Painel - edição 261 - dez.2016

Page 1

painel Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto Ano IX nº 261 dezembro/ 2016

Revolução verde Como uma das grandes indústrias da região mudou o processo de produção agrícola, agregou valor aos produtos e promoveu grande transformação ambiental em suas fazendas

Mineração

Indústria mineradora tem tecnologia para tapar buracos

Arquitetura

Mapa da produção de café mostra como eram 65 fazendas da época

Hobby

O colecionador de cardápios

AEAARP



palavra do presidente Eng. civil Carlos Alencastre

No início do século passado, a região de Ribeirão Preto (SP) sofreu grande revés com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que resultou em freada brusca nas exportações de café e em um verdadeiro tsunami sobre a lavoura. A economia local dependia quase que exclusivamente da agricultura e historiadores demonstraram mais tarde que houve célere reação do setor produtivo local. Foi nas décadas seguintes que Ribeirão Preto se firmou como centro de serviços, da indústria da saúde, da educação, dentre outros. No campo, o café deu lugar ao algodão e à cana, que prevaleceu sobre todos os outros investimentos e tornou-se, mais uma vez, símbolo da nossa economia. Porém, desta vez não só pelo ouro que vem do campo (o café, como lembram, era tratado por esta alcunha), mas também pelo desenvolvimento da capacidade industrial. Foi o investimento em educação, na formação de pessoas em diversas áreas do conhecimento – medicina, direito, engenharia, agronomia e, mais tarde, arquitetura – que permitiu a reação econômica e a retomada de postos de trabalho e investimentos. Revisitar essa história é essencial para compreendermos o quanto é importante o momento histórico atual e também quão relevante é o nosso papel. Ao surgir, em 1948, a AEAARP tinha como objetivo principal defender o exercício das profissões do sistema CONFEA-CREA da atuação de leigos, que se espalhavam nos setores público e privado, e também interferir e participar de debates sobre políticas públicas. Maior e mais forte, a AEAARP exibe hoje êxitos institucionais. O país passa por forte crise e, aliada a este cenário, a insegurança política da cidade gera incertezas jurídicas, que faz muito mal aos investimentos. Para escrever a história que será contata sobre este século, a AEAARP oferece o ambiente de conhecimento, de debate e de contatos para negócios. Em 2016, firmamos novas parcerias, incrementamos a agenda de cursos e palestras e estreitamos relações com conselhos de classe, órgãos públicos e de discussão técnica. Portanto, somos nós que devemos escolher de qual lado do enredo deveremos estar.


índice

ESPECIAL

Uma história de transformação na lavoura

arquitetura

Paisagem arquitetônica do café em Ribeirão Preto

05 10

PRODUTIVIDADE 13 hobby 14

22

homenagem

23

gestão

24

crea-sp

25

notas e cursos

26

Sete dicas para eliminar desperdícios

16

Livro de ordem é facultativo

evento 18

9ª Semana de Engenharia expõe pioneira indústria de recuperação energética

painel

previdência

Instituto de Engenharia homenageia mulher pela primeira vez

Cardápios: da mesa à parede

tecnologia

21

Reforma: e agora, como fica a sua aposentadoria?

Trabalhando com referência de células

Atividade mineradora em Ribeirão Preto

trabalho

Unicamp abre concurso para professores

Rua João Penteado, 2237 - Ribeirão Preto-SP - Tel.: (16) 2102.1700 - Fax: (16) 2102.1717 - www.aeaarp.org.br / aeaarp@aeaarp.org.br

DIRETORIA OPERACIONAL Diretor Administrativo: eng. agr. Callil João Filho Diretor Financeiro: eng. agr. Benedito Gléria Filho Diretor Financeiro Adjunto: eng. civil e seg. do trab. Luis Antonio Bagatin Diretor de Promoção da Ética de Exercício Profissional: eng. civil Hirilandes Alves Diretor Ouvidoria: eng. civil Milton Vieira de Souza Leite DIRETORIA FUNCIONAL Diretor de Esportes e Lazer: eng. civil Rodrigo Fernandes Araújo Diretor de Comunicação e Cultura: eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto Diretor Social: arq. e urb. Marta Benedini Vecchi Diretor Universitário: arq. e urb. Ruth Cristina Montanheiro Paolino DIRETORIA TÉCNICA Agronomia, Agrimensura, Alimentos e afins: eng. agr. Jorge Luiz Pereira Rosa Arquitetura, Urbanismo e afins: arq. Ercília Pamplona Fernandes Santos Engenharia e afins: eng. Naval José Eduardo Ribeiro Horário de funcionamento AEAARP - das 8h às 12h e das 13h às 17h CREA - das 8h30 às 16h30 Fora deste período, o atendimento é restrito à portaria.

Eng. civil Carlos Eduardo Nascimento Alencastre Presidente

Eng. eletr. Tapyr Sandroni Jorge 1º Vice-presidente

Eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho 2º Vice-presidente

CONSELHO DELIBERATIVO Presidente: eng.º civil João Paulo de Souza Campos Figueiredo Conselheiros Titulares Eng.º agr.º Dilson Rodrigues Cáceres Eng.º civil Edgard Cury Eng.º civil Elpidio Faria Junior Arquiteta e eng.ª seg.ª do trab.º Fabiana Freire Grellet Eng.º agr.º Geraldo Geraldi Jr Eng.º agr.º Gilberto Marques Soares Eng.º mec.º Giulio Roberto Azevedo Prado Eng.º elet.ª Hideo Kumasaka Eng.º civil Wilson Luiz Laguna Eng.º civil Jose Aníbal Laguna Arquiteto Luiz Eduardo Siena Medeiros Arq.ª e urb.ª Maria Teresa Pereira Lima Eng.º civil Ricardo Aparecido Debiagi Conselheiros Suplentes Eng.º agr.º Alexandre Garcia Tazinaffo Arq.º e urb.ª Celso Oliveira dos Santos Eng.º agr.º Denizart Bolonhezi Eng.º civil Fernando Brant da Silva Carvalho Eng.º agr.º José Roberto Scarpellini Eng.º agr.º Ronaldo Posella Zaccaro

Associação de Engenharia Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

REVISTA PAINEL Conselho Editorial: eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho, arq. urb. Celso Oliveira dos Santos, eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado e eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto - conselhoeditorial@ aeaarp.org.br Conselheiros Titulares do CREA-SP indicados pela AEAARP: eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves e eng. mecânico Fernando Antonio Cauchick Carlucci Coordenação Editorial: Texto & Cia Comunicação Rua Galileu Galilei 1800/4, Jd. Canadá, Ribeirão Preto SP, CEP 14020-620 www.textocomunicacao.com.br Fones: 16 3916.2840 | 3234.1110 contato@textocomunicacao.com.br Editora: Daniela Antunes – MTb 25679 Colaboração: Bruna Zanuto – MTb 73044 Publicidade: Departamento de eventos da AEAARP - 16 2102.1719 Angela Soares - angela@aeaarp.org.br Tiragem: 3.000 exemplares Locação e Eventos: Solange Fecuri - 16 2102.1718 Editoração eletrônica: Mariana Mendonça Nader Impressão e Fotolito: São Francisco Gráfica e Editora Ltda.

