Painel - edição 246 - set.2015

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painel Ano XVIII nº 246 setembro/ 2015

Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

AEAARP

Saídas para a crise

HOMENAGEM Os Profissionais do Ano AEAARP 2015

Empreendedorismo e inves mento em novos produtos e tecnologias podem ser soluções

AGRONEGÓCIO Conheça a história de Mombuca

EVENTO Cobertura da 6ª Semana de Arquitetura



Editorial

Eng. civil Carlos Alencastre

Nos úl mos dias, a cidade sofreu uma alteração: no centro da cidade, foram pintadas no asfalto faixas específicas para os veículos do transporte público. Nelas, só os ônibus devem trafegar. Sem entrar no mérito da decisão de priorizar o transporte público, ainda que por meio de uma simples pintura, cabe refle rmos sobre a organização de nossa cidade e qual é a nossa responsabilidade diante disso, como profissionais e cidadãos. Tramita, ainda, na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, projeto de lei que trata da mobilidade urbana. É, mais uma vez, o debate sobre o Plano Diretor. Esta revista Painel já se dedicou ao tema inúmeras vezes nesses mais de 30 anos de existência. E, ao que parece, não é o debate que não tem fim, é o problema que não acaba nunca. O Jornal A Cidade publicou reportagem de capa sobre o Plano Diretor de 1945, que foi matéria também na revista Painel bem antes, em outubro de 2011. Este projeto previa a organização da cidade para comportar 400 mil habitantes, o que veio a acontecer nos anos de 1990. Não adotar aquela organização – ou qualquer outra proposta urbanís ca que pudesse surgir – não foi crime. Devemos levar em consideração que naquela época a cultura era diferente e o modo de pensar de técnicos e polí cos também. Para se ter ideia, o teatro foi demolido, apesar de ser descrito como uma joia da arquitetura, atendendo ao clamor popular pela higienização do centro. A cidade, os governantes e os técnicos, por meio das en dades de classe, entretanto, não têm mais jus fica va plausível para permi r que uma cidade como Ribeirão Preto avance sem qualquer ordenamento. Desde a adoção do Estatuto das Cidades, em 2001, a população tem o direito de par cipar da elaboração do projeto. A AEAARP, por meio do Fórum Permanente de Debates Ribeirão Preto do Futuro, segue desempenhando o seu papel, que é o de provocar e fornecer subsídios para o debate qualificado. Hoje, temos o dever de projetar a cidade para as próximas gerações e o que se vê é a movimentação polí ca sobre um tema eminentemente técnico. Os profissionais da prefeitura municipal que se dedicam a esse assunto têm grande experiência e são comprovadamente capacitados para propor alterações ao Plano Diretor e fazer valer as regras. A AEAARP pode colaborar neste sen do. Porém, as posições técnicas não podem ser atropeladas pela ingerência poli ca e, desde 1945, é o que acontece na cidade em se tratando desse tema. Eng. civil Carlos Alencastre Presidente


Rua João Penteado, 2237 - Ribeirão Preto-SP - Tel.: (16) 2102.1700 Fax: (16) 2102.1717 - www.aeaarp.org.br / aeaarp@aeaarp.org.br

Expediente

Eng. civil Carlos Eduardo Nascimento Alencastre Presidente Eng. eletr. Tapyr Sandroni Jorge 1º Vice-presidente Eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho 2º Vice-presidente DIRETORIA OPERACIONAL Diretor Administrativo: eng. agr. Callil João Filho Diretor Financeiro: eng. agr. Benedito Gléria Filho Diretor Financeiro Adjunto: eng. civil e seg. do trab. Luis Antonio Bagatin Diretor de Promoção da Ética de Exercício Profissional: eng. civil Hirilandes Alves Diretor Ouvidoria: eng. civil Milton Vieira de Souza Leite

ASSOCIAÇÃO DE ENGENHARIA ARQUITETURA E AGRONOMIA DE RIBEIRÃO PRETO

DIRETORIA FUNCIONAL Diretor de Esportes e Lazer: eng. civil Rodrigo Fernandes Araújo Diretor de Comunicação e Cultura: eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto Diretor Social: arq. e urb. Marta Benedini Vecchi Diretor Universitário: arq. e urb. Ruth Cristina Montanheiro Paolino DIRETORIA TÉCNICA Agronomia, Agrimensura, Alimentos e afins: eng. agr. Jorge Luiz Pereira Rosa Arquitetura, Urbanismo e afins: arq. Ercília Pamplona Fernandes Santos Engenharia e afins: eng. Naval José Eduardo Ribeiro CONSELHO DELIBERATIVO Presidente: eng. civil Wilson Luiz Laguna

Índice ESPECIAL

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PRÊMIO

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É preciso coragem e conhecimento

Profissionais do Ano AEAARP 2015

AGRONEGÓCIO

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PESQUISA

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ARQUITETURA

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Avicultura e agricultura são carro-chefe em Mombuca

IAC mantém programa de melhoramento de macadâmia

6ª Semana de Arquitetura

Conselheiros Titulares Eng. agr. Dilson Rodrigues Cáceres Eng. civil Edgard Cury Eng. civil Elpidio Faria Junior Arq. e eng. seg. do trab. Fabiana Freire Grellet Franco do Amaral Eng. agr. Geraldo Geraldi Jr Eng. agr. Gilberto Marques Soares Eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado Eng. elet. Hideo Kumasaka Eng. civil João Paulo de Souza Campos Figueiredo Arq. Luiz Eduardo Siena Medeiros Arq. e urb. Maria Teresa Pereira Lima Eng. civil Ricardo Aparecido Debiagi Conselheiros Suplentes Eng. agr. Alexandre Garcia Tazinaffo Arq. e urb. Celso Oliveira dos Santos Eng. agr. Denizart Bolonhezi Eng. civil Fernando Brant da Silva Carvalho Arq. e urb. Fernando de Souza Freire Eng. agr. Ronaldo Posella Zaccaro CONSELHEIROS TITULARES DO CREA-SP INDICADOS PELA AEAARP Eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado e eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves

ARTIGO

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REVISTA PAINEL Conselho Editorial: - eng. civil Arlindo Sicchieri, eng. agr. Dilson Rodrigues Cáceres, eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado e eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto conselhoeditorial@aeaarp.org.br

CREA-SP

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Coordenação Editorial: Texto & Cia Comunicação – Rua Joaquim Antonio Nascimento 39, cj. 13, Jd. Canadá, Ribeirão Preto SP, CEP 14024-180 - www.textocomunicacao.com.br Fones: 16 3916.2840 | 3234.1110 - contato@textocomunicacao.com.br

FOCO

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SUSTENTABILIDADE

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NOTAS E CURSOS

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Florestas Urbanas ou Parques Ecológicos?

