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O desafio do farmacêutico no uso racional de medicamentos
ENTREVISTA OPINIÃO O FARMACÊUTICO NO DESAFIO DO USO RACIONAL DOS MEDICAMENTOS
O USO IRRACIONAL OU INADEQUADO DE MEDICAMENTOS É UM DOS MAIORES PROBLEMAS A NÍVEL MUNDIAL. A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) ESTIMA QUE MAIS DE METADE DE TODOS OS MEDICAMENTOS SÃO PRESCRITOS, DISPENSADOS OU VENDIDOS DE FORMA INADEQUADA E QUE METADE DE TODOS OS PACIENTES NÃO OS UTILIZA CORRECTAMENTE.
Omundo tornou-se num lugar tão complexo, perigoso e doente, que fazer boas escolhas é mais importante do que nunca. Veja o corpo humano. Quando os investigadores somam o valor dos químicos que compõem as diversas partes do nosso corpo, poderão concluir que não valemos muito. Contudo, a revista Wired estimou que, se considerarmos o valor monetário dos nossos corações, pulmões, rins, ADN e medula óssea, valemos, individualmente, uns 65 milhões de dólares. Como ser humano racional, pensante, vivo, com a enorme capacidade de Amar e Vivenciar as maiores alegrias da vida, ainda somos mais valiosos do que os 65 milhões de dólares estimados. A medicina moderna criou técnicas sofisticadas para melhorar a saúde humana. Contudo, ninguém que conheça os dados pode dizer que a guerra está ganha. Procurar ter saúde é um desafio diário para cada Governo e cada pessoa. Os especialistas em saúde pública concentram-se no tratamento, no controlo ou na eliminação de doenças infecciosas (ou transmissíveis); as não transmissíveis, ou causadas pelo estilo de vida, subiram em flecha. Hoje, as doenças não transmissíveis entrincheiraram-se em todas as sociedades do mundo: nas economias desenvolvidas e em vias de desenvolvimento, nas opulentas e nas pobres. São, na sua maioria, relacionadas com o estilo de vida e representam uma enorme ameaça à nossa saúde, felicidade e longevidade. Se colocarmos atenção na nossa vida, honestamente, vamos dar-nos conta de que sempre temos alguma coisa Dra. Zola Mayamputo João
Técnica média de Farmácia pelo IMS de Luanda; licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas; agente de Segurança Higiene e Saúde no trabalho; directora técnica da Australpharma
para pedir e outra para agradecer e, nesta senda, é sempre tempo de corrigir, amadurecer e fazer o que é correcto.
Farmacêutico como agente de saúde pública Existem várias doenças não transmissíveis e, pelo menos, 40% de todas as mortes causadas por esses tipos de doenças resultam do consumo irracional de medicamentos, de alimentos ricos em gorduras saturadas e gorduras trans, de sal e de açúcar (e hidratos de carbono refinados). Se gosta de comida de plástico, se fizer refeições irregulares, se abusar do sal, de grandes quantidades de gordura, se tiver uma alimentação com produtos muito refinados, ou ingerir porções grandes, saiba que mudar pode ser muito melhor e que essa é a razão pela qual os farmacêuticos são também os agentes de saúde pública e fazem toda diferença na dispensação de informações ou conselhos valiosos para a população que acorre aos seus serviços e da qual vão também ao encontro. Actualmente, um dos sectores de grande crescimento, na área farmacêutica, é a actuação no segmento de dispensação de medicamentos, acompanhada de conselhos valiosos sobre o fármaco/alimento (estilo de vida). Sabia dos grandes desafios e dificuldades que são encontrados neste sector? A compreensão, a cortesia, a simpatia e o grande conhecimento técnico do farmacêutico são as grandes buscas de todo o paciente, para esclarecê-lo e orientá-lo. Por isso, o profissional deve estar totalmente actualizado nos seus conhecimentos, pois estar em contacto é factor essencial para o sucesso. Na linda actividade farmacêutica, gera preocupação o facto de, por um lado, existir a missão de realizar actividades para prevenção de doenças e o uso racional de medicamentos e, por outro, a necessidade de comercialização de medicamentos e de manutenção do negócio. Pode-se afirmar que ambos os lados devem ter o mesmo peso para que o sucesso aconteça. O desequilíbrio entre os interesses de saúde e os económicos pode levar à quebra na saúde ou à falência da farmácia ou depósito. Estamos a viver esta dinâmica, nos dias de hoje. Entendemos que a melhor saída é a união dos dois interesses nas mãos do farmacêutico. O uso racional de medicamentos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entende-se quando “pacientes recebem medicamentos para as suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menos custo para si e para a comunidade”. O uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas a nível mundial. A OMS estima que mais de metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade de todos os pacientes não os utiliza correctamente. O uso excessivo e indevido de medicamentos resulta em riscos para a saúde, além de desperdício de recursos financeiros. Farmacêuticos: somos chamados, muitos de nós, nas áreas de actuação, a pôr os nossos serviços em alta e em busca de melhorias no atendimento. Por isso, é dado o momento para sairmos da zona de conforto, com a criação da ARMED, e juntos colaborarmos em:
• Propor directrizes e estratégias nacionais para a promoção do uso racional de medicamentos, em consonância com as políticas nacionais de medicamentos de assistência farmacêutica e legislação afim;
• Propor e identificar estratégias e mecanismos de articulação, monitoramento e avaliação direccionadas à promoção do uso racional de medicamentos, de acordo com os princípios e directrizes do sistema de saúde;
• Contribuir, por meio da promoção do uso racional de medicamentos, para a ampliação e a qualificação do acesso ao medicamento de qualidade, seguro e eficaz;
• Propor iniciativas de pesquisa e desenvolvimento científico, tecnológico e profissional relacionadas ao uso racional de medicamentos.
Mas, em vez de se sobrecarregar com múltiplas mudanças, escolha começar por dar pequenos passos e procedimentos simples para a nossa saúde comunitária. O sofrimento desnecessário continua a ser um grave problema no mundo, pois apenas um em cada 10 daqueles que necessitam de cuidados paliativos, incluindo alívio da dor, os recebe actualmente. Tem sido pouco divulgado o uso racional de medicamentos e vemos a automedicação e a passagem de boca a boca em alta dimensão, em particular nosso país. “Eu não tenho como impedir a morte, mas, entre o nascimento e a morte, estou neste meio para fazer a diferença”. Um cliente, cedo ou tarde, perceberá quando for vítima de indicações descabidas e não retornará àquele estabelecimento ou farmacêutico. A qualidade objectiva dos serviços prestados é nossa a responsabilidade.