal Director Artístico: José Luís Ferreira; Gestora / Adjunta da Direcção Artística: Aida Tavares; Adjunta de Gestão: Margarida Pacheco; Secretariado de Direcção: Olga Santos; Direcção de Produção: Tiza Gonçalves (directora) Susana Duarte (adjunta) Mafalda Sebastião; Direcção Técnica: Hernâni Saúde (director) João Nunes (adjunto) Sérgio Joaquim (adjunto); Iluminação: Carlos Tiago, Ricardo Campos, Ricardo Joaquim, Sérgio Joaquim; Maquinistas: António Palma, João Nunes, Paulo Mira, Vasco Ferreira; Som: Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes; Encarregado geral: Manuel Castiço; Secretariado Técnico: Sónia Rosa; Direcção de Cena: José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (assistente); Direcção de Comunicação: Ana Pereira, Nuno Santos; Bilheteira: Cidalina Ramos, Hugo Henriques, Soraia Amarelinho; Assistentes de Sala: Carlos Ramos, Delfim Pereira, Domingos Teixeira, Hernâni Baptista, Joana Batel, João Cunha, Leonor Martins, Mafalda Tavares, Paulo Rebelo, Severino Soares; Segurança: Securitas; Limpeza: Vivalisa


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do TEATro Vê-SE A cIdAdE José luis ferreira

D I r e c T o r A r T Í S T I c o S ão l u I z T e AT r o m u n I c I pA l

co-Produção

Teatro Municipal

aPoio

ParcEiro EdiTorial

agradEciMEnTos Agostinho Feixeira – Móveis e Velharias Atelier Real Câmara Municipal de Lisboa Direcção Municipal de Ambiente Urbano / Divisão Iluminação Pública Celso Costa Carlota Maricato Cristina Vidal Daniela Costa Dinis Pedroso Fundação EDP Mundo Perfeito M Ventura & Partners Paula Braga – Centro de Documentação TNSJ Teatro da Trindade – Fundação Inatel

A VISITA Director José Luís Ferreira coordenadores Ana Pereira Rui Cintra colaborações António Garcia Pereira Elísio Estanque Luís Gouveia Monteiro Pedro Santos Guerreiro Rui Cintra Design Silvadesigners Fotografia José Frade Victor Hugo Pontes Tiragem 5000 exemplares Impressão Dilazo

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o teatro vê-se a cidade. Do teatro, aliás, não se vê senão a cidade. O teatro serve-nos de lugar de ensaio, de encontro surpreso e maravilhado com as outras hipóteses do real. Quando fazemos teatro, não fazemos política, mesmo que o modo irónico que escolhemos para comunicar este projecto se inspire em formas próximas da propaganda. Não fazemos política, porque não nos cabe e porque a linguagem das artes é uma outra, onde a poesia, a ficção, a forma, nos empurram para outro campo que não o da intervenção imediata. Mas, quando fazemos teatro, fazemos cidadania. Juntamos pessoas, homens e mulheres concretos, extraímo-nos à rotina dos dias e inventamos um espaço comum onde o riso e a inteligência das coisas se juntam. E isso pode ser poderoso. A Visita da Velha Senhora é um texto com quase sessenta anos. Um clássico do repertório do século XX, portanto. A forma aguda, sarcástica, como nos fala de nós e de hoje é o sinal da sua permanência, da sua capacidade para legitimar e autorizar uma série contínua de possibilidades e releituras. A Visita da Velha Senhora é uma comédia que ensaia, num discurso ferozmente lúdico, uma visão desapiedada da nossa capacidade de reinvenção quando chegamos à encruzilhada. É uma comédia trágica, mas não uma tragédia, porque a tragédia precisa de heróis e aqui não há senão uma cidade confusa cujos valores aparentes se desmoronam perante a pressão da necessidade. Este é um projecto improvável. Nos dias que correm, juntar um elenco assim notável, em qualidade e expressão numérica, exige uma confluência particular de desejos e recursos. É assim que dois teatros públicos e duas companhias independentes se encontram para tornar concreta uma possibilidade mais rica do que o confinamento a que a criação artística parece condenada. Saúdo todos, mas reservo uma palavra especial para a Companhia Maior, lugar de encontro generoso entre cidadãos maiores deste país e o risco permanente da criação artística contemporânea. Este programa em forma de jornal situa-se já num outro campo. Se o teatro é o teatro, é possível extrair-lhe, em paralelo, as linhas de discussão que nos propõe. Pedimos então a colaboração de alguns especialistas das rubricas que costumam povoar os jornais a sério. O desafio, cumprido por cada um com toda a liberdade, era partir da peça para questionar os efeitos reais, profundos, do estado de excepção que vivemos. O resultado está à vista. E pode também ser ouvido e discutido no programa de conversas que acompanha o espectáculo. Hölderlin perguntava «para que servem os poetas em tempos de indigência». Para nos mostrarem, talvez, que a indigência não faz de nós indigentes. Ou para nos ajudarem no prazer e na responsabilidade que são o culto da vida e do teatro da vida.


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Dürrenmatt e o teatro rui cintra

© JOSÉ FRADE

Dürrenmatt continua a ser um velho desconhecido entre nós. Construiu uma obra teatral resultante de encruzilhadas: entre Brecht e o expressionismo, entre o existencialismo e o absurdo, entre a comédia e a tragédia. A sua escrita enraíza-se tão profundamente na história do século XX que consegue libertar-se da própria temporalidade.


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O mundo que constrói nas suas peças mostra quase sempre a constante descrença nas qualidades humanas e reafirma o destino trágico da humanidade.

Vi da Friedrich Dürrenmatt nasceu em Konolfingen, Suíça, em 1921, filho de um pastor protestante e neto de um conselheiro federal, autor de poemas satíricos que lhe valeram dez dias de prisão e que terá tido influência directa no despertar para a escrita do jovem Dürrenmatt. Na adolescência, Dürrenmatt interessa-se por teologia e filosofia. Os seus estudos decorrem entre Berna e Zurique. Lê Kierkegaard, Aristófanes, Kafka, Trakl, Ernst Jünger. Mas é também atraído pela pintura, actividade que a partir de então irá alternando com a escrita para “para manter os demónios à distância”, segundo dizia. Amigo de Max Frisch, com quem fará a mais importante dupla de dramaturgos suíços de língua alemã, submete-lhe a primeira peça, Está Escrito, que leva Frisch a vaticinar-lhe um futuro promissor como dramaturgo. No entanto, a peça provocou escândalo ao retratar os anabaptistas durante o período da Reforma e foi retirada de cena ao fim de alguns dias. A consagração não tardou, com a estreia de Rómulo, O Grande (1950), O Casamento do Senhor Mississipi (1952), e sobretudo com A Visita da Velha Senhora (1956) e Os Físicos (1962), projectando o seu teatro internacionalmente. Em 1970 pretendeu abandonar a escrita teatral desejando ficar-se pela adaptação de peças existentes, como aconteceu com A Dança da Morte, de Strindberg, resultando em Play Strindberg, ou com o Woyzeck. Escreveu ainda reflexões sobre teatro, ensaios, teatro radiofónico e romances policiais. Morreu em 1990 na sua casa em Neuchâtel.

E m Portugal

I n fluê nc ias O mundo que constrói nas suas peças mostra quase sempre a constante descrença nas qualidades humanas e reafirma o destino trágico da humanidade. Os diálogos curtos e telegráficos (levados ao extremo na peça O Colaborador), a introdução de elementos de grotesco (não seria abusivo evocar aqui os elementos caricaturais dos seus desenhos) e a subversão da lógica linear sempre presente nos seus textos levaram os analistas da sua obra a verem aqui a influência do expressionismo alemão a par de elementos brechtianos que o autor nunca negou. Porém, a sua dramaturgia, ainda que recorra a elementos de distanciação (a canção de Mathilde, outra Clara Zachanassian, n’Os Físicos, por exemplo) despe-se, no entanto, dos elementos ideológicos e “didácticos” característicos do teatro de Brecht. Nesse sentido restam apenas os elementos cruéis e trágicos que Dürrenmatt faz questão de manter bem patentes ao olhar do público.

Alfred Ill e Clara Zachanassian, todos os outros são tipos (o professor, o médico, o polícia) ou têm alcunhas absurdas (Roby, Loby, Koby, etc.), sendo-lhes negada qualquer densidade psicológica para além da necessária para servir o enredo. Outro dos elementos recorrentes no teatro de Dürrenmatt prender-se-ia com um certo pendor existencialista, dando conta de uma certa ironia existencial (aqui não seriam indiferentes as leituras de Kierkegaard da juventude). Tal poderia ser identificado na absoluta solidão de Alfred quando decide oferecer-se em sacrifício. Mas sobretudo o que ressalta é a dimensão trágica das suas peças. Não num sentido comum de tragicidade, mas num sentido já adivinhado nas peças de Sófocles, onde o humano se vê confrontado na sua autonomia, senhor da sua acção e só face ao seu destino, relegando os deuses para lá das coisas humanas. A tragédia seria o preço da liberdade.

A Vi sita O tema de A Visita da Velha Senhora não é propriamente novo. Em O Inimigo do Povo, de Ibsen, já se assiste à corrupção moral da cidade perante o poder económico e à subversão dos valores. Porém, se Ibsen funciona num registo naturalista, no texto de Dürrenmatt a subversão desses mesmos valores é posta a nu através do recurso a elementos caricaturais e absurdos (autores há que aproximam o teatro de Dürrenmatt ao de Ionesco e, portanto, ao “teatro do absurdo”). As personagens surgem estilizadas. Em A Visita só as duas personagens principais possuem nome,

O único registo encontrado da apresentação de A Visita da Velha Senhora em Portugal remonta a Março de 1960, levada à cena no Teatro D. Maria II pela companhia Rey Colaço – Robles Monteiro, com direcção do encenador espanhol Cayetano Luca de Tena (19171997). A peça contou com Amélia Rey Colaço no papel de Clara e Erico Braga no papel de Alfred, e nela participaram ainda Varela Silva, Curado Ribeiro, Jacinto Ramos e Irene Cruz, entre outros. Apesar de tecer elogios à peça, Carlos Porto, na crítica que fez do espectáculo, identificou a necessidade de trazer um encenador estrangeiro para resolver, mais uma vez, a proverbial ausência de competências nas áreas de encenação. No entanto, não deixou de louvar a directora da companhia pela coragem de levar ao palco um texto como este. A recepção do espectáculo terá sido algo fria, fazendo Carlos Porto o seguinte diagnóstico: “peça a que o público parece não aderir por múltiplas razões, que vão desde a dificuldade do texto à falta de contacto com teatro autenticamente moderno”. De resto, Dürrenmatt não tem sido um autor muito procurado pelas companhias nacionais. A sua peça mais representada foi a adaptação que fez de Strindberg, Play, Strindberg (levada à cena pela Casa da Comédia, 1972, Seiva Trupe, 1990, e Companhia de Teatro de Sintra, 2008). Já Os Físicos também tiveram direito a apenas uma encenação pelo Cénico de Direito em 1971. O Colaborador teve direito à versão do Teatro do Noroeste, 2001. E, mais recentemente, O Sósia foi levado à cena pelo Caracol de Corrida em 2011. Meteor, outra das suas peças mais aclamadas, nunca subiu aos palcos nacionais.


