Painel - edição 281 - ago.2018

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painel Ano XI nº 281 agosto/ 2018

Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

As cores e a cidade

Nas fachadas, no design de interiores e na arte urbana, quem quer mais cor na arquitetura e na cidade

Insetos

Também são alimentos para animais e humanos

Química

Amônia como sinônimo de eficiência na refrigeração

Biblioteca

Portal oferece conteúdo histórico de todo o mundo



A Câmara Municipal de Ribeirão Preto tentou aprovar nos últimos meses uma emenda à Lei Orgânica do Município que instituía o orçamento impositivo. Com a medida, que começou pelo Congresso Nacional, os parlamentares garantiriam a destinação pessoal de R$ 1 milhão do recurso público. Cada um. Seriam R$ 27 milhões do dinheiro do erário cujo destino seria definido por interesses políticos específicos e não coletivos.

palavra do presidente

Eng. civil Carlos Alencastre

A sociedade se mobilizou e a AEAARP acompanhou de perto. A proposta de emenda foi retirada, significa que devemos estar alertas, principalmente porque este é um período sensível, que antecede o pleito eleitoral. E o que a engenharia, a arquitetura e a agronomia têm com isso? Tudo. Como uma cidade, um estado e um país podem planejar, investir e projetar se é refém de um parlamento que, ao invés de cumprir suas funções, pretende comportar-se como o poder executivo, executando ações e determinando o destino do investimento público? A engenharia, a arquitetura e a agronomia não podem renunciar ao seu papel de motor da economia, da organização urbana e do desenvolvimento econômico da cidade. Por isso, mais uma vez convido os colegas a participar, refletir e agir com a AEAARP em defesa de uma cidade mais justa e humana. É assim que teremos o ambiente propício para que as nossas atividades sejam valorizadas.


painel Rua João Penteado, 2237 - Ribeirão Preto-SP - Tel.: (16) 2102.1700 Fax: (16) 2102.1717 - www.aeaarp.org.br / aeaarp@aeaarp.org.br

Eng. civil Carlos Eduardo Nascimento Alencastre Presidente Eng. eletr. Tapyr Sandroni Jorge 1º Vice-presidente Eng. civil Fernando Junqueira 2º Vice-presidente Diretoria Operacional Diretor administrativo - eng. agr. Callil João Filho Diretor financeiro - eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho Diretor financeiro adjunto - eng. agr. Benedito Gléria Filho Diretor de promoção e ética - eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves Diretor de ouvidoria - arq. urb. Ercília Pamplona Fernandes Santos

índice especial

06

História

11

As cores da cidade

O papel político da AEAARP

Indústria 12 Amônia nos sistemas de refrigeração industrial

Segurança alimentar 16 Insetos à mesa

História

Acervo histórico do mundo em um clique

20

CREA-sp 24 Resolução nº 1.100, de 24 de maio de 2018

notaS e cursos 26

Diretoria Funcional Diretor de esporte e lazer - eng. civil Milton Vieira de Souza Leite Diretor de comunicação e cultura - eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto Diretor social - eng. civil Rodrigo Araújo Diretora universitária - arq. urb. Ruth Cristina Montanheiro Paolino Diretoria Técnica Agronomia - eng. agr. Alexandre Garcia Tazinaffo Arquitetura - arq.urb. Marta Benedini Vechi Engenharia - eng. civil Paulo Henrique Sinelli Conselho Presidente: Eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado Conselheiros Titulares Eng. civil Elpidio Faria Junior Eng. civil Edgard Cury Eng. civil João Paulo de Souza Campos Figueiredo Eng. civil Jose Aníbal Laguna Eng. civil e seg. do trab. Luis Antonio Bagatin Eng. civil Ricardo Aparecido Debiagi Eng. civil Roberto Maestrello Eng. civil Wilson Luiz Laguna Eng. elet. Hideo Kumasaka Arq. e urb. Adriana Bighetti Cristofani Arquiteta e eng. seg. do trab. Fabiana Freire Grellet Eng. agr. Dilson Rodrigues Cáceres Eng. agr. Geraldo Geraldi Jr Eng. agr. Gilberto Marques Soares Conselheiros suplentes Eng. civil Marcos Tavares Canini Eng. mec. Fernando Antonio Cauchick Carlucci Arq. e urb. Celso Oliveira dos Santos Eng. agr. Denizart Bolonhezi Eng. agr. Jorge Luiz Pereira Rosa Eng. agr. José Roberto Scarpellini REVISTA PAINEL Conselho Editorial: eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho, Arq. e urb. Adriana Bighetti Cristofani, eng. mec. Giulio Roberto Azevedo Prado e eng. agr. Paulo Purrenes Peixoto - conselhoeditorial@aeaarp.org.br Conselheiros titulares do CREA-SP indicados pela AEAARP: eng. civil e seg. do trab. Hirilandes Alves e eng. mecânico Fernando Antonio Cauchick Carlucci Coordenação editorial: Texto & Cia Comunicação Rua Galileu Galilei 1800/4, Jd. Canadá Ribeirão Preto SP, CEP 14020-620 www.textocomunicacao.com.br Fones: 16 3916.2840 | 3234.1110 contato@textocomunicacao.com.br Editoras: Blanche Amâncio – MTb 20907, Daniela Antunes – MTb 25679 Colaboração: Bruna Zanuto – MTb 73044, Flavia Amarante – MTb 34330 Foto capa: Alberto Gonzaga Comercial: Angela Soares – 16 2102.1700

Associação de Engenharia Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Horário de funcionamento AEAARP - das 8h às 12h e das 13h às 17h CREA - das 8h30 às 16h30 Fora deste período, o atendimento é restrito à portaria.

Tiragem: 3.000 exemplares Locação: Solange Fecuri - 16 2102.1718 Editoração eletrônica: Mariana Mendonça Nader Impressão e fotolito: São Francisco Gráfica e Editora Ltda. Painel não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados. Os mesmos também não expressam, necessariamente, a opinião da revista.


AEAARP 5


Revista Painel 6

Especial

As cores da cidade

Painel de Eduardo Kobra, na Avenida Paulista (São Paulo/ SP): a arte de rua completa a paisagem

Daniela Antunes

A cidade não é uma tela em branco. As edificações, o paisagismo, os painéis e fachadas comerciais compõem um conjunto que às vezes é nude por conveniência, mas que tem ganhado cores em forma de arte.


AEAARP

Daniela Antunes

7

Pichação: expressão ou vandalismo?