Responsabilidade técnica em elevadores e escadas rolantes

Pesquisa revela mercado em ascensão

Editora: Daniela Antunes – MTb 25679 Colaboração: Bruna Zanuto – MTb 73044 Publicidade: Departamento de eventos da AEAARP - 16 2102.1719 Angela Soares - angela@aeaarp.org.br Tiragem: 3.000 exemplares Locação e Eventos: Solange Fecuri - 16 2102.1718 Editoração eletrônica: Mariana Mendonça Nader Impressão e Fotolito: São Francisco Gráfica e Editora Ltda. Painel não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados. Os mesmos também não expressam, necessariamente, a opinião da revista.

Horário de funcionamento AEAARP CREA Das 8h às 12h e das 13h às 17h Das 8h30 às 16h30 Fora deste período, o atendimento é restrito à portaria.


ESPECIAL

É preciso coragem e

e conhecimento A redução da oferta de vagas no mercado de trabalho pode ser oportuna para começar o próprio negócio

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tem fortes alicerces nas a a vidades vidades desempenhadas por engenheiros, arquitetos e agrônomos. Quando há arrefecimento na economia, queda no PIB e paralização na indústria, o refl reflexo exo neste mercado de trabalho é imediato. Nos úl úl mos mos anos, análises davam conta de que faltariam engenheiros para o desafi desafio o que a economia brasileira enfrentaria. Contava-se em milhares as necessidades do mercado de trabalho. Faltariam engenheiros para dar conta do desafi desafio o de crescimento do país. A crise econômica, alicerçada em razões fi financeiras, nanceiras, fiscais fiscais e polí polí cas, cas, derrubaram quase todas essas avaliações. “A crise é sempre boa para pensar, coloca todo profi profissional ssional em um circuito de possibilidades, medo e inseguranças, mas também provoca mobilidade. Nesta fase, pensamos em outras possibilidades de ganhos, de complementos ou aquisição de competências”, avalia a consultora Danielle Moro, especialista em gestão de carreiras e de pessoas. De acordo com a empresa de recrutamento Kelly Services, o momento atual não é exatamente de crise para algumas carreiras ligadas à engenharia. Há retração, mas não esgotamento de oferta de trabalho. A engenharia civil, por exemplo, é a AEAARP

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carreira menos afetada. A análise da consultoria conclui que, em São Paulo, os contratos migram de grandes empresas para pequenas construtoras. Nos outros estados da federação, o número de profissionais disponíveis é bastante reduzido em relação ao mercado paulista.

A consultora Danielle vê também uma movimentação de vagas dentro das empresas: saem os profissionais de nível médio e ascendem os iniciantes. Se, por um lado, significa redução de vagas no mercado, por outro é a oportunidade de recém-formados enfrentarem a res-

ponsabilidade de estarem à frente de projetos e obras. “Empresas tendem a fechar posições e redistribuir a vidades. Nesta fase, muitos profissionais têm oportunidades de conhecerem outras áreas, acumular a vidades, mas se deparam também com mais estresse e dificuldade de gerenciamento de tempo”, explica. Segundo o levantamento da Kelly Services, pelo caráter inovador da a vidade, a engenharia de computação é carreira em ascensão. Já na engenharia ambiental, o mercado é de baixa procura, justamente em razão da retração nos inves mentos. No ranking de remuneração preparado pela consultoria, a engenharia química aparece com melhor desempenho. Em segundo lugar está a engenharia mecânica, seguida pelas engenharias elétrica e eletrônica. Em seguida, ocupando a quarta posição, aparece a campeã em vagas de trabalho, a engenharia de computação, seguida pelas engenharias civil e de produção.

Empreendedorismo

Fonte: Kelly Service Revista Painel

As engenharias, a arquitetura e a agronomia têm, em várias áreas, forte apelo empreendedor. Para Danielle, esta caracterís ca, por si só, é insuficiente para garan r o sucesso do negócio. “É boa opção desde que o profissional tenha condição de gerir o seu negócio. Empreender não é apenas abrir uma empresa de produtos ou serviços, é saber gerenciar caixa, fazer projeções financeiras e liderar pessoas. E, sobretudo, estar preparado para aumentar a carga de trabalho”, explica. O Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), tem importante por ólio de cursos e treinamentos para


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aqueles que desejam explorar novas possibilidades para suas empresas ou desejam iniciar um novo negócio. O público-alvo é de empresários, pessoas jurídicas ou pessoas |sicas que buscam orientações. O Empretec é o mais completo treinamento de empreendedorismo oferecido pelo órgão. A metodologia foi desenvolvida na Organização das Nações Unidas (ONU) e desenvolve caracterís cas de comportamento empreendedor nos par cipantes, além de colaborar na iden ficação de novas oportunidades de negócios. O treinamento é promovido em 34 países. Anualmente, o Empretec capacita em torno de 10 mil par cipantes em todo o país. Uma pesquisa feita pelo SEBRAE revelou que 75,4% dos empresários que par ciparam do treinamento em 2014 confirmaram aumento do lucro mensal; 91,8% disseram que o Empretec contribuiu para melhorar o conhecimento sobre o seu negócio, atualizar metas, planos e projetos e

84,9% disseram que foi ú l para iden ficar novas oportunidades. O treinamento tem duração de 60 horas, no modelo de imersão. O par cipante é desafiado em a vidades prá cas, cien ficamente fundamentadas que apontam como um empreendedor de sucesso age, tendo como base 10 caracterís cas comportamentais (Veja no box). Outro programa do SEBRAE é o Agente Local de Inovação (ALI), criado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien fico e Tecnológico (CNPq). Bolsistas do CNPq visitam empresas interessadas em ter acompanhamento próximo em médio e longo prazos. A ação é gratuita e começa com o diagnós co dos pontos em que as empresas estão defasadas e precisam de ajustes. Na sequência, é montado um plano estratégico de ações levando em consideração as prioridades. O obje vo é promover a prá ca con nuada de ações de inovação nas empresas de pequeno porte, por meio de orientação

As 10 caracterís cas comportamentais do empreendedor de sucesso ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯

Busca de oportunidade e inicia va Persistência Correr riscos calculados Exigência de qualidade e eficiência Comprome mento Busca de informações Estabelecimento de metas Planejamento e monitoramento sistemá cos Persuasão e rede de contatos Independência e autoconfiança Fonte: SEBRAE

proa va, gratuita e personalizada. Danielle considera que as ferramentas do SEBRAE oferecem oportunidades de acessar métodos de gerenciamento. “Empreender não é nunca trabalhar menos e sim aumentar a carga de trabalho”, enfa za. Ela também aconselha que o candidato a empreendedor alinhe expecta vas em relação à realidade. As ferramentas de gestão, por exemplo, são essenciais nesse processo. “Empreender em momentos de crise pode exigir inves mentos maiores. É preciso saber se o profissional consegue a ngir o plano de negócio delimitado”, pondera a consultora. Ela conclui, porém, que a queda no mercado de trabalho pode ser um bom momento para repensar a carreira e qualificar-se com as expecta vas voltadas para o futuro.