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“já n ão estamos em Portugal, estamos num sítio bizarro” nuno cardoso Nuno Cardoso, 42 anos, actor, encenador e professor de teatro, conta como agarrou este novo projecto, quais os desafios que encontrou e fala dos compromissos que assumiu com um texto que se cola à nossa realidade.

entrevista de rui cintra


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Como nasceu a ideia de levar à cena A Visita da Velha Senhora?

Pensou na situação actual quando aceitou esse convite?

Surgiu na altura em que propus ao São Luiz ser co-produtor do Medida por Medida, de Shakespeare. Nessa altura interessava-me mostrar os jogos de poder, os esquemas e o modo como a responsabilidade política é vista. O José Luís Ferreira falou-me então de A Visita da Velha Senhora e de como as temáticas se cruzavam. Eu já tinha visto a peça, sabia que tinha sido uma das fontes de inspiração para o Dogville, de Lars Von Trier, e pouco mais.

Indiscutivelmente a peça é uma metáfora sobre a nossa situação. Não se pode dizer que seja uma analogia total, não é uma coisa que se encaixe completamente com o momento actual, mas a cruxis da peça remete, de facto, para o ponto em que estamos, e de alguma forma o que acontece na peça tem que ver com o que nos aconteceu nestes anos democráticos. No geral, a peça pareceu-me muito justa e, a fazê-la, tinha de ser agora. Ajustava-se àquilo que sinto e vejo como cidadão nos dias de hoje. Pareceu-me a peça perfeita.

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Qual foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça quando leu a peça? A primeira coisa que senti foi uma enorme vontade de rir com algumas coisas. A peça é aparentemente muito leve, mas é extremamente irónica. Isso agradou-me. A primeira imagem que tive foi a de uma procissão, um mural, uma banda desenhada. E na realidade não mudou muito desde aí. Foi a partir dessas imagens que começámos a trabalhar. Há um jogo quase sardónico com as pessoas, a maneira como falam das instituições democráticas. Achei que fazia uma excelente ligação com o nosso trabalho imediatamente anterior, o Medida por Medida. Já tinha encenado a Boa Alma de Sechuan, de Brecht, e encontrei muitas ressonâncias entre os dois textos. Por outro lado, gostei muito da carpintaria teatral. Há neste texto uma artificialidade muito justa que o aproxima ainda mais do seu conteúdo. Isso torna-o mais certeiro do que se tivesse havido uma naturalização ou uma intenção claramente metafórica ou ilustrativa. Nesse sentido, achei a peça muito enxuta. É como se fosse uma peça de Brecht, mas sem a carga ideológica. Além disso a própria figura do Dürrenmatt é-me cara...

Como se deu o encontro com a Companhia Maior?

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E porque é que lhe é cara? Não só porque é um multitasker, escreve, pinta, desenha, mas porque é um individualista. Normalmente aprecio pessoas com um carácter próprio, que se bastam a si próprias. Não de uma forma egocêntrica, mas pessoas que vêem a vida um bocadinho na oblíqua e não através de linhas rectas. Achei-o um personagem, pelo menos na ficção que faço dele, muito interessante. NC

Ao ler a peça tive a sensação de que não a podia fazer com um elenco sem memória. Ou seja, para falar do nosso quotidiano não podia trabalhar com actores que não tivessem sido adultos nos últimos 30 anos e que não tivessem participado, com a lucidez e as obrigações de adultos, nas decisões que tomámos nestes últimos 30 anos e que nos trouxeram até aqui. Quando li a peça, Güllen surgiu-me como uma cidade desvitalizada, e isso levou-me a querer trabalhar com um elenco que tivesse mais de 60 anos. Quis criar um contraponto entre alguns dos actores que trabalham no Ao Cabo Teatro e que me são próximos, têm a minha idade ou são mais novos, e que de alguma viveram outra coisa. Como seria esse confronto? Há dois grupos distintos na peça. Há os habitantes de Güllen e os que acompanham a velha senhora e que vêm de fora. A velha senhora é de Güllen, Koby e Lóby são de Güllen e o mordomo era juiz em Güllen, enquanto que o Roby e o Toby, os dois assassinos de Manhattan, os maridos ou os jornalistas, são de fora.

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A velha senhora é a factura que arrasta atrás de si a memória de todas as nossas acções passadas.

Sobre a opção de o cenário ser uma rua. A rua é a cidade. Há um texto do Dürrenmatt em que ele diz que pretende fazer um teatro de objectos, onde o actor, através de adereços, consegue criar a história. Nesse sentido optei por criar um espaço de jogo em que o próprio actor vai manipulando objectos e criando os espaços e contando histórias. Isso dá um tom e um ritmo à peça que resvala entre o grotesco e o burlesco e que remete para essa capacidade, que todos temos, que é a de quando estamos a manipular objectos estarmos muito próximos das crianças. Tudo é possível, a transformação torna-se possível. Houve um esforço para que todos os objectos fossem reais e retirados de um mundo real, de Lisboa. Daí o banco da estação ser um banco de estação. Esta rua é esta cidade onde tudo se joga.

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Um texto como este perdura na história porque nos exige um compromisso.

que existe em todos nós, portugueses. Não estou a falar de emigração. Mas de uma vontade de deitar isto para trás das costas e ir para algum sítio começar de novo. Ir para aqui, para Portugal. Porque nós já não estamos em Portugal, estamos num sítio bizarro. No terceiro acto da peça há um último pedido de renegociação da dívida, se quisermos. Há um último estertor de lucidez moral por parte do professor, que tem que se embriagar para assumir essa posição moral, e a partir daí o desfecho é inevitável. Parece haver também um elemento de sacrifício de Alfred Ill... Mas o truque não está aí, o truque está no que o professor diz: “Vão matá-lo e também sei mais do que isso, é que eu também faço parte das pessoas que o vão matar, e ainda sei mais, sei que daqui a uns anos uma outra velha senhora vai chegar e pedir-nos responsabilidades daquilo que lhe vamos fazer a si”. Isto, para mim, é a frase chave do texto. Não é muito valorizada porque está no meio de um aluvião de palavras. Nós estamos aí, pessoalmente, considero-me aí. Não na morte do Alfred Ill, mas no ponto em que chegou uma outra velha senhora a lembrar-me que eu matei o Alfred Ill e a pedir-me responsabilidades sobre isso.

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Portanto o tempo do espectáculo é o aqui e agora. Sim. Em 2013 o sítio do espetáculo não é o do plano Marshall, nem os resquícios da guerra. É um sítio estranho. Um sítio onde há uma catástrofe sufocada, muda, não reconhecida como tal. Essa catástrofe sem nome foi a da crise mundial, a queda dos subprimes, a hecatombe dos bancos e o seu desdobramento para a Europa através de um efeito dominó que pôs em causa aquilo que não está bem construído: as instituições europeias. Tudo isto estava assente numa superestrutura que aguentava enquanto havia dinheiro, feita de burocracia e de um conjunto de traves mestras que disfarçavam tudo. Ao haver esta hecatombe desapareceram, e foi então que os nacionalismos vieram ao de cima e começaram a mostrar os dentes às pessoas.

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Há um momento na peça que me parece central que é o da partida de Alfred Ill para a Austrália, aí tudo se pode inverter, mas nada acontece. Parece que por um lado há uma ameaça latente, mas por outro uma espécie de autocensura... São as duas coisas. Nós não podemos fugir de quem somos, não podemos fugir ao que criámos. Usando Portugal como exemplo, a situação em que estamos fomos nós que a criámos. Não estou a falar da dívida, estou a falar da falta de cidadania, do esboroamento da reputação do sistema político, da total distância entre o exercício do poder e as pessoas sobre as quais o poder é exercido. Nesse sentido não podemos fugir à nossa responsabilidade sobre isto. E ao criticarmos o governo ou ao não, ou ao sermos passivos, estamos a tentar fugir. Mas não conseguimos. Para onde iríamos? Esta vontade de partir para a Austrália penso

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Há uma outra dimensão da peça que se prende com um certo grotesco e que de certa forma as personagens assumem. Eu gosto do grotesco. Não é por acaso que o Medida por Medida já tinha esse registo. O grotesco é, para mim, um mecanismo de distanciação e de recontextualização, é acima de tudo um mecanismo não ideológico e imemorial. Se virmos bem, o grotesco faz o contraponto à tragédia. Era usado na Idade Média NC

como consciência moral de quem exerce o poder e materializava-se na figura do bobo. E, extrapolando um pouco, podemos encontrar também o bobo contemporâneo na performance art e no happening. A passagem de um registo naturalista para um registo grotesco, a hiperbolização de uma cena para servir, não de ilustração, mas de contraponto, de catalisador de um pensamento, é-me muito cara. Tenho para mim a ideia de que um texto de repertório, como é o caso deste, é iminentemente um texto de acção. Onde é impossível não agir. É um texto que nos pede uma opinião. Esses textos perduram na história porque nos pedem um compromisso com um ponto de vista na sua leitura. E isso está muito presente n’ A Velha Senhora. O modo aparentemente simples e livre como o autor usa as várias valências fazem com que o texto seja tão rugoso que chegue a ser provocador. Essa provocação pede-nos uma tomada de opinião. Este espectáculo é a minha opinião e a do elenco. Botho Strauss tem um texto onde diz que um texto de teatro é como um corredor cheio de portas, nós abrimos uma, e ficam todas as outras por abrir. Cada porta é uma opinião e cada opinião é sempre questionável. Finalmente quem é a velha senhora? No texto, ela diz várias coisas: uma menina de tranças ruivas, que saiu da cidade com um fatinho à marujo a chorar e grávida. A velha senhora é a rapariga que estava num bordel onde conheceu o Zachanassian. É bom saber que este nome resulta de uma mistura entre Zacharias, Onassis e Gulbenkian, três figuras do capitalismo da época. Zacharias Zaharoff era traficante de armas, Onassis, o grande armador grego, e Gulbenkian, o barão do petróleo. É desta síntese que surge o nome Zachanassian. Através do sexo ela apodera-se da grande fortuna e depois regressa à cidade. Vem como um ser todo reconstruído artificialmente, com uma perna e uma mão artificiais. Pode-se dizer que ela é a vingança, que é uma Parca, que é o símbolo do capitalismo selvagem, da crueldade, da superestrutura económica invisível que nos rege a todos, que é isto ou aquilo. Mas não, ela é a factura, a factura que arrasta atrás de si a memória de todas as nossas acções passadas.

