06 Trauma Dental em dentes jovens

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Traumatismo Dentário em Dentes Jovens Procedimentos básicos de urgência em casos de traumatismos dentários de dentes permanentes jovens. Capítulos

Atualizado e Ilustrado

Objetivos

1. Como proceder nos acidentes

Aspectos Conceituais e epidemiológicos

2. Atendimento inicial

Fatores de Risco

Página 2

3. História do Trauma

4. O que fazer?

Página 2

Página 5

6. Referências e Créditos Página 5 e 6

Página 1

sofrerão algum tipo de injúria traumática que atinge

Objetivos

boca e dentes.

O objetivo é permitir ao cirurgião-dentista atuar ! Pesquisas em âmbito mundial mostram que sobre os casos de traumatismo dentário, auxiliando-o a perto de 5 milhões de dentes são perdidos anualmente identificar o tipo de trauma presente, além de orientar o devido a: traumas, contusões, quedas, acidentes, profissional a tratar com maior segurança e precisão, violência, atividades esportivas e recreativas, hábitos diminuindo o alto risco de insucesso que ocorrem nas nocivos, entre muitas outras situações (fig. 1). !

situações de trauma. !

Este roteiro também se propõe a alertar o

cirurgião-dentista

para

seu

papel

de

educador

preventivo junto à sociedade para que os índices de traumatismos dentários diminuam e que se promova saúde bucal a toda população.

Aspectos Conceituais e Epidemiológicos !

O

traumatismo

dentário

é

considerado

atualmente um problema de cunho social e não apenas mais uma modalidade de acontecido odontológico, pois

Figura 1 - Dente perdido

cerca de 40% das crianças em idade escolar sofreram ou

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Fatores de Risco ! !

As ocorrências traumáticas dependem das

habilidades desenvolvidas e de riscos específicos para Algumas crianças têm um risco particular para

os traumatismos dentais, principalmente aquelas sem coordenação motora definida, ou as que tem dentes proeminentes (overjet – fig. 2), ou ainda aquelas com deficiência visual. !

!

Porém, a maioria das ocorrências traumáticas

ocorre durante as atividades recreativas ou esportivas (fig. 3), seja no âmbito escolar, clube, espaços como

cada faixa etária: !

Durante a infância: acidentes envolvendo o

carrinho de bebê ou andadores !

Entre 1 e 3 anos de idade ou até mais, a criança

começa a desenvolver a coordenação, aprendem a andar e tornam-se mais irrequietos, então os traumas se relacionam com quedas e tombos.

parques e praia, na rua ou, e principalmente, dentro da

!

própria casa.

playground, jogos e bicicletas, têm maior índice de

!

Os dentes mais atingidos são os incisivos

centrais superiores, seguidos dos laterais e caninos.

Crianças em idade escolar, nas brincadeiras em

trauma devido a quedas ou empurrões. ! Na adolescência e idade adulta são mais comuns os traumas devido a esportes (fig. 4), brigas, acidentes com veículos automotivos e assaltos.

Figura 2 – Dentes proeminentes – Overjet Figura 4 – Trauma em atividade esportiva

!

É importante salientar que uma criança tratada

com brutalidade pode causar, pelo mau exemplo recebido, situações de traumas em outras crianças de qualquer idade.

1. Como proceder nos acidentes Figura 3 – Trauma em atividade recreativa

1.1.!

O LOCAL DO ACIDENTE

!

Assegure-se que a área é segura e protegida de

outros acidentes ou de pessoas inabilitadas antes de Caderno de Atenção Básica no 17 - Saúde Bucal - Ministério da Saúde

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!

Se você se sentir inseguro ou não

habilitado para realizar qualquer manobra, busque ajuda imediatamente, mas antes forme uma rápida primeira impressão do acidentado.

!

Avalie se ocorreu avulsão dental, hemorragia,

sangue na orofaringe ou se um dente foi deglutido, que podem dificultar a ventilação. Em fraturas da mandíbula, um deslocamento da língua para trás pode

1.2.!

também causar obstrução aérea.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO

! Observe o acidentado, acalmando-o e pedindo para que fique deitado (fig. 5), verificando se lesões graves

óbvias

estão

presentes,

quando

deve-se

CHAMAR RESGATE MÉDICO IMEDIATAMENTE.

!

Avalie a cor dos lábios, língua e mucosas; se

estiver mais azulada, pode haver comprometimento respiratório. !

Tente escutar se o som da respiração está

diferente.

Se a ventilação ou a respiração estiver

inadequada

CHAME

O

RESGATE

MÉDICO

IMEDIATAMENTE !

Neste caso, posicione a pessoa deitada, tente

oferecer ventilações efetivas (boca–a–boca, boca–a– máscara) se souber fazê-las.

2.2.!

CIRCULAÇÃO

! Figura 5 – Primeira impressão

!