Painel não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados. Os mesmos também não expressam, necessariamente, a opinião da revista.


uma história de transformação na lavoura Nos anos de 1980, um jovem engenheiro agrônomo mudou os negócios da família, do modelo convencional para o orgânico e agregou valor à tradicional indústria canavieira com produtos orgânicos certificados internacionalmente

O maior projeto orgânico certificado do mundo acontece nas cercanias de Ribeirão Preto (SP), fruto do empreendedorismo de um engenheiro agrônomo nascido em tradicional família de industriais do setor sucroenergético. Leontino Balbo, diretor do Grupo Balbo, guiou-se pela fenomenologia, linha filosófica estabelecida por Edmund Husserl no início do século passado que propõe, em linhas gerais, a investigação científica partindo do princípio de que a verdade é provisória e será derrubada até que um fato novo surja e a modifique.


especial

AGRONOMIA

orgânico

tecnologia

A família, formada por imigrantes italianos, começou a trabalhar no setor em 1903, no Engenho Central, em Sertãozinho (SP). Em 1946, fundou a primeira usina do grupo, a Santo Antônio.

Nos anos de 1980, o fato novo no grupo empresarial era Leontino. Embriagado pelos conhecimentos recém-adquiridos na universidade, o então jovem engenheiro desejou aplicá-los no negócio da família: queria produzir cana-de-açúcar de forma sustentável, reduzindo a aplicação de defensivos, o impacto ao meio ambiente e eliminando a queimada. Foi o embrião do projeto Cana Verde. Balbo debruçou-se sobre os resultados do negócio familiar e comprovou que, fazendo a mesma coisa, mas da forma como propunha, os números obtidos com produtividade e rentabilidade seriam melhores. Desta maneira, mudou a cultura agrícola empreendida até então.

A palha ao se decompor agrega matéria orgânica ao solo enriquecendo suas características e fertilidade

Passou do modo convencional (orientado para a máxima lucratividade e tendo a fazenda como meio de produção) para o orgânico (que alia sustentabilidade à lucratividade, tornando a fazenda um meio de vida).

INTUIÇÃO

Observando o processo de colheita da cana crua e o potencial de matéria orgânica resultante da colheita nesta

condição, o agrônomo reconstruiu o ciclo de vida em 21,6 mil hectares de cana, acrescendo à terra também os subprodutos da indústria, como a vinhaça e a torta de filtro. O projeto Cana Verde começou em 1987, com longo processo de recuperação do solo e adoção de tecnologia para colher a cana crua. A primeira certificação foi obtida em 1997.

3 milhões de litros de água eram usados por hora para lavar a cana queimada antes da moagem. 7 mil movimentos por dia era o que fazia um trabalhador rural para colher 7 toneladas de cana crua por dia.

Associados da AEAARP foram recebidos por Leontino Balbo na sede da Usina São Francisco, em Sertãozinho, para uma visita técnica que resultou em uma aula sobre orgânicos e qualidade do solo. Leontino formou-se em Engenharia Agronômica na Unesp-Jaboticabal.

Ele convenceu um empresário de Ribeirão Preto a disponibilizar uma máquina para ser adaptada à colheita da cana crua. Trabalhou nela, com o auxílio de um técnico, até que uma indústria australiana ofereceu outras máquinas Revista Painel 6


especial

e colocou um engenheiro mecânico à disposição para os ajustes necessários. O desafio era colher a cana preservando a planta, a palha e com mínima compactação do solo, por isso as máquinas e os veículos utilizados têm esteiras e pneus de alta flutuação. O caminhão utilizado na colheita da cana, por exemplo, faz ajustes na calibragem para trafegar na lavoura e no caminho até a indústria.

BIODINÂMICA

O retorno à lavoura dos resíduos da produção industrial e agrícola alimenta o microambiente criado no solo que, por esse motivo, é dotado das condições naturais para a produção da cana de forma orgânica e em harmonia com o meio, no sentido biodinâmico; isto é, os resíduos dos processos são reintroduzidos e compõem a biodiversidade no manejo, induzindo o processo de decomposição natural na área de cultivo e com plantas que se alimentam daquelas propriedades e retomam o ciclo.

agronomia

orgânico

MÃO DE OBRA

O Decreto 42.056/97, assinado pelo então governador Mário Covas em 1997, estabelecia regras para a queimada da cana no estado de São Paulo e, como justificativa, expunha um dos problemas enfrentados na São Francisco, a recolocação da mão de obra que trabalhava no canavial e o acesso a máquinas suficientes para garantir a produção. Era um entrave também no Grupo Balbo, que investiu em programas de adequação do nível educacional, qualificação técnica e operacional e em criar oportunidades de recolocação. Deu certo e, mesmo antes do rigor imposto pelo estado e pela justiça para o fim da queimada, a Usina São Francisco já fazia a colheita da cana crua, sem cortadores de cana. Atualmente, 600 ex-cortadores de cana trabalham nas usinas do grupo.

matéria orgânica no solo e aumentou em cinco vezes a resistência à erosão. Foram identificadas, por exemplo, de um a dois milhões de minhocas ativas por hectare que podem mobilizar até 600 toneladas de terra e matéria orgânica por hectare, por ano.

