21 minute read
Dr. Peliganga Baião fala sobre a problemática da Ómicron em Angola 12 As tendências no sector da saúde, em 2022, segundo a consultora Deloitte
A NOVA ESTIRPE ÓMICRON CHEGOU A ANGOLA E, SIMULTANEAMENTE, ESTÁ A CONQUISTAR O MUNDO. O DR. PELIGANGA BAIÃO, MÉDICO INFECCIOLOGISTA, FALA-NOS DESTA PROBLEMÁTICA NO NOSSO PAÍS, QUE CONSIDERA DE UM BOM EXEMPLO, A NÍVEL MUNDIAL, NO COMBATE À COVID-19.
Dr. Peliganga Baião
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. Mestre em Ciências Área de Concentração Medicina Tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz. Especialista em Infecciologia pelo Conselho Nacional de Especialização Pós-Graduada em Ciências Médicas de Angola. Pós-Graduado em Doenças Infecciosas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto/Angola. Coordenador da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias. Chefe de Departamento de Controlo de Doenças/Direcção Nacional de Saúde Pública - Ministério da Saúde de Angola. Doutorando em Medicina Tropical no Instituto Oswaldo Cruz/Rio de Janeiro
Qual é a principal diferença da variante Ómicron em relação às outras estirpes de Covid-19 já identificadas? A grande diferença desta estirpe é que tem uma grande capacidade de transmissão: é cerca de três vezes mais transmissível, com um menor volume de inóculo, que as outras estirpes. Assim como tem um período de incubação mais curto e um quadro clínico predominantemente leve.
Alguns especialistas afirmam que, quanto mais depressa a Ómicron se disseminar, melhor será devido à obtenção de imunidade de grupo. Qual é a sua opinião a este respeito? A imunidade de grupo é conferida quando há cerca de 80% da população, numa determinada área, com imunidade natural a um determinado agente. É de realçar que este conceito não se pode aplicar quando esse agente não confere imunidade cruzada. O que quer dizer que só podemos falar de imunidade de grupo quando uma estirpe que acomete uma determinada população garante imunidade natural, após o surgimento de outra. Até agora, essa situação não se confirmou com o SARS-CoV-2, porque os indivíduos que tiveram outras variantes estão a ser acometidos pela Ómicron.
Podemos dizer que a Ómicron é a estirpe “boazinha”? Alguns estudos demonstram que a transmissibilidade desta variante é muito superior à das outras, no entanto, os seus efeitos são muito inferiores, o que se reflete, nomeadamente, nos internamentos observados. Angola comprova este facto? No nosso contexto, o número de óbitos em relação ao aumento exponencial dos casos sustenta esta hipótese, mas a Europa já está a reportar um aumento do número de óbitos por Ómicron, sobretudo nos indivíduos não vacinados.
Como é que Angola está a lidar com esta variante, uma vez que o aumento de casos está a ser exponencial? Angola, desde o início da pandemia, foi um exemplo para o mundo. O Ministério da Saúde de Angola (MINSA) tem orientado e reforçado as medidas de biossegurança para o SARS-CoV-2, com campanhas de mobilização social. Mas a população tem que fazer a sua parte, acatando as orientações emanadas e aderindo à campanha de vacinação.
A vacinação é essencial para controlar esta pandemia? Na sua opinião, a terceira dose é fundamental? Sem dúvida que sim! A redução do número de doentes hospitalizados e de óbitos demonstra as vantagens da imunização. Cientificamente, está comprovado que, após seis meses de imunização, há queda dos títulos de anticorpos, motivo pelo qual há necessidade de se efectuar o reforço.
O período de isolamento mantém-se com esta nova estirpe e com a vacinação ou pode ser diminuído? As evidências científicas demonstram que, após sete dias do início dos sintomas, não há replicação viral, logo, o volume do inóculo diminui consideravelmente e a possibilidade de transmissão é ínfima. Actualmente, o isolamento de sete dias é o recomendado.