Oportunidade na crise

Para José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a crise é oportuna para inves r em ciência e tecnologia e desenvolver produtos e áreas AEAARP


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nas quais o país apresenta vantagens compe vas. Ele avalia que a cotação do dólar em torno de R$ 2 no Brasil nos úl mos anos desencorajou a produção local e levou a indústria nacional, que representava 18% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro há dez anos, diminuir sua par cipação para 9%. Era mais barato comprar produtos da China do que fabricá-los

Fonte: Kelly Service Revista Painel

em território nacional. Portanto, Goldemberg es ma que o aumento na cotação da moeda norte-americana no Brasil pode dar novo impulso para o desenvolvimento de produtos e da ciência e tecnologia no país. “A ciência e tecnologia não dependem apenas de boas ideias, mas também da situação econômica do país. A subida do dólar, agora, é favorável para o de-

senvolvimento da ciência e tecnologia localmente”, afirma. Na avaliação do dirigente da FAPESP, uma das áreas que o Brasil apresenta vantagens compe vas em relação a outros países é a de automóveis elétricos. “Como os combus veis fósseis estão com prazo de validade limitado, por diversas razões – incluindo o aquecimento global –, não vão ser países


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que produzem eletricidade a par r do carvão que vão viabilizar os automóveis elétricos. Mas, o Brasil pode fazer isso, porque tem energia hidrelétrica”, avalia Goldemberg. Além dos automóveis elétricos e da agricultura, há diversas outras áreas em que o Brasil tem vantagens compe vas, es ma o dirigente da FAPESP. “A grande tarefa que temos agora é iden ficar essas áreas em que nós possamos, efe vamente, fazer a diferença, por nossas caracterís cas próprias e locais”, disse Goldemberg. Com informações da Agência Fapesp

TRANSFORMADOR EM PEDESTAL EM REDE SUBTERRÂNWEA

PROJETOS E EXECUÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

PROJETOS ELÉTRICOS EM MÉDIA TENSÃO

INSTALAÇÃO CAIXA DE INSPEÇÃO CI

CONSTRUÇÃO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELETRICA AEREA

www.lopesesilva.net.br engenharia@lopesesilva.net.br ILUMINAÇÃO ORNAMENTAL

FONE (16) 3102 5017 RIBEIRÃO PRETO—SP

INSTALAÇÃO DE TUBULAÇÃO REDE AEAARP SUBTERRÂNEA


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PRÊMIO

Profissionais do Ano

AEAARP 2015

Dedicação à en]dade, à carreira e à comunidade definem o engenheiro, o arquiteto e o agrônomo homenageados deste ano

Conheça o engenheiro, o arquiteto e o agrônomo

Profissionais do Ano AEAARP 2015

Revista Painel

O engenheiro José Aníbal Laguna, o arquiteto Orlando Barbosa de Freitas e o agrônomo Guido De Sordi têm marcas profundas na história econômica de Ribeirão Preto. Eles são os Profissionais do Ano AEAARP 2015, indicados respec vamente pelo engenheiro João Paulo Figueiredo, a arquiteta Ercília Pamplona e o agrônomo Paulo Peixoto. Aníbal Laguna é responsável, direta e indiretamente, por centenas de obras no município e está sempre à frente de importantes debates acerca da qualidade de vida na cidade. Barbosa de Freitas usa a arquitetura para modificar conceitos e inovar. Foi assim que criou o Edi|cio Minas Gerais, por exemplo, que ele mesmo já esclarece tratar-se do “marmitão”, como ficou popularmente conhecido o prédio redondo na Rua Amador Bueno. De Sordi teve apenas um emprego em toda a vida profissional, de 1961 a 2005, no Ins tuto Agronômico de Campinas, e fez história na

direção da Fazenda Experimental de Ribeirão Preto. Eles têm em comum o envolvimento com a AEAARP. Aníbal Laguna foi presidente da diretoria e também do conselho, ocupou diretorias na en dade e é o fundador da revista Painel, que começou a circular em 1979 em formato tabloide. Barbosa de Freitas par cipou do fortalecimento da associação quando a en dade surgiu e obteve reconhecimento disso na 1ª Semana de Arquitetura. De Sordi foi diretor, conselheiro e é a vo par cipante da comissão que define ações específicas para os agrônomos. A escolha dos três profissionais foi tomada em reunião conjunta da diretoria e do conselho da AEAARP. Para o engenheiro Carlos Alencastre, presidente da en dade, eles encarnam caracterís cas essenciais aos seres humanos: dedicação à carreira e responsabilidade social em relação à comunidade onde vivem.


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Engenheiro civil

José Aníbal Laguna Ele exibe hoje a mesma vitalidade para trabalhar e debater novas ideias como em 1967, quando fez seu primeiro projeto. Engenheiro civil, Aníbal Laguna exerce a profissão ininterruptamente há 49 anos. Graduou-se pela Faculdade de Engenharia da USP de São Carlos (SP). Fundou a Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto (CETERP), da qual foi o primeiro superintendente, e o Departamento de Urbanismo de Ribeirão Preto (DURSARP), ambos ex ntos. É membro fundador do Conselho Municipal de Urbanismo (COMUR), foi secretário municipal de Planejamento e de Obras, dirigiu vários departamentos municipais e a Companhia Habitacional de Ribeirão Preto (COHAB). Em 1967 executou os primeiros traba-

lhos como engenheiro – duas residências e um edi|cio comercial. Nos anos seguintes integrou equipes responsáveis por edificações que marcam a história da cidade, como o edi|cio Padre Euclides, na Rua Visconde de Inhaúma, onde a sua trajetória se funde à da AEAARP. Foi neste prédio a primeira sede própria da en dade, conquistada no final dos anos de 1960. Aos 73 anos, Aníbal Laguna segue na a va. Trabalha todos os dias como se fosse aquele primeiro, em 1967, com o diferencial de exibir no currículo obras e realizações que o diferenciam no mercado e na sociedade. AEAARP


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PRÊMIO

Arquiteto

Orlando Barbosa de Freitas Arquiteto das ideias inovadoras, que investe em projetos ousados e marcantes, sempre com o mesmo frescor que o levou a cruzar o continente em busca do seu ideal.