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economia

clara, clarinha pedro santos guerreiro J o r n a l ista , D i r e c t o r d o J o r n a l d e N e g ó c i o s

Esqueça os caracteres chineses, que o mundo pós-Kennedy repete mas não pratica. A crise, a palavra crise, tem origem grega, o que também nada explica. A explicação não está noutros, está em nós. Se nos propusessem resolver a desdita matando alguém já teríamos aniquilado a espécie humana.

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alvez tenha sido na verdade matando que chegámos às portas da crise, desta crise que ainda não tem nome histórico mas já tem história para ter nome. Matando o que comemos quando queremos comer mais, mais que baste, mais que outros, mais que antes, mais que tudo. Matando o depois para ter já. Matando valores para ter preços. Tudo tem um preço. Um homem não tem preço? Uma multidão tem. Não se tem medo das alturas quando só se olha para cima. Quando, finalmente, olhamos para baixo com terror, perguntamos “quem foi, quem foi que fez isto?”. Culpamos a desregulamentação como se fosse problema de lei. Apontamos aos mercados como a um matadouro. Dizemos que é ganância

como se fosse coisa alheia. “Eu bem te disse que eles sempre acabam por ter ambições”, conclui a velha. A velha é rica e está feia mas, ao contrário da dona Prudência de William Blake, não está solteirona nem é cortejada pela impotência: come carne de marido e bebe sangue de mundo. Por fastio. Por capricho. Por vingança. Por missão. Por consumição? A velha é superpotência, é a mulher mais rica do mundo, e regressa à cidade falida para a salvar, 45 anos depois de de lá ser escorraçada por gravidez não correspondida. Era ruiva. Saiu nova para uma velha profissão. Regressa velha para uma nova procissão. A procissão de um morto. A Clara, a Clarinha, a mais-que-tudo de quem não tem nada, quer um morto no caixão. O morto há-de ser o catita daquela cidade, cabrão que ela amou 45 anos antes e a trocou por mercearia, deixando-a com uma engenhoca nos braços

como o engenheiro que sempre não era engenheiro de Alexandre O’Neill. O cabrão virou estimável, mas a mulher amar na palha não podia, menos ainda se por prazer. “Fungar, fungues tu ainda hoje no inferno com o Diabo a cavalo!”, dizia outra velha em Terras do Demo, de Aquilino Ribeiro, ao ouvir o arfar e os gonzos a chiar no quarto ao lado. “Cabra! Grande coira! Não te emprenha o ladrão para saberes o que custam gostinhos!” A Clara, a Clarinha, foi prenha conhecer os gostinhos: vendeu-se a homens e depois comprou-lhes o mundo para dele fazer bordel e os bordéis, dizem os provérbios do Inferno de Blake, constroem-se com os tijolos da Religião. A Religião benze a fronte, a Economia encolhe os ombros, a Justiça lava as mãos, a Política põe o corpo todo no fogo. O diabo do dinheiro já começou a barganha das almas, é uma questão de tempo. É esperar: o arrobo impulsivo da ética


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desabará com o que antevêem os olhos, que são mais que a barriga esfomeada. Se já houve mercador que em Veneza cobrasse por juro uma libra de carne, por que não haveria a Clara, a Clarinha, bem-vinda Clarinha!, de pedir corpo inteiro por um bilião? É o Direito, expressão da Justiça na conveniência do seu tempo, que ensina a diferença entre actos e factos. Cedo a moral cederá e a dúvida já não será se o homem morre mas saber quem o mata. Um facto: um homem morre. Um acto: matá-lo. A multidão, que primeiro é alumiada pela recompensa, cega depois a propiciar a execução. Aqueles que Orwell viu transformarem-se em porcos vivem – e matam. (Já a imprensa, que tem o poder de descobrir, expor e nisso proteger, deslumbra-se com pouco se se acomoda na sala de jantar.) E assim uma multidão tem preço porque dilui a culpa e dissolve a autoria: num pelotão de fuzilamento nenhum soldado sabe que espingardas têm balas. “Um cadáver não vinga as injúrias” (Blake). Negócio fechado. É claro que A Visita da Velha Senhora é uma peça para este tempo. As comparações são irresistíveis num território desocupado de poder como está (e vai sendo) Portugal. Falamos de uma cidade que empobreceu depois de lhe terem comprado “aparelho produtivo” para o desmantelar; a Velha Senhora põe e dispõe e tem até nome angélico; o resgate impõe condições austeras, as instituições torcem-se com a devida vénia. Eis uma cidade empobrecida que inventa uma nova prosperidade a crédito, feita do que se vende e não do que isso rende. “Toda a cidade faz dívidas a torto e a direito. E o bem-estar da colectividade aumenta com as dívidas.” Perdão? “Precisamos de crédito, precisamos de confiança e de encomendas!” Mais nada. Ou mais isto: o teatro como pedagogia não do “funcionamento” da economia mas da demagogia que ela viabiliza. Em Santa Joana dos Matadouros, que Bertolt Brecht escreveu durante uma crise que ficou com o nome histórico de Grande Depressão, há uma deslição de humanidade em cima de um explícito funcionamento da “economia de mercado”. Isto é: dos mercados.

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Talvez tenha sido na verdade matando que chegámos às portas da crise, desta crise que ainda não tem nome histórico mas já tem história para ter nome. Tudo tem um preço. Um homem não tem preço? Uma multidão tem. A Religião benze a fronte, a Economia encolhe os ombros, a Justiça lava as mãos, a Política põe o corpo todo no fogo. O diabo do dinheiro já começou a barganha das almas, é uma questão de tempo.

Também Friedrich Dürrenmatt viveu a Grande Depressão mas foi depois da Grande Guerra, que (também) ela provocou, que escreveu sobre a Velha Senhora. Aqui, a economia não é amada, nem amante, nem mulher, é uma gaja sentada para jantar. Tem de estar. E quem faz por comovê-la não quer se não comê-la. Mas sabendo isto: o capitalismo não é amoral, essa desculpa não pode servir a quem lá ande. A quem toma opções morais. O que estamos dispostos a relativizar por dinheiro? Tudo? Nada? Dürrenmatt apresenta “um mundo e não uma moral” e pede que, ao contrário do que dita o Fausto de Pessoa, nem tudo seja símbolo e analogia. Uma mulher também é uma mulher, um homem também é um homem, um amor também é um amor. Um amor. Não é por acaso que a peça de Shakespeare citada não é o Mercador de Veneza, é Romeu e Julieta. Mas Clara, a Clara, a Clarinha, não é uma Julieta de Verona que se mate por não respirar sem Romeu. Não é uma Zefa de Terras do Demo que peça a Alonso que a mate depois de traí-lo, para que nessa súplica de morte acabe recebendo perdão de quem a ama sob um xaile mais rico que o manto de Nossa Senhora. Não é uma Karenina que afinal amou sozinha, não é Eurídice que morra por Orfeu, não é Lucrécia mal casada que se abandone numa cama de mandrágora com o amante ardiloso disfarçado de vagabundo. Em Clara cresceu o negro e não o vermelho. É vingativa. É pusilânime. É boçal. É uma besta. Mas uma besta rica nunca é uma besta, é rica. É mais fácil trair uma ruiva que uma rica. É? Não, não é nada. “A humanidade gira toda sobre o amor e a fome”, escreveu Anatole France, mas há homens saciados que têm tanta fome de si mesmos que por insuficiência se afastam do destino da corrida, que é a partida e não a meta. Não há nada mais triste que amar esta mulher ruiva que não sabe que, matando, morrerá. PS: este texto é uma homenagem a Ricardo Pais, que encenou algumas das peças que cito, que ensinou o meio país onde eu estava a ver, e sentir, teatro.

A cultura não é uma desculpa.

friedrich dürrenmatt


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soc i e dade

O regresso da Velha Senhora ao país actual Elísio Estanque sociólogo

Releva desta peça um retrato da vulnerabilidade da condição humana face às condições de escassez económica, o que torna possível reconhecer elementos que apontam para a história recente de Portugal e da Europa.

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olhar que dirigimos a esta peça de Dürrenmatt não pode obviamente deixar de ser afetado pela situação que hoje se vive na Europa e em particular num país como Portugal, que – talvez mais do que nunca – se encontra à beira da ruína económica e social. Desde a atrapalhada receção na estação do comboio, com o ritual de boas-vindas (ou de vassalagem) até à cena final (com a encenação do castigo público a um dos principais personagens), passando pelos sucessivos episódios, o ambiente degradado e algo grotesco em que a história decorre, remete-nos para uma “sociedade de austeridade” ou estado de exceção, em muitos aspetos semelhante ao dos dias de hoje. Tudo em volta espelha abandono e pobreza, e a precária dignidade dos personagens torna-se mais explícita ainda à medida que se revela a postura ostentatória e arrogante da ilustre

visitante – a credora. A peça é um retrato da vulnerabilidade da condição humana, evidenciando uma narrativa subtil e irónica da qual sobressaem alguns dos mais sórdidos traços do comportamento social. O retrato que emerge desta obra obriga-nos a questionar o papel das relações de poder e de dominação perante a escassez económica. Mais do que os percursos de vida e dramas pessoais dos seus principais personagens, a história da cidade de Güllen pode constituir um espelho dos tempos atuais. Fica claro que as estruturas sociais da economia se sobreponham às opções individuais (pelo menos no que diz respeito às camadas desapossadas), todavia, quando o poder económico se torna demasiado concentrado, pode manobrar o destino de toda uma sociedade e empurrá-la para a degradação, como acontece neste caso. Sentimentos como o amor e a paixão, mas também a traição, a vingança e o ódio são contaminados pela precariedade da vida económica. Claire vinga-se da traição do ex-amante e de uma

comunidade que a excomungou e a empurrou para um destino duro e inesperado: “O mundo fez de mim uma mulher da vida e eu quero fazer dele um bordel”. O que terá sido uma jovem rebelde e “autêntica” na adolescência – “uma vez prenderam um vagabundo, e ela atacou o polícia à pedrada”, afirma no início Alfred – evoluiu, pela dureza das circunstâncias, para uma alma fria, cínica e vingativa, cujo principal desígnio passou a ser criar um sistema em que todos se deixassem prostituir, submetidos ao poder do vil metal. Há aqui uma denúncia ao lado corrosivo do dinheiro (e da própria sociedade), que nega a sua suposta função libertadora de que falou G. Simmel, segundo o qual a monetarização da vida moderna decorreu da necessidade de “substituição dos vínculos de sangue e de parentesco por algo impessoal, inodoro, prático e universal como o dinheiro”. Com o declínio da dominação tradicional, o Estado de direito e a sociedade moderna puseram fim a um sistema em que um senhor podia dispor a seu bel-prazer de


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outro ser humano (seu servo ou criado doméstico). Porém, as contradições do capitalismo moderno fizeram com que as relações comerciais, o dinheiro e a força crescente do mercado e da propriedade privada (para além do progresso económico e técnico), se tornassem novos instrumentos de dominação, revertendo o progresso e o individualismo positivo em novas formas de alienação, submissão e humilhação. A este propósito, vale a pena recordar a conhecida máxima de Adam Smith segundo a qual “essa disposição de admirar, quase de adorar os ricos e poderosos, e desprezar ou pelo menos negligenciar pessoas de condição pobre ou mesquinha (…) é ao mesmo tempo a grande e mais universal causa de corrupção dos nossos sentimentos morais” (A Teoria dos Sentimentos Morais, 1759). Este é um princípio que se aplica plenamente a este caso. Na sociedade retratada na peça de Dürrenmatt permanecem fortes os apelos do consumo e enriquecimento individual. A situação de ruína e empobrecimento não apagou a pulsão consumista, mas esta passa a ser alimentada pelo endividamento generalizado e serve de móbil ao aumento da dependência tutelar por parte da credora, cujas intenções são no mínimo duvidosas.

