Folha de sala NOITE

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são lu i z teatro m u n i c i pal 10 a 13 MAR

DANÇA/ MULTIDISCIPLINAR

Circolando

noite De André Braga e

Cláudia Figueiredo

© josé caldeira

Quinta a Sábado às 21h Domingo às 17h30 palco da Sala Principal: M/12 €12 (com descontos €5 a €8,40) Duração (aprox.): 1h55

A noite incendeia o lado esquivo do coração. Al Berto março 2016


noite

Noite integra um ciclo de projectos intimistas que vimos desenvolvendo em torno dos territórios da escuridão em busca de novas claridades. Projectos que vêm favorecendo o questionamento da nossa linguagem e estética e a procura de outros caminhos. Aqui, e na continuidade dos projectos mais recentes, foi dado o lugar central à improvisação. Trouxemos as ideias de partida e os materiais-chave e deixámos que tudo surgisse ali, de forma inesperada. A conceptualização, estruturação e narrativas vieram depois, perante o material em bruto e estado selvagem. É na escuridão que reside um estar desconhecido onde pode surgir puro o ímpeto criativo. A ideia inicial era focarmo-nos essencialmente num autor: Al Berto, um poeta que esteve bastante presente nos nossos primeiros trabalhos e que quisemos revisitar mais profundamente. Al Berto fala-nos de uma geração de subúrbio, dos subterrâneos das cidades, das tribos do Néon e “de uma velocidade que devora o contorno humano dos seres e dos lugares”. Fala-nos de paisagens devastadas, de um mundo despedaçado e profundamente nocturno. Contudo, é também ali, bem no fundo da noite, que para ele “fica também em aberto a possibilidade metafísica de uma luz diferente”.

Arrabaldes, pântanos, não-lugares para lá dos subúrbios. Destroços, resíduos, estilhaços. Espaços de todo o tipo de náufragos. Arena. A tensão extrema do buraco negro. A energia selvagem e caótica. Emoções prontas a explodir. Limite, desafio, superação. Excesso, intensidade, libertação. Corpo com bocas, chão incerto, vibrações de asas. “O abismo é esta linha brilhante entre a noite e a alba.” – nesse tempo éramos dois amigos e um cão tínhamos o mundo só para nós – corremos – temos o voo do coração na ponta dos dedos – é noite calemo-nos um momento esqueçamos também o tempo são horas de alucinação A obra poética de Al Berto foi só o início da nossa viagem por diferentes noites. André Braga e Cláudia Figueiredo

Sei às vezes que o corpo é uma severa massa oca, com dois orifícios nos extremos: a boca, e aos pés a dança com a coroa de labaredas – a cratera de uma estrela. E que me atravessa um protoplasma primitivo, uma electricidade do universo, uma força. E por esse canal calcinado sai um ruído rítmico, uma fremente desarrumação do ar, o verbo sibilante, vento: o som onde começa tudo – o som.

A noite jorra silêncio de estrelas e de mar, cobre de cintilações a terra lavrada. A contínua escuridão torna-se claridade, iridescência lume, que incendeia o coração. Foram essencialmente estas duas dimensões do seu universo, subúrbio e elogio da luz, que nos interessaram, mas depois sentimos absoluta necessidade de nos libertarmos dele e seguirmos mais soltos o nosso próprio mapa de áreas de pesquisa.