CONTROLE DE PRAGAS

30% + produtividade 35% - emissão de gases

Em um monitoramento foram identificados 700 organismos vivos visíveis por metro quadrado na área de cana. No trecho de reserva florestal vizinho ao canavial, o mesmo monitoramento mostrou 500 organismos vivos visíveis por metro quadrado. Balbo conclui que o manejo biológico tornou a área ocupada capaz de produzir organismos vivos tanto quanto uma reserva e com resultados mais eficientes. O manejo, que inclui controle biológico de pragas, fez triplicar o volume de

tecnologia

A Usina São Francisco cria em laboratório os inimigos naturais das pragas da canade-açúcar, identificadas por meio de levantamentos periódicos no campo. Este é o modelo de controle dirigido: o problema é detectado e o inseto criado para o combate é liberado, de forma controlada, na lavoura. O controle biológico induzido ocorre pela modificação do modelo de produção, de acordo com as tendências de equilíbrio ecológico entre pragas e seus predadores. As máquinas que atuam no campo usam pneus de alta flutuação para evitar a compactação do solo AEAARP 7


especial

Os resultados agronômicos obtidos são: taxa de infiltração de água seis vezes maior, quatro vezes mais capacidade de retenção e três vezes mais espaços porosos para armazenamento da água. Com esse manejo, ao invés do esgotamento do solo, a indústria obteve aumento na taxa de fertilidade do solo (de 3 para 1, seguindo a classificação brasileira). Na rotação da cultura, feita em 100% do canavial com leguminosas, o plantio é direto, sobre a cana viva, dispensando o uso de herbicidas após seis ciclos de safra, e sem movimentar o solo. Uma plantadora e trator dotados de pneus de alta flutuação, que pesam 31 toneladas, entram na área de plantio e fazem o trabalho mecanicamente sem compactar o solo. As leguminosas usadas em rotação podem fixar até 400 quilos de nitrogênio natural puro num período de quatro meses.

agronomia

orgânico

tecnologia

Onça-parda

SERVIÇOS

O manejo orgânico e biodinâmico têm reflexos diretos – produtividade, qualidade e custos – e conquistas que vão muito além. O trabalho, que começou quase romanticamente, agregou valor ao produto da indústria e criou novas oportunidades de negócios. Na Usina São Francisco, toda a produção é orgânica. O açúcar tem marca própria, Native, que foi multiplicada para uma centena de produtos com chancela de orgânicos, vendidos no Brasil e no exterior. O álcool é destinado à indústria cosmética e farmacêutica. Seis engenheiros de alimentos trabalham em um laboratório instalado em Ribeirão Preto dedicado exclusivamente à formulação de novos produtos. O Grupo Balbo monitora, por meio de convênios com instituições de ensino e pesquisa, a recomposição da fauna nativa e investe na recuperação da flora.

Lobo-guará

Garças em trecho recuperado

Espécies identificadas em inventário realizado em 74 km2 junho de 2002 a julho de 2015 Anfíbios

27

Aves

246

Mamíferos

42

Répteis

25 17,50% dos animais encontrados eram carnívoros Revista Painel 8


especial

agronomia

orgânico

tecnologia

Vista aérea da Usina São Francisco

A Usina São Francisco e Santo Antonio produzem atualmente 1,60 milhão de toneladas de cana orgânica por ano. Na indústria, a capacidade anual de produção é de 100 mil toneladas de açúcar orgânico e 50 milhões de litros de álcool orgânico por igual período. O grupo possui as usinas Santo Antônio e Uberaba, onde são processadas 6,2 milhões de toneladas de cana, convertidas em 260 mil toneladas de açúcar cristal e 320 mil metros cúbicos de etanol por ano. A cana moída nessas outras unidades não é orgânica. O diretor do grupo admite que o custo da manutenção da lavoura exclusivamente orgânica inviabiliza a produção nos moldes da tradicional agroindústria, principalmente em razão das exigências impostas pelos modelos de certificação internacional. Por exemplo: para garantir a autenticidade da produção, não são usadas as canas colhidas nos limites das propriedades, que podem eventualmente ser contaminadas. Porém, o manejo é diferenciado, para viabilizar a saúde da terra. A pro-

dução, mesmo em áreas arrendadas, é acompanhada de perto. O trabalho desenvolvido na Usina São Francisco exige inspiração e transpiração. O verbo no presente denota o princípio da fenomenologia defendida

Usina São Francisco AEAARP 9

por Leontino. Nas propriedades agrícolas e industriais do Grupo Balbo, foram desenvolvidas tecnologias de plantio, adaptação de espécies cultivares, controle de pragas, equipamentos mecânicos, dentre outras ações.


arquitetura

Paisagem arquitetônica do café em Ribeirão Preto

A memória física da cafeicultura da cidade de Ribeirão Preto está guardada em 65 fazendas remanescentes da época em que o café era considerado o ouro verde na região. A maioria dessas fazendas foi construída entre o final do século XIX e início do século XX e hoje mantém, pelo menos, alguns dos principais elementos do complexo cafeeiro: o terreiro, a tulha, casa de máquinas, colônia, casa sede e a capela. Esse levantamento foi realizado pela arquiteta Ana Carolina Gléria Lima, entre 2011 e 2013, para o projeto Paisagem Cultural do Café que integra o Inventário Nacional de Referências Culturais.

A Painel 259 traz uma matéria sobre arquitetura rural e apresenta o que mudou na construção das sedes de fazenda.

Ana Carolina Gléria

Fazenda Monte Alegre

Ana Carolina Gléria

Cidade tem 65 fazendas que guardam a memória da cafeicultura

Fazenda Boa Vista

Com a migração do café para a cana-de-açúcar e o surgimento de novos maquinários, o número de trabalhadores que moram na zona rural e o número de fazendas remanescentes dos séculos passados está diminuindo. Segundo último Censo Demográfico do IBGE, divulgado em 2010, somente 0,28% da população ribeirão-

-pretana vive na zona rural. Isso tem levado antigas colônias e demais equipamentos do complexo cafeeiro à demolição, para dar mais espaço às plantações. A arquiteta acredita que o levantamento das fazendas remanescentes da época do café pode ser uma ferramenta para evitar a perda da memória edificada durante o ciclo cafeeiro.

Em Pontal (SP), há um espaço destinado à conservação do patrimônio histórico e promoção da cultura: Museu da Cana no Engenho Central de Sertãozinho/Pontal. O acervo é composto por uma usina de fabricação de açúcar, considerada muito moderna para a época em que foi implantada, meados dos anos de 1880. Em 2013, o governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin anunciou a criação do Museu da Agricultura de Ribeirão Preto. Três anos mais tarde, em março de 2016, foi aberta a terceira licitação para a construção do museu, avaliado em R$ 21,6 milhões. A previsão é que a obra demore 18 meses e que o museu receba os primeiros visitantes até o final de 2017. O local abrigará exposições, acervo de máquinas e equipamentos agrícolas e será construído em uma área da Agrishow, localizada na Fazenda Experimental do Estado.