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A vida desta cidade em crise tem de ser entendida como uma metáfora do nosso tempo. Bastaria que em vez da milionária senhora colocássemos um Goldman Sachs e que em vez de empresas fictícias como a Alemanha Oil, a Western Railways ou a siderurgia Um Lugar ao Sol colocássemos os nomes de alguns dos actuais grupos económicos.

O destino de Güllen é uma sátira corrosiva e fulgurante da vida coletiva de um povo que sucumbiu à degradação dos seus valores e costumes tradicionais. A privação extrema e a luta desesperada por um emprego facilmente se sobrepõem ao sentido ético e à defesa da dignidade. Não só as instituições e autoridades de relevo (o ex-juiz) se rendem ao poder do dinheiro, como a manobra da imprensa que acompanha a velha senhora – e que vive dos seus simulacros e fait divers – tem o mesmo fundamento, com os repórteres e jornalistas a apresentarem como glorioso o fim triste de Alfred Ill. Pensando na fragilidade da democracia e nos problemas sociais da atualidade, há na peça um clima orwelliano preocupante e assustador. A vida desta cidade em crise tem de ser entendida como uma metáfora do nosso tempo. Bastaria que em vez da milionária senhora colocássemos um Goldman Sachs e que em vez de empresas fictícias como a Alemanha Oil, a Western Railways ou a siderurgia Um Lugar ao Sol colocássemos os nomes de alguns dos atuais grupos económicos ou agências de rating. E mesmo em relação aos gémeos Koby e Loby, tão caninamente servis, não será difícil ao público português encontrar figuras equivalentes na nossa praça. O autor escreve de acordo com a nova ortografia.

Fala-se muito de ideais por que não custam nada. friedrich dürrenmatt


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justiça

OS EFEITOS DA AUSTERIDADE NA ( IDEIA DE ) JUSTIÇA: N ÃO, OS FINS N ÃO JUSTIFICAM OS MEIOS! antónio garcia pereira A dvo g ad o

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om efeito, já vem de há mais de 30 anos a tentativa de imposição da Justiça não como um direito, e um direito fundamental, dos cidadãos mas sim como um mero “serviço” cujos “utentes”, se a ela querem ter acesso, têm de pagar. E, na verdade, fizeram-se inúmeras e consecutivas reformas da Justiça, sempre sob o pretexto do pretenso, e realmente inexistente, “excesso de garantismo” e sob a invocação das necessidades da celeridade e da eficácia. E, todavia, nunca se atentou em que após cada uma dessas ditas reformas a Justiça não ficou nem mais célere nem mais eficaz e, sobretudo, não ficou mais justa! Fomos assim tendo, e cada vez mais, uma Justiça cara, extremamente cara, com um sistema de apoio judiciário que praticamente só exclui do pagamento das elevadas taxas de justiça aqueles que vivem debaixo das pontes. Um sistema onde – com consequências demolidoras para a própria Justiça – se foi cortando nos recursos, se foi aligeirando ou mesmo excluindo a necessidade de fundamentação das decisões judiciais e onde só os cidadãos, sejam eles autores ou réus, arguidos ou queixosos, têm de cumprir prazos. O processo criminal é, mesmo, um caso paradigmático desta degradação, pois a respectiva investigação se habituou, para não dizer que neles se viciou, aos métodos de auto-culpabilização dos suspeitos, sofrendo pesadas derrotas nos casos em que não há, ou não houve possibilidade de existirem, escutas telefónicas (que são, em Portugal, o quádruplo das realizadas em França,

por exemplo !?) ou actuações mais constrangedoras e musculadas sobre os mesmos suspeitos. Onde a lei prevê um prazo de 12 meses para a conclusão dum inquérito mas se levar 12 anos nada acontece (a não ser, e com muita frequência, a prescrição do respectivo procedimento). E onde violações cirúrgicas do segredo de Justiça e ligações perigosas entre alguns jornalistas e as polícias ou sectores da Justiça se transformaram em meios privilegiados de reduzir a pó o princípio constitucional da presunção de inocência, de cometer homicídios de carácter de adversários políticos ou de cidadãos incómodos e de tentar ganhar na secretaria o que não se consegue ganhar em campo… O funcionamento em autêntica roda livre dos serviços de informações, a privatização – com resultados absolutamente desastrosos do ponto de vista dos direitos e legítimos interesses dos cidadãos e das suas organizações, em particular as empresas – de áreas crescentes da Justiça (desde a hecatombe da acção executiva até ao empurrar crescente dos mesmos cidadãos para os chamados meios alternativos de resolução de litígios, como sejam a mediação e a arbitragem, instrumentalizados a justificar o encerramento ou a amputação dos tribunais, como sucedeu em Setembro de 2007 com o Tribunal do Trabalho de Lisboa) completavam, e completam, este quadro profundamente negativo. Do mesmo passo, já então frutificava e se tornava cada vez mais dominante a lógica de expulsar do Direito qualquer concepção ou preocupação de realização da Justiça, de arvorar a finalidade da celeridade e a eficácia dos meios em valores praticamente únicos, de formar

e transformar o jurista, e muito em particular o julgador, num mero aplicador directo e imediato da letra da lei, desvalorizando por completo as preocupações de realização material da Justiça, de interpretação dinâmica e criadora dos preceitos legais, e endeusando assim a figura do juiz que conhece a lei de cor e que produz muitas sentenças, ainda que a solução final pouco ou nada tenha que ver com o Direito e a lógica e unidade do sistema jurídico e mesmo que as ditas decisões – muito importantes no seu número do ponto de vista da estatística por assim permitirem baixarem os números gigantescos das pendências… – sejam, numa percentagem muito elevada, meras decisões de forma, que despacham o processo mas nada resolvem da questão de fundo. Tudo isto já existia antes de 2008 e era referido e denunciado (apenas) por uns quantos, poucos, que já então alertavam para todos estes problemas e para quão grave era não se terem aproveitado episódios negros da nossa Justiça (como foram os casos de verdadeiro assassínio de carácter e de destruição das respectivas carreiras, senão também de uma importante parcela das suas vidas pessoais, familiares e sociais, de Ferro Rodrigues e Fernando Negrão) para se debaterem tais questões até ao fim. O que a chamada austeridade fez foi acelerar e intensificar este processo. As imposições da troica nesta área baseiam-se exclusivamente na lógica, económica, de que tribunais lentos prejudicam o investimento, em particular o estrangeiro, e rigorosamente nada têm que ver com qualquer ideia de Justiça e menos ainda com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.


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À dita troica e aos seus agentes em Portugal, em especial na área da Justiça, não preocupa, pois, que um cidadão que é apanhado a furtar num supermercado produtos para comer e/ou cujo valor não chega a 5 ou sequer a 1 euro possa ser condenado a uma pena de valor pecuniário dezenas e dezenas de vezes maior ou até com prisão, enquanto a esmagadora maioria dos autores das grandes fraudes e trafulhices económico-financeiras, que já custaram aos contribuintes portugueses milhares de milhões de euros, se passeiam impunemente e não pagam um cêntimo. Ou que uma idosa possa ser despejada porque se esqueceu de declarar à respectiva Câmara Municipal o valor duma pensão de miséria mas que nada aconteça a um banqueiro que se esqueceu de declarar uns milhões de euros no seu IRS… O discurso ideológico com que se procura justificar as brutais medidas de austeridade e o verdadeiro genocídio fiscal que é o Orçamento de Estado para 2013 passa então por técnicas e argumentários que, embora velhos de décadas, para não dizer de séculos, são agora apresentados – também na área da Justiça – como notáveis “inovações” e “verdades” indesmentíveis. Assim, tal como os sucessivos e clamorosos erros nas previsões do Governo na área económica são apresentados não como falhas, ou até mentiras, mas como “ajustamentos”, os brutais cortes nos serviços essenciais dos portugueses (saúde, segurança social, educação) são referidos como “medidas contingentes”, os números gigantescos do desemprego como estando “em linha com o que estava previsto”, os desempregados como “não adaptados” ou “não empreendedores”, os despedimentos como “eliminação da gordura”, “reajustamento da estrutura de custos do trabalho” ou “diminuição das redundâncias”, etc., etc., também na Justiça se passou a defender e a aplicar cada vez mais a velha máxima hitleriana de que “os fins justificam os meios” ! Com efeito, ao lado da intensa propaganda ideológica que aponta como “instalados”, “piegas” ou “dinossauros agarrados a coisas ultrapassadas” todos aqueles que ousem denunciar e combater a liquidação sucessiva dos mais elementares direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e da constante pregação dos estafados slogans dos manuais de gestão de pacotilha (“tudo e todos têm um preço”, “é preciso fazer de cada dificuldade uma oportunidade”, “isso dos princípios é coisa ultrapassada e o que há é que ser pragmático”), na Justiça as políticas de austeridade procuram combinar habilmente duas coisas: por um lado, a aparência dos resultados

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Na Justiça, as políticas de austeridade procuram combinar habilmente duas coisas: por um lado, a aparência dos resultados; por outro, a lógica de que, em época de crise, os princípios são para meter na gaveta...

