CADERNO DE ATENÇÃO BÁSICA N˚ 17 S A Ú D E B U C A L - A T U A L I Z A D O E I L U S T R A D O - F O U S P, 2 0 1 2
Traumatismo Dentário em Odontopediatria O traumatismo dental pode afetar crianças muito pequenas, através dos primeiros esforços para engatinhar, sentar e nas tentativas de andar e correr. Capítulos 1. Introdução e Condutas a. Anamnese b. Exame Clínico c. Exames Complementares
Atualizado e Ilustrado 2. Classificação a. Lesões de Tecidos Moles b. Lesões ao Tecido Dental c. Lesões ao Tecido Periodontal
Página 1
3. Tratamento 4. Recomendações a.Dos Tecidos Moles Gerais aos b. Dos Tecidos de Responsáveis Sustentação c. Dos Tecidos Duros Página 5 do dente e da polpa
5. Terapêutica Sistêmica
6. Referências e Créditos
Página 5
Página 5 e 6
Página 2 Página 2
1. Introdução !
Condutas frente ao traumatismo na dentição decídua
As crianças que pertencem
ao “grupo de risco” de traumatismo dentário são as com 1 a 3 anos de
a. Anamnese
idade, sendo os meninos um pouco mais propensos a traumas. Os
•
História médica resumida
incisivos superiores, em especial os
•
Anamnese:
centrais, são os dentes mais afetados,
Trauma comum entre crianças e
dentição decídua: quedas, acidentes imprudência.
perguntas
importantes: como, quando e onde ocorreu o trauma?
sem predileção pela arcada. Traumas
múltiplos, que lesam dois ou mais - Cabeça proporcionalmente grande dentes são de alta prevalência. em relação ao restante do corpo, Várias causas podem estar posição verticalizada dos dentes curiosidade e associadas ao trauma dental na decíduos,
3
•
Investigar: cefaléia,
inconsciência,
amnésia,
náuseas
e
vômitos. •
Houve lesão anterior no dente?
de trânsito, síndrome da criança - Maloclusão: protrusão de dentes espancada, traumas durante a decíduos anteriores com prática de esporte, etc. conseqüente falta de proteção b. Exame Clínico Há particularidades na criança que labial. Essa sobressaliência pode ser • Realizar previamente a limpeza da área com água, soro predispõem à ocorrência de observada em pacientes de Classe traumatismo na região de cabeça e pescoço:
I, portadores de hábitos deletérios
fisiológico,
ou naqueles com Classe II divisão 1
clorexidine a 0,12%
sabão
neutro
ou
de Angle.
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tecidos moles, dentes e tecido
•
Abrasão
ósseo. Verificar a ocorrência de fratura coronária, exposição pulpar e observar a posição do dente em relação aos seus adjacentes e sinais de
b. Lesões ao tecido dental
fraturas radiculares. Observar a presença ou não de
•
Trinca do esmalte
•
Fratura de esmalte
•
Fratura de esmalte e dentina sem exposição pulpar
lesões cruentas ou dilaceradas, presença de corpos estranhos, fraturas ósseas no rebordo alveolar, hematomas ou edemas.
(fratura coronária não complicada) c. Exames Complementares !
•
Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar (fratura coronária complicada)
Exame Radiográfico:
•
Rx oclusal com filme periapical
•
Fratura coronorradicular
•
Rx periapical com posicionador
•
Fratura radicular
•
Rx lateral com filme periapical
•
Obs.: O exame radiográfico não é tridimensional,
c. Lesões ao tecido periodontal
mas permite observar:
•
Concussão / comoção
•
Subluxação
•
Luxação lateral
•
Fraturas radiculares
•
Estágio da raiz em desenvolvimento
•
Dimensão da câmara pulpar
•
Luxação extrusiva
•
Radioluscência periapical
•
Luxação intrusiva
•
Reabsorções internas e externas
•
Avulsão
!
Testes de Percussão e de Vitalidade:
NÃO REALIZAR TESTE DE VITALIDADE DEVIDO À SENSIBILIDADE E DIFICULDADE DE RESULTADOS CONFIÁVEIS. Obs.: As condutas de acordo com cada tipo de lesão dentária traumática serão discutidas posteriormente.
3. Tratamento das Lesões Dentárias Traumáticas a. Tecidos Moles LACERAÇÃO: ferimento raso ou profundo resultante de dilaceração tecidual, produzido por objeto cortante). Tratamento:
2. Classificação das lesões dentárias traumáticas
•
Após a limpeza e remoção de corpos estranhos da região lesada, faz-se o reposicionamento do retalho e sutura-se se necessário.
a. Lesões aos tecidos moles • •
Laceração
•
Contusão
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Lacerações menores da gengiva e mucosa não requerem sutura.
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CONTUSÃO: ferimento produzido por impacto com objeto sem corte, causando hemorragia submucosa – equimose). Tratamento: •
Não requer tratamento, pois o sangramento é reabsorvido localmente.