Na sua opinião, quando é que a pandemia terá um final? Penso que iremos passar de pandemia para endemia, num futuro breve, e cada Governo vai traçar as suas estratégias de combate e controlo semelhantes às da gripes causadas por outros agentes.
ENTREVISTA ANÁLISE TENDÊNCIAS QUE IRÃO MARCAR O SECTOR DA SAÚDE EM 2022
UMA COLISÃO DE FORÇAS – UMA PANDEMIA DE PROPORÇÕES HISTÓRICAS, AVANÇOS EXPONENCIAIS NAS CIÊNCIAS MÉDICAS, A EXPLOSÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS, O ACESSO À INFORMAÇÃO, O EMPODERAMENTO DOS UTENTES E A DESLOCAÇÃO DO FOCO DO TRATAMENTO DA DOENÇA PARA A PREVENÇÃO E O BEM-ESTAR – ESTÁ A SERVIR DE CATALISADOR PARA AS TRANSFORMAÇÕES NO SECTOR DA SAÚDE. 2022 MARCA O SEGUNDO ANO COMPLETO DE COVID-19 EM TODO O MUNDO, QUE CONTINUA A DOMINAR AS ATENÇÕES E OS RECURSOS DOS SISTEMAS DE SAÚDE. GLOBALMENTE, A 14 DE DEZEMBRO DE 2021, OS CASOS ASCENDIAM A MAIS DE 270,9 MILHÕES E O NÚMERO DE MORTES EXCEDIA OS 5,31 MILHÕES. EM 2022, OS ACTORES DO SECTOR DA SAÚDE DEVERÃO MANTER-SE ALERTA E FLEXÍVEIS PARA LIDAR COM OS PICOS E VALES DOS CASOS E MORTES POR COVID-19, MAS TAMBÉM DE OUTRAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. EIS AS TENDÊNCIAS QUE IRÃO MARCAR ESTE ANO, SEGUNDO A CONSULTORA DELOITTE.
Com as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde a persistirem, as baixas taxas de vacinação estão a inibir muitos países de conter a pandemia. Mais de metade da população mundial tem ainda de receber uma dose da vacina contra a Covid-19. Mesmo nas economias desenvolvidas, aspectos relacionados com o acesso à vacinação, como a relutância de muitos utentes, as dificuldades no agendamento, os meios de transporte e a conveniência dos horários, estão a constituir obstáculos à imunização. Reconhecendo a interconexão da população global, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros grupos de interesse têm apelado aos líderes das 20 maiores economias mundiais que colaborem no financiamento de um plano, avaliado em 23,4 mil milhões de dólares, para distribuir vacinas, testes e medicamentos contra a Covid-19 nos países mais pobres, ao longo dos próximos 12 meses. Ao mesmo tempo, a resposta à pandemia está a testar os limites emocionais, físicos e de stress dos profissionais de saúde. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, 55% dos profissionais na linha da frente reporta situações de esgotamento, com a taxa mais elevada, cerca de 69%, a registar-se entre os mais jovens. As organizações de saúde estão a debater-se com a necessidade de apoiar os seus colaboradores e de reter talento, especialmente nas populações clínicas. Paralelamente, a pandemia também reduziu o acesso e a procura de cuidados de saúde não-Covid. Os pacientes estão a adiar uma série de consultas e tratamentos, incluindo de emergência para condições agudas, consultas de rotina e rastreios recomendados do cancro. Os efeitos, a longo prazo, pela incapacidade de intervir precocemente, pela falta de gestão das doenças crónicas e pelos subdiagnósticos, serão significativos. Mas, apesar dos muitos efeitos devastadores, a Covid-19 também apresenta ao sector da saúde uma poderosa oportunidade para acelerar a inovação e reinventar-se. A pandemia acelerou várias tendências já existentes ou emergentes, a integração das ciências da vida e dos cuidados de saúde, a rápida evolução das tecnologias digitais, os novos talentos e modelos de entrega de cuidados e a inovação clínica. Apesar dos desafios em múltiplas frentes, existe um crescente optimismo de que muitos países estão, hoje, mais preparados para gerir o impacto da pandemia. Os especialistas vêem a Covid-19 evoluir de pandemia para endemia, o que significa que se manterá entre nós, mas com níveis mais previsíveis e geríveis. Em 2022, os actores do sector da saúde deverão manter-se alerta e flexíveis para lidar com os picos e vales dos casos e mortes por Covid-19 e outras doenças transmissíveis. Eis as tendências que irão marcar este ano, segundo a consultora Deloitte.