Revista Painel 10


AEAARP 11


MAPA DAS FAZENDAS

Durante o ciclo cafeeiro, o limite territorial de Ribeirão Preto era muito maior, pois muitas áreas da cidade deram lugar aos novos distritos. Para elaborar o mapa das fazendas remanescentes da época do café, Lima buscou propriedades que estão dentro do perímetro urbano atual. O mapa criado pela arquiteta compôs o projeto Memórias dos Cafezais, aprovado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), que conta com um livro e um documentário que registram a memória oral e física da cafeicultura no município.

O documentário e livro Memória dos Cafezais: a vida nas fazendas estão disponíveis na área de Notícias, na página da AEAARP.

www.aeaarp.org.br

Ana Carolina Gléria

Para Lima, a catalogação das 65 fazendas serve de pesquisa e divulgação da cultura cafeeira de Ribeirão Preto, de respaldo para debates sobre a história e geografia do café e para elaboração de projetos de aproveitamento econômico destas propriedades, de modo a garantir a preservação do patrimônio cultural do café, oferecendo aos proprietários alternativas de manutenção como, por exemplo, o turismo rural. A cultura cafeeira encontrou Ribeirão Preto, por volta de 1870, em sua marcha para o oeste de São Paulo, período em que o Brasil viveu grandes transformações como a inserção no sistema capitalista da agricultura, caracterizada pela monocultura. Por esse motivo, o estudo é significativo para a cidade, o estado e o país, na opinião da arquiteta.

Fazenda Santa Luzia

A localização dessas fazendas foi feita através do mapa de Ribeirão Preto de 1938, elaborado pela Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, que pontuava fazendas existentes no período. “A partir da sobreposição deste mapa com o Google Earth, foi realizado o levantamento de campo durante dois anos, que consistia em visita ao local e confirmação da existência das propriedades, quais eram as edificações remanescentes e seu estado de preservação”, explica a arquiteta. O levantamento de campo teve a ajuda de duas estagiárias e do arquiteto Domingos Guimarães e o mapa foi criado por Lima através dos programas AutoCAD e Adobe Photoshop. O mapa distribuído junto ao livro Memórias dos Cafezais não traz as coordenadas geográficas destas fazendas, já que a maioria não está aberta à visitação. “Contudo, todas essas fazendas foram georreferenciadas e não divulgamos para garantir a segurança e privacidade dos proprietários”. A arquiteta cita que as únicas propriedades abertas ao público são a Fazenda Monte Alegre, onde está instalado o campus da Universidade de São Paulo (USP), a antiga venda de secos e molhados da Fazenda Boa Vista, conhecida como Bar do Zé Goleiro, e o Restaurante da Tulha, na Fazenda Santa Luzia. O levantamento das fazendas remanescentes da época do café também se converteu em tese de mestrado, que a arquiteta defendeu na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (SP). “Tinha a intenção de pesquisar soRevista Painel 12

bre a arquitetura da cidade de Ribeirão Preto, porém minha coordenadora de pesquisa alertou sobre as fazendas, visto que grande parte dos arquitetos dedicava seus trabalhos à área central da cidade”. Hoje, a arquiteta mora em Araçatuba (SP) e continua sua pesquisa sobre a arquitetura residencial urbana de Ribeirão Preto. “Estou analisando os processos de aprovação de obras particulares do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto e as formas de morar, desde as casas operárias até os palacetes”. O objetivo da arquiteta é mostrar o quanto Ribeirão Preto já perdeu de sua arquitetura e provocar reflexão sobre a importância de preservar o patrimônio edificado. “Sou uma profissional da academia e trabalho em questões relacionadas ao patrimônio e à preservação com as ferramentas que tenho, no caso, o registro e divulgação dessas pesquisas para a população”, finaliza.

Em sua dissertação de mestrado que leva o nome Um reconhecimento arquitetônico das fazendas cafeeiras do município de Ribeirão Preto (1870–1930), Lima também fez a caracterização e análise arquitetônica de algumas casas sede. O trabalho está disponível no endereço eletrônico da AEAARP, na área de Notícias.

www.aeaarp.org.br


produtividade

Fábio Gatti, especialista em pacote Office

Trabalhando com referência de células

Uma das maiores praticidades que o Excel nos permite é a de podermos interagir entre as células de uma ou mais planilhas, da mesma pasta de trabalho ou de outras. Tendo isso em mente, é interessante sabermos como o Excel entende as referências de células. Quando realizamos um simples cálculo de igualdade, selecionando a célula B1, criando a fórmula =A1.

Para exemplificar melhor um bom uso da referência absoluta de células, podemos utilizar o exemplo a seguir:

Ao perguntarmos: a célula B1 refere-se a? A resposta lógica e imediata é “refere-se à célula A1”, porém essa afirmação está errada! A célula B1, neste caso, refere-se à célula à esquerda dela. Caso copiemos essa célula para baixo, percebam que automaticamente a fórmula transformou-se de =A1 para =A2.

Temos uma loja de importados, e nossos preços de custos devem ser atualizados com o preço do dólar. Como não existe a possibilidade de o valor do dólar ser diferente para produtos distintos, poderíamos destacar essa informação repetida das linhas e jogá-la para uma célula única.

Portanto, sempre que referenciamos uma célula, na verdade, estamos traçando uma distância relativa entre esta e a célula que está sendo referenciada. Para que possamos alterar essa propriedade e referenciar a célula de forma absoluta, temos de, ao inserir a célula no cálculo, apertar a tecla [F4] do teclado, surgindo dois cifrões entre os endereços de coluna e linha do cálculo. Usando nosso exemplo anterior, a fórmula que estava como =A1, passa a ser =$A$1; ou seja: coluna e linha travadas, tornando a referência absoluta.

Ao refazermos o cálculo, colocaríamos =B3*E2. O Excel lê essa fórmula como sendo: “a célula à minha esquerda multiplicada por uma célula acima, duas células à direita”, e isso faz com que, quando o cálculo é levado para as células de baixo, o cálculo fica incorreto. Para tal, selecionem o E2 e apertem [F4] do teclado. O resultado se torna =B3*$E$2.