•
Alívio oclusal
•
Alimentação pastosa por 2 semanas
•
Controle
!
Nos casos de concussão e subluxação pode
ocorrer alteração de cor na coroa dental, mas isso pode não ser indicativo de necrose pulpar. A alteração de cor pode regredir. Pode-se fazer tratamento endodôntico e
ABRASÃO: é a lesão superficial ocasionada por raspagem da mucosa, que deixa uma superfície hemorrágica e escoriada).
confecção de faceta em resina composta por uma questão de estética. Se a alteração de cor aparecer junto com fístula, é sinal de que houve necrose pulpar e é necessário o tratamento endodôntico.
Tratamento: •
O tratamento é sintomático. Gaze embebida em solução anódina, que contém benzocaína (Ex.: Cepacaína®, Gingilone®) pode ser utilizada para atenuar a dor durante a alimentação.
LUXAÇÃO LATERAL: deslocamento excêntrico do dente, com esmagamento do alvéolo. Pode ou não ter aumento do espaço periodontal. Tratamento:
b. Dos Tecidos de Sustentação
CONCUSSÃO: lesão das estruturas de sustentação dos
•
Higienização e remoção de hábitos deletérios
•
Reposição digital
•
Contenção ou exo (se vier tardiamente)
dentes. Hemorragia e edema do ligamento periodontal sem mobilidade, mas com reação à percussão. LUXAÇÃO EXTRUSIVA: É o deslocamento parcial do
Tratamento:
dente para fora do seu alvéolo, pouco comum em
•
Higienização e remoção dos hábitos deletérios
•
Observação (controle)
•
Alívio da interferência oclusal
•
Observar tecidos periodontais
•
Alimentação pastosa
dentes decíduos. É observada principalmente em casos de rizólise avançada, pois o menor tamanho do dente favorece seu deslocamento periférico. Tratamento: !
A
abordagem
terapêutica
inclui
duas
possibilidades, cuja escolha depende da gravidade da lesão e do estágio de desenvolvimento do dente permanente sucessor. (reposicionamento do dente e
SUBLUXAÇÃO: lesão das estruturas de sustentação
contenção por 15 a 21 dias; exodontia, quando houver
dos
rompem,
risco de lesão do germe do dente permanente durante o
Ligeiro
processo de reposicionamento do dente decíduo traumatizado ou também quando o acentuado grau de
dentes,
afrouxamento,
fibras mas
do sem
ligamento
se
deslocamento.
sangramento no sulco gengival. Tratamento: •
mobilidade do dente decíduo oferecer risco de aspiração deste.
Higienização e remoção de hábitos deletérios
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LUXAÇÃO INTRUSIVA: É o deslocamento do dente para dentro do seu alvéolo, que pode estar associada à compressão ou fratura do processo alveolar e a lesões mucosas. Tratamento: !
confinada ao esmalte com perda de estrutura dental. Tratamento: A terapêutica é simples. Em alguns casos, o acabamento das margens de esmalte rugosas com disco de lixa vaselinado, seguido da aplicação de fluoretos,
A abordagem terapêutica inclui observação
vigilante, clínica e radiográfica da reerupção do dente, que em 95% dos casos ocorre em até 6 meses ou exodontia nas seguintes condições: contato entre a raiz do dente decíduo e o germe do permanente, fístula ou radiolucidez
FRATURA CORONÁRIA DO ESMALTE: É a fratura
periapical,
fratura
óssea,
falha
na
reerupção, presença de reabsorção severa do dente decíduo após a reerupção, ou ocorrência de anquilose durante reerupção.
são
suficientes.
Porém,
quando
há
maior
comprometimento do esmalte a restauração com resina composta é indicada.
FRATURA CORONÁRIA DO ESMALTE E DENTINA SEM EXPOSIÇÃO PULPAR: Lesão que envolve o esmalte e a dentina, com perda de estrutura dental, mas sem comprometimento pulpar. Tratamento:
AVULSÃO: É a remoção traumática total do dente para
•
Restauração da coroa com resina composta.
fora do alvéolo. Tratamento:
FRATURA CORONÁRIA DO ESMALTE E DENTINA
!
COM EXPOSIÇÃO PULPAR: Fratura que envolve esmalte, dentina e polpa.
Há controvérsias quanto à necessidade e
vantagens de se reimplantar um dente decíduo avulsionado,
e
devemos
considerar
os
aspectos
fisiobiológicos da manutenção de espaço no segmento
Tratamento: •
anterior da arcada dentária da criança. O reposicionamento do dente decíduo pode ser realizado
Tratamento
pulpar
seguido
por
reconstrução
coronária.
decorrido após o acidente menor que 30 minutos,
Em dentes com rizogênese incompleta, indica-se realizar capeamento pulpar direto, pulpotomia ou
transporte adequado do dente, região e dente afetados
pulpectomia,
sem contaminação para minimizar a infecção, osso alveolar intacto.
condição pulpar e do histórico do caso (tempo
em
condições
favoráveis:
criança
jovem,
tempo
•
do
diagnóstico
da
ocorrido após o trauma e a ida de da criança). •
c. Dos Tecidos Duros do Dente e da Polpa
dependendo
Em dentes com rizogênese completa, a pulpectomia deve ser realizada.