Revista Painel

Decidido a ser arquiteto, Barbosa de Freitas enfrentou uma banca examinadora no ves bular que elaborou uma capciosa questão de |sica. Ele deveria responder o que faria se es vesse a cavalo e começasse uma tempestade com raios. Respondeu que desceria do animal e buscaria abrigo. O professor o repreendeu. Afirmou que a resposta correta seria a busca por uma valeta. Barbosa de Freitas retrucou que, sob tempestade, a valeta poderia inundar. Foi reprovado. Então, decidiu vender o carro e inves u em uma empreitada ousada para a época: estudar em Miami, nos Estados Unidos, onde graduou-se em 1961

como Engenheiro Arquiteto. Naquela época, já havia concluído o curso de Piloto Civil no Aeroclube de Ribeirão Preto e, depois, cursou, durante um ano, a faculdade de Filosofia do Ins tuto Católico de Paris, na França. Trata-se de uma personalidade inquieta, com visão à frente de seu tempo. Quando todos desprezavam um terreno na Rua Alvares Cabral, em virtude do grande declive, ele o arrematou e fez surgir o edi|cio Minas Gerais, em formato redondo, marcante na paisagem da cidade desde os anos de 1970. Aos 81 anos, segue inquieto e inven vo. Desenhando sempre e com os pensamentos voltados para o futuro.


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Engenheiro agrônomo

Guido De Sordi Entusiasmado com a profissão e com a sua história à frente da Estação Experimental de Ribeirão Preto, é um homem inspirado e um profissional da agronomia por vocação.

Os 43 anos, cinco meses e três dias dedicados ao Ins tuto Agronômico de Campinas (IAC) proporcionou a De Sordi a possibilidade de abrir as portas da Estação Experimental de Ribeirão Preto, da qual foi diretor até aposentar-se em 2005. Ele recebeu, durante vários anos, grupos de estudantes para visitas, concluídas no pomar com a degustação de frutas colhidas na hora. Fazia questão de ser o guia da visita. Tem vocação de administrador, além daquela que o levou a formar-se agrônomo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), em 1961. Também tem vocação de empreendedor, que o fez dar atenção a um programa de televisão, nos anos de 1990, que mostrava o evento Pro-

gress Farm Show, tradicional nos Estados Unidos, e, uma semana depois, empolgarse com a ideia de promover em Ribeirão Preto algo semelhante. Estava lançada a semente da qual surgiu a feira Agrishow. Desde os dados meteorológicos à capacidade hoteleira, De Sordi viu de tudo para que o evento pudesse acontecer pela primeira vez. Abriu a estação à tecnologia agrícola. Para ele, o charme é ver as máquinas no campo. E entusiasma-se também com os avanços tecnológicos que provocaram revoluções em pesquisas – como a adoção de balanças e outros equipamentos de laboratórios – e nas relações sociais. Líderes legí mos estão à frente de seu tempo e conectados às oportunidades. AEAARP


AGRONEGÓCIO

Avicultura e agricultura são carro-chefe em Mombuca Guatapará, onde está localizada a colônia japonesa Mombuca, é a 36ª cidade que mais produziu ovos em 2013 no Brasil, segundo IBGE

Fotos: Júlio Takaki

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Granja

Plantação de arroz de Mombuca

O Núcleo Colonial de Mombuca, localizado em Guatapará (SP), produz anualmente 21 milhões de dúzias de ovos de galinha e 513 mil dúzias de ovos de codorna. O valor de produção do primeiro chega a R$ 29,8 milhões por ano e o segundo é de R$ 247 mil/ano, de acordo com a Casa da Agricultura de Guatapará. Segundo o úl mo levantamenRevista Painel

to realizado pelo Ins tuto Brasileiro de Geografia e Esta s ca (IBGE), em 2013, a cidade de Guatapará figurava em 36ª no ranking das cidades que mais produziram ovos de galinha no Brasil. Mombuca foi fundada, em 1962, pela administradora Jamic Imigração e Colonização Ltda., que comprou terras da Fazenda Guatapará para abrigar

famílias de imigrantes japoneses. No início, as principais a vidades econômicas do núcleo eram o plan o de arroz nas várzeas do Rio Mogi-Guaçu e também a criação de bicho de seda. Hoje, Mombuca produz também milho, lichia, pitaia, cogumelo shimeji, raiz de lótus, alho, flores e plantas ornamentais, pepino e macadâmia.


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Áreas de Mombuca

Segundo a Associação Agrocultural Espor va de Guatapará (AACEG), em Mombuca vivem 100 famílias – cerca de 500 pessoas. Os patriarcas dessas famílias vieram de sete províncias do Japão: Yamagata, Ibaraki, Nagano, Okayama, Shimane, Yamagu e Saga. O engenheiro agrônomo Júlio Takaki, responsável pela Casa da Agricultura de Guatapará, diz que a maioria dessas pessoas ainda vive da agricultura e avicultura.

A colônia abrange uma área de 7.294 hectares, divididas da seguinte forma: • várzea: 1.119 hectares • planalto: 3.899 hectares • lagoa: 182 hectares • área urbana: 102 hectares • estradas: 120 quilômetros • córregos: 73 quilômetros • dique: 9 quilômetros • áreas de preservação permanente e de reserva legal: 1.673 hectares Fonte: Associação Agrocultural Espor]va de Guatapará

Números de Mombuca

número de aves em postura: 1.000.000 • número de aves na recria: 300.000 • número de aves para corte: 30.000 aves/60 dias (aproximadamente) • suinocultura: 1.800 cabeças/ano (abate) • ovinocultura: 300 cabeças (número de cabeças para abate não divulgado) • gado de corte: 1.500 cabeças (número de cabeças para abate não divulgado) Fonte: Associação Agrocultural Espor]va de Guatapará

Plantação de flor de lótus de Mombuca

A produção agrícola de Mombuca é comercializada nos pequenos municípios vizinhos, além de Ribeirão Preto, Araraquara e São Carlos (SP). Os produtos são vendidos para o consumidor final, feirantes, Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e supermercados. E grande parte da produção de raiz de lótus é vendida para a cidade de São Paulo, explica Takaki.

Raiz de lótus, também conhecida como Renkon ou Lenkon AEAARP


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Das 27 granjas, que produzem ovos de galinha em Mombuca, 11 fazem parte da Coopera va Agrícola de Guatapará (Coag), fundada em 1994. Luiz Carlos Sinherolli, gerente da Coag, conta que grandes redes de supermercados são o principal des no dos ovos produzidos pelos cooperados.

Veja na área de NoLcias no endereço eletrônico da AEAARP, um vídeo que mostra a infraestrutura das granjas de Mombuca e também a página no Facebook da colônia, que tem fotos e informações sobre os moradores e suas histórias.

www.aeaarp.org.br aeaarp.org

Surgimento de Guatapará

O nome Guatapará vem do Tupi-Guarani, originário de um cervo ex nto, cuja espécie exis a aos milhares na região em que hoje está localizada a cidade de mesmo nome. Em 1865, Mar nico Prado – conhecido como plantador de cidades – organizou uma expedição, descendo o Rio Mogi-Guaçu, par ndo do município de Araras até Pontal, na junção do Rio Mogi com o Rio Pardo. Nesta época, adquiriu terras da família de Santos Dumont e deu-lhes o nome de Fazenda Guatapará. Em 1938, por exigência do Governo Federal, os estados e municípios veram que regularizar e demarcar as suas divisas. Com isso, Fábio de Sá Barreto, prefeito de Ribeirão Preto na época, criou o Distrito de Guatapará, em 1938, cuja sede era a Fazenda Guatapará. Alguns idealistas do distrito solicitaram à Assembleia Legisla va do Estado de São Paulo, em 1964, a emancipação polí ca e administra va do local. Depois de duas consultas populares, uma que negou e outra, 25 anos mais tarde, que aprovou a emancipação, a população ainda esperou por algum tempo para, enfim, eleger pelo voto direto seu primeiro prefeito, em 1993. Hoje, o município tem a agricultura como principal fonte econômica, destacando-se a cana-de-açúcar, eucalipto para produção de papel e celulose e a avicultura de postura e corte.