Mesmo que um serviço de emergência seja

chamado, este pode demorar alguns minutos.

!

Controle

com

uma

! Se houver “choque” (pele fria e pegajosa, suor abundante, respiração rápida e fraca, sensação de frio, agitação

tratamento adequado das áreas atingidas pelo trauma.

LEVE

Lesões cervicais podem estar presentes, não

hemorragias

pressão firme sobre a área usando pano limpo.

Neste momento sua ajuda pode ser muito importante, inclusive salvando vidas, ou propiciando um

!

pequenas

ou

inconsciência),

pode

haver

comprometimento com conseqüências gravíssimas. RAPIDAMENTE

PARA

ATENDIMENTO

HOSPITALAR

movimente o acidentado bruscamente. ! Se o acidentado não responder aos comandos de voz, estabeleça um nível de consciência dando uma leve sacudida em seus ombros segurando a cabeça e o pescoço em linha.

2.3.! !

! Avalie se ocorre amnésia, períodos inconsciência, tonturas e dor de cabeça intensa. !

2. Atendimento Inicial

ESTADO MENTAL

de

Pupilas dilatadas, olhares fixos ou desiguais,

indicam uma concussão cerebral ou injúria cerebral grave.

2.1.! V E N T I L A Ç Ã O – V I A S A É R E A S – RESPIRAÇÃO

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SE POSSÍVEL LEVE H O S P I TA L OU

O ACIDENTADO AO CHAME R E S G AT E 3


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3.História do Trauma Dental !

Não existe uma ordem cronológica para que os

a criança apresenta-se suja

queimaduras por pontas de cigarro e outras

mordidas, marcas de agarrões, marcas de cinto ou correntes

abrasões e lacerações em locais incomuns e com

dados a seguir sejam obtidos, pois algumas situações exigem rapidez no atendimento e o questionamento pode acontecer concomitantemente à realização do tratamento. !

histórias improváveis •

Lembre-se que a coleta adequada dos dados e a

marcas de estrangulamento no pescoço, orelhas

transcrição para ficha apropriada indica o caminho

traumatizadas por beliscões ou puxões e lesões incomuns na pele, com diagnóstico dermatológico

correto para o tratamento e guarda o cirurgião-dentista

indefinido.

do ponto de vista ético e legal.

!

No complexo orofacial: contusões na face, nas

estruturas periorais, no palato, lábios e assoalho da 3.1.!

HISTÓRIA MÉDICA DO PACIENTE

!

Sempre

questione

o

paciente,

boca; lacerações na face, nas mucosas e nos freios labial e lingual; queimaduras na face ou em mucosas pais

ou

(resultado

do

uso

de

instrumentos,

substâncias

responsáveis, se o paciente é alérgico a algum

químicas, tóxicas, e líquidos ferventes), fraturas nos

medicamento ou outro produto, se está sob tratamento médico, qual o problema e quais medicamentos está

ossos da face; e, injúrias dentárias, como avulsão e escurecimento da coroa.

utilizando e se possui imunização ao tétano.

3.2.!

DADOS DO ACIDENTE

!

Sempre que o paciente estiver consciente

3.3.!

EXAME FÍSICO DETALHADO

!

Antes de levar a criança ou adolescente para

pergunte sobre o que gerou o trauma; se não estiver,

atendimento especializado, ou no aguardo dos pais ou responsáveis, pode-se realizar uma observação clínica

para quem o acompanha.

que auxiliará no prognóstico do caso e em algumas

!

situações deve-se intervir imediatamente para que o

Verifique o tempo decorrido desde o trauma e

questione sobre o local do acidente quanto às condições de higiene, tipo de superfície, e analise que tipo de objeto atingiu o acidentado.

sucesso posterior seja alcançado. ! Dê atenção particular à região orofacial durante este exame físico inicial. Observe se há uma assimetria facial, edema (inchaço) ou áreas com depressão na face, corpos estranhos ou desvios na mandíbula (perceba ao

Violência doméstica !

abrir e fechar a boca).

Cabe aos professores e profissionais de saúde

também avaliar se uma criança está traumatizada devido a violência doméstica ou abuso infantil. !

Sabe-se

que

cerca

de

70%

hospitalizadas devido a violência apresentam lesões da cabeça, face e boca. !

de

! Pode-se fazer uma inspeção intraoral anotando o que está alterado, como mudanças de cor nos dentes, áreas com sangramento e cortes.

crianças doméstica

Existem alguns indicadores primários para a

identificação de crianças maltratadas:

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!

Quanto aos dentes, avalie se houve perda de

fragmentos, se estão doloridos ou com mobilidade. ! Observe ainda se dentes perdidos ou seus fragmentos estão “encravados” em algum lugar da boca, ou mesmo se estes foram aspirados. 4


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4.O que fazer? !