AEAARP 13


hobby

Cardápios: da mesa à parede Nas malas de viagem, engenheiro carrega cardápios de restaurantes que visita

José Roberto coleciona cardápios e investe em nova atividade, tocar um instrumento

A trabalho, lazer ou para participar de congressos e eventos acadêmicos, as viagens do engenheiro José Roberto Hortêncio Romero, para destinos no Brasil e no exterior, fizeram-no atentar para algumas obras de design gráfico que, para a maioria das pessoas, po-

dem passar despercebidas: os cardápios dos restaurantes. “Fui à casa de um amigo há cerca de dez anos e vi que ele tinha na parede cardápios de vários restaurantes, gostei da ideia e passei também a colecionar”, conta. As peças podem originar-se de um Revista Painel 14

despretensioso bistrô de Paris, onde a tripulação das aeronaves costuma fazer as refeições – o Nos Ancêtres les Gaulois (Nossos Ancestrais Gauleses, em português) –, ou de um restaurante do México, o Casa Romero, que chamou a atenção pelo fato de remeter ao sobrenome de sua família.


Os cardápios decoram as paredes da área de lazer de sua casa e também têm o atributo de carregar forte memória afetiva dos lugares por onde passou. Cada um conta uma história diferente. O bistrô citado no parágrafo anterior, por exemplo, foi indicado pela tripulação que trabalhou em um voo no qual estava o engenheiro. De lá, se recorda do modelo de apresentação e atendimento. Da mesma cidade, ele guarda o cardápio do Altitude 95, um dos restaurantes da Torre Eiffel, onde comemorou o aniversário da esposa, a médica pediatra Leila Romero.

PRATOS

Nas horas de lazer, Romero usa os cardápios também como fonte de inspiração para pratos que prepara para a família. Ele busca os nomes dos pratos nos cardápios e pesquisa a receita na internet. Nunca fica igual. “Fica pior”, ri. Para “salvar” o dia, conta com a destreza da esposa que “cozinha muito bem” e normalmente assume o comando das panelas. O mais querido da coleção é o da Casa Romero, pela carga emocional que carrega no nome. Ao ser questionado sobre o predileto, cita vários: o do Bertolines, que fica em um suntuoso hotel em Las Vegas – “o teto do lugar simula o céu”, conta – e de outro na Bélgica – “servem uma seleção de 12 cervejas para degustação, a partir do quarto copo fica tudo igual”, brinca. O prato que mais recentemente fez em casa foi a costela de porco com pupunha, que compõe o cardápio de um restaurante do Nordeste. Mas, Romero não é afeito a uma só atividade. Está começando outra: tocar um instrumento, um saxofone alto, história que fica para outra oportunidade, quando sua habilidade estiver aprimorada.

Altitude 95, da Torre Eiffel

Capa do cardápio da Casa Romero, um dos preferidos pelo engenheiro

Jogo americano de um restaurante francês AEAARP 15


tecnologia

Atividade mineradora em Ribeirão Preto Centro empresarial investe em tecnologias para melhorar agregados de basalto e criar produtos ecologicamente corretos

Foto aérea da jazida do Grupo Said, localizada em Ribeirão Preto (SP)

Há solução tecnológica para os buracos nas ruas. Dentre os 12 tipos de asfalto fabricados no centro empresarial Said, em Ribeirão Preto (SP), chama a atenção um produto que tem aplicação rápida e pode ser usado em superfícies seca ou molhada. O material, usado frio, é

composto por um aditivo que prolonga a vida útil em até 20 meses, e serve para realizar reparos rápidos e manutenções nas ruas. “Quando aplica o produto no buraco de asfalto, é só compactar com uma pá ou com o próprio pé. O contato com o oxigênio quebra as moléculas Revista Painel 16

do material que sofre reação química e o endurece em até duas horas, o que garante a liberação rápida do trânsito”, explica o engenheiro civil Júlio Paez, diretor administrativo da RibPav, usina de asfalto parceira do grupo Said. A tecnologia tem origem portuguesa e


foi apresentada ao grupo pela empresa paulistana Único Asfaltos. O Asfalto Pronto é comercializado há dois anos. “São mil sacos por mês”, segundo Paez. Com produção de 160 toneladas por hora de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), a usina de asfalto da Said é de última geração e destina seu produto para obras do grupo e clientes da região. Paez explica que 30% do asfalto são compostos por água e que o produto sofre com a variação da temperatura. Segundo ele, a cada 100 quilômetros no transporte do material perde-se cerca de cinco graus. “A temperatura adotada no asfalto que fabricamos é 160 graus Celsius. Se o produto chegar a 120 graus Celsius, por exemplo, fica difícil a manipulação”, explica Paez. A AEAARP, representada pelo engenheiro mecânico Giulio Prado, conselheiro da AEAARP, fez uma visita técnica à pedreira – fundada em 1959 – para conhecer o centro empresarial que está instalado em uma área de 1 milhão de metros quadrados na Rodovia SP 255/ Km 4, divididos entre a Said e parceiros, e gera cerca de mil empregos. Além da mineração, a empresa atua em outras áreas, como a usina de asfalto, fábrica de artefatos de concreto e de abrasivos para jateamento, pavimentação e terraplanagem, saneamento e infraestrutura, empreendimentos imobiliários e concessão para tratamento de água e esgoto.

JATEAMENTO

Recentemente, a empresa lançou nova tecnologia que produz abrasivos para jateamento de superfícies (tubulações de usina, navio e peças para indústria de base) com fundamentos ecológicos. “A areia de rio foi proibida nos processos de jateamento, em 2007, por causa do alto nível de sílica, que é uma substância cancerígena. Por isso, criamos um abrasivo 100% ecoló-

Alexandre Fusco, Armando Scozzafave, Daniel Said, Julio Paez e Giulio Prado

gico que atende este setor e não prejudica o meio ambiente”, explica o engenheiro civil Daniel Said, diretor industrial da companhia. O projeto inovador criou uma partícula tão pequena de basalto, material que não agride o meio ambiente, que se assemelha ao grão de areia.

MINÉRIO

Uma das maiores mineradoras de basalto do estado de São Paulo, a pedreira do grupo extrai 120 mil toneladas por mês da reserva da jazida, que tem aproximadamente 2 milhões de metros quadrados. A estimativa é que a jazida tenha mais 35 anos de vida útil. Segundo Said, 70% da pedra britada produzida são destinados para os projetos de construção civil da empresa e de parceiros, o restante vai para o mercado regional. Além da extração de pedras para asfalto e jateamento, o grupo produz insumos para a produção de outros materiais como, por exemplo, o cimento portland, que exige um agregado melhor. “No cimento portland, é usado uma pedra mais arredondada, que gera economia na produção de cimento”, explica Said.