Equidade As organizações de saúde estão na linha da frente a pedir equidade. Este conceito vai além da igualdade no acesso aos cuidados, tem que ver com a capacidade de cumprir com o potencial humano em todos os aspectos da saúde e do bem-estar, representando uma oportunidade de atingir um estado global de bem-estar clínico, mental, social, emocional, físico e espiritual, sendo influenciado não só pelos cuidados de saúde, mas também por factores sociais, económicos e ambientais. A equidade na saúde tem estado em foco, após os estudos terem demonstrado que a Covid-19 tem impactado desproporcionalmente os grupos historicamente marginalizados
ou de rendimentos inferiores e que estes experienciam barreiras que levam a uma saúde mais pobre que a de outros grupos populacionais. Na verdade, esta conclusão não constitui novidade. Muitas destas barreiras são partilhadas, como as falhas estruturais nos sistemas de saúde. Em 2020, a pobreza extrema aumentou globalmente, pela primeira vez, em 20 anos, com a Covid-19 a exacerbar os problemas das alterações climáticas e dos conflitos geopolíticos. Cerca de 100 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza, como resultado da pandemia. Ao mesmo tempo, as alterações climáticas, particularmente severas nos países da África subsariana e do sudeste asiático, deverão conduzir entre 68 milhões a 132 milhões de pessoas a uma situação de pobreza, até 2030. Mais de 40% dos pobres em todo o mundo vive em economias afectadas pela fragilidade, por conflitos e pela violência. Menos de 50% dos africanos tem acesso a instalações de saúde modernas. Outra barreira partilhada são os preconceitos não intencionais. Tradições culturais intricadas, percepções e preconceitos em torno da idade, raça, género, orientação sexual, deficiência física e mental, entre outros, podem interferir com os esforços para promover cuidados de saúde mais equitativos. A confiança nas organizações de saúde é fundamental, uma vez que influencia a vontade de obter cuidados médicos cruciais, rastreios preventivos e cuidados de saúde mental. A confiança também está ligada à perceção dos cuidados recebidos. No entanto, está bem documentado que nem todas as comunidades sentem o mesmo nível de confiança nas organizações de saúde. A confiança continua a ser um dos principais obstáculos ao aumento das taxas de vacinação contra a Covid-19, especialmente entre certas etnias. De acordo com a Kaiser Family Foundation, nos Estados Unidos da América, 38% dos adultos não vacinados enumerou a desconfiança no Governo como uma das principais razões pelas quais não foi vacinado. Paralelamente, alguns estudos estimam que os factores económicos e ambientais (também conhecidos como determinantes sociais da saúde) podem representar até 80% dos resultados. Estes impulsionadores da saúde incluem factores como o rendimento, a localização da residência e a qualidade das redes de apoio social. A discriminação e o preconceito, incluindo o racismo, fazem frequentemente com que estes factores sejam negativos. Isto compromete a saúde, tanto através da criação de um ambiente e estilo de vida pouco saudáveis, como de desafios de acesso aos cuidados de saúde e à sua cobertura.