Completamente vivo. Herberto Helder

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A noite é para sobreviver Inês Nadais, Ípsilon, Novembro 2015 A luz vagueia pelo palco como um farol perdido na escuridão da noite. É uma luz nervosa, uma luz à procura, como André Braga, Paulo Mota e Ricardo Machado desde que há uns meses resolveram aventurar-se na noite — o lugar “de excesso, velocidade e exaustão” que devorou a poesia de Al Berto que primeiro os atraiu até lá e que depois foram largando como uma pele curta de mais, mas também o lugar de todas as possibilidades, pelo menos até ao nascer do sol. Não parece o lugar mais indicado para se procurar a luz — mas é verdade é que é na escuridão que os clarões são mais violentos, mais incandescentes. (…) A noite, a arena, os pneus, tudo isso estava lá quando a Circolando decidiu começar a viagem. O DJ-palhaço também. Depois os materiais foram-se acumulando nas redondezas, enquanto eles raciocinavam (e improvisavam) em roda-livre: buraco negro, fuga, excesso, velocidade, auto-estrada. “E a luz, as luzes. O néon, os faróis dos carros, os faróis do mar — que também vêm da noite do Al Berto, próxima do mar, ali em Sines. Até que nos fartámos do Al Berto e decidimos afastar-nos. Ficou o que tinha de ficar, queríamos estar mais soltos.” E vieram as luvas de boxe, as cabeleiras, a máscara de palhaço, a cabeça de cão. Veio o pó. Veio a chuva de confetti. E tudo ferveu como na verdade já fervia nas peças anteriores, porque não podia deixar de ferver: “Acho que esta raiva já está há algum tempo connosco. Andamos todos um bocadinho irritados com muita coisa que se passa fora da sala de ensaios. Mas sim, há muita revolta na noite — a noite é selvagem, tanto na floresta como na cidade, tanto no mar como no espaço interestelar. É a revolta do relâmpago, do vulcão e da terra a explodir, também, que aliás vamos querer continuar a explorar”, admite André. A noite serve para isso: para ter ideias, todas urgentes, todas possíveis, pelo menos até ao nascer do sol.

Estas imagens inspiraram Cláudia Figueiredo e André Braga para desenvolver Noite. Estes artistas investigaram nesse submundo social para construir um espectáculo repleto de imagens e sensações intensas. Estamos perante uma viragem estética e poética da Circolando, contudo, tanto a utilização dos materiais cénicos como a meticulosa iluminação, a extraordinária partitura musical e os jogos de cena mostram-nos um trabalho extraordinário, depurado e energético de teatro gestual suportado na fisicalidade e expressão corporal. Neste sentido, Circolando abandona a sua etapa antropológica anterior para instalar-se na investigação em dança/teatro contemporâneos sem abandonar o significado poético e metafórico, expressivo com matrizes conceptuais fundadas no compromisso social. Por isto dizia que Noite é um espectáculo significativo. Aborda a estética contemporânea com uma temática coerente e arriscada. Tal como o poeta Al Berto, expõe a metafísica da escuridão que nos rodeia que está na guerra, na destruição, nos subúrbios urbanos, nos esgotos, na luta pelo poder. Do mesmo modo, a luminosidade encontramo-la na arte livre de amarras, no jogo teatral, no ser humano quando se mostra solidário; a luz está na esperança, e Circolando acredita na pessoa enquanto indivíduo e colectivo. Em Noite nada é gratuito e supérfluo; ainda que pudesse parecer que a segunda parte sobrara depois de um trabalho expressivo portentoso e esgotante, a obra possui uma dramaturgia evidente. Por isso dizia na introdução, que o espectáculo possui uma grande lucidez. As duas partes complementam-se. O processo de trabalho desta montagem baseou-se numa ideia mãe que se desenrola com cenas que têm sentido em si mesmas. Desta perspectiva, a música, com um DJ em cena permanente, serve de nexo de união. A título de exemplo, há que referir-se o silêncio quando a luz busca entre o caos; a intensidade sonora em crescendo para a destruição; o som sideral com a construção piramidal; o Lacrimae do Requiem de Mozart para exprimir o apocalíptico com a mesa de som só em cena como um túmulo, imponente; e no fim, Agnus Dei mozartiano suplicante e esperançoso para encerrar a elipse. Noite é um espectáculo potente tanto em linguagem como em discurso. Cerca de uma centena de pneus de carro usados invadem a cena numa ordem e desordem entrópicas constante. Os intérpretes manipulam os pneus para destruir e construir uma cenografia mutável absolutamente significativa: edifícios, escombros, pirâmide, naufrágio, ilhas, ring, campo de batalha… A intensidade dramática está presente em toda a obra, mas há momentos perturbadores ao limite.