DETONAÇÕES

A extração de minério exige explosivos que gerem menor impacto na onda de choque, resultando menos ruído e vibração nas imediações da pedreira. “Os explosivos são inseridos na mina de forma pneumática ou hidráulica, em buracos de 15 metros AEAARP 17

de profundidade por quatro polegadas de diâmetro”, diz Said. O engenheiro explica que são extraídas 40 mil toneladas de basalto a cada detonação para atender aos oito dias da demanda do grupo. Segundo o engenheiro, a vibração da detonação vai mais longe do que o barulho. As explosões da pedreira ribeirão-pretana são semanais e ocorrem sempre às 15 horas. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) determina até 4,2 milissegundos de onda de impacto para detonações em pedreiras. Segundo o engenheiro, a Said gera entre 1,8 a 2 milissegundos. “Estamos abaixo do que é exigido por norma, pois valorizamos a relação amistosa com a vizinhança”, diz Said. A fiscalização da pedreira é feita periodicamente pela CETESB e o Exército Brasileiro é quem fiscaliza a compra de explosivos. O material resultante da detonação é carregado em caminhões até a linha de britagem. No britador primário ocorre a primeira redução das pedras. Depois, o produto segue em esteiras e passa por vários maquinários que reduzem a pedra em até 18 granulometrias diferentes. Após a classificação granulométrica, os agregados são estocados em montes próximos à jazida, de onde saem os caminhões que os levarão aos canteiros de obra. “Se a linha de britagem estiver vazia, o processo de redução da pedra leva cerca de 20 minutos, se considerar o momento que a pedra chega ao primeiro britador até a saída da última granulometria”, finaliza Said.


evento

9ª Semana de Engenharia expõe pioneira indústria de recuperação energética Está em fase de projeto e tem a participação de empresas da região de Ribeirão Preto a primeira usina que vai converter lixo em energia elétrica no Brasil

Em 1937, quando uma das primeiras indústrias de recuperação energética do mundo foi instalada na França, o objetivo primeiro era o de suprir a necessidade de energia de um país altamente industrializado. Naquele ano, foi iniciada a atividade de incinerar resíduos domésticos para gerar energia. O engenheiro mecânico Björn Rondelez, gerente de desenvolvimento da Keppel Seghers, explica que a tecnologia mudou e esta indústria passou,

com o decorrer dos anos, de poluente para altamente sustentável e ambientalmente correta. Ele veio da Bélgica para Ribeirão Preto (SP) no início de novembro exclusivamente para participar da 9ª Semana de Engenharia da AEAARP. No mundo todo existem 2,2 mil Unidades de Recuperação Energética (URE), que é como essa indústria é reconhecida no mercado. Os resíduos encaminhados para incineração já passaram pelos estágios de Revista Painel 18

reutilização e reciclagem e só é queimado o que não pode ser utilizado de outra forma. No Brasil, a primeira planta está em fase de projeto e deverá promover a queima do lixo com simultânea geração de energia elétrica, considerada a mais efetiva forma de eliminação de lixo urbano, segundo o engenheiro José Eduardo Ribeiro, diretor de Engenharia da AEAARP e coordenador técnico da Semana de Engenharia.


TECNOLOGIA

A planta brasileira exigiu tropicalização da tecnologia; isto é, os equipamentos tiveram de ser adaptados ao teor de material orgânico presente no lixo brasileiro. A logística da indústria funciona da seguinte forma: o material recebido é armazenado em local apropriado, no bunker da caldeira, onde é revolvido com guindastes para manter as características ideais para a incineração, eliminando materiais indesejáveis. Na segunda etapa, o chorume é coletado, filtrado e depositado em um tanque de armazenagem para tratamento ou injeção no forno. A escória, como é chamado o material que não é incinerado, é dispensada sem o chorume, portanto, sem cheiro. Os equipamentos são dotados de grelhas e empurradores adaptados à quantidade e ao tipo de resíduo recebido com capacidade, por exemplo, de quebrar grumos úmidos e melhorar a secagem. O forno é dotado de parede espessa e é resfriado com ar, recuperado pelo sistema para auxiliar a combustão a mais de mil graus Celsius. Nas paredes

do forno há uma saída para o ar quente e entrada para o frio. As barras empurradoras garantem o movimento e a espessura da camada de lixo. As barras rotatórias proporcionam aumento na agitação do lixo úmido, resultando em combustão mais efetiva. Cada caldeira é dotada de até seis pistas de barras, aparafusadas e soldadas, e feitas com aço fundido refratário. O desenho das grelhas é modular. São pré-montadas e transportadas em con-

Bunker de uma indústria de recuperação energética AEAARP 19

têineres. A montagem é feita em uma semana. As cinzas e escórias resultantes da combustão são retiradas no final da grelha. A caldeira é projetada para ter máxima eficiência de combustão, com menor investimento e maior controle. Os movimentos das grelhas e dos empurradores determinam a velocidade de alimentação da caldeira. Todos os controles são eletrônicos. A última fase é a de limpeza dos gases, que faz a diferença entre a planta de


1937 e as instaladas atualmente. Não há consumo de água e a recuperação energética é otimizada.

FABRICAÇÃO NACIONAL

Alguns componentes deste projeto são de fabricação nacional. Indústrias de Sertãozinho (SP), que têm grande atuação no setor sucroenergético, são responsáveis pela fabricação da caldeira e turbinas. Para a Caldema, que fabricará a caldeira, a encomenda é de um equipamento

Engenheiro José Eduardo Ribeiro

com temperatura de vapor de 400 graus Celsius. Segundo o engenheiro mecânico Afrânio Lopes, a empresa sertanezina usa revestimentos refratários na porção inferior da fornalha em caldeiras que queimam biomassas com alta umidade. O objetivo é o de aumentar a inércia térmica. Para o lixo, porém, há maior abrasão e contaminantes químicos que atacariam os tubos, por esse motivo é necessário adaptar o material utilizado. A tecnologia, alerta Lopes, é da Keppel

Engenheiro Afrânio Lopes

Engenheiro Björn Rondelez Revista Painel 20

Seghers. Tanto a Caldema quanto a TGM, também de Sertãozinho e responsável por fornecer as turbinas, são fabricantes dos equipamentos. O engenheiro mecânico Carlos Paletta, da TGM, esclarece que as turbinas terão capacidade de gerar 19 MW de energia elétrica. O cálculo é de 2010 e leva em consideração a produção de 0,89 quilos de lixo por dia por habitante pela população da cidade onde a unidade será instalada. A operação deve começar em 2018.