Ambiente, sociedade e governança A comunidade de saúde pública apelidou as alterações climáticas como a maior ameaça do século XXI. Nenhum país ou continente é imune
aos impactos para a saúde do agravamento das alterações climáticas. O aquecimento global aumenta o risco de incêndios florestais, subida do nível do mar, calor extremo, mau tempo e secas. Estes factores podem ter um efeito directo na saúde da população e pressionar ainda mais as infraestruturas de cuidados de saúde. Por exemplo, o fumo dos incêndios florestais e a elevação dos níveis de pólen podem levar a doenças respiratórias ou piorar as condições de asma. O calor extremo e as secas, por sua vez, podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Os efeitos das alterações climáticas para a biodiversidade do planeta também representam riscos para o microbioma humano, potenciando alterações prejudiciais ao sistema imunitário e bem-estar mental. Também a poluição está a ser objeto de um escrutínio cada vez maior pelos seus impactos prejudiciais na saúde. De acordo com a OMS, a poluição contribui para 4,2 milhões de mortes prematuras em todo o mundo, todos os anos, com a região do Pacífico Ocidental entre as mais afectadas. O esforço de combate à poluição assumiu um perfil particularmente elevado na China, onde as autoridades dizem que os defeitos congénitos aumentaram 70%, entre 1996 e 2010. Mas os sistemas de saúde mundiais são responsáveis por 4% das emissões globais de dióxido de carbono, mais do que a aviação ou o transporte marítimo. Se o sector da saúde fosse um país, seria o quinto maior emissor de gases com efeito de estufa (GEE). As emissões provenientes directamente dos centros de saúde representam 17% da pegada mundial do sector. As emissões indirectas, provenientes da electricidade, vapor, arrefecimento e aquecimento, compreendem mais 12%. E a maior fatia - 71%- provém, principalmente, da cadeia de fornecimento de cuidados de saúde, a produção, transporte, utilização e eliminação de bens e serviços que o sector consome. Equipar os administradores hospitalares, clínicos e pessoal de apoio com maior conhecimento e formação para compensar o impacto das alterações climáticas no ecossistema de saúde é, assim, determinante. Assim como as iniciativas, ao nível das instalações, para, por exemplo, reduzir e eliminar correctamente os resíduos clínicos e os equipamentos de protecção individual (EPI). No entanto, as organizações de saúde também precisam de associar-se a reguladores e outros grupos de interesse para abordar questões de maior envergadura. O sector tecnológico tem um papel fundamental na disponibilização de infraestruturas digitais e soluções que permitam descarbonizar o ecossistema dos cuidados de saúde. Por outro lado, as recentes crises de saúde, climáticas e políticas têm destacado e exacerbado os desafios da saúde mental em todo mundo. Em particular, a pandemia de Covid-19 trouxe à luz as fissuras e falhas no sistema global de saúde mental e nas instituições que o apoiam. As organizações de saúde pública alertaram para uma onda de depressão e ansiedade, transtorno de stress póstraumático e outros problemas de saúde mental, incitando a acções urgentes. Além dos impactos da Covid-19, vários estudos encontraram uma forte ligação entre o uso massivo das redes sociais e um risco acrescido de depressão, ansiedade, solidão, automutilação e, até, pensamentos suicidas. A saúde mental e comportamental está, assim, a subir na lista de prioridades. O custo humano é imenso: entre um quarto e metade da população mundial é afectado por um problema de saúde mental, em algum dado momento da sua vida. Cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio, todos os anos, o que significa aproximadamente uma morte a cada 40 segundos. O suicídio é a segunda causa de morte no mundo para pessoas entre os 15 e os 24 anos. Entre 2011 e 2030, prevê-se que a perda acumulada de produção económica, associada a questões de saúde mental, seja de 16,3 biliões de dólares, em todo o mundo. Os custos directos
e indirectos da saúde mental são estimados em mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) global, mais do que os custos do cancro, diabetes e doenças respiratórias crónicas combinados. A pandemia concorrente de 2022 é da saúde mental. Existem obstáculos significativos para normalizar os cuidados em larga escala e, em muitas partes do mundo, a doença mental é estigmatizada e considerada vergonhosa. Embora tenha havido algumas mudanças de percepção durante a pandemia, e os governos de países tradicionalmente conservadores, como Singapura, Índia e China (os dois últimos países representam um terço do fardo global da doença mental), estejam a começar a lançar programas, muitas sociedades não entendem que a doença mental é como qualquer outra doença. Requer literacia em saúde para reconhecer sintomas em todas as idades, estratégias de prevenção estabelecidas em crianças em idade escolar primária, diagnóstico precoce e acesso atempado a tratamentos eficazes. Outro desafio para permitir programas de saúde mental eficazes é a persistente escassez de recursos humanos especializados. Os países de baixos rendimentos gastam, em média, apenas 0,5% dos seus orçamentos com a saúde mental.