Festa da Colheita

Outra fonte de venda dos produtos agrícolas de Mombuca é a Festa da Colheita, que acontece todo mês de julho, com o obje vo de divulgar a cultura japonesa. “Os produtos da colônia são u lizados na culinária japonesa, que é uma das principais atrações da festa”, explica Takaki. O agrônomo ressalta que as hortaliças e outros produtos agrícolas foram muito u lizados em pratos como tempurá, yakissoba, guioza e shimeji que, segundo Takaki, veram vendas expressivas na úl ma Festa da Colheita, realizada nos dias 11 e 12 de julho de 2015.

Festa da Colheita

Revista Painel


PESQUISA

IAC mantém programa

de melhoramento de macadâmia

Ins]tuto Agronômico desenvolveu 16 variedades desta noz A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio do Ins tuto Agronômico (IAC), de Campinas, mantém o único programa de melhoramento gené co de macadâmia no Brasil, responsável pelo desenvolvimento de 16 variedades da noz, que estão presentes em todos os estados produtores. No mundo, há programas na Austrália e outro na África do Sul. De acordo com a pesquisadora do IAC, Graciela da Rocha Sobierajski, o Ins tuto também conduz estudos de adaptação de variedades

Havaianas. O programa do IAC teve início na década de 40. As linhas de pesquisa do programa são caracterização molecular das variedades, teste de progênies e estudo do florescimento precoce. Nessa caracterização molecular das variedades para seleção de parentais, o IAC inves u no desenvolvimento de marcadores microssatélites e diversity array technology (DarT), que são inéditos para a espécie e usados para quan ficar a divergência gené ca das variedades. “Este projeto foi assunto de

minha tese de doutorado e ve a oportunidade de fazer intercâmbio na Austrália para desenvolvimento dos DArTs”, diz a pesquisadora. Conforme dados da Associação Brasileira de Noz-Macadâmia, de 2013, São Paulo tem três mil hectares deste cul var, que representam 46% do total nacional. As demais regiões produtoras estão em Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Planalto do Mato Grosso do Sul e norte do Paraná. Fonte: IAC

AEAARP

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ARQUITETURA

6ª Semana de

Arquitetura Carreira, bioarquitetura e par]cipação em concursos públicos foram destaques

Expectativas de carreira e mercado em tempos de crise Paula Martucci, especialista em gestão de pessoas, Ribeirão Preto-SP Sob coordenação técnica da arquiteta Ercília Pamplona, a 6ª Semana de Arquitetura abordou temas como sistemas constru vos alterna vos, par cipação em concursos públicos de arquitetura, além de dicas de como melhorar a imagem profissional e desenvolvimento de carreira. “O foco foi apresentar o mercado de trabalho aos jovens profissionais. A exposição de trabalhos arquitetônicos na entrada da associação, durante as semanas técnicas, é uma forma de a ngir esse obje vo”, diz Pamplona. A seguir, o resumo das palestras, cujos vídeos estão disponíveis na sede da en dade.

Ercília Pamplona Revista Painel

A falta de mão de obra especializada tem preocupado empregadores. Especialista em gestão de pessoas, Paula Martucci explica que os currículos da nova geração de profissionais trazem frases como “ó mo em relacionamento interpessoal” ou “facilidade de trabalhar em equipe”. Porém, as afirmações não condizem com a realidade. Martucci conta que, durante as entrevistas, os recrutadores pedem aos candidatos exemplo de um trabalho que tenham realizado em equipe. Quase nunca têm uma resposta. “O grande erro é irem despreparados para as entrevistas, não conseguirem sustentar a

Paula Martucci

argumentação e comprovar o que está no currículo”. A dificuldade de saber falar de si mesmo, dos diferenciais e de suas qualidades é fator cultural, explica Martucci. “Fora das entrevistas de trabalho, nós não somos desfiados a falar de nós mesmos. Para treinar isso é preciso ter repertório”. Imagem profissional Compõe a imagem do profissional o conteúdo do discurso do candidato, a forma como se apresenta, a postura, o vestuário, a comunicação e, até mesmo, o endereço da caixa postal eletrônica. Termos pejora vos ou infan s devem ser evitados.

Martucci ressalta que o mercado espera quatro coisas dos profissionais: análise, interação, contribuição e transformação.

José Borges, do CAU


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A programação teve como foco preparar o jovem profissional para o mercado de trabalho

Martucci explica que a carreira está dividida em três etapas: Pré-seleção: período no qual o profissional deve definir sua missão e propósito, elaborar um currículo bem formatado – que corresponda com a realidade – e iniciar a divulgação do trabalho. Seleção: neste momento deve-se pensar na imagem profissional e desenvolver a capacidade de argumentação e sustentação daquilo foi descrito no currículo. Pós-seleção: depois de conquistada a vaga de emprego, o profissional precisa ter visão sistêmica de todos os processos da empresa, fazer a autoavaliação do seu trabalho, alinhar sua expecta va com aquilo que a empresa oferece e estar atento à inovação e à cria vidade. Para refletir Martucci faz um alerta: a maioria dos empregadores da Geração Y é da Geração X e isso deve ser levado em consideração. “Para estabelecer boa comunicação e diminuir os conflitos nesse meio

é preciso esquecer que existe essa diferença de gerações e pensar somente em pessoas”. Alguns paradigmas, segundo a especialista, dificultam a percepção do que é necessário para desenvolver a carreira: “planejamento estratégico é só para as empresas”; “inves r em marke ng apenas quando ver minha empresa”; “profissional liberal não precisa aprender a vender”; “sucesso é questão de sorte e de competência técnica”. Essas são questões que devem ser repensadas e isso pode mudar a história de um profissional no mercado de trabalho.

Projeto Responsável Michel Habib, arquiteto, São Paulo-SP Princípios da Bioarquitetura foram usados na construção da casa do arquiteto Michel Habib, em A baia (SP). Ele idealizou uma residência integrada com a natureza, com o mínimo de impacto ambiental adotando sistemas constru vos não-convencionais.