“C

or” é tema de aulas nas

Três séculos depois, no livro Da Cor à

da cidade. Ribeirão Preto é de que cor?

faculdades de arquitetura e

Cor Inexistente, o artista plástico Israel

“Bege”, crava a arquiteta e urbanista Ruth

urbanismo, é preocupação

Pedrosa, que dedicou-se à teorizar sobre

Paolino, diretora universitária da AEAARP

de quem projeta, de quem usa os espa-

as cores, escreveu: “a cor não tem existên-

e coordenadora do curso de Arquitetura

ços e de quem pinta. Sobretudo, as cores

cia material: é apenas sensação produzida

e Urbanismo da Unaerp. O arquiteto,

são carregadas de significados, funções e

por certas organizações nervosas sob a

urbanista e artista plástico Valério Dias

despertam sentimentos. Do ponto de vista

ação da luz – mais precisamente, é a ação

acrescenta: “é café com leite e creme”.

teórico, no campo da arte e das ciências,

provocada pela ação da luz sobre o órgão

as cores foram explicadas de formas coin-

da visão”.

cidentes em diferentes momentos.

Não é privilégio desta cidade, tampouco significa prejuízo à coletividade. Paris

Na arquitetura, as cores, cujas teorias

(França), considerada uma das cidades

O físico inglês Isaac Newton observou que

também foram descritas por Leonardo

mais belas do mundo – e também das mais

quando a luz branca incidia sobre um prisma

Da Vinci e Johann Wolfgang von Goethe,

citadas por arquitetos e urbanistas – é

de vidro, dava origem a inúmeras cores. Foi

têm função de embelezar e de sinalizar.

bege; mas, claro, por motivos diferentes.

então que ele criou a teoria: “as cores de to-

Nos últimos anos, para além dos projetos

No passado, fala o arquiteto e urbanista

dos os corpos são devidas simplesmente ao

arquitetônicos, as cidades ganharam cores

Domingos José Lopes Guimarães, não

fato de que eles refletem a luz de uma certa

em painéis e grafites.

existiam as opções de cores e pigmentos

cor em maior quantidade do que as outras”.

Faça um exercício, olhe a paisagem

disponíveis hoje; os construtores usavam texturas e tijolos cerâmicos nas fachadas.

Um casal que vive na Flórida (EUA) provocou polêmica ao reproduzir a tela “Uma noite estrelada”, de Vincent Van Gogh, em toda a fachada de sua casa, com o único propósito de ajudar o filho, que é autista, a não se perder na cidade. A prefeitura acusou a família de violar o código de sinalização de Mount Dora, há 40 quilômetros de Orlando. Depois de aplicar uma multa, o poder público voltou atrás e indenizou o casal. As construções monocromáticas da cidade confundiam o filho, admirador da obra do artista holandês.

Por isso, construções antigas, como as da capital francesa, têm essa tonalidade. O Theatro Pedro II, mais significativo patrimônio arquitetônico de Ribeirão Preto, é um exemplo de construção antiga. E, qual é a sua cor? Bege, ou um pouco de café com leite e creme, como disse Valério.


Revista Painel 8

Domingos ressalta, entretanto, que,

Ainda pautando a Europa, Ruth argumenta

normalmente têm tons que as deixam

nestas mesmas cidades, as regiões mais

que a aparência mais “fina, discreta, ‘na sua’

como a arquiteta descreveu no parágrafo

recentes e o interior de museus e espaços

e imperceptível” proporcionada pelas tona-

anterior – fina, discreta etc. – usando

públicos têm cores. Ruth, além de concor-

lidades claras remete à influência da cultura

tonalidades claras.

dar, acrescenta um fator social à questão:

francesa, não a todo continente europeu. “A

No interior dos imóveis é diferente,

nas novelas, que há décadas pautam

Espanha não é bege, Barcelona é colorida e a

como argumenta Domingos, que é do-

comportamentos, preferências e costumes

Itália também é colorida”, completa.

cente do curso de Arquitetura do Centro

dos brasileiros, os ambientes mais abasta-

Hoje, é a preferência do público consu-

Universitário Moura Lacerda e do curso

dos seguem tonalidades suaves, claras e

midor que leva à paisagem monocromática

de Design de Interiores do Senac. Nesse

sóbrias; já nos núcleos mais populares, as

na cidade, argumenta Ruth. Para agradar a

caso, ele fala, os projetos tendem a har-

cores são primárias, vibrantes e alegres.

todos os gostos, as fachadas dos edifícios

monizar o mobiliário às paredes, que nas

O desenho no poste e o painel na fachada do edifício, na zona Oeste de São Paulo


AEAARP 9

apenas as cores gelo ou branca para seguir a tendência mais colorida. Domingos explica que os clientes são inspirados por novelas ou editoriais de decoração que mostram a tendência. “Ninguém quer ser o primeiro”, diz. Ele ressalta, entretanto, que o papel psicológico das cores deve ser levado em consideração nos projetos, ainda que seja mais marcante nos empreendimentos comerciais.

A sobriedade dos tons utilizados nas fa-

Redes de fast-food usam cores primárias, vibrantes, que incomodam: a tendência é que o cliente compre, consuma e saia. Restaurantes usam tonalidades sóbrias, relaxantes e agradáveis: a intensão é reter o cliente; quanto mais tempo ele ficar no ambiente maior será o consumo.

chadas dos edifícios – Domingos observa que em edificações térreas, os proprietários costumam ser mais ousados – também proporcionam harmonia estética à cidade. Para o arquiteto e urbanista Jadiel Wylliam Tiago, “as cores contribuem com as impressões e percepções subjetivas das pessoas”. Cabe à arquitetura usar as cores para potencializar essas impressões.