Engenheiro Carlos Paletta


trabalho

Unicamp abre concurso para professores O salário é de R$ 10.670,95 e a inscrição vai até fevereiro próximo Até o dia 7 de fevereiro de 2017, estarão abertas inscrições para o concurso público de provas e títulos para o provimento de um cargo de professor doutor na área de Materiais e Processos de Fabricação da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O concurso envolve as disciplinas Ensaios dos Materiais, Mecânica e Me-

canismos de Fratura. O contrato será preferencialmente em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP) com salário de R$ 10.670,95. Os candidatos devem ser portadores de título de doutor. É desejável que o profissional seja graduado e/ou pós-graduado em Engenharia Mecânica, Engenharia de Materiais, Engenharia Metalúrgica ou áreas afins.

AEAARP 21

As inscrições devem ser feitas de forma presencial pelo candidato ou seu procurador, no horário das 9h às 12h e das 14h às 17h, na Seção de Apoio Administrativo da Faculdade de Engenharia Mecânica, situada na Cidade Universitário Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas (SP), à Rua Mendeleyeve 200. Fonte: Agência Fapesp


previdência

Reforma: e agora, como fica a sua aposentadoria? Hilário Bocchi Junior Especialista em Previdência

A Lei dos Sexagenários aprovada em 1885 marcou a imediata libertação dos escravos com mais de 65 anos de idade. Aqueles que possuíam mais de 60 e menos de 65 anos, tiveram que pagar um pedágio e continuar trabalhando por mais três anos para indenizar seus proprietários. Parecia um avanço da legislação, mas não passava de enganação. Poucos escravos viviam o suficiente para ganhar a liberdade. Não chegavam aos 65 anos e morriam trabalhando. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Nova lei dos sexagenários

Um século depois, o Governo apresenta a nova Lei dos Sexagenários, porém piorada. Aquela libertava os escravos. Esta escraviza as pessoas. A Proposta de Reforma da Previdência (PEC nº 287) condenará grande parte dos trabalhadores a morrer sem se aposentar. Os heróis que conseguirem se aposentar receberão o benefício por pouco tempo se comparado com o período que terão que contribuir. A proposta prevê que a aposentadoria integral só será alcançada, observada a idade mínima, depois de 49 anos de contribuição.

E agora, como fica sua aposentadoria?

As mulheres que possuem menos de 45 anos de idade, e homens com menos de 50, terão que repensar a questão previdenciária. Terão que avaliar se valerá a pena continuar contribuindo, ou pelo menos reduzir o valor das contribuições, bem como encontrar mecanismos fiscais, tributários, previdenciários e trabalhistas para fazer este planejamento. A contratação, ou não, de um plano de previdência comple-

mentar (privada) ou um seguro de vida resgatável, por exemplo, também será outro desafio para esses jovens que certamente, no futuro, enfrentarão outras reformas da previdência social.

Salve-se quem puder

O pedágio, ou adicional de tempo de serviço, utilizado para obtenção da libertação fictícia dos escravos, agora será novamente aplicado para os trabalhadores. Os homens com mais de 50 e as mulheres com mais de 45 anos de idade, poderão se aposentar com base nas regras atuais, mas terão que contribuir mais 50% do tempo de serviço que faltará para atingir os requisitos mínimos para obtenção da aposentadoria quando a PEC for aprovada. É a chamada regra de transição. Exemplo: um homem com 34 anos de serviços e que se aposentaria depois de mais um ano de contribuição, terá que contribuir mais seis meses; ou seja, 50% do tempo que faltaria para chegar aos 35 anos de serviços.

O pulo do gato

A dica é buscar no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) um documento chamado Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), onde deve constar todos os contratos de trabalho e contribuições do trabalhador. É grátis. O CNIS é mais furado que queijo suíço, mas é com base nele que a aposentadoria vai ser concedida. Então, é hora de começar a corrigi-lo. Se ele estiver incompleto, a aposentadoria pode sair errada e até ser indeferida. Acesse o aplicativo www.tempodeservico.com.br e faça o cálculo do seu tempo de contribuição. Depois, é só esperar a aprovação da reforma e procurar as brechas que se aplicarão a você.

Revista Painel 22


homenagem

Instituto de Engenharia homenageia mulher pela primeira vez Entidade centenária destacou atuação de engenheira durante a crise hídrica de 2014 A engenheira civil Monica Porto é a primeira mulher a receber um dos mais importantes títulos do Instituto de Engenharia (IE): o de Eminente Engenheiro do Ano. Dessa forma, pela primeira vez na história do IE, é reconhecida a atuação de uma mulher e sua contribuição para o desenvolvimento da profissão no Brasil. Secretária-adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo,

Porto destacou os desafios superados em sua carreira, inclusive durante a crise hídrica paulista, ocorrida a partir de 2014. “Considero esse título um importante reconhecimento do Instituto à área dedicada a cuidar das questões da água. Especificamente, o setor de recursos hídricos enfrenta os desafios e incertezas das mudanças climáticas. E ainda há a necessidade de suprir a agricultura, a indústria e a geração

AEAARP 23

de energia”, enfatizou a homenageada, que é professora titular da Poli/USP, na área de Engenharia Ambiental. Para ela, a Engenharia exerce papel fundamental no fomento ao setor agropecuário. “Nossa profissão está presente em várias frentes, seja por meio do desenvolvimento de tecnologias de irrigação, no transporte da safra ou mesmo na biotecnologia”, disse.


GESTÃO

Sete dicas para eliminar desperdícios Cartilha é inspirada no sistema de produção de indústria automotiva Obter resultados financeiros positivos é o que toda empresa busca. A equação lucro = faturamento - gastos precisa ser positiva. A maneira mais comum para alcançar esse objetivo é fazer com que o faturamento seja maior que os gastos da empresa. É possível trabalhar um terceiro elemento da equação: os gastos; ou seja, os custos e as despesas (matérias-primas, insumos, energia elétrica, salários e encargos e materiais de escritório, por exemplo). Se os gastos diminuírem, ainda que o faturamento se mantenha, o lucro aumentará. Contudo, é preciso fazer isso com atenção e estratégia. Decisões aleatórias, como cortes de pessoal e diminuição da qualidade do produto, podem reduzir custos, assim como pressionar fornecedores nas condições de pagamento e margem, mas prova-

velmente impactam negativamente a entrega de valor ao cliente, resultando em queda do faturamento. O Sebrae preparou uma cartilha para apoiar empresas a identificar e eliminar gastos desnecessários, diminuir os custos, tornar a empresa mais enxuta, eficaz, competitiva e entregar mais valor ao cliente.