Terreno O terreno nha um bambuzal e grande declividade e foi usado sem muitas interferências na topografia. “Não fui eu quem escolheu o que fazer naquela casa e sim o terreno que me disse o que era mais barato e menos agressivo para ele”. Ele limpou o bambuzal, separou algumas peças que serviriam para a alvenaria da casa e deixou uma parte como elemento paisagís co no quintal. Alvenaria O barro foi usado nas paredes de pau a pique, no lugar da alvenaria convencional, e também para criar os adobes – espécie de paralelepípedo feito com barro comprimido e secado ao tempo. “Eu sou a favor de usar cimento somente em locais onde ele é essencial, ou seja, na fundação e nas estruturas”. O reboco das paredes foi feito com esterco de vaca, terra e areia. No lugar da água, Habib usou soro de leite, recolhido de uma fábrica de la cínios que nha dificuldade de descartar o material. Materiais alternativos O arquiteto usou cerca de 600 pneus de carros u litários para fazer o muro de arrimo. Segundo ele, o metro quadrado do muro convencional custaria R$ 400 e foram gastos R$ 120 naquele feito com pneus. Toneladas de restos de artefatos de cerâmica, como jolo, piso e telha, preencheram a fundação.

A Semana de Arquitetura atraiu cerca de 400 pessoas, entre estudantes e profissionais AEAARP


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Workshop mostrou técnica de construção

Laje A laje foi feita com a técnica Cascaje, criada pelo arquiteto holandês Johan van Lejen, com argamassa de cimento e areia como matéria-prima e baixo consumo de ferro e cimento na construção de painéis ondulares. Segundo Habib, uma laje tradicional custaria R$ 32 o metro quadrado e o sistema de laje de Cascaje custou R$ 28,50 o metro quadrado. “Para uma casa de 200 metros quadrados a economia foi insignificante, mas para o meio ambiente não”. Reaproveitamento de água Um sistema de reaproveitamento de água negra – resíduo líquido de matéria fecal e urina – é direcionado a um pequeno jardim. O encanamento do vaso sanitário foi ligado a uma caixa impermeável, localizada no quintal da casa, que trata o resíduo líquido. A água resultante deste processo sobe por capilaridade e irriga o jardim. “O que era para ser jogado na rede de esgoto, volta para a natureza na forma de evapotranspiração”.

Michel Habib Revista Painel

Workshop tratou do Código de Obras do município

A água cinza – gerada em a vidades na cozinha, no tanque e no banho – também passa por tratamento e é reaproveitada no vaso sanitário. “Para mim, essa casa é um organismo vivo, eu interajo com ela em vários processos”.

fazer o projeto”. Com o tempo, ele percebeu que a elaboração de um projeto não é o fim e sim um processo de experimentação, de estudo e de conhecimento que poderá ser aplicado em outros trabalhos.

Entulho O arquiteto usou mais de 50 caçambas de entulho na construção. No final da obra, descartou somente duas caçambas: uma de plás co e outra de madeira. “A minha casa tem um pouco da história da região em que moro, quase tudo veio do entulho e de outros materiais descartados pela comunidade do bairro”.

Influência de Vilanova Artigas Iwamizu conta que na primeira casa que projetou, u lizou alguns conceitos do Vilanova Ar gas (veja a matéria sobre o centenário do arquiteto na Painel 244). “As técnicas até então vinham sendo usadas apenas em galpões e em obras industriais, como a laje pré-moldada e o bloco aparente”. Durante a construção desta casa surgiu a oportunidade de projetar uma escola pública na periferia de São Paulo (SP). O arquiteto lembra que a ins tuição que o contratou para projetar a escola também se interessava por estruturas pré-moldadas em concreto, caracterís ca adotada na obra. Uma das prioridades deste projeto era aproveitar a declividade do lote para valorizar o espaço. Outro diferencial foi a criação de um passeio público, que iniciava na rua e atravessava a escola. Este espaço serviu também como uma praça nos finais de semana, tornando-se opção de lazer para a comunidade.

Projetos Recentes Cesar Shundi Iwamizu, arquiteto, São Paulo-SP Para o arquiteto Cesar Shundi Iwamizu os concursos públicos têm servido para aumentar o entusiasmo dos profissionais da arquitetura. “Mais do que ganhar a concorrência, o importante é

Cesar Shundi Iwamizu

SESC Em Franca (SP), a visão urbanís ca da localidade – o município conhecido como a cidade das três colinas – foi essencial para a elaboração do projeto do SESC-Serviço Social do Comércio. “O


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terreno era muito íngreme, nha quase 20 metros de desnível, porém aproveitamos a topografia do local. Daí a ligação da arquitetura com a geografia da cidade”. O que era um grande desafio passou a ser visto como primordial para a concepção do projeto. O projeto de ampliação do SESC de Ribeirão Preto também foi outra conquista do escritório de Iwamizu. O desafio não era a topografia. “Tivemos duas grandes dificuldades: terreno muito pequeno, então a solução era ver calizar a construção, e não interferir na arquitetura do edi|cio já existente”. O edi|cio original foi projetado pelo arquiteto Osvaldo Corrêa Gonçalves – um dos representantes da primeira geração de arquitetos modernos de São Paulo – e a maior responsabilidade no processo de ampliação era preservar essa arquitetura e fazer com que a nova construção estabelecesse re-

lação de con nuidade com o an go. Patrimônio histórico “O risco de restaurar um patrimônio histórico e ele con nuar esquecido é um problema”, afirma Iwamizu. Foi esse um dos argumentos que convenceu o júri do concurso realizado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) para restauração e revitalização da Estação Ferroviária de Mairinque (SP), projetada pelo arquiteto Victor Dubugras, em 1906. Iwamizu explica que a visão urbanís ca da cidade pode contribuir, e muito, para a valorização e aumento da visibilidade do patrimônio. “Dar um novo uso para o local é mais uma garan a de que ele seja preservado ao longo do tempo”. Outro patrimônio histórico no qual Iwamizu está trabalhando é a revitalização da Casa Caramuru, localizada em Ribeirão Preto. Acredita-se que a casa

foi construída antes do ano de 1883. Em 1890 houve a inversão da fachada principal para a Avenida Caramuru. Tombada como patrimônio histórico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Ar s co e Turís co (Condephaat) em 1988, foram necessários 24 anos para o início do processo de revitalização, que aconteceu por meio de um concurso público de arquitetura. Assim como a Estação Ferroviária de Mairinque, o concurso foi promovido por meio do ProAC. Iwamizu explica que a proposta inicial era adequar a Casa Caramuru para ser sede do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) de Ribeirão Preto. O projeto contempla salas de leitura, biblioteca e departamentos administra vos, além de um espaço para cafeteria e para programas de caráter cultural abertos ao público.

AEAARP


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ARTIGO

Florestas Urbanas ou

Parques Ecológicos?