Fonte: Arquiteto e urbanista Domingos José Lopes Guimarães

“Por exemplo, a impressão de limpeza e assepsia de áreas hospitalares ou áreas de preparo de alimentos, onde predominam o branco”, destaca Jadiel, que é docente do curso de Arquitetura do Centro Universitário Moura Lacerda. Colorida O arquiteto e urbanista Cordeiro de Sá lembra que “a cidade não é uma tela em branco”. Sinalizações, árvores e monumentos compõem um conjunto que precisa estar harmonioso para não correr o risco de se transformar em poluição visual, como alerta Domingos. Coincidindo com o período em que colocar cores nas paredes internas tornou-se tendência, as ruas das grandes cidades começaram a ganhar painéis e grafites, que diferem das pichações comuns dos anos de 1980. A arte de rua surgiu como expressão da exclusão nas cidades, segundo Sá. Para exemplificar, ele cita o busto do empresário João Alves Meira Júnior, instalado na Praça XV de Novembro por decisão do poder público municipal. “E o cara da periferia, porque não pode interferir na cidade?”, provoca. A pichação – símbolo do vandalismo para alguns, de reação social para outros e de crime para tantos – não é a grande vilã da bagunça visual que as cores podem provocar. “Muita informação desordenada é poluição visual, independentemente de ser arte ou não”, alerta Sá. Daniela Antunes

últimas duas décadas deixaram de receber


Revista Painel 10

Ele exemplifica: um edifício espelhado

caminho da arquitetura. “Notamos isso

tificação das pessoas com os mesmos. Há,

erguido no centro histórico de Paraty (RJ)

como característica forte na arquitetura

ele lembra, alguns lugares que ganharam

polui aquela paisagem. Em cidades de

moderna brasileira, na qual o conceito de

novos significados a partir da arte de rua.

pequeno porte, uma construção vertical é

‘arte total’ integrava em muitos projetos

O Beco do Batman, na zona Oeste de São

considerada símbolo do progresso. “E vira

de [Oscar] Niemeyer, as artes plásticas

Paulo (SP) é um deles.

uma verruga na paisagem”, opina. Para ele,

de [Cândido] Portinari, [Victor] Brecheret,

“Após alguma intervenção ou exibição

não é o grafite que polui as cidades, mas sim

Athos Bulcão e o paisagismo de [Rober-

artística, estes espaços convertem-se em

a falta de organização do espaço urbano.

to] Burle Marx. Vivenciamos hoje, a ‘era

lugares, com significado ou valores, que

Nesse caso, cabem as definições do

das cidades’ segundo Eric Hobsbawn. É

vão além da circulação ou da passagem”,

Plano Diretor – que a Câmara Municipal

compreensível, portanto, que a arte que

explica Jadiel.

não discute, os empresários tendem a

expressa a realidade das cidades, como

As opiniões dos profissionais consulta-

proteger somente seus interesses pessoais

grafites, por exemplo, seja evidenciado

dos para esta reportagem coincidem sob

e a prefeitura não incentiva o uso correto

cada vez mais, inclusive como afirmação

vários aspectos, sobretudo em relação à

do espaço urbano, tudo na opinião de Sá.

do caráter urbano da arquitetura”, explica.

necessidade de planejar as cidades e ob-

Trata-se de um movimento crescente.

servar que o que causa desconforto não é

Arte

A arte de rua, na visão de Jadiel, contribui

a cor, a arte ou o grafite. É a falta de regras

Para Jadiel, as cores têm o potencial de

para a humanização dos espaços e a iden-

para a ocupação do espaço urbano.

humanizar espaços urbanos. “Obviamente o uso de cores por si só não garante qualidade. Contudo, elas podem potencializar a sensação de vitalidade urbana, de segurança e conforto”, destaca. Ele chama a atenção para aspectos sociais do grafite e dos painéis, cujos artistas muitas vezes surgem a partir de projetos sociais desenvolvidos em regiões periféricas das cidades. “Essas regiões, em geral, são completamente carentes de oportunidades culturais aos jovens que lá residem; portanto, através do grafite, é mostrada uma oportunidade destes jovens se expressarem artisticamente”, fala. A pichação, apesar de proibida pela lei wikimedia

e caracterizar-se como poluição visual, na opinião de Jadiel expressa também desigualdades sociais e culturais. “É necessário um entendimento delas como resultado de desequilíbrios e não como fatos isolados de vandalismo”, pondera.

 Quando questionado se há um movimento de uso ou aceitação da arte urbana em projetos de arquitetura, Jadiel responde que a arte sempre cruzou o

Beco do Batman É considerado referência em grafite na capital paulista. Trata-se de uma travessa onde, há cerca de três décadas, surgiu o desenho do super-herói da Marvel em uma das paredes. Os artistas de rua tomaram conta do lugar e, segundo reportagens disponíveis na internet, têm seu próprio código de conduta para pintar – ou não – sobre um trabalho. Por isso, os painéis no Beco podem ser sempre uma surpresa ao visitante.


AEAARP 11

História

O papel político da AEAARP

E

m 1948, quando a AEAARP foi fundada, o engenheiro Galileu Frateschi foi designado para representar a entidade nas discussões sobre o Código de Obras, na Câmara Municipal.

Foi um dos primeiros atos da entidade, evidenciando logo no início sua vocação

em colaborar tecnicamente com os debates sobre o desenvolvimento econômico e urbano da cidade. Nos 70 anos seguintes, a AEAARP teve importante papel na elaboração do Plano Diretor, desde os primeiros debates nos anos de 1970 até hoje, quando a lei passa por ajustes. Em 1951 a Câmara Municipal reconheceu a relevância da AEAARP para a cidade e aprovou a Lei nº 209, que a tornou de utilidade pública.


Revista Painel Painel Revista 12 12

Raul Garib

Indústria

Simulado de emergência em possíveis vazamento de amônia, realizado pelo SESMT do Frigorífico Better Beef e o Corpo de Bombeiros de Rancharia (SP)

Amônia nos sistemas de refrigeração industrial Substância é considerada o gás refrigerante mais ecológico e barato para grandes sistemas de refrigeração, mas seu uso exige cuidados especiais


AEAARP

Raul Garib

13

O

uso da amônia em sistemas de refrigeração não é recente. Segundo especialistas, o composto

químico NH3 (constituído por um átomo de

nitrogênio e três de hidrogênio), também conhecido como amoníaco, já era usado nos primeiros refrigeradores, em meados de 1880. Hoje, o produto é essencial para grandes sistemas de refrigeração industrial como abatedouros de bovinos, aves, suínos, pescados e fábricas de gelo. Mas, seu uso

Os principais riscos que envolvem o

duto. Em contrapartida, a amônia pode

exige cuidados tanto no projeto quanto na

uso da amônia na refrigeração são: falhas

se tornar um material corrosivo, tóxico,

instalação e manutenção dos equipamentos.

nas válvulas dos sistemas, ajustes inade-

inflamável e explosivo em determina-

quados da pressão, danos provocados

das concentrações.