Convergência do modelo de transformação digital e prestação de cuidados A prestação de cuidados de saúde tem estado sob uma crescente pressão e escrutínio, numa altura em que os sistemas de saúde, em todo o mundo, se debatem com o aumento do número de pacientes, o esgotamento e a escassez de profissionais, as perturbações da cadeia de abastecimento, a falta de equipamentos e instalações insuficientes e/ou desactualizadas. As proibições de viagens estão a dificultar o recrutamento de pessoal estrangeiro, pelo que os governos têm vindo a recorrer a médicos e enfermeiros reformados e estudantes de medicina para ajudar a mitigar estas dificuldades. As preocupações com as infraestruturas incluem a disponibilidade de camas de cuidados intensivos, ventiladores e equipamento de protecção individual. Paradoxalmente, a recessão económica e os custos crescentes dos sistemas de saúde, derivados da pandemia, proporcionam a tempestade perfeita para forçar os sistemas de saúde a alterar a sua força de trabalho, os modelos de infraestruturas e de prestação de cuidados, para continuarem a cumprir metas de qualidade e acesso, mas a partir de uma base de custos reduzida. Uma solução reside na convergência do modelo de transformação digital e de prestação de cuidados de saúde, uma tendência que acelerou durante a
pandemia. As medidas de distanciamento social já obrigaram muitos a utilizarem tecnologia para consultas programadas em ambulatório. Os hospitais e sistemas de saúde estão a adoptar a computação em nuvem, o 5G, a inteligência artificial e a análise de dados para enfrentar os desafios actuais e construir digitalmente modelos de prestação de cuidados.
Futuro da ciência médica A ciência médica está a ser transformada por descobertas científicas que irão avançar drasticamente na forma como diagnosticamos e tratamos diferentes doenças. Os avanços digitais, na nanomedicina, na genómica, na microbiometria, entre outros, estão a ocorrer a um ritmo sem precedentes, com base em estruturas transformadas de ensaios clínicos. A moldar o futuro da ciência médica está, ainda, a capacidade aumentada dos ecossistemas de saúde para a captura e análise de dados. As organizações estão a aplicar soluções virtuais, inteligência artificial e outras tecnologias para personalizar a medicina e permitir intervenções em tempo real. Nos últimos anos, assistimos a uma proliferação de produtos de medicina digital, software e hardware baseados em evidências que intervêm ao serviço da saúde. Os avanços na sequenciação genómica, por outro lado, podem permitir, por exemplo, a utilização de uma análise ao sangue para identificar vestígios de ADN cancerígeno e as mutações genéticas que o causam. Investigadores nos Estados Unidos e no Reino Unido usaram a sequenciação do genoma do coronavírus para entender como este está a mudar e, depois, basearem-se nesse conhecimento para melhorar as vacinas contra a Covid-19, para que possam responder melhor às variantes emergentes. Embora a investigação farmacológica tenha levado a muitos tratamentos que salvam vidas, é também um processo longo. As soluções ativadas pela inteligência artificial estão a transformá-lo e a permitir o desenvolvimento de tratamentos direccionados e mais precisos. No futuro, a medicina será mais personalizada, preditiva, preventiva e participativa.