(o que é preciso é afastar os cidadãos dos tribunais, designadamente com taxas de justiça elevadíssimas, e produzir sentenças como chouriços, para assim baixar as pendências, mesmo que isso não tenha nada que ver com uma decisão que examine verdadeiramente a causa e a decida à luz da Lei mas também de forma sensata, ponderada e justa); por outro, a lógica de que, em época de crise, os princípios são para meter na gaveta (que outra coisa não é do que, afinal e precisamente, confirmar que a pretensa licitude dos fins justificaria mesmo os meios mais gravosos e ilegítimos). O exemplo por excelência desta verdadeira subversão dos mais básicos princípios do Estado de direito democrático – que o artigo 2.º da Constituição da República (ainda) proclama que Portugal é – encontra-se no próprio Tribunal Constitucional, nos seus tiques, nos seus hábitos e no teor das suas decisões. Tendo há muito deixado de ser considerado como um alfobre do melhor que houvesse em Portugal em matéria de constitucionalidade e da sua fiscalização, e assumindo cada vez mais a natureza de uma espécie de comissariado político que os principais partidos parlamentares dividem entre si, o Tribunal Constitucional é, antes de mais, o único

tribunal do país que tem um regime de custas próprio e cujas receitas e multas que aplica aos cidadãos, em caso de rejeição ou improcedência dos recursos que lhe são submetidos, constituem receita corrente do próprio tribunal e são antecipadamente previstas no orçamento aprovado no ano anterior, tornando-o objectivamente interessado em “deitar abaixo” o maior número possível de recursos de constitucionalidade. Mas o Tribunal Constitucional é também o primeiro e principal responsável pela barbárie da consagração de teses inconstitucionais, como a de que os princípios não são mesmo para respeitar e que se for em nome da crise e supostamente para combater o défice e diminuir a dívida – embora, como se sabe, eles não cessem de aumentar… – vale tudo, desde diminuir drasticamente salários e pensões até admitir a retroactividade de leis fiscais, culminando tudo isto com essa tese absolutamente inacreditável de que, relativamente a uma norma declarada materialmente inconstitucional, se possam salvaguardar não só os efeitos por ela já produzidos até então (o que a Constituição já só admite como excepcional) mas também aqueles que se irão produzir no futuro, após essa declaração de inconstitucionalidade, e até final do ano em curso !? Esta barbárie que é assim subscrita e justificada pelo tribunal a quem deveria competir zelar pelo respeito pela Constituição e defender os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos contra os abusos do Poder é a mesma que já defende hoje que se for alegadamente para descobrir o paradeiro de objectos furtados a polícia deve poder agredir e torturar o autor do furto; ou que, se for invocadamente para combater a criminalidade dita altamente organizada, a mesma polícia ou os serviços de informações devem poder fazer escutas sem mandato judicial; ou ainda que, se for sob o pretexto do combate à fraude e à evasão fiscal, o Governo deve poder obrigar os cidadãos a lhe devassarem por completo a sua vida privada, revelando onde almoçam ou jantam, que jornais ou revistas compram e onde, a que dias e horas vão à padaria comprar pão, etc.. Mas a humanidade nunca colocou nenhuma questão para a qual não encontrasse concomitantemente a respectiva solução. Podem hoje ser dominantes as mentiras institucionalizadas e as teses ideológicas (mesmo que sob a capa de “jurídicas”) que as servem. Porém, não tenhamos dúvida de que, se todos ousarmos, como devemos, erguermo-nos contra elas, terão o mesmo destino que as políticas de “austeridade”, ou seja, serão irremediavelmente derrotadas !


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comun icação soc ial

“Feliz o povo que canta”, diz a Velha Senhora Luís Gouveia Monteiro J o r n a l ista

Dois mil milhões de euros depois, a Velha Senhora deixou Lisboa ontem, ao fim da tarde. Depois do sétimo exame regular, falou da dívida para dizer que “a riqueza só faz sentido quando dela nasce a riqueza do perdão: mas só pode ser perdoado quem aspira ao perdão”. De partida para Capri, declarou-se encantada com Portugal, cuja história não deixará morrer, “custe o que custar, doa a quem doer”. A imprensa internacional deu conta do sucesso da visita e destacou o consenso num país que é “um coro afinado que tem um primeiro-ministro cantor”.

A

vida escreve as mais belas histórias. “Feliz o povo que canta e que troca a justiça das ruas pela paz social” foi a frase completa da Velha Senhora no rescaldo de uma das mais impressionantes experiências sociais do nosso tempo. À saída da plataforma de Santa Apoló-

nia, num fim de tarde lindo – em frente ao Museu da Marinha ouvia-se a aragem nas tílias, o canto dos passarinhos e o murmúrio das águas no Chafariz D’El Rei – sem meias tintas, a milionária atacou o problema da dívida: “Tu traíste-me. Mas não esqueci o sonho de viver, de amar, de confiar, esse sonho real de um tempo perdido. Quero voltar a realizá-lo com os meus milhões, mudar o passado acabando contigo.” A população soube não se mostrar ingrata: “Tirando Deus só a Velha Senhora

nos pode salvar, mas Ele não nos paga as contas” foi a frase que os matutinos do mundo não deixaram escapar. Lobrigada entre a confusão do real por um cidadão de origem paquistanesa, proprietário de um loja de conveniência na Calçada do Combro, a pérola faz por esta altura as delícias dos leitores da Europa Central, onde as gentes são mais propensas a uma relação pessoal com o dinheiro e muito própria com Deus. Meia hora depois das despedidas, o Ministério da Economia, à rua da Emenda, já emitia


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um comunicado sublinhando o impacto da visita na avaliação constante das “imensas potencialidades que se escondem neste nosso torrão natal”. Num ambiente de inegável concórdia, o recém-marido, o oitavo, prémio Nobel estrangeiro, comentou a situação em francês: “Há meia hora era a mesma coisa. Não acontece nada aqui, nem com a natureza, nem com as pessoas... Tudo na mais perfeita paz, sem problemas, tudo satisfeito, confortável. Não há grandeza, nada é trágico. O que falta aqui é o espírito de uma grande época!”, resposta cujo alcance a jornalista parisiense que havia feito a pergunta desconfiou não ter abraçado completamente, pelo que preferiu não publicar. O que ninguém ignorou foi a divertida epidemia dos sapatos amarelos, toda a gente calçada de igual. “A forma como este povo acerta o passo com a moda – sinal diáfano e refinado dos tempos – só pode ser de louvar” foi a tirada de um experiente escriba transalpino, provando que em Roma a palavra impressa é mais dada ao relato daquilo que anda no ar. Note-se contudo que, como uma poderosa conspiração por um mundo melhor e mais justo, as palavras da Velha Senhora recusaram sempre a alegria fácil. Apontou corajosamente situações negativas gerais, injustiças, como as que acontecem em qualquer comunidade, em qualquer parte onde haja seres humanos. Antes ainda do almoço – à saída do hotel, na liteira, liderando o cortejo de malas e da canalha a correr – a nova proprietária de tudo falou dos acontecimentos de Novembro e comentou sem peias o exercício da violência, com a mão firme de quem não precisa de esconder o ferro debaixo do algodão. Recordou que também ela brincou à pedrada, com a polícia, nos tempos da outra, “uma vez que prenderam um vagabundo”. A imprensa internacional notou com agrado a ordeira dormência da plateia durante os discursos oficiais. Percebeu-a sinal de “um povo resolvido, enxuto, disposto a singrar”, como havia de ler-se com agrado em Londres, na City, logo de manhãzinha. Questionada por um jornalista norueguês sobre a falta de higiene dos transeuntes, a Velha Senhora respondeu com um provérbio português que foi buscar de repente à infância: “é inútil lavar o porco, gasta-se água e aflige-se o animal”. “É inútil, é inútil”, todos gritaram. O mordomo, homem com estudos, notou como nem sempre é garantido que um povo tenha competência para fazer a própria higiene e comer.

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A boa-disposição, o quase folguedo, traduziam bem o profundo espírito encerrado há pouco no último gracejo da filantropa. Portadora do humor fulgurante e sanguíneo que sustenta as revistas do coração, disse: “A humanidade, meus senhores, foi criada para a Bolsa dos multimilionários”.

Em resposta a rumores sobre o seu estado de saúde, a Velha Senhora referiu os exames regulares. Disse que nunca a levou fácil, nem espera vir a levar. Que ama muito a vida e tudo aquilo que tem. Aprecia até a perna que perdeu para a doença. Nem pestanejou à interpelação de um extremista vaidoso que à passagem das Belas Artes se chegou à frente e gritou: “és uma criatura sem alma, um órgão sem corpo, tu és só próteses”. A benemérita voltou a mostrar a presença de espírito reservada aos que conhecem as rédeas do futuro. Pousando a mão sobre o ombro do jovem intoxicado, olhou-o nos olhos e disse: “Tiras conclusões sobre os outros a partir de ti mesmo. É natural. A razão dos nossos medos está no nosso coração, está nos nossos pecados. Se perceberes isto vais conseguir vencer o que te atormenta, vais ter na mão as armas para o fazer.” E o povo todo gritou, jornalistas e tudo: “Vais vencer, vais conseguir!” Já o Expresso do Sul se afastava, como um farol que desiste das contrariedades do mar e o povo ainda chorava a partida de quem o viera salvar. A grande figura veio à janela, acenou. Nos olhos da milionária pôde ler-se ainda a prematura saudade dos abetos e das faias, do pica-pau e da tímida corça. Das catedrais de hera e dos escuros bolores. Desaparecido o último vagão, o presidente da Câmara e o banqueiro ainda falaram do plano de plano global para a revitalização da economia local: “Vai correr tudo bem”. “Ah, pois vai, Ah, pois vai!”, foi a loucura total. A boa-disposição, o quase folguedo, traduziam bem o profundo espírito encerrado há pouco no último gracejo da filantropa. Portadora do humor fulgurante e sanguíneo que sustenta as revistas do coração, disse: “A humanidade, meus senhores, foi criada para a Bolsa dos multimilionários. Com o poder financeiro de que eu disponho sou capaz de criar uma nova ordem no mundo. O mundo fez de mim uma puta, agora eu faço dele um bordel!” No meio de tanta emoção, alguém passou mal. “Não aguentou de alegria” e tombou. E o povo – salvo – exclamou, em uníssono comunicado: “Longe fiquem as trevas. Que nunca mais desçam sobre a nossa cidade, renascida das cinzas, esplendorosa. Para, felizes, podermos desfrutar desta felicidade.”