A amônia é sintetizada através de um processo famoso chamado Haber-Bosch, que consiste em reagir nitrogênio e hidrogênio em quantidades estequiométricas (cálculo da quantidade de reagentes e produtos através de equações químicas) em elevada temperatura e pressão. Atualmente, essa é a forma de obtenção do NH3 mais usada no mundo.

por impactos externos nos equipamen-

Fernando acrescenta que a estabilida-

tos, corrosão externa e outras situações

de química da amônia em condições nor-

que podem ser evitadas se forem respei-

mais de funcionamento e o fato de não

tados os projetos, as normas técnicas e a

prejudicar lubrificantes e outros mate-

periodicidade da manutenção dos equi-

riais usados nos sistemas de refrigeração

pamentos. “Não podemos pensar que a

são alguns dos diferenciais do produto. E

amônia é o grande problema e sim que al-

que se as normas e os procedimentos de

gumas empresas não estão sabendo apli-

segurança não forem seguidos, aí sim há

Fonte: Rescue Cursos

car as normas de segurança e saúde no

riscos para o trabalhador. “O gás provoca

trabalho e de manutenção dos sistemas

uma sensação irritante nas vias respirató-

Para garantir a segurança dos sistemas

para que o gás não seja intitulado como

rias, olhos e pele. Dependendo do tempo

de refrigeração que usam a amônia como

algo prejudicial. A amônia é o refrigerante

e do nível de exposição podem ocorrer

gás refrigerante e dos colaboradores que

mais ecológico, eficiente e de baixo cus-

efeitos que vão desde irritações leves até

trabalham em sua instalação e manuten-

to”, ressalta Fernando.

severas lesões corporais”.

ção é preciso seguir uma série de normas técnicas. Segundo o técnico de segurança

De acordo com Pasqual, os principais Vantagens e desvantagens

cuidados que envolvem o uso do com-

do trabalho e graduando de engenharia

Segundo o engenheiro de operação

posto químico são: o uso dos Equipa-

ambiental e sanitária Fernando Rosalvo,

mecânico e de segurança do trabalho

mentos de Proteção Individual (EPIs) re-

que atua no setor de segurança dos sis-

Pasqual Satalino, do Instituto Brasileiro

comendados para a atividade e promover

temas de refrigeração por amônia em um

de Avaliações e Perícias de Engenharia

a capacitação através de treinamentos

frigorífico de Rancharia (SP), a segurança

(Ibape) e da Sociedade Brasileira de

observados na NR-10 (segurança em

de qualquer instalação industrial depen-

Engenharia de Segurança do Trabalho

instalações e serviços em eletricidade) e

de de programas de gestão de riscos,

(Sobes), o baixo custo do NH3 (em rela-

NR-35 (trabalho em altura). “Tudo para

treinamentos e procedimentos de opera-

ção a outros gases refrigerantes) e sua

evitar incidentes como quedas, choques

ção e manutenção, juntamente com um

grande capacidade frigorífica são algu-

elétricos, inalação de gases tóxicos e uso

projeto cuidadosamente executado.

mas das principais vantagens do pro-

inapropriado de equipamentos”. Pasqual alerta também que a manutenção

A lista das principais normas técnicas que abrangem sistemas de refrigeração e a segurança e saúde dos colaboradores que atuam no setor estão disponíveis na área Notícias, no endereço eletrônico da AEAARP.

www.aeaarp.org.br

preventiva dos sistemas de refrigeração deve seguir o Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) e o trabalho deve ser executado por um profissional devidamente habilitado.


Revista Painel Painel Revista 14 14

Cuidados na manutenção dos sistemas de refrigeração industrial Estar devidamente treinado e preencher a autorização para trabalhos especiais (no caso, a amônia). Usar equipamentos de segurança – Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs) – quando trabalhar com gás refrigerante e/ou óleo lubrificante.

Manter os equipamentos de segurança em boas condições de uso.

Nunca operar ou realizar a manutenção de equipamentos sob a influência de álcool, drogas ou outras substâncias que prejudiquem a percepção do trabalhador.

Cuidar para que a área de trabalho esteja livre de obstruções perigosas, para que facilite a saída em caso de emergência, e ficar atento às partes salientes das máquinas.

Relatar para o supervisor ou departamento de segurança qualquer condição de trabalho insegura. Adotar sistemas de detecção de amônia dentro da sala de máquinas e de ambientes industriais. O Instituto Internacional de Refrigeração por Amônia (IIAR) recomenda ainda a instalação de caixa de controle do sistema de refrigeração de emergência, que desligue todos os equipamentos elétricos e acione a ventilação mecânica exaustora fixa ou portátil sempre que necessário. Através do monitoramento contínuo da concentração de amônia, quando atingidos determinados níveis serão acionados alarmes para tomadas de ações do controle de proteção.

Fonte: Fernando Rosalvo, técnico de segurança do trabalho

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Manter a área de trabalho sempre limpa e segura. Resíduos de óleo, entulho ou água sobre o piso podem causar quedas, interferir no funcionamento das máquinas e causar danos materiais e físicos.


AEAARP 15

Após detectar um vazamento de gás,

Montreal, que é um tratado internacional

mentou a busca por fluidos frigoríficos

através do sistema de detecção de amô-

para proteger a camada de ozônio por

alternativos e naturais como amônia,

nia, Fernando cita as providências que

meio da eliminação de Substâncias Des-

devem ser tomadas: acionar o sinal sono-

CO2 e hidrocarbonetos – que apesar de

truidoras da Camada de Ozônio (SDOs).

de Atendimento Emergencial; acionar os membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), brigadistas e operadores da sala de máquinas que devem ser treinados para possível evacuação do local e a utilização da vestimenta adequada; e comunicar o Corpo de Bombeiros e a companhia ambiental estadual, do vazamento e as medidas de emergência tomadas para solução ou contingenciamento do problema. “Em grandes vazamentos de amônia,

não afetarem o clima global, podem ser tóxicos ou inflamáveis. Daí a necessidade

ro para evacuação de acordo com o Plano O Brasil aderiu ao tratado em 1990, por meio do Decreto 99.280, comprometendo-se em eliminar os CFCs completamente e outras SDOs até 2010. Em 1991, após a adesão do país ao Protocolo de Montreal, foi criado o Grupo de Trabalho do Ozônio, que estabeleceu diretrizes para eliminação dos CFCs e criou o Programa Brasileiro para Eliminação da Produção e Consumo das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (PBCO).

de medidas e normas de segurança para o manuseio seguro de tais fluidos. “Com o foco crescente no consumo de energia, os sistemas que usam a amônia são uma escolha segura e sustentável para o futuro”, defende Fernando.