TRINCAS DO ESMALTE: É a fratura incompleta do
FRATURA
esmalte, sem perda da estrutura dental.
envolvendo esmalte, dentina e cemento. Quando
Tratamento: Apesar
de
não
requerer
tratamento
específico, indica-se a realização de radiografia inicial, após 3 meses e depois de um ano do traumatismo.
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CORONORRADICULAR:
Fratura
acomete o tecido pulpar, recebe a denominação “complicada”. Restringindo-se aos tecidos duros, é dita “não complicada”.
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Tratamento:
oxigenada diluída) por uma semana. A partir daí, usar escova normalmente.
Quando a perda de estrutura dental não for muito extensa, realiza-se a proteção dentinopulpar ou a endodontia conforme discutida no item anterior e,
•
Alertar sobre a importância do controle clínico, radiográfico e fotográfico periodicamente.
posteriormente a restauração. Quando a linha de fratura se estender 4 a 5 mm abaixo da margem gengival, levando a um diagnóstico
5. Terapêutica Sistêmica
duvidoso, a exodontia é o tratamento de escolha.
A terapêutica sistêmica com drogas analgésicas/
!
antiinflamatórias pode ser prescrita em casos de trauma FRATURA RADICULAR: A fratura da raiz que envolve
relevante, quando a criança apresentar mal-estar, dor e
dentina, cemento e polpa, pode seguir orientação dentes
febre. Antibioticoterapia e profilaxia antitetânica são indicadas em situações nos quais cogita-se a
decíduos, as transversais são mais freqüentes e podem ocorrer no terço apical, médio ou cervical.
contaminação da ferida por microrganismos. EM TODOS OS CASOS DE TRAUMATISMOS NA
Tratamento:
DENTIÇÃO
!
RADIOGRÁFICO DA REABORÇÃO FISIOLÓGICA DO DENTE DECÍDUO E DA ERUPÇÃO DO
longitudinal,
transversal
ou
oblíqua.
Em
Nas fraturas tranversais apical e média, o
tratamento consiste na aproximação dos fragmentos
DECÍDUA,
O
ACOMPANHAMENTO
SUCESSOR PERMANENTE É MANDATÓRIO!
quando se encontram deslocados. A contenção por 7 a 14 dias é necessária quando o terço médio estiver envolvido
e
o
dente
apresentar
mobilidade
considerável. A estabilização não pode ser rígida, deve permitir um ligeiro movimento dental, diminuindo a possibilidade de anquilose. !
Na fratura tranversal cervical ou fratura grave
6. Referências Consultadas 1.
CHELLOTTI,
A.;
VALENTIM,
C.;
PROKOPOWITSCH, I.; WANDEERLEY, M.T. Lesões
do terço médio, a exodontia é preferível à conduta
traumáticas em dentes decíduos e permanentes jovens. In: GUEDES-PINTO, A.C. – Odontopediatria. São
conservadora. Durante a exodontia, se a remoção do
Paulo: Ed. Santos, 2003. p.650-687.
fragmento radicular situado mais apicalmente oferecer a possibilidade de lesão do germe dentário, este pé deixado no alvéolo, onde será reabsorvido.
4. Recomendações gerais aos responsáveis •
Orientar quanto à dieta pastosa nos primeiros dias
•
Remoção dos hábitos deletérios
•
2. COSTA, L.R.R.S; CORRÊA, M.S.N.P.; RIBEIRO, R.A. Traumatismo na dentição decídua. In: CORRÊA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. São Paulo: Ed. Santos, 1998 p.527-547. 3. DUARTE, D.A.; BÖNECKER, M.J.S.; SANT'ANNA, G.R.; SUGA, S.S. Princípios básicos da prevenção aos traumatismos. In: Caderno de Odontopediatria – traumatismo na dentição decídua. São Paulo: Ed. Santos; 2001. cap. 3, p.11-2. 4. PERCINOTO, C.; CUNHA, R.F.; PUGLIESE, D.M.C.
Orientar sempre quanto à higienização do local.
Tratamento dos traumatismos dentários da infância à
Geralmente não dá para usar escova, portanto
adolescência.
orientar o uso de gaze com algum produto (água
Atualização em Odontologia (Odontopediatria). 23o.
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In:
RODE,
S.M.;
GENTIL,
S.N.
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Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo. São Paulo: Artes Médicas; 2005. Capítulo 9. p.197-240.
Créditos: Atualização do Caderno de Atenção Básica (link do original) – 2012: Profa. Luciana Butini Oliveira - SLMandic Profa. Márcia Turola Wanderley - FOUSP
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