Do Caos à Redenção Manuel Sesma Sanz, Artezblai, Dezembro 2015 A Circolando apresentou a sua mais recente criação com a qual inicia uma nova etapa que marca a sua redefinição artística. Em Noite, um espectáculo poderoso, significativo e de grande lucidez, desenvolve-se um diálogo e reflexão metafísica sobre a luz e a escuridão. “A noite envolve-me, fustiga-me com o susto e o medo, cria penumbras, sombras esbeltas, claros-escuros que me dão uma outra dimensão da vida. Ainda consigo ter disponibilidade para amar.” Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares (1948-1997), assimila as trevas à devastação, à sociologia dos marginalizados, à situação bélica; contudo, mantém todavia a possibilidade de amar.

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André Braga e Cláudia Figueiredo desenvolvem juntos o seu trabalho desde que fundaram em 1999 a Circolando Cooperativa Cultural. O trabalho no espaço de fronteira e cruzamentos disciplinares caracteriza o seu percurso, sendo que para as suas criações convocam um colectivo de criadores vindos das áreas da dança, teatro, artes plásticas, música e cinema. A abordagem poética dos universos dramatúrgicos, o carácter intensamente físico das propostas e a força das componentes plástica e musical são traços marcantes do projecto. Após 10 anos de actividade, o seu percurso artístico é marcado por um certo desvio estético, em direcção a uma maior crueza e despojamento. O homem na sua natureza dual e complexa e as realidades repletas da convivência muito própria de vários opostos ocupam agora o núcleo das reflexões. Presença forte vêm assumindo também os projectos que trabalham com a comunidade e fazem do território e das pessoas que os habitam a principal matéria criativa. www.circolando.com

bilhete suspenso

Criação: André Braga, Cláudia Figueiredo, Paulo Mota e Ricardo Machado Direcção: André Braga Dramaturgia: Cláudia Figueiredo Interpretação: André Braga, Paulo Mota e Ricardo Machado Dj e sonoplastia: André Pires Concepção plástica: André Braga, Nuno Brandão e Sandra Neves Desenho de luz: Francisco Tavares Teles Produção: Ana Carvalhosa (direcção) e Cláudia Santos Coordenação técnica e operação de luz: João Abreu Palco e montagem: Nuno Brandão Registo vídeo: Vítor Costa Co-produção: Circolando, Teatro Municipal do Porto, São Luiz Teatro Municipal, Centro Cultural de Ílhavo Residência de criação: Centro Cultural Gafanha da Nazaré e Teatro Municipal Campo Alegre A Circolando é uma estrutura subsidiada por Governo de Portugal – Ministério da Cultura / Direção Geral da Artes Outros apoios: IEFP / Cace Cultural do Porto

Convidamos o público do São Luiz a adquirir um bilhete pelo valor de 7 euros, que fica suspenso na nossa bilheteira e que reverte para pessoas apoiadas pelas entidades associadas. O restante valor do bilhete é suportado pelo Teatro. O Bilhete Suspenso é um projecto que se insere na política de responsabilidade social do São Luiz Teatro Municipal. Conheça, junto da bilheteira do Teatro, as entidades associadas. bilheteira@teatrosaoluiz.pt tel: 213 257 650

São luiz teatro municipal Direcção Artística Aida Tavares Direcção Executiva Joaquim René Programação Mais Novos Susana Duarte, Inês Almeida (estagiária) CONSULTORIA para a Internacionalização Tiago Bartolomeu Costa Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora), Susana Duarte (Adjunta), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director), João Nunes (Adjunto), Iluminação

Carlos Tiago, Ricardo Campos, Ricardo Joaquim, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora), Elsa Barão, Nuno Santos Design Gráfico silvadesigners vídeo Tiago Fernandes Bilheteira Cristina Santos, Hugo Henriques, Soraia Amarelinho Frente de Casa Letras e Partituras Coordenação Ana Luísa Andrade, Cristiano Varela, Teresa Magalhães Assistentes de Sala Ana Catarina Bento, Ana Sofia Martins, Catarina Ribeiro, Carolina Serrão, Daniela Magalhães, Domingos Teixeira, Helena Malaquias, Helena Nascimento, Hernâni Baptista, João Cunha, João Pedro, Manuela Andrade, Paulo Daniel Pereira, Raquel Pratas, Sara Fernandes Segurança Securitas LIMPEZA Astrolimpa


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