Na área Notícias, no endereço eletrônico da AEAARP, estão disponíveis dois documentos

Fonte: Protocolo de Montreal

publicados pelo Ministério do Meio

to para forçar a reação de hidratação e

Em 2007, o Protocolo de Montreal ini-

Eliminação dos HCFCs-PBH: Fluídos

formação do hidróxido de amônia que,

ciou uma nova fase voltada para a elimi-

frigoríficos naturais em sistemas de

em estado aerossolizado, comporta-se

nação dos gases HCFCs (hidroclorofluor-

como um gás denso”, explica Fernando.

carbonos) que, além de destruir a camada

Ele acrescenta que na forma de gás den-

de ozônio, impactam o sistema climático

so, a substância pode ser diluída através

global. Segundo o portal do Protocolo,

de ventilação mecânica para controlar a

após a aprovação do cronograma ace-

concentração do gás tóxico dentro dos

lerado de eliminação desses gases, au-

deve-se aspergir água sobre o vazamen-

Ambiente: Programa Brasileiro de

refrigeração comercial, de 2015, e Recomendações sobre operação e manutenção de sistemas de refrigeração por amônia, de 2009.

www.aeaarp.org.br

níveis determinados pelos padrões de segurança definidos pela empresa. A complexidade do uso da amônia em sistemas de refrigeração varia tanto em função do tamanho dos ambientes quanto em função das temperaturas a serem atingidas. “As instalações frigoríficas, por exemplo, trabalham com várias pressões e temperaturas, portanto devem ser operadas com muita atenção”, diz Fernando. Protocolo de Montreal A busca por gases refrigerantes ecológicos intensificou-se a partir da década de 1980, quando foram descobertos os efeitos nocivos que os gases CFCs (cloroRaul Garib

fluorcarbonetos) provocavam na camada de ozônio. As novas descobertas resultaram na criação, em 1987, do Protocolo de Simulado de emergência em possíveis vazamento de amônia, realizado pelo SESMT do Frigorífico Better Beef e o Corpo de Bombeiros de Rancharia (SP)


Revista Painel Painel Revista 16 16

Rossano Linassi

Segurança alimentar

Insetos à mesa No Brasil, falta legislação e sobram oportunidades de mercado

O

nosso planeta tem cerca de

principais espécies, mas ainda tem

importante ferramenta no combate à

um milhão de espécies de

muito trabalho a ser feito. Vários são

fome no mundo e, aproximadamente,

insetos identificados e estima-

comestíveis, mas ainda não são produzidos

dois bilhões de pessoas já aderiram ao

em cativeiros no Brasil”.

consumo dessas espécies. Se as previsões

se que outras cinco milhões não estejam catalogadas. Trata-se, portanto, da maior

Alguns insetos podem substituir

forem confirmadas, em 2050 a Terra será

população que habita a Terra. Segundo

qualquer tipo de proteína animal na

habitada por nove bilhões de pessoas.

o zootecnista Gilberto Schickler, nesse

alimentação humana. De acordo com

“Haverá escassez de proteína animal e de

grande universo, apenas 2.000 espécies

a Organização das Nações Unidas para

espaço para sua produção. Os insetos e

apresentam algum histórico de consumo

Agricultura e Alimentação (FAO, sigla

seus subprodutos são as alternativas para

animal ou humano. “Conhecemos as

em inglês), insetos comestíveis são

amenizar o problema”, defende Gilberto.

Desde 2016, a ESALQ promove o evento “Insetos na ESALQ”, feira realizada em Piracicaba (SP) que apresenta a importância dos insetos como polinizadores de plantas, reguladores da população de pragas agrícolas e urbanas e também como alimento – através da degustação de alguns pratos. “O projeto consiste na apresentação didática e visual do mundo dos insetos, com visitas guiadas e apresentações das funções dos insetos, seu papel na natureza, na agricultura e na alimentação humana e animal”, explica o engenheiro agrônomo Pedro Takao Yamamoto, coordenador do projeto. A feira é aberta à comunidade, o público-alvo principal são as crianças, apesar da grande participação de adultos, e já teve duas edições, em 2016 e 2017. Na última edição, mais de oito quilos de insetos foram consumidos pelos participantes da feira em um único dia. “Esse tipo de evento aproxima as pessoas dos insetos, desmistifica a visão negativa que se tem sobre a espécie e promove a degustação de insetos como alimentos”, acrescenta o professor de gastronomia Rossano Linassi.

Rossano Linassi

Insetos na ESALQ

Chef Rossano Linassi no evento Insetos na ESALQ, em Piracicaba (SP)


AEAARP 17

Segundo o relatório da FAO “A contribui-

mariposas, percevejos, baratas, vespas,

ção dos insetos para a segurança alimentar,

libélulas, cupins etc. No Norte, a tanajura

subsistência e meio ambiente”, publicado

faz parte da dieta de algumas populações

em 2015, os insetos produzem menos

ribeirinhas e de tribos indígenas como

gases de efeito estufa, utilizam muito

fonte alternativa de proteína em tempos

menos água e são menos dependentes

de escassez de pescados.

pecuária convencional.

Rossano acrescenta que os insetos podem ser consumidos em diversas fases

De acordo com a publicação, essas

– ovo, larva, pupa ou adulto –, dependen-

espécies também apresentam muitos

do da espécie. “Vale lembrar que apenas

benefícios nutricionais, pois são fontes de

insetos que são sabidamente apropriados

nutrientes e proteínas de alta qualidade se

devem ser consumidos. Caso contrário,

comparado à carne bovina e ao pescado,

podem causar riscos à saúde”. Segundo ele,

funcionam como suplemento alimentar

os mais seguros para alimentação humana

para crianças que sofrem de má nutrição,

são os de criação: larvas dos besouros,

pois a maioria das espécies tem alto teor

tenébrios comum (Tenebrio molitor), te-

de ácidos graxos (comparáveis ao pesca-

nébrio gigante (Zophobas morio), barata

do). Também são ricos em fibras e micro-

cinérea (Leurolestes circunvagans), barata

nutrientes como cobre, ferro, magnésio,

gigante de madagascar (Gromphadorhina

manganês, fósforo, selênio e zinco.

