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Economia no fio da navalha

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Luiza Diniz

Luiza Diniz

Conforme ressalvado na edição passada, a presente matéria dá o desdobramento daquilo que colocou em título (‘Política mira no passado e economia busca rumo’) mas, por questão de espaço, não tratou: a economia.

Não é de bom tom desejar que o leitor tenha em mente texto que leu há uma semana, para conecta-lo ao atual. Por isso, melhor a abordagem específica, de poucas linhas, do que reproduzir parcialmente o já publicado – o que tornaria a matéria longa e repetitiva.

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A rigor, não se tem notícia (fora em episó- dios de crises políticas avassaladoras) do Brasil ter sofrido com finais de governos tão ruins – como os dois últimos meses da gestão anterior, em que o país ficou acéfalo – e, igualmente, com inícios tão inócuos, marcados pela falta de organização interna, além de mirar no passado, ao invés de planejar o futuro.

A junção de ambos os fatores atingiu o que há de mais sensível em qualquer país: o mercado. E, como consequência, deixou a economia sem rumo, com os principais setores do segmento sem saber que caminho seguir.

Até a grande imprensa, claramente favorável ao governo eleito, não pôde se omitir ainda na fase de transição: “É erro grave a visão do novo governo sobre Previdência” (O Globo, início de dezembro)

Na mesma época, advertia a Folha de S.Paulo: “Lula larga na contramão do que levou ao sucesso de seus dois governos”. E novamente O Globo, desta feita em Editorial, também na fase de transição: “Lula testa paciência ao ignorar críticas”. O jornal ainda acrescentou que o presidente-eleito preferia “ouvir os aduladores’.

Falas trouxeram insegurança Fechando as portas

Os pronunciamentos de Lula foram desastrosos. Observações do tipo furar o teto de gastos, de imediato sofreram críticas dos principais economistas do país e o setor ficou ainda mais vulnerável.

As consequências não tardaram. O investidor recuou, a indústria colocou o pé no freio e muitos varejistas de peso fecharam as portas.

Briga interna – Semana passada, as discordâncias públicas entre a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que queria a retomada da cobrança de impostos nos combustíveis, mostrou que o governo bate-cabeça. Prevaleceu a vontade de Haddad, mas a falta de sintonia está exposta.

Agronegócio – A desarmonia do governo com o Agronegócio está cobrando seu preço. Lá atrás, quando o então candidato petista associou uma fatia do Agro ao fascismo, cruzou uma linha extremamente perigosa.

O Agronegócio é um dos principais sustentáculos do Brasil. Talvez o maior. Não se chuta quem produz, gera riqueza, dá empregos e favorece para que o brasileiro tenha comida na mesa. Uma falta de habilidade que contrasta com quem tem (ou sempre teve) a sensibilidade política do presidente Lula. No Brasil, é inaceitável desconhecer que seja qual for o governo, a economia responde pelo sucesso ou fracasso administrativo. Repetindo frase aqui já publicada, dela depende o desenvolvimento ou o definhamento; o bem estar ou a penúria; a qualidade de vida ou a pobreza.

De forma objetiva e para evitar alongamento, basta recorrer ao número de empresas que estão encolhendo ou fechando. A Renner fechou uma de suas principais lojas. A rede de farmácias Poupafarma, encerrou as atividades na Baixada Campista.

A multinacional Legrand, do ramo elétrico, demitiu 500 funcionários. A Malu Calçados, há mais de 14 anos no RS, fechou a fábrica de calçados demitindo 300 pessoas. Outra fábrica de calçados, do Grupo DOC, dona das marcas Ortopé e Dijean, que produz para a Puma e Arezzo, demitiu 500 funcionários. Também a Burger King fechou lojas em shoppings no Brasil. Mais centenas de empregos perdidos. A Beck e Beck, no RS, do setor de alimentos, fechou

(estaria sendo vendida) e demitiu dezenas de trabalhadores. O Carrefour anunciou o fechamento de seis hipermercados, podendo resultar na demissão de até 5 mil funcionários.

A Montadora Stellantis, que produz modelos Citroen e Peugeot, em Porto Real, encerrou o segundo turno de produção com demissão em massa. A Ericsson, gigante da tecnologia, anunciou demissão em massa com fechamento de 8.500 postos de trabalho. A Amazon passa por dificuldades.

Enfim, a relação praticamente não tem fim e não há como desassociar os fechamentos em série à cambaleante política econômica do governo. Em mais de dois meses – fora o período de transição – é muita notícia ruim.

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