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a vISITA DA VELHA SENHORA ao cabo teatro Ao Cabo Teatro começa a sua actividade no ano 2000. Em 2001, inicia uma relação de cumplicidade com o encenador Nuno Cardoso, da qual resultaram os seguintes projectos: Antes dos Lagartos, de Pedro Eiras (co-produção TNSJ/ 2001), Purificados, de Sarah Kane (2002), Valparaíso, de Don De Llilo (co-produção Rivoli e Culturgest/ 2002) e Parasitas, de Marius Von Mayenburg (2003). A estes projectos, a associação assegurou a produção e uma ampla digressão nacional. Esta forma de acção permitiu criar um conjunto fixo de colaboradores que ainda hoje perdura e plasmar a co-produção e o funcionamento em rede como o método base de produção. Em 2003, no âmbito de CoimbraCapital Nacional da Cultura, Ao Cabo Teatro assume a realização do Festival SITE-Semana Internacional de Teatro. Em 2009, depois de alguns anos de interrupção da actividade da associação, é criado o espectáculo Jardim Zoológico de Cristal, de Tennessee Williams, em co-produção com CCVF, Theatro Circo de Braga, Teatro Aveirense, Teatro Viriato e «As Boas Raparigas...», assegurando ainda a circulação por Lisboa, Porto, Faro, Portimão, Guarda e Santiago de Compostela. Em 2010, segue-se A Gaivota, de A. Tchekov, em co-produção com o TNSJ, o Centro Cultural Vila Flor, o Teatro Aveirense e o Teatro Maria Matos, em colaboração com «As Boas Raparigas...». Ainda nesse ano, a associação, que tem procurado a colaboração de outros núcleos de criação para levar a termo os seus projectos, empreendeu o movimento contrário, participando na co-produção do espectáculo Filho da Europa, a partir de Kaspar Hauser, de Peter Handke, com encenação de João Garcia Miguel, e de Rendez-Vous, com direcção de Victor Hugo Pontes. A finalizar 2010, Ao Cabo Teatro envolveu-se com o TNSJ num projecto experimental de montagem de três peças curtas de A. Tchekov, dirigidas por três jovens encenadores (Victor Hugo Pontes, José Eduardo Silva e Luís Araújo) que resultou no espectáculo T3+1. Em 2011, em co-produção com o TNDM II, o CCVF e o FITEI, produz As Três Irmãs, de Tchekov. Seguiu-se a obra Desejo sob os Ulmeiros, de Eugene O’Neill, numa co-produção com o Teatro do Bolhão e o TNSJ e termina o ano com a peça Inverno, uma co-produção com a companhia Comédias do Minho, apresentada em Paredes de Coura, Valença, Melgaço, Monção e Vila Nova de Cerveira. Medida por Medida, de William Shakespeare, foi apresentada em Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, no TNSJ e no São Luiz Teatro Municipal. Seguiu-se Porto S. Bento, um projecto que envolveu simultaneamente intérpretes profissionais e comunidade, uma co-produção Ao Cabo Teatro, TNSJ e Manobras no Porto, contando também com a colaboração da Companhia Instável. Foi apresentada no Teatro Carlos Alberto, e em 2013, no Teatro-Cine de Torres Vedras, Centro Cultural Vila Flor e Teatro Viriato. 2012 terminou com a co-produção com Nome Próprio e Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura, do espectáculo A Strange Land, de Victor Hugo Pontes.

JOÃO BA RR EN T O

F. Ribeir o

Sér gio Ma r tins

Ensaísta e tradutor. Professor (aposentado) da Universidade Nova de Lisboa. Publicou cerca de vinte livros de ensaio, crítica literária e crónica, e traduziu literaturas de língua alemã do século XVII à actualidade, incluindo muitas peças de teatro. Colaborador do jornal Público (1990-2006) e da maior parte das revistas literárias portuguesas. Vice-presidente do PEN Clube Português (1990-2006). Recebeu os mais importantes prémios portugueses para ensaio, crónica e tradução, e ainda o Prémio D. Dinis, a Cruz de Mérito Alemã (1991) e a Medalha Goethe (1998).

Bacharelato em Realização Plástica do Espectáculo (1998) e licenciatura em Design de Cena (2008), na Esc. Sup. de Teatro e Cinema de Lisboa. Na área do teatro, concebeu cenários e adereços para espectáculos dirigidos por Alberto Villareal, Ana Luísa Guimarães, Andrzej Sadowski, António Durães, António Feio, António Fonseca, António Pires, Cláudia Gaiolas, Denis Bernard, Dinarte Branco, Fernando Moreira, Gonçalo Waddington, Joana Antunes, João Mota, Joaquim Horta, José Carretas, Luís Assis, Manuela Pedroso, Marcos Barbosa, Marina Nabais, Nuno Cardoso, Nuno M Cardoso, Paula Diogo, Pedro Carraca, Pierre Woltz, Rogério Nuno Costa, Tiago Rodrigues, Tónan Quito e Victor Hugo Pontes.

Completou o Conservatório de Música do Porto em Guitarra e encontra-se actualmente a estudar Música Electrónica e Produção Musical na Escola Superior de Artes Aplicadas em Castelo Branco, onde estudou com Carlos Guedes, Mário Barreiros, Rui Dias e Gustavo Costa. Paralelamente tem participado como compositor musical juntamente com Rui Lima, em espectáculos de artes performativas e vídeo-dança em encenações de Joana Providência, Paulo Calatré, Inês Vicente, Alfredo Martins, João Garcia Miguel, Ana Luena, Jorge Andrade, Victor Hugo Pontes entre outros, tendo apresentado espectáculos em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Israel, Brasil e Rússia. No cinema realizou, com Rui Lima, a banda sonora para a longa metragem Veneno Cura (2007), de Raquel Freire.

tradução

N uno Ca r do so e n c e n aç ã o

Nuno Cardoso iniciou o seu percurso teatral no CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. Como actor trabalhou com encenadores como Paulo Lisboa, Paulo Castro, João Paulo Seara Cardoso, Nuno M Cardoso, Francisco Alves, José Neves, João Garcia Miguel, Victor Hugo Pontes, José Eduardo Silva e Luís Araújo. Foi um dos fundadores do colectivo Visões Úteis. Encenou Paysage Choisi, a partir de textos de Federico García Lorca; De Miragem em Miragem se Fez a Viagem, de Carlos J. Pessoa; Antígona, de Sófocles, e PRJ. X. Oresteia, a partir de Ésquilo; e The Golden Vanity, ópera de Benjamin Britten. De 1998 a 2003, foi director artístico do ANCA. Assumiu a direcção artística do Teatro Carlos Alberto entre 2003 e 2007. Como criador residente no TNSJ, encenou: Pas-de-Cinq + 1, de Mauricio Kagel (1999); O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind (2004); Woyzeck, de Georg Büchner (2005); e Plasticina, de Vassili Sigarev (2006). Outras encenações: Ricardo II, de W. Shakespeare (TNDM II,2007); R2, Shakespeare interpretado por jovens do Bairro da Cova da Moura; Boneca, a partir de H. Ibsen (Cassiopeia, C. C. Vila Flor/TNDM II/ Theatro Circo,2007); Platónov, de Anton Tchekov, (TNSJ, 2008); A Boa Alma de Sechuan, de Brecht (C. Dram. Galego, 2008); Love and Marriage, a partir de Ibsen (T. N. de Bordeaux Aquitaine/2009); Jornada para a Noite, de Eugene O’Neill (TEP, 2010). Para a Ao Cabo Teatro encenou: Antes dos Lagartos, de Pedro Eiras (2001), estreado no Porto, no âmbito do PoNTI 2001 e apresentado em Bratislava, no Festival da Convenção Teatral Europeia; Purificados, de Sarah Kane (2002), Valparaíso, de Don DeLillo (2002), Parasitas, de Marius von Mayenburg (2003), Jardim Zoológico de Cristal, de Tennessee Williams (2009); A Gaivota, de A. Tchekov (2010); As Três Irmãs, de A. Tchekov (2011); Desejo sob os Ulmeiros, Eugene O´Neill (2011); Medida por Medida, de Shakespeare (Guimarães – Capital Europeia da Cultura. 2012) e Porto S. Bento (TNSJ/Manobras 2012).

V ic t or Hu go P on tes assist ê n c ia d e e n c e n aç ã o e m o vi m e n t o

Guimarães, 1978. Licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em 2001, frequentou a Norwich School of Art & Design, Inglaterra. Concluiu os cursos profissionais de Teatro do Balleteatro Escola Profissional e do TUP, bem como o curso de Pesquisa e Criação Coreográfica do Fórum Dança. Em 2004, fez o curso de Encenação de Teatro na Fundação Calouste Gulbenkian, dirigido pela companhia inglesa Third Angel, e, em 2006, o curso do Projet Thierry Salmon – La Nouvelle École des Maîtres, dirigido por Pippo Delbono, na Bélgica e em Itália. Trabalha como assistente de encenação de Nuno Cardoso desde 2005. Desenvolve trabalho como actor, cenógrafo, professor, coreógrafo e encenador, tendo já trabalhado em França, Russia, Bélgica, Itália, Espanha, Áustria, Brasil entre outros países.

c e n o g r afia

St ory Tail ors

m ú si c a o r i g i n a l

st y l i n g / fi g u r i n o s

João Branco e Luís Sanchez conheceram-se no curso de arquitectura de design de moda da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. As suas ideias e opiniões sobre moda depressa se complementaram e fundiram-se num projecto esboçado em 2001 e formalizado em Janeiro de 2003, assim nasceu a Storytailors. Em 2006 instalam-se no Chiado na Calçada do Ferragial 8 e 10, num edifício pré-pombalino datado do século XVII. Em Agosto de 2007 abrem a Storytailors Store no mesmo edifício. Apresentam as suas colecções em Portugal e por vezes em Paris, durante as Semanas de Moda. A Storytailors estende também a sua actividade à criação de figurinos. Estrearam-se no teatro em 2005, na peça O Terceiro Homem, encenada por Alexandre Lira Leite. Nos anos seguintes destacam-se com trabalhos nas peças Ricardo II de William Shakespeare (prémio de melhores figurinos 2007), Três Irmãs de Anton Tchékov para o Teatro Nacional D. Maria II, Platónov e A Gaivota também de Tchékov para o Teatro Nacional S. João no Porto, com encenações de Nuno Cardoso. Em 2011 também para o Teatro Nacional D. Maria II elaboram os figurinos para Amadeus, de Peter Shaffer, com encenação de Tim Carroll.

Jo sé Á lva r o C or r eia d ese n h o d e l u z

Iniciou o seu percurso teatral em 1993 no projecto 4.º Período – o do Prazer, orientado por António Fonseca. Concluiu o bacharelato em luz e som na ESMAE em 1999, e a licenciatura em Design de Luz em 2007. Estagiou durante três meses no Teatro Nacional de Bergen (Noruega) e durante nove meses de 2001 no Núcleo de Criação Teatral do Porto Capital da Cultura onde iniciou a colaboração com Nuno Cardoso no espectáculo Antígona, de Sófocles. Desde 2000 que dá workshops e acções de formação na área de iluminação para espectáculos. É co-autor do Manual Técnico de Iluminação para Espectáculos.

R ui Lim a

m ú si c a o r i g i n a l Licenciado em Design de Luz e Som pela ESMAE onde actualmente lecciona. Paralelamente tem participado como compositor musical, juntamente com Sérgio Martins, em espectáculos de artes performativas e vídeo-dança em encenações de Joana Providência, Paulo Calatré, Inês Vicente, Alfredo Martins, João Garcia Miguel, Ana Luena, Jorge Andrade e Victor Hugo Pontes, entre outros, tendo apresentado espectáculos em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Israel, Brasil e Rússia. No cinema realizou, com Sérgio Martins, a banda sonora para a longa metragem Veneno Cura (2007), de Raquel Freire.