Portentosa), barata blaberus (Blaberus-

Muitos países são adeptos à entomofa-

-giganteus), grilo preto (Gryllus assimilis),

gia (prática de comer insetos) como, por

larvas de moscas domésticas, entre outros.

exemplo, o México, onde são desenvolvi-

Tanto na alimentação humana quanto

dos muitos estudos na área. Na Holanda,

animal, o consumo de insetos apresenta

estão os maiores produtores de insetos

diferentes riscos. De acordo com o pro-

em cativeiro e o hábito é comum também

fessor, os riscos são químicos (venenos,

em vários países do leste asiático, como na

resíduos de pesticidas, antibióticos ou

Tailândia e no Vietnã.

poluentes orgânicos), biológicos (parasi-

Nesse campo, o Brasil tem longo ca-

tas, vírus, bactérias), físicos (partes duras,

minho a percorrer. “A entomofagia é algo

ferrões) e alergênicos, principalmente para

experimental, poucas pessoas têm acesso,

aqueles que são alérgicos a frutos do mar

conhecem ou ouviram falar sobre o tema”,

(devido a composição química parecida de

afirma o professor de gastronomia Rossano

algumas espécies).

Linassi – doutorando em administração,

Em países como França e Estados Uni-

mestre em turismo e hotelaria e bacharel e

dos, o hábito de consumir insetos está

chef internacional em gastronomia.

mais difundido e é possível encontrar o alimento nas prateleiras dos supermercados.

Consumo

Segundo o professor, no Brasil, o público

No Brasil, segundo Rossano, existem

consumidor é restrito aos que frequentam

diversos insetos que podem ser utiliza-

eventos e palestras sobre o tema e que, em

dos na alimentação humana: larvas de

raras ocasiões, frequentam restaurantes

borboleta, larvas de besouros (incluindo a

que servem pratos exóticos com preços

popular larva do coco), formigas (entre elas

elevados. Ele acrescenta que o consumo

a tanajura muito comum no interior de SP

também depende de vários fatores, como

e no Nordeste), grilos, gafanhotos, abelhas,

sociais, históricos ou geográficos.

Rossano Linassi

de extensões de terra se comparado à


Revista Painel

Rossano Linassi

18

Mercado

tros. A produção de insetos para consumo

No Brasil, o mercado de criação de in-

humano seria um pouco diferente do que é

setos está atrelado ao controle biológico

feito para o consumo animal. Teria que ter

(técnica que utiliza organismos vivos para

o aval do Departamento de Inspeção de

combater pragas no campo). “O trabalho

Produtos de Origem Animal (Dipoa), que é

que eu desenvolvo é a criação de insetos

o órgão que cria leis e normas para garantir

para o consumo, algo que ainda não é feito

a qualidade e a segurança dos produtos

de forma acadêmica”, explica o zootecnista

de origem animal para consumo humano”.

Gilberto. Para ele, o setor é promissor e

Para garantir produtos que não sejam

envolve uma série de profissionais como

prejudiciais à saúde e o cumprimento

entomologistas, zootecnistas, nutricionis-

das legislações nacionais e estrangeiras,

tas, profissionais ligados às questões cul-

o Dipoa conta, ainda, com o Serviço de

turais da introdução de um novo alimento.

Inspeção Federal (SIF), que atua junto

A produção de insetos comestíveis

aos estabelecimentos registrados pelo

também tem abertura para outras áreas

Departamento. Além disso, os criadores

como, por exemplo, a engenharia agro-

de insetos precisam do aval da Agência

nômica e a engenharia de alimentos. Ele

Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –

acredita que a partir do momento que

órgão responsável por registrar cada novo

as produções de insetos para consumo

ingrediente usado para o consumo humano.

humano forem aprovadas no Brasil haverá

“Isso precisa de uma série de documentos e

a necessidade de engenheiros de várias

análises. Cada inseto tem uma composição

especialidades para a criação de novos

nutricional e o estudo de viabilidade é feito

recintos que concentrem muitos animais

para cada espécie”, acrescenta Gilberto.

em poucos espaços, de novos tipos de instalações etc.

A alimentação dos insetos comestíveis também é importante para garantir a qualidade do produto. O zootecnista explica que eles consomem rações similares às

O portal da Revista Pequenas

das aves. O produto é à base de farelo de

Empresas e Grandes Negócios publicou

trigo, milho, soja, além de micro e macro

reportagem sobre a empresa brasileira

minerais exigidos para uma boa nutrição

que vende mais de 50 mil insetos por mês que servem de alimento para animais exóticos. Veja também a história da veterinária que pagou a faculdade criando e vendendo baratas, grilos, ratos, tenébrios e outros insetos, publicada pelo portal Dinheiro Rural. As reportagens estão na área Notícias, no endereço eletrônico da AEAARP.

www.aeaarp.org.br

animal. “São usados produtos de qualidade e não pode ser usado nenhum alimento estragado nessa ração”. Uma das vantagens é que os insetos podem ser enriquecidos com nutrientes essenciais para a saúde humana como ômega 3, ômega 6, selênio etc. “Podem ser criados produtos específicos para o público que segue dietas rígidas como, por exemplo, os atletas”. O zootecnista comenta que está sendo criada a Associação Brasileira dos Criado-

Segundo Gilberto, no Brasil ainda não

res de Insetos (Asbraci), que está reunindo

existem criadores de insetos comestíveis

criadores que buscam registros e certifica-

para consumo humano registrados no

dos necessários para a regularização das

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-

produções de insetos comestíveis. Ginaldo

tecimento (MAPA) e não há legislação ou

Menezes é um dos produtores de insetos

normas para esse mercado. “O que exis-

comestíveis que está esperando a regula-

tem são criações artesanais e sem regis-

mentação junto ao MAPA e à Anvisa. Ele


tem um cativeiro de 450 m², em Recife (PE), e iniciou a atividade em 2007. Lá, produz tenebrio molitor, tenebrio gigante, barata cinérea, grilo negro e barata gigante de madagascar para nutrição animal. Hoje, quatro pessoas trabalham no negócio, que produz 500 quilos de insetos por mês. Gilberto acredita que depois de aprovada uma espécie de inseto como novo ingrediente pela Anvisa, é provável que os produtores sigam as boas práticas de

te”. Por isso, ele vê no mercado de farinha

desenvolvimento de novas tecnologias

fabricação similares às utilizadas pelos

de insetos um grande potencial.

para automatizar os processos, aumentar a

produtores de mel e abelhas. “Após o aval

Outro público-alvo promissor, segundo

produção e o processamento desse produto.

da Anvisa, haverá mais rigor na inspeção

Gilberto, é formado pelas crianças. “É

Os preços ainda são altos, segundo

sanitária, inspeção de qualidade dos pro-

preciso trabalhar mudança de conceito,

Rossano, variam de R$ 250 a R$ 450 o

dutos, das matérias-primas e da água usada

fazer campanhas de marketing que ex-

quilo, dependendo da espécie produzida e

no processo produtivo, limpeza das instala-

plorem o potencial dos insetos como algo

da época do ano. “As produções são muito

ções, tipos de embalagens usadas, normas

saboroso, incluindo seu valor nutricional”.

pequenas. Teria de produzir toneladas

de rotulagem, informações nutricionais e a

Em sua opinião, essas ações combaterão o

por mês para o preço começar a cair”. A

estocagem adequada dos produtos”.

preconceito que existe contra os insetos e

popularização do produto também pode

que inicialmente o consumo de insetos co-

contribuir para que o valor do inseto

Oportunidade de mercado

mestíveis terá um nicho restrito. “Porém, a

comestível seja mais atrativo, se comparado às fontes de proteína animal tradicionais.