Gustavo Sicchieri Engenheiro Ambiental

Imaginemos a seguinte situação: um córrego que passa por seu bairro terá seu eixo re ficado e suas margens recuperadas e, com isso, sua famosa Área de Preservação Permanente (APP) implantada dentro dos critérios do “novo Código Florestal” (Lei Federal n. 12.651/12). Pois bem, quanto ao eixo do canal, não há muito que se opinar, isto é basicamente determinado pela topografia original do terreno. Os taludes laterais, por sua vez, são mais determinados por uma questão de segurança do que por qualquer outra coisa. Porém, e quanto às margens? Ou melhor, aos 30 metros, 50 metros ou 100 metros de APP que se estendem após a linha do canal? Por qual po de uso e ocupação optar? Vejamos, é preferível que a área conte com uma floresta urbana ou um parque? Traduzindo, é preferível implantar um sistema de lazer contempla vo ou recrea vo? Ou, simplificando ao cerne da questão, vale mais a área ser integralmente recomposta – e, por isso, entende-se a implantação de um reflorestamento que desenvolva nela um fragmento florestal na vo consolidado e rico em espécies arbóreas, daqueles que visualizamos na Serra do Mar, ao lado da Rodovia Imigrantes, quando seguimos rumo a Santos ou Guarujá? Ou, prefere-se na área um ajardinamento com a implantação de um projeto paisagís co que preveja Revista Painel

o plan o de grama, árvores ornamentais e bancos para o convívio social, ainda que com uma mescla de árvores na vas em pontos estratégicos? Caso eu esteja sendo falho na descrição, tomemos alguns exemplos. O trecho final da Avenida Eduardo Andrea Matarazzo, conhecida como Via Norte, logo antes de chegar na Rodovia Alexandre Balbo (Anel Viário – Contorno Norte), é um exemplo de uma recomposição integral bem sucedida. O fragmento florestal garante as funções ecológicas de uma APP devidamente preservada, tal qual a infiltração das águas pluviais e a locomoção da fauna, bem como, neste caso específico, impede a ocupação habitacional irregular em um dos lados e o depósito de entulho do outro. Caso este exemplo não faça parte de seu i nerário, tomemos outro: a Avenida Carlos Consoni, entre a Avenida Celso Charuri e a Avenida Portugal, mais especificamente entre o Centro de Eventos Pereira Alvim e o supermercado Savegnago, onde foram plantadas mudas de espécies arbóreas na vas e, após ter sido aplicada a manutenção necessária, como o controle das gramíneas, a irrigação nos meses de escassez hídrica e a subs tuição das mudas que vieram a perecer, se estabelecerá uma cobertura arbórea na va e consolidada, ou seja, uma “mata natural”, ainda que induzida. Tomemos o exemplo oposto agora. Podemos querer u lizar estas faixas para recreação e lazer, implantando amplas áreas gramadas onde você pode passear com seu cachorro e levar as crianças em um domingo ensolarado, tal como no Parque Luiz Roberto Jábali (Curupira) ou no Parque Luiz Carlos Raia, na Zona

Central e Sul da cidade, respec vamente. Vejamos, ambas as opções oferecem atra vos e desvantagens. Por que eu iria querer uma área inteiramente ocupada por vegetação na va no meu bairro, do po que, se eu quisesse chegar à água, teria que abrir picada com um facão, e que, se não houver um policiamento permanente, torna-se um atrativo à indigentes e bandidos? Por outro lado, quem não gostaria de uma redução na temperatura média do bairro no verão que a nge a cidade no início do ano, ou mesmo ques onaria a intenção de diminuir as enchentes que assolam Ribeirão ou garan r que nosso Aquífero Guarani se mantenha com os níveis admissíveis de saturação, uma vez que a vegetação na va não só garante as funções ecológicas de uma APP devidamente protegida, mas também incrementa a infiltração das águas pluviais no município? Assim, está lançada a dúvida. E se acharam que eu daria a resposta certa, ou mesmo arriscaria dar minha opinião, se equivocaram. Não há certo ou errado na presente comparação. Minha opinião é a de que cada situação deve ser analisada separadamente, levando-se em consideração todos os aspectos incidentes na região e, principalmente, na comunidade envolvida. Mas, agora você terá argumentos mais concretos para opinar com propriedade na próxima Audiência Pública em um Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) – etapa do licenciamento ambiental que envolve toda a comunidade na concepção do projeto – de um grande empreendimento a ser lançado próximo à sua casa. Boa escolha.


CREA-SP

Responsabilidade técnica

em elevadores e escadas rolantes

Aos CREAs cabe a responsabilidade pela fiscalização das a vidades técnicas afetas à área tecnológica, como as engenharias, área agronômica, tecnólogos e técnicos de nível médio entre outras. Dentre tais a vidades destacamos neste texto o projeto, a fabricação, a instalação, montagem, manutenção e laudos técnicos de equipamentos eletromecânicos, como elevadores, escadas rolantes ou similares, que são disciplinados pelo CONFEA na Decisão Norma va Nº 36 de 31 de julho de 1991. Todas as atividades acima citadas somente poderão ser executadas sob a responsabilidade técnica de profissional ou empresa devidamente habilitados e registrados no CREA. Como em todas as a vidades técnicas regulamentadas pelo Sistema CONFEA/ CREA também aquelas relativas aos elevadores e escadas rolantes estão sujeitas à formação dos profissionais e à atribuição que cada a vidade exige, de acordo com a área e a complexidade do serviço a ser desenvolvido. Assim, de acordo com a DN 36/1991, profissionais de nível superior da área de mecânica, com atribuições do Art. 12 da Resolução 218/73 do CONFEA, estão habilitados para as a vidades de projeto,

fabricação, instalação ou montagem, manutenção e laudos técnicos desses equipamentos. Para as atividades de manutenção, poderão responsabilizar-se os profissionais de nível técnico, com atribuições do Art. 4º da Resolução 278/83 do CONFEA. Como toda a vidade técnica desenvolvida pelos profissionais do Sistema CONFEA/CREA, é obrigatório o recolhimento da respec va Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), conforme a Lei 6496/77, que deverá ser efetuado de uma só vez antes do início da execução para as a vidades de projeto, fabricação, instalação ou montagem e laudos técnicos. Para a a vidade de manutenção existem duas hipóteses. Quando o contrato de manutenção ver validade igual ou superior a um ano, deverá ser recolhido de uma só vez antes, no início da vigência do contrato. Porém, se possuir validade superior a um ano, deverá ser recolhida uma ART por ano, com a taxa proporcional ao período restante de vigência do contrato. Caso o contrato de manutenção seja por prazo indeterminado deverá ser recolhida uma ART correspondente ao valor de contrato para cada período de 12 meses.

Destine 16% do valor da ART para a AEAARP (Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto)

Agora você escreve o nome da entidade e destina parte do valor arrecadado pelo CREA-SP diretamente para a sua entidade

Contamos com sua colaboração!