Ma r ia João L uís I n te r p r etaç ã o Clara Zachanassien (a Velha Senhora)

Iniciou a sua actividade como actriz em 1985 no grupo de teatro A Barraca (Um dia na Capital do Império, Um Homem é um Homem, Fernão Mentes?, O Diabinho da Mão Furada e O Baile sempre com encenação de Hélder Costa). Trabalhou na Casa da Comédia, no ACARTE, na Teatro da Malaposta, na Comuna – Teatro de Pesquisa e no Teatro Nacional D. Maria II com os seguintes encenadores: Filipe La Féria, Rui Mendes, José Peixoto, Stephen Jurgens, João Mota, Cristina Carvalhal e Ana Luísa Guimarães. No Teatro da Cornucópia participou em A Comédia de Rubena de Gil Vicente (encenação Luís Miguel Cintra), Antes que a noite venha, de Eduarda Dionísio (encenação Adriano Luz), Tito Andrónico de Shakespeare, e Um Homem é um Homem, de Bertolt Brecht (encenação Luís Miguel Cintra). Nos Artistas Unidos interpretou, Hedda e o monólogo Stabat Mater, de António Tarantino, com encenação de Jorge Silva Melo. É fundadora do Teatro da Terra, onde assume a direcção artística e encena: A Casa de Bernarda Alba, de Federico G. Lorca; Cal, de José Luis Peixoto; A Maluquinha de Arroios, de André Brun; A Lua de Maria Sem, de João Monge; O Marido Vai à Caça de Georges Feydeau; O Ciclista, de Karl Valentin; Chão de Água, de João Monge; Reveillon, de vários autores.

Hor ácio Ma nu el I n te r p r etaç ã o Alfredo Ill

Faz os seus estudos na escola de Interpretação Delmetscher Institut Munich. Seguiu outros cursos de formação pelo teatro Old Vic de Londres e Augusto Boal: técnica de actor, dramaturgia e encenação. Integra o teatro O Bando desde 1975, grupo com o qual trabalha grande parte da carreira. Trabalhou no teatro da Cornucópia, no TNSJ, no TNDMII, CIA de Artes e Teatro Experimental de Alta Floresta no Brasil, entre outras companhias. Como actor e encenador fez digressões por toda a Europa, América do Norte, Sul e África. Dirigiu numerosos seminários sobre técnica teatral, tanto para crianças como para adultos, em Portugal e no estrangeiro. Encenou espectáculos tais como Noivos velhos, Novos noivos de Eduarda Dionísio; Gloçon son de Fernando Macedo; Romeu e Julieta a partir de William Shakespeare; Miúra a partir de Miguel Torga; Hora do Ladrão a partir de Dário Fo; D. Quixote a partir de Cervantes, entre outros. É autor de várias peças já representadas: A Família, Traulitânia, Barracas, Aton, História de uma Cozinha, Guffi, Diálogo nocturno para um homem vil, A Conquista de Lisboa, As Guitarras de Alcácer Quibir, D. João VI. Pertence ao colectivo do Teatro O Bando e é encenador residente do grupo de teatro A.T.A. (Artimanha ) e do Teatro de Objectos.

Câ ndido Fer r eir a I n te r p r etaç ã o Presidente da Câmara

Iniciou a sua actividade no Teatro Operário de Paris, em 1971. Em 1974 torna-se membro fundador do grupo de teatro O Bando e nela trabalha 12 anos como actor, dramaturgo, encenador e produtor. Como actor trabalhou com Mário Viegas, Luís Miguel Cintra, João Brites, António Augusto Barros, Christine Laurent, Ricardo Aibéu, Ana Támen e Jorge Silva Melo, entre outros. Em 1988, ganha o prémio Almeida Garrett – Melhor Actor, com a interpretação do monólogo Comunidade, de Luís Pacheco, encenado por José Carretas. Inicia em 2003/4 o trabalho no Chaby Pinheiro. Encenou Aposta, de Eduardo De Fillippo; Na Sombra da Ravina e Cavalgada para o Mar, de John Millington Synge; O Nariz, adaptação e encenação da obra homónima de Gogol. Trabalhou, em cinema, com os realizadores Eduardo Guedes, Joaquim Leitão, Joaquim Sapinho, Manuel de Oliveira, Luís Galvão Teles, Ivo Ferreira, Luís Filipe Rocha, Raquel Freire, António-Pedro Vasconcelos e Miguel Gomes entre outros. Ao longo da sua actividade profissional tem também dirigido cursos e seminários para actores, professores e animadores em Portugal, França e Canadá. É autor das peças para teatro “Paris de Fora”, “São Tomás da Ermida” e “O Segredo de Conceição”.

L uís L ucas

I n te r p r etaç ã o Reitor do liceu de Gullen Membro fundador do grupo Comuna – Teatro de Pesquisa, com o qual participou em vários festivais internacionais de teatro. Trabalhou nos Cómicos, Teatro da Cornucópia, Produções Teatrais Lda., Teatro da Graça e Projecto Intercidades. No teatro foi dirigido por João Mota, Osório Mateus, Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra, Stephan Stroux, Carlos Fernando, Artur Ramos, Christine Laurent, António Feio, Alberto Lopes, São José Lapa, Rafaela Santos, Ana Támen, Carlos Alardo, Cucha Carvalheiro, Fernanda Lapa e Tim Caroll. No cinema trabalhou com João Botelho, Solveig Nordlund, Jorge Silva Melo, José Álvaro de Morais, Eduardo Geada, Peter Lilienthal, Valeria Sarmiento, Daniel del Negro, Margarida Gil, Manoel de Oliveira, Luís Filipe Rocha e Joaquim Leitão. Em 1973 trabalhou com Ariane Mnouchkine no Théâtre du Soleil e em 1982/83, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, foi assistente de encenação de Patrice Chéreau (Peer Gynt, Ibsen) e de Jean Jourdheuil (Le Rocher, la Lande, la Librairie, Montaigne).

T on a n Q uit o I n te r p r etaç ã o Chefe da Polícia

Começou o seu percurso como actor no 4.º Período – O do Prazer, dirigido por António Fonseca. Trabalhou com Luís Miguel Cintra, António Pires, Luís Assis, Joaquim Horta, Christine Laurent, Lúcia Sigalho, Paula Diogo, Nuno Cardoso, Carlos J. Pessoa, Nuno M. Cardoso, António Catalano, João Mota, Tiago Rodrigues, Jorge Andrade, Patrícia Portela, Fernando Gomes, Pedro Gil e João Garcia Miguel. No cinema trabalhou com Miguel Angél Vivas, Inês Oliveira, Jorge Silva Melo, Felipe Melo e Joaquim Leitão e em televisão com Joaquim Leitão e Tiago Guedes. Em 2003 fundou a Truta, onde trabalha regularmente, como actor/criador. Dirigiu os espectáculos Ivanov (2010), de Anton Tchékov, Histórias do Bosque de Viena (2012), de Ödön von Horváth e Anatol (2012), de Arthur Schnitzler. Em 2013 co-criou com Tiago Rodrigues, Entrelinhas.


março 2013

19

de friedrich dürrenmatt Pedr o F r ias

Ca r l o s Nery

Helen a Ma r ch a nd

J úl ia Gu er r a

Frequentou o Curso de Interpretação da ESMAE. Actor em espectáculos encenados por Nuno Cardoso (Ao Cabo Teatro/ Teatro do Bolhão), João Cardoso e Nuno Carinhas (Assédio), Luciano Amarelo (Projéc~, TMG), Ricardo Alves (Palmilha Dentada) e Júlio Cardoso (Seiva Trupe), entre outros; actor/cantor na Ópera de Câmara Jeremias Fisher, enc. Michel Dieuaide (Companhia Ópera do Castelo, CCB). Actor/ narrador (Romeu e Julieta, ONP/Casa da Musica). É membro fundador da companhia Mau Artista. Faz dobragens de vozes de séries televisivas de imagem real e desenhos animados. Cantor e actor, em discos infantis e spots publicitários. No cinema, participou em Une Nuit de Chien, de Werner Schroeter (2008). No TNSJ, integrou o elenco de espectáculos encenados por Nuno Carinhas (Beiras, Tambores na Noite e Breve Sumário da História de Deus), Nuno Cardoso (Platónov), Nuno M Cardoso (O Café) e Ricardo Pais (O Mercador de Veneza e Sombras).

Fez parte do TEP, onde foi dirigido por António Pedro, e do CITAC, onde participou como actor em diversos espectáculos sob a direcção de Luís Lima. Em 1963, interpretou Gus, personagem de O Monta-cargas, na primeira apresentação de uma peça de Harold Pinter em Portugal. A sua primeira experiência de encenação foi na Guiné, durante a guerra. Mais tarde pertenceu à direcção do Primeiro Acto, onde encenou A Cantora Careca, de Ionesco, e Woyzeck, de Büchner. Encenou, no Sindicato dos Bancários, A Excepção e a Regra, de Bertold Brecht. Com a Cornucópia participou, como actor, em Casimiro e Carolina, de Orvath, e na reposição de AhQ, de Jourdheuil. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos; Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Professora universitária na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Doutorada em Psicologia do Desenvolvimento e autora de diversas obras, a nível nacional e internacional, nomeadamente na área do desenvolvimento psicológico do adulto e do idoso. Em paralelo à sua actividade académica, inicia-se na técnica e composição de fotografia e na arte da improvisação, participando em diversas acções de formação. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espetáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Profissional da RDP durante 30 anos. Intérprete de teatro radiofónico, leitora de poesia e apresentadora de espectáculos, além de locutora, produtora e realizadora. Estagiou na BBC (rádio e televisão). Foi eleita para o Prémio Mulher da Europa (1987), criado em Bruxelas com o apoio da UE. Formadora em Técnicas Vocais, Expressão Oral, Apresentações em Público e autora de manuais de formação e avaliação. Integrou a Direcção da Casa do Artista entre 1999 e 2010. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Da niel Pin t o

Entre 1948 e 1953 integra o Grupo Cénico do Clube Atlético de Queluz, coordenado, entre outros, por Stélio Gil com quem desenvolve trabalho na área de teatro e de leitura de poesia. Integra o grupo de teatro Peça a Peça, da ADECAM (Junta de Freguesia de Campo Grande), até à sua dissolução em 2007. Entre outros, participa em: O Canto do Cisne, colagem de textos de vários autores dirigido por António Moncada Aristides Mendes; A Comunidade, de António Moncada Aristides Mendes, encenação de Carlos Piecho. Frequenta em 2009 a disciplina de Teatro da Universidade Sénior São João de Deus com a professora Maria do Rosário. Faz parte da Companhia Maior desde a sua fundação, tendo participado nos espetáculos Bela Adormecida e ILUMINAÇÕES.