Além de prestar consultoria para pro-

tendência é a de que aumente a produção

dutores de insetos comestíveis, Gilberto

dessas espécies, que se desenvolva mais

fundou a primeira empresa que recebeu

tecnologia e que os preços caiam”.

Rossano acredita que, com o tempo, as pessoas poderão ver essas espécies de

certificação do MAPA como fabricante de

De acordo com o zootecnista, no Brasil,

forma mais positiva e incluí-las aos poucos

ingredientes para alimentação animal e é

existem cerca de 10 grandes fábricas de

na alimentação. “No início, talvez como

sócio de uma startup – a Hakkuna – que

insetos comestíveis e que cada uma produz,

algo exótico, mas ao longo do tempo como

fabricará barras de proteínas com farinha

em média, entre 300 e 500 quilos de insetos

uma alimentação normal, por isso, acredito

de grilo para o consumo humano. Acresci-

vivos por mês. “Vale lembrar que existem

que será mais fácil educarmos as futuras

do à farinha, o produto será composto por

vários outros criadores menores e que não

gerações para consumirem esses alimentos

banana, castanhas e outros ingredientes

são registrados no MAPA”. Segundo Rossano,

do que convencer as gerações mais velhas”,

naturais. “Acredito que o registro do grilo

“esses números são pouco expressivos em

comenta Rossano. Ele defende que os

como ingrediente para alimentação humana

um país tão grande como o nosso”. Para ele,

insetos não devem substituir as carnes

saia, no máximo, em seis meses. Aí, o MAPA

a falta de legislação dificulta a abertura de

convencionais, mas podem ser uma nova

pode registrar empreendimentos de pro-

novos negócios e a expansão do mercado.

opção de alimento para todas as classes

dução de grilos para alimentação humana”.

O processo produtivo ainda é artesanal,

sociais e com a possibilidade de colaborar

Segundo o zootecnista, o primeiro nicho

carece de investimentos em pesquisas e

para a erradicação da fome no mundo.

de mercado que sua empresa identificou são as pessoas que buscam alimentos naturais, orgânicos e sustentáveis. Ele comenta que qualquer produto pode ter uma versão à base de insetos: massa de macarrão, mistura para bolo, doces, hambúrgueres, nuggets etc. “A ideia é comercializar o produto sem expor o inseto. Quando vendem carnes, as pessoas não expõem o boi, a galinha e assim por dian-

Estudos na área Segundo o professor de gastronomia Rossano Linassi, no Brasil, os estudos na área são recentes e foram realizados, principalmente, pelo biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto, a partir de 1998. Poucas são as referências anteriores à década de 1980. No entanto, existem alguns registros históricos dos anos 1500 e 1600 feitos pelos colonizadores portugueses. Em 2009, foi realizado 1° Simpósio Nacional sobre Antropoentomofagia, em Feira de Santana (BA), que deu origem ao livro homônimo lançado em 2010. Desde então, o tema tem ganhado visibilidade e, em 2019, deve acontecer o primeiro congresso sobre o assunto no Brasil.


Revista Painel 20

Biblioteca Nacional do Brasil

HISTÓRIA

Mapa do Brasil, de 1729, impresso por Pieter van der Aa

Acervo histórico do mundo em um clique Biblioteca Digital Mundial disponibiliza gratuitamente documentos, mapas e arquivos de valor histórico

G

ravuras, livros raros, mapas antigos e desenhos arquitetônicos. A Biblioteca Digital Mundial tem tudo isso entre os mais de 19 mil itens, de 193 países, com direito a relíquias da história do mundo que datam oito mil anos antes de Cristo. Um dos

materiais disponíveis no portal que conta um período da história brasileira é o mapa do Brasil, de 1729. Nessa época, a maior parte do país não havia sido explorada e anotações sobre rios, povos nativos e minas eram limitadas. O mapa foi impresso em Leiden (cidade localizada na província da Holanda do Sul, na época), pelo editor e comerciante de livros Pieter van der Aa (1659-1733).


AEAARP

Biblioteca Nacional do Brasil

21

Na edição 254 da revista PAINEL, publicada em maio de 2016, foi veiculada a reportagem sobre a carreira dos

Mapa do Brasil, de 1851, feito pelo cartógrafo John Rapkin

Outro mapa histórico do país foi criado

as sombreadas para indicar características

em 1851 pelo cartógrafo John Rapkin

topográficas). As ilustrações coloridas que

de trabalho. Veja a edição

(1815-1876) da empresa britânica de

compõem os quatro cantos do mapa mos-

cartógrafos, suas atribuições e o mercado on-line, no endereço

cartografia John Tallis e Cia (que funcionou

tram barcos no Rio Negro (canto superior

eletrônico da AEAARP, na

entre 1835 e 1860). Os mapas de Tallis são

esquerdo), Santa Catarina (canto superior

área Revista Painel.

identificados pelo estilo pergaminho nas

direito), Montevidéu e Cabo de Santo

bordas e pelos desenhos precisos e deta-

Antônio na Bahia (abaixo, à esquerda), e

lhes geográficos (como a utilização de áre-

Rio de Janeiro (abaixo, à direita).

www.aeaarp.org.br


Revista Painel 22

Arquitetura, mineração e paisagismo

em Paris (França). Considerada a maior do-

O conteúdo do portal está disponível

A arquitetura barroca brasileira e o Jar-

ação já recebida pela Biblioteca Nacional,

em vários formatos e idiomas. Os mate-

dim Botânico do Rio de Janeiro também

a Coleção Thereza Christina Maria reúne

riais básicos – livros, mapas, manuscritos

estão contemplados na Biblioteca Digital

também uma grande variedade de temas

etc. – aparecem no idioma original. Uma

Mundial. Algumas imagens da Coleção

e documentos que relatam as conquistas

das facilidades é que os conteúdos podem

Thereza Christina Maria, composta por

do Brasil e do povo brasileiro no século

ser filtrados por lugar, tempo, assunto e

21.742 fotografias, reunidas pelo Im-

XIX, além de imagens da Europa, África e

tipo, pois os dados bibliográficos (tam-

perador Pedro II ao longo de sua vida e

da América do Norte.

