Folha de sala SOBRE O CONCEITO DO ROSTO DO FILHO DE DEUS

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Passaram dez anos desde a última presença de Romeo Castellucci em Lisboa. Foi em 2006 com Tragedia Endogonidia #4 Bruxelles. É tempo de reconstruir uma relação com um dos mais complexos e proteiformes encenadores contemporâneos. Nestes dias recuperamos o tempo da ausência com filmes, encontros e a estreia nacional de Sobre o Conceito do Rosto do Filho de Deus.

SOBRE O CONCEITO DO ROSTO DO FILHO DE DEUS

© Klaus Lefebvre

Sul Concetto di Volto Nel Figlio di Dio

6 a 8 maio 2016, sexta e SÁBADO Às 21h, domingo Às 17h30 são luiz teatro municipal, Sala Principal Duração aprox:1h; M/16; estreia nacional

Estreado em 2010, Sul Concetto Di Volto Nel Figlio Di Dio constrói-se a partir de uma reprodução da obra do pintor Antonello Da Messina, Salvatore Mundi (1465), que nos coloca perante o rosto de Jesus Cristo. Castelluci lançou-se numa pesquisa profunda sobre a dimensão humana da abnegação e da crença, criando três sequências independentes que desejam “materializar o momento em que Cristo entra na carne do homem e morre na cruz”. Explicava na altura da estreia, que lhe interessava “o abandono da divindade [no momento em que] integra plenamente a sua dimensão humana”. Na primeira sequência, um homem cuida do seu velho pai, que sofre de incontinência fecal. É o amor e a tolerância filial postas à prova perante a raiva e a impotência. “A dimensão escatológica ultrapassa todo o realismo e a situação torna-se metafísica”, explicava o encenador. “Passamos da cropologia [o estudo das fezes] à escatologia [o encontro entre a teologia e a filosofia que reflecte sobre o fim do mundo]”. No segundo momento um grupo de crianças apedreja a reprodução do quadro que é, em seguida, destruído por três alpinistas que revelam a frase “(Não) És o meu pastor”. Este encontro entre a imagem oferecida e o modo como é entendida, está na base de um teatro reflexivo e especulativo e que se presta ao debate e à discussão sobre os limites da arte. O papel do teatro é o de provocar “uma epifania individual no espectador”, recusando uma “doutrina sagrada”, defendia o encenador numa entrevista em reacção às acusações de cristianofobia que se seguiram às apresentações em Paris em 2011, marcadas pela violência e confrontos entre extremistas católicos. Castelluci explicava que “esta peça é, ao mesmo tempo, a experiência de uma profunda humilhação a do pai que não se consegue controlar e, assim, decompõe a sua dignidade e, uma experiência de uma profunda manifestação de amor a do filho que vem iluminar a situação, como uma luz divina. Cabe ao espectador responder ao enigma perante o qual é colocado", conclui.


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