Saúde pública reimaginada É um facto: a pandemia de Covid-19 alterou a dinâmica da saúde pública. O âmbito e a persistência desta crise global expuseram as vulnerabilidades nos sistemas de saúde pública e afectaram a sua capacidade de detectar e responder eficazmente de uma forma multidimensional, que poderia ter atenuado o seu impacto. Apesar de alguns bons exemplos (Nova Zelândia e Coreia do Sul, por exemplo), a gestão e o rastreio de contactos revelaram-se inadequados para a escala dos surtos iniciais e subsequentes da pandemia. Os profissionais de saúde pública foram colocados sob uma pressão significativa e prolongada, resultando em situações de esgotamento generalizado e de stress póstraumático, especialmente em países onde a escassez de profissionais já era um problema pré-pandemia. Ao mesmo tempo, a pandemia está a actuar como um catalisador para reimaginar o futuro da saúde pública: trata-se da saúde da população, não de um modelo individualista. A pandemia despertou os governos, as partes interessadas do sector e os próprios utentes para os desafios inerentes aos sistemas de saúde pública, gerando uma compreensão alargada de que só se alcançarão resultados drasticamente melhores se se proceder a mudanças sistémicas e se apostar na coordenação intersectorial. A pandemia provocou um reconhecimento crescente da necessidade de investir na saúde da população. Somos tão fortes quanto as nossas populações mais vulneráveis e a promoção, detecção e intervenção precoces são essenciais para prevenir, reduzir ou atrasar o aparecimento de doenças crónicas. Vários estudos sugerem que entre 30% e 55% dos resultados de saúde são afectados por factores sociais, económicos e ambientais. Estes determinantes sociais incluem o ambiente físico, a alimentação, as infraestruturas, a economia, a riqueza, o emprego, a educação, as conexões sociais e a segurança. A resposta eficaz aos desafios de saúde pública exigirá, assim, abordagens integradas em saúde, habitação, educação, transportes e emprego.
ENTREVISTA REPORTAGEM REPORTAGEM KASSAI O QUE ESPERAR EM 2022? KASSAI O QUE ESPERAR EM 2022? KASSAI O QUE ESPERAR EM 2022?
PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL/TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES.PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU PARA ACEDER AO KASSAI, VÁ A WWW.KASSAI.AO NO SEU COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL/TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO. COMPUTADOR OU TELEFONE DIGITAL O ACESSO É GRATUITO. /TABLET, E SIGA AS INSTRUÇÕES. O ACESSO É GRATUITO.
REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE
REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
EM 2021, O MINISTÉRIO DA SAÚDE FEZ O LANÇAMENTO OFICIAL DA PLATAFORMA KASSAI, RECONHECENDO-A E INDICANDO-A PARA USO, A NÍVEL NACIONAL, COMO PARTE DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. O DESENVOLVIMENTO DESTA PLATAFORMA FOI POSSÍVEL COM O FINANCIAMENTO DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID)/INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA (PMI) E COM A EXECUÇÃO DA PSI ANGOLA, EM PARCERIA COM A APPY PEOPLE.
