5 minute read
Perfil | baixo ribeiro
NASCIDO PARA VIVER COM A ARTE
Criador da Choque Cultural, o curador de arte e arquiteto Baixo Ribeiro é uma referência brasileira e internacional quando o assunto é street art
Advertisement
POR: Luiz Claudio Rodrigues | FOTOS: Paulo Brenta
Filho de artistas, casado com uma artista e pai de um
artista, Baixo Ribeiro sempre esteve completamente envolvido pela arte a vida inteira. Nascido no Brooklin, o artista viveu sua primeira infância em uma vila operária e foi lá, desde os primeiros anos de infância, que surgiu seu interesse pela arte. “Tudo acaba virando arte, na verdade. Eu pintava as camisas dos meus timinhos de futebol, pintava jogos no chão da minha rua, fazia desenhos especiais para as pipas que a minha turma empinava. Lembro-me que numa época abri até uma escolinha de artes junto com minha irmã na garagem da minha casa, tínhamos uns doze anos, por aí.” Mas uma das diversões favoritas dele era descer as longas ladeiras do bairro em carrinhos de rolimã com seus amigos. “Inspirado pelas corridas de Fórmula 1, virei um pequeno fabricante de carrinhos para os amigos do bairro. Minha especialidade era o design e as pinturas (risos). Eu descobri perto da minha casa, uma oficina especializada em pintura de carros de corrida e fiquei fascinado com aquelas pinturas cheias de degradê e efeitos especiais nos carros, motos e capacetes. Foi nessa oficina que conheci os sprays e os aerógrafos. Como não era fácil encontrar latas de spray para comprar, eu ficava improvisando, inventando novas técnicas. Minha mãe pintava telas a óleo, mas adorava me ensinar outras técnicas, como o estêncil, por exemplo. E meu pai era designer gráfico e trabalhava numa fábrica de instrumentos elétricos. Essa fábrica era fascinante também e lá eu conheci o silkscreen e outras técnicas de precisão. Com isso, toda a garotada do bairro trazia seus carrinhos para que eu os pintasse. Enfim, foi uma infância divertida e muito inspiradora.”
Apesar de toda essa inspiração natural, Baixo quando chegou na idade de fazer um curso na universidade estava mais interessado em design, moda e arquitetura. Então, foi estudar Arquitetura na FAU-USP. “Foi lá que conheci a artista com quem me casei, a Mariana, e vivo até hoje. Mariana não é só uma artista, como também era filha de artistas. Seu pai era o Aldemir Martins, um dos mais importantes artistas brasileiros, vencedor da Bienal de Veneza em 1956”, revela o artista. A FAU nos anos 1980 era um ponto de encontro de artistas de música, teatro, dança e todos os tipos de pessoas criativas. “Foi na FAU que conheci o Carlos Matuck, o Alex Vallauri, o Maurício Villaça, os pioneiros do grafiti no Brasil.” Entretanto, na época da faculdade, a paixão de Baixo Ribeiro era a moda e ele se embrenhava em alfaiatarias, camisarias, tecelagens e estamparias para aprender tudo sobre esse universo. Na época, tornou-se até um estilista conhecido em São Paulo, com os amigos Ocimar Versolato e Jun Nakao e foi aluno da diretora do Studio Berçot, a francesa Marie Rucki. “Foi um momento importante para a moda e o início de um ciclo de desenvolvimento sério no setor. Como ainda não havia escolas de moda, nos encontrávamos na Casa Rhodia, um hub de criativos e da indústria. Como eu já trabalhava full time e já tinha meu filho, acabei abandonando a faculdade de arquitetura que era incrivelmente interessante, mas demandava também atenção em tempo integral.
(Baixo Ribeiro)
O artista Baixo Ribeiro em seu universo de arte e contemporaneidade
Mas como a vida dá muitas voltas (e a minha ainda dá umas voltas a mais), depois de trinta anos, voltei para a FAU e estou me graduando junto com alunos de vinte e poucos anos. Muitos dos meus professores foram meus colegas de classe (risos)”. Atualmente, Baixo Ribeiro comanda a galeria Choque Cultural, um importante hub de arte e ações urbanas e educativas. “Meu interesse é unir artistas em torno de causas, como a melhoria das cidades e das escolas. Incentivo a democratização do acesso a arte. Minha formação é em Arquitetura e Urbanismo e meu trabalho é conectar artistas e públicos”, pontua. A Choque Cultural é um projeto que tem muitas frentes de ações, como assessoria educativa e profissional para artistas de todo o Brasil, pinturas de murais, arte nas escolas públicas, redesign de praças com arte e outras ações. É um projeto que já tem vinte anos e prossegue muito ativo com diversos parceiros, voluntários e incentivadores.
@choquecultural
Escola Criativa
Uma das vertentes da Choque Cultural que está caminhando muito bem é a Escola Criativa, criada em 2010. “Já havíamos passado por várias experiências com educação anteriormente. Em 2006 fizemos um projeto com uma escola no Bronx, em Nova York, que recebia alunos que tinham problemas com violência em outras escolas. Durante oito meses, estivemos em contato com os professores mostrando como o grafiti fazia parte das comunidades em São Paulo, como deixava os lugares mais bonitos e como era bem recebido pelos alunos das escolas públicas do Brasil. E para coroar o projeto, levamos oito artistas brasileiros para pintar a escola do Bronx junto com os professores e alunos. Foi incrível! Levamos Onesto, Fefê Talavera e o Highgraff, entre outros”, recorda Baixo. O projeto Escola Criativa atua em colégios públicos, em regiões da periferia paulistana. Nestes espaços, são aproveitados os pátios e outras áreas de uso comum das escolas. “Acreditamos que a aprendizagem ocorre em todos os lugares e não apenas nas salas de aula. Hoje em dia, temos uma estrutura bem definida e formatos muito bem testados para que as intervenções artísticas contribuam para encantar os estudantes com os espaços das suas escolas. Transformamos espaços ociosos em espaços de produção criativa. Tudo através da arte”, explica o artista. Durante os processos criativos todos da escola põem as mãos na massa. “Toda a comunidade escolar é convidada a participar: professores, estudantes, pais, funcionários. É um projeto que busca a inclusão e reforça a sensação de pertencimento de todos. Nós desenvolvemos tecnologias participativas através de processos muito simples, como o uso do estêncil (que são máscaras recortadas que todos podem aplicar com spray ou outra tinta qualquer). Através do estêncil fazemos sessões de pintura coletiva nas quais todos podem pintar brincando e transformando os espaços.”