A publicação é baseada em um sistema de gestão de uma fábrica de automóveis, identifica sete tipos de desperdício da produção e dá dicas para o empresário eliminar cada um deles. Embora os desperdícios tenham sido identificados na produção, valem para outros negócios, de todos os setores da economia. Fonte: Sebrae

1. Elimine defeitos na produção Produtos, serviços e informações com defeitos geram mais custos para a empresa devido ao retrabalho. 2. Produza só o necessário, quando for preciso, sem exagero A superprodução pode ser a pior forma de desperdício, pois contribui diretamente para que as demais formas ocorram. 3. Mantenha o estoque no menor nível possível Quando se compra ou produz demais, os produtos se acumulam e formam estoques excessivos, que podem, eventualmente, ser perdidos por validade, armazenagem inadequada ou qualquer outro motivo. 4. Evite a espera desnecessária O tempo que as pessoas ou os equipamentos ficam desnecessariamente ociosos ou são obrigados a esperar pela próxima ação é considerado desperdício. 5. Faça o transporte adequado de insumos Se equipamentos, insumos, materiais ou qualquer outro recurso é movimentado de um local para outro, desnecessariamente ou de maneira ineficiente, cria-se o desperdício de transporte. 6. Organize o ambiente de trabalho O desperdício de movimentação atrasa o trabalho e interrompe o fluxo de atividades. 7. Acabe com desperdícios de processamento Os procedimentos adicionais devem agregar valor ao que se entregará ao cliente; caso contrário, devem ser dispensados. Veja toda a cartilha na área de notícias da página da AEAARP.

www.aeaarp.org.br

Revista Painel 24


crea-sp

Livro de Ordem é facultativo Responsáveis técnicos poderão adotá-lo e seguir as regras determinadas em 2009

Em outubro de 2016, foi publicada a Resolução 1.084/2016 que altera dispositivos da Resolução 1.024/2009 que versa sobre a adoção do Livro de Ordem. A nova redação da ementa e do preâmbulo classifica como facultativa a adoção do Livro de Ordem, até então obrigatório para todos os serviços de engenharia, agronomia e afins. O artigo 1º da Resolução de 2009 passa a ter a seguinte redação: “Fica instituído o Livro de Ordem, nos termos da presente resolução, que passa a ser de uso facultativo nas obras e serviços de Engenharia, Agronomia, Geografia, Geologia, Meteorologia e demais profissões vinculadas ao Sistema CONFEA/CREA”. A partir dessa alteração, o uso do Livro de Ordem é facultado ao responsável técnico pelo empreendimento. O documento,

que continua contendo as mesmas características, deverá ser mantido no local da atividade enquanto durem os trabalhos. A Resolução 1.084/2016 prevê, no entanto, que os conselhos regionais possam adotar a obrigatoriedade do Livro de Ordem, respeitando as peculiaridades de cada região.

De acordo com a Resolução 1.024/2009, o documento deve conter a descrição técnica detalhada do serviço prestado por profissionais vinculados ao Sistema CONFEA/CREA, constituindo-se a memória escrita de todas as atividades relacionadas com a obra ou serviço.

RESOLUÇÃO Nº 1.084, DE 26 DE OUTUBRO DE 2016 Art. 5º O uso do Livro de Ordem será facultado ao responsável técnico pelo empreendimento, que o manterá permanentemente no local da atividade durante o tempo de duração dos trabalhos. Art. 7º Para os efeitos desta resolução, cada Crea poderá instituir o Livro de Ordem próprio, em função das peculiaridades de sua circunscrição.

AEAARP 25


notas e cursos Investimento em ideias inovadoras

Os arquitetos Fernando Viegas, Alvaro Puntoni e Ciro Pirondi mostraram, na palestra Sobre Arquitetura, realizada na AEAARP, experiências em arquitetura. O evento foi promovido pelo arquiteto Carlos Palladini. Na foto, estão Carlos Gabarra, Ercília Pamplona, os palestrantes Viegas, Puntoni e Pirondi acompanhados de Palladini e Jorge Rosa, engenheiro agrônomo e diretor de Agronomia da AEAARP.

A FAPESP disponibilizou mais de R$ 15 milhões para apoiar ideias inovadoras apresentadas por empresas paulistas com até 250 empregados. O Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) recebe inscrições até 30 de janeiro de 2017. Para se inscrever, não é necessário ter empresa formalmente constituída na data de inscrição, pois só será exigido o registro no CNPJ na assinatura do Termo de Outorga. O PIPE apoiará o projeto durante a demonstração de viabilidade tecnológica e no desenvolvimento de um produto ou processo inovador. Não será exigida contrapartida das empresas. O programa tem quatro chamadas e em cada uma serão investidos R$ 15 milhões. Acesse a inscrição na área de Notícias, no endereço eletrônico da AEAARP. Fonte: Agência USP

www.aeaarp.org.br Cultura de café no Brasil

A Fundação Procafé lança edição atualizada do livro Cultura de café no Brasil - Manual de Recomendações, destinado a técnicos, produtores, estudantes, professores e pesquisadores. A publicação

atualiza e complementa conhecimentos e informações de conteúdo técnico sobre o sistema de cultivo racional do cafeeiro do plantio até a colheita e preparo do café. O livro divulga formas de aperfeiçoamento do manejo sustentável de cafezais no Brasil, tecnologias e conhecimentos adequados, que resultam valor ao produto e consolidação de mercados no país e no exterior. A publicação tem oito capítulos temáticos: Diagnóstico da cafeicultura, Clima, fisiologia e solos para o cafeeiro, Variedades de café, Formação do cafezal produtivo, Manejo dos cafezais, Análise de problemas na lavoura cafeeira, Colheita, processamento, armazenamento e qualidade do café e Gestão e custos na produção cafeeira. Fonte: Embrapa Revista Painel 26

novos associados Guilherme Fernandes Magalhães Estudante de engenharia civil Marcos Massoli Geólogo Antonio Jose Nunes de Carvalho Engenheiro agrônomo Espério Luis Vettore Engenheiro eletricista Luis Gustavo Pereira Engenheiro civil Arnaldo Calil Pereira Jardim Engenheiro civil


O melhor lugar

para sua festa

é aqui

Condições especiais para associados Reservas: 16 2102.1700

AEAARP



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.