Oprimeiro ano de vida do Kassai é marcado por um investimento aprofundado na área da malária. Foram cinco os cursos lançados e realizados por milhares de profissionais de saúde em Angola. 4.061 certificados de aprovação foram emitidos, entre janeiro e dezembro de 2021, com o curso de Malária – Visão Geral a ser o mais frequentado, com 1.345 profissionais de saúde a obterem uma nota igual ou superior a 80%. Os cursos de Malária em Crianças e de Malária em Grávidas ocupam os segundo e terceiro lugares, quanto ao número de certificados emitidos, com 1.100 e 1.012 profissionais de saúde aprovados, respectivamente. O Kassai conta actualmente com 3.177 profissionais de saúde inscritos e a frequentar os seus cursos, registando-se 9.562 inscrições em curso – isto porque cada profissional de saúde se inscreve e completa vários. Com o apoio da USAID/PMI, o Programa Nacional de Controlo da Malária iniciou a implementação do Kassai priorizando seis províncias: Cuanza Norte, Malanje, Lunda Sul, Lunda Norte, Zaire e Uíge. Destas seis províncias, destaque para as de Lunda Sul e Uíge que registaram, cada uma, mais de 600 profissionais de saúde aprovados em cursos de malária no Kassai (Lunda Sul 625 e Uíge 607). Apesar do esforço na priorização das províncias mencionadas, é possível perceber, pela análise demográfica dos profissionais de saúde inscritos no Kassai, que esta plataforma é já uma realidade, a nível nacional, registando inscrições provenientes de 16 das 18 províncias de Angola.
Crescimento do Kassai em 2022 Em 2022, o Kassai irá continuar a crescer. Não só em número de inscritos e de certificados emitidos, mas também em termos da oferta curricular, pretendendo-se que tenha uma relevância crescente e um portfólio de cursos cada vez mais diverso. O mês de Fevereiro marca a expansão do Kassai para duas áreas de saúde, além da malária. O curso de Informação sobre a Vacina contra a Covid-19, desenvolvido em conjunto com o Departamento de Higiene e Vigilância Epidemiológica da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), será uma realidade já no início do mês. Este curso irá permitir aos profissionais de saúde uma visão geral sobre a vacinação contra a Covid-19, incluindo a segurança e eficácia das vacinas, a oferta disponível em Angola, a informação e comunicação sobre esta vacina, incluindo mitos e factos, entre outros temas. Por sua vez, o curso sobre o Novo Caderno de Saúde - Materno Infantil (CSMI) foi desenvolvido com o apoio da Agência de Cooperação Internacional do Japão – JICA. A equipa do Kassai trabalhou conjuntamente com o Departamento de Cuidados Primários de Saúde/DNSP e com a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Angola (AGOA) para o desenvolvimento e validação de conteúdos. O CSMI é uma ferramenta valiosa na prestação de cuidados de saúde à grávida e ao bebé, desde a gravidez até aos cuidados em puericultura. Integra, ainda, várias áreas de saúde importantes e determinantes para reduzir a mortalidade materno-infantil, como, por exemplo, a prevenção da malária na gravidez, os cuidados neonatais, a vacinação ou o planeamento familiar para garantir o espaçamento recomendado entre gravidezes. Este curso estará disponível no Kassai também no início do mês de Fevereiro. A área da saúde sexual e reprodutiva terá um crescimento substancial, em 2022. Com o financiamento da USAID, e em conjunto com o Departamento de Cuidados Primários de Saúde/ DNSP e a AGOA, vários cursos estão em fase final de desenvolvimento, com previsão de estarem disponíveis nos próximos meses: Contracepção Oral Combinada, Contracepção Oral apenas com Progesterona, Contracepção de Emergência, Aconselhamento para a Escolha Informada e Planeamento Familiar – Visão Geral são alguns dos cursos a serem ultimados e que serão disponibilizados nos próximos meses.
Mais de 14 mil horas de formação Com o apoio da UNITEL, toda a plataforma é acessível a custo zero. Basta aceder a www.kassai.ao e, mesmo sem saldo de dados, o formando consegue aceder à plataforma e realizar a sua formação. Em 2021, formandos no Kassai investiram mais de 14.600 horas de estudo nos cursos, usufruindo do acesso gratuito à Internet para aceder e usar a plataforma. A oferta de cursos vai crescer e cada vez mais cursos vão estar disponíveis e à distância de apenas um clique.
Já conhece o Kassai? Vá a www.kassai.ao e inicie a sua viagem nesta corrente de conhecimento.