I n te r p r etaç ã o M a r i d o s V II , V III e I X ; J o r n a l i s ta

I n te r p r etaç ã o J o r n a l i s ta ; R o b y e o f i c i a l de diligências Tem o curso de Interpretação da ACE. Iniciou o seu percurso profissional em 1999 com Get Off My Garden e Um Mundo Muito Próprio – Tributo a Buster Keaton, encenação de Alan Richardson. Trabalhou com encenadores como José Wallenstein, Kuniaki Ida, Francisco Alves, Fernando Giestas, Pedro Giestas, Rafaela Santos, Zeferino Mota e Cristina Carvalhal. Integrou elenco em espectáculos de Nuno Cardoso como: O Despertar da Primavera, de Wedekind; Woyzeck, de Büchner ; Plasticina de Vassili Sigarev; Ricardo II, de Shakespeare; Platónov de Tchékov; As Três Irmãs de Tchekov, Medida por Medida, de Shakespeare. e Porto S. Bento. Foi fundador do Novo Grémio do Porto.

João Mel o

I n te r p r etaç ã o M a q u i n i s ta ; J o r n a l i s ta ; Roby e filho do Alfredo Licenciatura em estudos teatrais pela ESMAE. Recebeu o prémio Eng. António de Almeida. Em 2005 participou no projecto europeu Thierry Salmon com a direcção de Carlo Cechi. Trabalhou com companhias como Meta Mortem Fase, Teatro Só, Ao Cabo Teatro, Companhia Teatro Braga, TNSJ, Seiva Trupe, Projéc~ Guarda), Teatro do Bolhão, TNDM II, Panmixia. Trabalhou com encenadores como José Carretas, Rogério de Carvalho, Nuno Cardoso, Kuniaky Ida, Peta Lilly, Jean Pierre Sarrazac, António Lago, Julio Castronuovo, Rui Madeira, António Durães, Amandio Rodriguez, Bruno Schiapa, Miguel Seabra entre outros.

A n t ónio Pedr o sa I n te r p r etaç ã o Médico e cidadão

Actor em espectáculos dirigidos pelos encenadores Jorge Listopad, Rogério de Carvalho e Tiago Rodrigues, entre outros. Faz parte da Companhia Maior desde a sua fundação, tendo participado nos espetáculo Bela Adormecida e ILUMINAÇÕES.

I n te r p r etaç ã o Helmsberger (cidadão)

Cel este Mel o I n te r p r etaç ã o Cidadã

Cr istin a Gonça lves I n te r p r etaç ã o Mordomo e cidadã

Licenciada em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa. Foi professora de Inglês e Alemão no ensino oficial durante quarenta anos. Autora e coordenadora de vários projectos de escola, nas áreas de emigração e dança. Co-fundadora do movimento De Outra Maneira. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

I n te r p r etaç ã o C h e f e d a e s ta ç ã o e c i d a d ã

Isa bel Mil l et I n te r p r etaç ã o Koby e cidadã

Pertenceu ao Teatro Universitário do Porto. Estudou no Conservatório de Lisboa e na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto. Trabalhou com os encenadores António Calpi, Júlio Cardoso e António Capelo, entre outros. Dedicou-se à escrita e ensino de teatro para crianças. Escreveu os livros Alice e o Abismo e O Cão na Casa Verde. Encontra-se a escrever uma trilogia sobre Guilhermina Suggia, da qual estão já publicados os livros: Guilhermina e Pablo e A Dama do Castelo. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Isa bel Sim ões I n te r p r etaç ã o Mulher de Alfredo e cidadã

Com uma pós-graduação em Teoria da Cultura Visual, a sua experiência divide-se entre a dança e o teatro. Como bailarina, participou em coreografias de Liliane Viegas, Rui Horta, Benvindo Fonseca e Paula Careto, entre outros. Como actriz, foi dirigida por Ruy de Matos, Nicolau Breyner, Philipe Genty, António Feio e Tiago Rodrigues. Desempenhou ainda várias funções nas áreas da direcção de cena, adereços, figurinos e produção de espectáculos. Em cinema, foi dirigida por António Macedo e António-Pedro Vasconcelos. Mais recentemente tem participado regularmente como actriz em ficções televisivas de diversos canais. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Dia n a C o el ho

I va Del ga do

Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, frequentou a Escola Superior de Teatro e Cinema e o curso de especialização em Estudos Teatrais da FLUL. Professora do ensino secundário de Filosofia, Psicologia, Sociologia e Oficinas de Expressão Dramática. Participou em vários espectáculos com encenação de A. Pedro, A Guthkin, F. Wolf, F. Marquez e Ricardo Pais, entre outros. Encenou vários autores, dos quais destaca Gil Vicente, Strindberg, Florbela Espanca, Padre António Vieira e Alice Vieira. Autora de Manifestos de Teatro, artigos de índole filosófica e um monólogo teatral. Directora da colecção Teatro no Cordel. Bolseira da Fundação Oriente para fotografar Teatro Clássico, no Japão. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Nasceu em Lisboa. Fez os estudos secundários nos Estados Unidos da América e licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi directora de serviços do Ministério da Cultura. É presidente da Fundação Humberto Delgado. É autora e organizadora de diversas obras, entre as quais Portugal e a Guerra Civil de Espanha, Escritores Políticos de Siscentos, O General, A Tirania Portuguesa, Humberto Delgado: Eleições de 58, Memórias de Humberto Delgado. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

I n te r p r etaç ã o Cidadã

I n te r p r etaç ã o Loby e cidadã

Jor ge Fa lé I n te r p r etaç ã o Pa d r e

Nasceu em 1944. Trabalhou nos CTT e na TAP, tirou um mestrado em Literatura Portuguesa, participou em espectáculos de teatro, em filmes e telenovelas.Faz parte do elenco da Companhia Maior desde 2011 e participou nos espectáculos MAIOR e ILUMINAÇÕES.

I n te r p r etaç ã o Cidadã

K im ber l e y Ribeir o I n te r p r etaç ã o Mulher do Presidente e Luisinha

Nasceu nos Estados Unidos da América. Formou-se no Conservatório de Música de Boston e trabalhou com a companhia Boston Dance Theatre. Após uma digressão pela Europa decidiu radicar-se em Lisboa onde integrou a Companhia Verde-Gaio. Ingressou na Companhia Nacional de Bailado, desde a sua fundação em 1977, onde desenvolveu a maior parte da sua carreira profissional como bailarina, ensaiadora e Tour Manager. Actualmente, dá aulas de carácter na Escola Profissional de Setúbal. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Ma n uel a de Sou sa Ra m a I n te r p r etaç ã o Filha de Alfredo e cidadã

No seu percurso profissional destaca-se o trabalho como jornalista e apresentadora de programas na RTP, durante mais de 20 anos, tanto na área da informação como do entretenimento. Paralelamente, teve várias experiências profissionais como actriz em teatro e cinema. Tem formação artística diversificada, nomeadamente na área da dança. É autora de vários livros de ficção e não ficção. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

Paul a Bá r cia I n te r p r etaç ã o Hofbauer (cidadã)

Foi professora de História na Escola de Dança do Conservatório Nacional. Produtora de acções de História ao Vivo e de espectáculos de teatro e dança. Autora de literatura juvenil e vídeos. Colaborou com companhias como A Barraca, Artistas Unidos e Companhia Paulo Ribeiro. Faz parte do elenco da Companhia Maior desde 2011 e participou nos espectáculos MAIOR e ILUMINAÇÕES.

V í t or L op es I n te r p r etaç ã o P i n t o r e g i n a s ta

Do seu percurso diversificado, destaca-se a sua actividade de artista plástico. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1959. Interessa-se também por teatro, onde intervém como cenógrafo e figurinista: A Excepção e a Regra, Farsa de Inês Pereira; e, em Grandezas e Misérias de um Maioral de Gado, também como autor da encenação. Está na Companhia Maior desde a sua criação e participou nos espectáculos Bela Adormecida, MAIOR e ILUMINAÇÕES.

companhia MAIor A Companhia Maior é um projecto artístico cuja missão consiste na promoção da criatividade na idade maior, em permanente contacto com as várias gerações de criadores e num contexto interdisciplinar da criação contemporânea, designadamente através da produção e apresentação de espectáculos e a realização de actividades de formação (ateliês, seminários, residências e workshops). A Companhia Maior foi criada em 2010, no âmbito da programação do Centro Cultural de Belém, sob proposta de Luísa Taveira. É composta por intérpretes profissionais da área do teatro, dança e música, todos com mais de 60 anos. O elenco do primeiro espectáculo da companhia foi formado atraves da realização de um workshop/audição no Centro Cultural de Belém, entre 4 a 14 de Março de 2010, dirigido por Tiago Rodrigues. Seguiram-se mais três workshops/formação nas áreas de dramaturgia, música e dança contemporânea, orientados respectivamente por Jacinto Lucas Pires, João Lucas e Clara Andermatt. Estes Workshops foram frequentados por 14 elementos que acabaram por constituir o espectáculo Bela Adormecida, encenado por Tiago Rodrigues, que estreou dia 28 de Outubro de 2010. Após os muito bem acolhidos quatro dias de exibição no CCB, o espectáculo fez uma grande digressão, passando cronologicamente desde Dezembro de 2010 a Maio de 2011 pelo Teatro Municipal de Bragança, Cine-teatro de Estarreja, TEMPO em Portimão, Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, Teatro Viriato, em Viseu, TECA, no Porto, Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, Teatro Virgínia, em Torres Novas, Teatro Municipal da Guarda, Casa da Cultura, em Alfândega da Fé, e Centro de Espectáculos de Tróia. Ainda em 2011 uma série de workhops/formação, com Vítor Rua e Clara Andermatt, abriram as portas a novos elementos, sendo a equipa artística da Companhia Maior, actualmente constituída por 19 artistas, em residência no CCB. Parte deste grupo de artistas integrou o espectáculo MAIOR de Clara Andermatt, estreado a 8 de Dezembro 2011, no CCB. Em digressão, foi apresentado no Teatro de Almada, Teatro Gil Vicente, em Coimbra, TeatroCine de Torres Vedras e Teatro Aveirense. Entre Março e Julho de 2012, os artistas frequentaram três workshops, sob a orientação de Teresa Lima, Nuno Cardoso e Mónica Calle. ILUMINAÇÕES, com direcção de Mónica Calle, estreou dia 3 de Novembro 2012 no Centro Cultural de Belém, tendo feito uma série de quatro espectáculos. Este é um projecto artístico que aposta na ideia de que a criação contemporânea nas artes performativas pode desenvolver a sua capacidade de pesquisa, experimentação e inovação através de uma estratégia inclusiva de artistas mais velhos e experientes. A Companhia Maior tem um Conselho Consultivo cuja função é assegurar uma discussão contínua sobre o funcionamento da companhia, a sua missão artística e o seu impacto, que transborda claramente as fronteiras estritas da criação artística. Este Conselho Consultivo é presidido por Daniel Sampaio e conta com Eduardo Marçal Grilo, António Mega Ferreira e Jacinto Lucas Pires. A direcção é de Luísa Taveira, Tiago Rodrigues e Sofia Campos.


Nada

custa mais caro Ă

humanidade do que uma

liberdade

barata .

friedrich dĂźrrenmatt


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