Qualquer

tipo

de

acidente

que

envolva

traumatismo na região da boca e face deve ser indicado para tratamento odontológico, independentemente da sua aparente gravidade, pois muitas vezes, mesmo que o aspecto visual não demonstre nenhum tipo de alteração, pode haver fraturas de raiz, dentes abalados, fragmentos

escondidos

no

lábio

e

mucosa,

microfraturas na face, entre outros prejuízos ao paciente. Dentes fraturados (“quebrados”) Fraturas de esmalte/ esmalte e dentina com ou sem exposição pulpar

Figura 6b – Restauração de Fratura de esmalte e dentina

Fraturas coronoradiculares Fraturas radiculares !

Coloque uma gaze apenas umidecida em soro

(fig.7).!

fisiológico (na ausência do soro use água) no local e peça para o paciente morder suavemente. !

Fraturas coronoradiculares podem exigir recuperação periodontal ou extrusão ortodôntica

!

Busque os fragmentos perdidos e coloque-os

num copo com soro (na ausência, água). ! assim

Encaminhar que

para

possível,

tratamento

para

realizar

odontológico colagem

ou

restaurações e verificar a necessidade de tratamento endodôntico. (fig. 6 a e b).

Figura 7 – Fratura coronoradicular

Fraturas radiculares devem ser reposicionadas rapidamente e contidas com fio rígido por cerca de 3 meses, avaliando-se a necessidade de tratamento endodôntico. (Fig. 8a e b)

Figura 6a – Fratura de esmalte e dentina

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Encaminhar para tratamento odontológico imediato para realizar contenção flexível (geralmente por 2 semanas) e acompanhar a necessidade ou não de realizar tratamento endodôntico (fig. 9).

Figura 8a – Fratura radicular Figura 9 – Luxação extrusiva

Dentes deslocados lateralmente)

(para

frente,

para

trás

ou

Luxações laterais •

Peça para o paciente tentar manter a boca fechada.

Encaminhar para tratamento odontológico imediato para reposição e contenção por cerca de 2 semanas e acompanhar a necessidade ou não de realizar tratamento endodôntico (fig. 10).

Figura 8b – Fratura radicular estabilizada

Dentes extruídos (dentes deslocados para fora, mas ainda no local) Luxações extrusivas •

Suavemente reposicione o dente forçando-o em direção ao alvéolo.

Peça para o paciente morder uma gaze ou manter a boca fechada.

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Figura 10 – Luxação lateral

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Dentes intruídos (dentes deslocados para dentro do alvéolo) Luxações intrusivas •

Aguardar extrusão fisiológica por até 2 semanas . Se não acontecer, buscar extrusão ortodôntica.

Sempre realizar tratamento endodôntico (fig. 11).

Figura 11 – Luxação intrusiva

Dentes avulsionados (expulsão completa do dente) Avulsão dentária •

Localize o dente avulsionado.

Se for um dente decíduo (“de leite”), geralmente em crianças até 6 anos de idade, não há necessidade de reimplante, mas leve o dente e a criança imediatamente ao dentista especializado.

Em dentes permanentes, segure o dente sempre pela coroa, nunca pela raiz.

Nunca escove ou esfregue o dente mesmo que esteja com sangue, apenas lave-o com água corrente durante 30 segundos.

Tenha

coragem

(lembre-se

que

o

tratamento

depende do tempo e o reimplante deve acontecer de preferência em até 60 minutos). •

Reimplante imediatamente o dente, forçando-o suavemente em seu espaço original (figs. 12a, b, c, d).

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Figuras 12a - Avulsão dentária; 12b - dente avulsionado; 12c - reposicionamento no alvéolo; 12d - dente reposicionado com contenção flexível

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4. Referências e Créditos ANDREASEN JO, ANDREASEN EM. Traumatismo Dentário. São Paulo: Panamericana, 1991. CALDEIRA CL Protocolo de Atendimento de Dentes Traumatizados do CADE FOUSP (Centro de Atendimento Dentística e Endodontia da FOUSP), disponível em www.fo.usp.br, acesso em outubro de 2007. FLORES MT, ANDREASEN JO, BAKLAND LK. Guidelines for the evaluation and management of traumatic dental injuries. 2007. KENNY DJ, BARRETT EJ, CASAS MJ. Avulsions and Intrusions: The Controversial Displacement Injuries. J Can Dent Assoc 2003; 69(5):308–13. RAM D, COHENCA N. Therapeutic Protocols for Avulsed Permanent Teeth: Review and Clinical Update. Pediat Dent, 26:3, 2004. TROPE M. Clinical management of the avulsed tooth: present strategies and future directions. 2002.

Créditos Atualização do Caderno de Atenção Básica em Saúde Bucal (link do original) – 2012: Prof. Celso Luis Caldeira – FOUSP Profa. Carmen Vianna Abrão – FOUSP

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