bém conhecidos como metadados) foram

doadas por ele à Biblioteca Nacional do

organizados com sistemas de catalogação

Brasil (parceira da Biblioteca Digital), estão

Biblioteca Digital Mundial

internacionais. O portal foi traduzido em

no portal. Dentre elas, destacam-se as

Foi em 2005, que o bibliotecário do

sete idiomas: português, árabe, chinês,

fotografias do Jardim Botânico do Rio de

Congresso dos Estados Unidos, James H.

Janeiro (fundado em 1808 pelo rei D. João

Billington, propôs a criação da Biblioteca

Todo o conteúdo disponibilizado pela

VI, de Portugal, e aberto ao público em

Digital Mundial para a Organização das

Biblioteca Digital é oferecido por parceiros

1822), datadas de 1862, a mineração de

Nações Unidas para a Educação, Ciência

do mundo todo, inclusive da Unesco, que

diamantes em Diamantina (MG), durante o

e Cultura (Unesco, sigla em inglês). A ideia

contribuem com acervos, experiência de

ano de 1869 (período no qual o fotógrafo

inicial era criar uma coleção on-line que

curadoria, catalogação, linguística e técnica.

Augusto Riedel acompanhou Luís Augusto,

abrangeria riquezas culturais do mundo

Além de servir como base de estudos e

genro do Imperador Pedro II, em uma ex-

e relatariam as histórias e conquistas de

informação para estudantes, professores

pedição ao interior do Brasil), e a Casa do

todos os países e povos. O sonho de Ja-

e pesquisadores, qualquer pessoa pode

Major Brant (que servia como alojamento

mes se tornou realidade em abril de 2009,

visitar e utilizar o conteúdo do portal.

das altezas reais) também em Diamantina.

quando finalmente a Biblioteca foi lançada

E qualquer biblioteca, museu, arquivo

Vinte anos depois, as fotografias tiradas

para o público internacional com conteúdo

histórico ou instituição cultural do mundo,

sobre cada estado-membro da Unesco.

que tenha conteúdo histórico e cultural

por Riedel durante a visita em Diamantina, em 1869, foram usadas por José Maria da

inglês, francês, russo e espanhol.

relevante, pode contribuir com a Biblioteca.

Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco para ilustrar o álbum Sights du Brésil,

Acesse www.wdl.org/pt

Biblioteca Nacional do Brasil

exibido na Exposição Universal de 1889,

Mineração de Diamantes do Sr. Felisberto D’Andrade Brant

Jardim Botânico Avenida das Palmeiras Imperiais

Alojamento de Suas Altezas Reais Duque de Saxe e Luis Filipe na Casa do Major Brant


AEAARP 23


Revista Painel Painel Revista 24 24

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crea-sp

RESOLUÇÃO nº 1.100, de 24 de maio DE 2018 Discrimina as atividades e competências profissionais do engenheiro de software e insere o respectivo título na Tabela de Títulos Profissionais do Sistema Confea/Crea, para efeito de fiscalização do exercício profissional

O

Conselho Federal de engenharia

a requisitos de software, sistemas e

do egresso, possibilitadas outras que

e agronomia – CONFEA, no uso

soluções de software, evolução de

sejam acrescidas na forma disposta em

das atribuições que lhe confere

software, integração local e remota

resolução específica.

o art. 27, alínea “f”, da Lei nº 5.194, de 24 de dezembro de 1966, RESOLVE:

de sistemas de software.

Art. 5º O engenheiro de software inte-

Art. 3º As competências do enge-

grará o grupo ou categoria Engenharia,

Art. 1º Discriminar as atividades e com-

nheiro de software são concedidas

modalidade Eletricista.

petências profissionais do engenheiro

por esta resolução sem prejuízo dos

Parágrafo único. O respectivo título

de software e inserir o respectivo título

direitos e prerrogativas conferidos ao

profissional será inserido na Tabela de

na Tabela de Títulos Profissionais do

engenheiro, ao engenheiro agrônomo,

Títulos Profissionais do Sistema Confea/

Sistema Confea/Crea, para efeito de

ao geólogo ou engenheiro geólogo,

Crea conforme disposto no caput deste

fiscalização do exercício profissional.

ao geógrafo e ao meteorologista por

artigo e da seguinte forma:

Art. 2º Compete ao engenheiro de software as atribuições previstas no art. 7° da Lei nº 5.194, de 1966, com-

meio de leis ou normativos específicos e aos demais profissionais da área da computação.

binadas com as atividades 1 a 18 do

Art. 4º As atividades e competências

art. 5º, §1º, da Resolução nº 1.073,

profissionais serão concedidas em con-

de 19 de abril de 2016, referentes

formidade com a formação acadêmica

I - título masculino: Engenheiro de Software; II - título feminino: Engenheira de Software; e III - título abreviado: Eng. Soft.


AEAARP 25


Revista Painel 26

notas e cursos

Festa Junina AEAARP Cerca de 200 pessoas participaram do Arraiá da AEAARP, que teve música, bebida, dança e trajes típicos.

Novos Associados Anderson Cleber Fiorin Engenheiro agrônomo Maria Aparecida Miziara Frangella Engenheira agrônoma Paulo Cezar Correa Santos Engenheiro civil Wanderley Domingos Engenheiro civil Carlos Alberto Palomares Diaz Engenheiro mecânico Celso de Azevedo Engenheiro de produção mecânica Federico Antonio Gonzalez Engenheiro químico Gilberto de Castro Técnico em eletrônica Nestor de Oliveira Junior Técnico em eletrônica Odair do Carmo Granito Técnico em eletrotécnica Valter Donega Técnico em eletrotécnica Altino Pazelli Técnico em telecomunicações Jose Donizete de Souza Técnico em telecomunicações

Mais um AEAARP Cultural super especial com o grupo La Musicale, que levou o público a uma viagem pela história da música mundial.

Paulo Vinicius da Silva Colombo Estudante de agronomia Maria Gabriela Petrocelli Oliveira Estudante de arquitetura




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