@sirlanney:
Recebi este presente que é prefaciar o livro do Éff. Vacilei um pouco, percebendo logo que se tratava de uma tarefa maior do que eu. É algo sobre o dono de um gênio destemido, agitado e dedicado ao que faz, e nós que fazemos quadrinhos e divulgamos pela internet, sabemos que essa é uma equação explosiva que se basta. A primeira vez que vi Éff, lembro bem, era um pequeno comic, três quadros em vertical. “O que você está pensando?”, a personagem feminina pergunta. O segundo quadro é uma explanação surreal de elementos que não fazem lógica, um ao lado do outro, como batata-frita e Nicki Minaj – que na época também estava impregnada no meu inconsciente. No segundo quadro o rapaz, o próprio Éff, manda o clássico: “Nada, e você?”. O que senti depois desse encontro, eu gostaria que fosse menos comum do que é entre essas pessoinhas meio vaidosas, meio desprendidas que fazem quadrinho… Eu senti inveja. Como alguém conseguiu traduzir esse preciso momento, tão corriqueiro, que passa por mim tantas vezes, e esse alguém não fui eu? Bom, é claro que não fui eu, isso acontece todo dia e também é um pouco bom se sentir incapaz e pequena de vez em quando, para em seguida vir a fome: quem é, o que faz, onde vive, o que come? Rápido me vi às voltas dentro do universo de Éff e já tinha me rendido ao seu disparo certeiro, antes de descobrir que ele era nordestino como eu. Eu não podia saber de onde vinha Éff. Ele é uma essência sem espaço, sem gênero, que vive dentro de um tipo em nosso tempo, do qual muitos fazem parte, incluindo eu, pois Éff é universal. Pertence a qualquer um que já ficou confuso uma ou duas vezes, ou todos os dias. Também está naqueles que anseiam pelo futuro, mas não deixam de observar e exultar pelas coisas simples e cotidianas. Os que fazem brilhar as bobeiras e inocências do amor, sem medo de se afirmar, hasteando todas suas bandeiras. Aqueles que param para ver o que passou noutra perspectiva e de repente se surpreendem com uma sabedoria de guru. “Ser quem você é, é ser justo com você e com o universo”. Um guru do novo tempo, que anda pelo deserto cercado por milhares de seguidores e centenas de likes por minuto. Que usa de lápis, caneta e um pouco de photoshop ilegal para registrar, transformando em poesia o miojo, eu, você, e “outras coisas boas” da vida. Ser Éff é sentir-se um pouco fora do normal, para então sentir-se normal.
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