Social FOCO

O cardápio é perfeito, comida de boteco com a sofi sofis cas cação de mestres da gastronomia. O ambiente é aconchegante e perfeito para rever colegas de trabalho, amigos e estreitar novas relações de negócios e sociais. Confira Confira as imagens de agosto e fique atento às novas programações, informadas por meio de correio eletrônico e nas mídias sociais.

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Pesquisa revela

mercado em ascensão Números demonstram que inves]r em projetos de sustentabilidade pode melhorar desempenho das empresas

A Associação As ci ão B Brasileira sileir do dos ProfisProfi sionais de Sustentabilidade (ABPS), em parceria com a consultoria Deloi}e, realizou pesquisa sobre o perfil do profissional de sustentabilidade no Brasil. Foram mapeados o foco de atuação, projetos e aspirações. Apesar da retração da economia brasileira, apenas 9% das companhias reduziram o orçamento des nado às ações de sustentabilidade. O índice é igual aos registrados em 2013 e 2014. Segundo a en dade, o resultado demonstra que esses profissionais são vistos como estratégicos em período de crises energé ca e hídrica. Foram coletadas 370 respostas por meio de ques onários eletrônicos no período de 8 a 24 de abril deste ano. Entre os entrevistados, 42% pertencem ao sexo masculino, e 58%, ao feminino,

co idades que variam de 27 a 35 anos, com co com atuação nas áreas de administraçã ção (14%); engenharia (19%); propaganda e marke ng (10%); gestão amga biental (20%); e outras (38%). 90% dos bien en entrevistados trabalham em empresas co com sede no Brasil, e 36% das ins tuiçõ ções possuem um faturamento anual ac acima de R$ 500 milhões. O levantamento também buscou sabe a razão que leva um jovem a optar ber po essa carreira. Apenas 8% declarapor ra ram que a razão foi por retorno finance ceiro. 70% disseram que buscam a real alização pessoal e 55% têm admiração pe tema. pelo De acordo com o estudo, os setores de bens de consumo (19%), serviços (17%) e a indústria financeira (11%) são os de maior representa vidade dentro dos setores de empresas. A pesquisa também levantou a média salarial dos respondentes. O salário de 50% deles varia de R$ 3 mil até R$ 9 mil. Os entrevistados atuam na área de sustentabilidade e se reportam aos setores de comunicação, recursos humanos, industrial, jurídica, controles internos, suprimentos, financeira, marke ng e relações ins tucionais. Veja a íntegra do relatório na área de NoLcias na página da AEAARP.

www.aeaarp.org.br

revistapainel

SUSTENTABILIDADE

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ANUNCIE NA PAINEL

16 | 2102.1719

angela@aeaarp.org.br AEAARP


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NOTAS E CURSOS

novos associados INSTAPAINEL

O agrônomo José Walter Figueiredo explicou, no curso Arborização urbana e poda, a correta forma de manutenção das árvores da cidade.

Envie para aeaarp@aeaarp. org.br uma foto feita por você e ela poderá ser publicada nesta coluna

Guia de boas práMcas em sistema BIM A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) lançou segundo fascículo do Guia Boas Prá cas em Building Informa on Modeling (BIM). É mais um passo para a implantação e disseminação dessa plataforma de trabalho em toda a cadeia da construção civil. O segundo volume procura mostrar que a implantação do BIM requer novos métodos de trabalho, novas posturas de relacionamento entre arquitetos, proje stas, consultores, contratantes e construtores, trazendo resultados da compilação da experiência dos profissionais do GT BIM da Asbea, na u lização do BIM nos projetos desenvolvidos em seus escritórios. Segundo o texto, “o importante antes de implantar o processo BIM é compreender as vantagens que essa mudança trará. Entender que por meio dele é possível simular uma obra com mais propriedade e profundidade verificando e equalizando todas as interferências entre os diversos projetos”. O Guia foi produzido com recursos do edital de patrocínio do CAU/BR. As versões online dos dois fascículos estão disponíveis no endereço eletrônico do CAU/BR. Fonte: CAU/BR

Alberto Alves Muniz Engenheiro civil Antônio Herminio Oliveira Lima Engenheiro civil Carlos Guimarães Rodrigues Engenheiro civil José Carlos de Alchimim Júnior Engenheiro civil Conrado Kazon Neto Engenheiro civil Carlos Henrique Milane}o Engenheiro mecânico Raquel Vale Abrão Engenheira mecânica Anne Caroline Malves o Engenheira ambiental João Aparecido da Silva Engenheiro eletricista Rafael Almeida do Carmo Engenheiro eletricista Aracy Maria Moraes Zaccaro Engenheira agrônoma Orlando José de Souza Técnico em eletrotécnica Ricardo Muniz Ferreira Técnico em eletrotécnica Ana Beatriz Carvalho Fernandes Braga Estudante de agronomia Caio de Oliveira Paggiaro Estudante de agronomia Douglas Florian Maia Estudante de agronomia Felipe Augusto Pole}o Stambowsky Estudante de engenharia civil José Mário Felix Lima Júnior Estudante de engenharia civil Guilherme Henrique Jaque Cunha Estudante de agronomia

Chamada para projetos até 16 de novembro A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Agence Universitaire de la Francophonie (AUF), do Canadá, anunciam nova chamada de propostas para selecionar projetos de cooperação em pesquisa em qualquer área do conhecimento cien fico e tecnológico. Os projetos devem ser desenvolvidos por equipes de ins tuições de ensino superior e de pesquisa no Estado de São Paulo e por pesquisadores associados a ins tuições de pesquisa ou universidades membros da AUF no mundo. Os selecionados deverão incen var a difusão do conhecimento e a implementação de projetos inovadores de pesquisa cien fica ou tecnológica e os resultados deverão gerar publicações de ar gos cien ficos e inovações patenteáveis, quando possível. A primeira modalidade compreende projetos de pesquisa com obje vos comuns, nos quais as a vidades dos pesquisadores do Estado de São Paulo e dos pesquisadores de estabelecimentos membros da AUF serão financiadas, respec vamente, Revista Painel

pela FAPESP e pela AUF. As propostas dos pesquisadores do Estado de São Paulo devem ser apresentadas à FAPESP como Propostas de Auxílio à Pesquisa – Regular. A segunda modalidade envolve solicitações de recursos suplementares (seed funding) para apoiar o intercâmbio de pesquisadores no âmbito dos projetos de pesquisa em andamento na FAPESP (Auxílio à Pesquisa – Regular, Projeto Temá co, Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão, Programa de Melhoria do Ensino Público, Programa de Pesquisa em Polí cas Públicas e Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica) e apoio a pesquisas em andamento na AUF. A data-limite para submissão das propostas é 16 de novembro de 2015. FAPESP e AUF des narão um total de até € 200 mil para o financiamento dos projetos de pesquisa selecionados. A chamada está publicada em: www.fapesp.br/9727. Fonte: Agência Fapesp




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